Curso de Política Externa Russa
Modo Escuro Modo Luz
Israel - Crise da Ordem Liberal, Estratégias de Guerra e a Lógica de Sobrevivência no Oriente Médio Israel - Crise da Ordem Liberal, Estratégias de Guerra e a Lógica de Sobrevivência no Oriente Médio

Israel – Crise da Ordem Liberal, Estratégias de Guerra e a Lógica de Sobrevivência no Oriente Médio

Transcrição de vídeo publicado no canal da Relações Exteriores. Veja mais vídeos aqui.


Começando pelo global, é muito interessante e eu concordo com a leitura de que, de fato, a atual ordem internacional, construída no pós-segunda guerra, liberal, pró-Estados Unidos, ela está em crise. Ela está em crise para usar um termo do Gramsci, que o Robert Cox vai trazer para as RIs, ela está perdendo a sua legitimidade. Porque, veja, essa nota do G7 é muito interessante, porque o que que o G7 disse em outras palavras? Pode violar o direito internacional que não tem problema, desde que tu seja nosso aliado. É isso que a nota do G7 está dizendo em outras palavras, porque no momento que diz que Israel tem o seu direito de se defender, a própria carta da ONU diz que os ataques preventivos, ataques preventivos, eles são ilegais. E aí, para mim, é muito claro, é essa perda de credibilidade. Então, determinados atores que são nossos aliados podem violar, não tem problema. Então, destacar essa crise de legitimidade. Aí, um contraponto, ainda que Rússia e China tenham se colocado contra a ação de Israel, o BRICS, salvo engano, até o momento não emitiu nenhuma declaração. O que também mostra uma certa hesitação. Esse é um ponto, né? E outro que eu queria comentar, pegando o gancho da professora Lívia, falei do global, regional e local. Sobre o local, é muito interessante, porque o que as pessoas têm que constatar é o seguinte. O atual governo de Israel, liderado pelo Benjamin Netanyahu, um pouco antes de ocorrer o 7 de outubro, os ataques terroristas do Hamas, que, enfim, Israel vai responder com um ataque totalmente proporcional à Gaza, o governo estava próximo a cair, havia uma grande insatisfação popular, eles haviam tentado uma reforma do judiciário, de aparelhamento do judiciário, e o Benjamin Netanyahu, no momento em que ele caiu e perdeu o seu foro privilegiado, ele corre graves riscos de ser preso, porque há muitas acusações contra ele. Então, muitos analistas estão vendo, e eu vejo dessa forma, que ele quer continuar no poder por interesse próprio de autopreservação. E qual é o detalhe? Lá, em Israel, o parlamentarismo, então ele precisa da maioria. E boa parte da base dos governos que sustentam ele são de partidos ultraortodoxos judaicos, que não tem constrangimento nenhum dizer que toda a Palestina tem que ser ocupada por Israel. Então, me parece que esse é um dos motivos que faz Israel cada vez mais dobrar a aposta, intensificar as ações de Gaza, apesar de toda a condenação internacional, e agora abrir uma outra frente, que é contra o Irã. E veja, a guerra, por motivos, que talvez a psicologia explique, ela acaba unindo as pessoas, unindo o povo. Temos dados que vão dizer que a maior parte da população de Israel aprova essa ação contra o Irã. Então, esse é um ponto muito interessante, muito importante. Então, o interesse pessoal do governo em agradar a sua base e manter a guerra e se manter no poder. O local e o regional, o que acontece? Aí, tendo uma análise muito fria, realista, bom, Israel viu uma janela de oportunidade. Historicamente, o Irã vai liderar aquilo que se costumou chamar de eixo de resistência. Então, uma liderança de alguns países, como Irã, Síria, até então, Hamas, Hezbollah, tentando antagonizar os interesses dos Estados Unidos, de Israel e da própria Arábia Saudita. Bom, o que a gente vai ver? Israel enfraqueceu muito Hamas, enfraqueceu muito Hezbollah, o regime do Assad caiu, grande aliado do Irã, mas não se enganem, o atual líder é originário da Al-Qaeda e do Estado Islâmico. Então, é um ex-terrorista, a gente pode colocar assim. Ou seja, então, Israel viu essa oportunidade de fraqueza, de fato, do Irã, das suas proxys, para fazer o ataque. E, além disso, tem outra questão, acho que tem que se considerar. Que, veja, o Irã é uma potência regional, mas pelo fato de ele, enfim, possuir uma vertente distinta da maioria dos países do Oriente Médio. Então, eles são xiitas e possuem uma outra etnia, um outro background que são persas. Há uma rivalidade tradicional entre eles, os países árabes, sobretudo a Arábia Saudita. Então, muitos países árabes, historicamente, vêem o Irã como um rival. Também não estão tão dispostos, acredito eu, a entrar num conflito junto com o Irã. Então, para que dizer isso? O que me parece, numa leitura muito racional e objetiva, que Israel viu uma oportunidade. Bom, o Irã nunca esteve tão enfraquecido. Vamos atacar ele, também pelos meus interesses locais e em âmbito global. A gente tem os Estados Unidos historicamente aliados ao Israel, mas agora muito aliado. Então, o governo de Israel, na minha leitura, se sentiu muito empoderado. E, para finalizar, esse comentário do G7 nada mais é do que olha, Israel, você pode fazer o que você quiser. A lei internacional vale só para alguns. Feito esse comentário, que eu achei muito pertinente, a professora Lívia colocou, eu quis tentar agregar alguma coisa em relação aos Estados Unidos, professor Guilherme e audiência. Bom, os Estados Unidos têm, na gestão Trump, um elemento que gera muita instabilidade, que é a incerteza. Tu nunca sabe como é que o Trump vai agir. Essa é uma grande questão. Lógico, historicamente sempre pró-Israel, mas, enfim, a impressão que se dá e a análise que a gente lê é que muitas das ações, e é incrível dizer isso, são feitas de improviso. Então, não se sabe como é que os Estados Unidos vão intervir, mas o que a gente pode ter muita certeza é que vão continuar apoiando Israel.

Israel - Crise da Ordem Liberal, Estratégias de Guerra e a Lógica de Sobrevivência no Oriente Médio 1
+ posts

Publicações da Revista Relações Exteriores - análises e entrevistas sobre política externa e política internacional.

Adicionar um comentário Adicionar um comentário

Deixe um comentário

Post Anterior
Os Estados Unidos não são ator que poderia atuar nesse sentido… são muito próximos de Israel.

Os Estados Unidos não são ator que poderia atuar nesse sentido… são muito próximos de Israel.

Próximo Post
BR Donald Trump - A Política Externa como Espetáculo | Líderes Mundiais | Aula 1

Donald Trump - A Política Externa como Espetáculo | Líderes Mundiais | Aula 1

Advertisement