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Donald Trump – A Política Externa como Espetáculo | Líderes Mundiais | Aula 1

Transcrição de vídeo publicado no canal da Relações Exteriores. Veja mais vídeos aqui.


Boa tarde, pessoal, espero que vocês estejam bem. Então hoje nós vamos começar, essa live, ela dá início a uma série de vídeos que vão discutir um pouco sobre as grandes personalidades do momento contemporâneo e como elas mostram a ordem internacional, a política internacional, enfim. Então a ideia de hoje é ser essa primeira aula desse projeto super interessante, liderado pelo Guilherme Bueno, da revista Relações Exteriores, da Escola Superior de Relações Internacionais, e a ideia é produzir conteúdo gratuito e acessível sobre relações internacionais.

Então nós começamos com Donald Trump e esse título que foi proposto pelo pessoal, que é a ideia da política externa como espetáculo. Então como eu disse pra vocês, esse vídeo é o primeiro de uma série de vídeos sobre esses líderes que moldam o mundo, que moldam a política internacional, que moldam o multilateralismo. Eu começo pedindo desculpas, porque pra esse vídeo acontecer, o programado inicialmente era que ele acontecesse ontem, mas eu tive um contratempo bem em cima da hora e tivemos que cancelar, mas deu tudo certo, ficou reagendado pra hoje e também esse vídeo vai ficar disponível, então quem não puder assistir agora, com certeza pode assistir em um outro momento.

Eu pensei na seguinte dinâmica, então, a ideia é que tenha duração de mais ou menos uma hora, e eu pensei em fazer uma exposição e depois eu abro um momento pra gente discutir um pouco, já que está sendo ao vivo, pode ser que alguém tenha alguma pergunta, alguma questão, alguma reflexão que queira compartilhar. Então eu vou fazer dessa forma, primeiro vou fazer a exposição e depois a gente abre pro debate, que eu acho que fica melhor nesse formato de live, até pra eu conseguir construir um argumento, construir uma linha narrativa.

Então, eu sou Lívia, Lívia Milani, já tenho participado de algumas iniciativas aqui da revista Criações Exteriores, tenho feito parte do podcast Sala de Estratégia, que tem ido ao ar toda quinta-feira, inclusive essa semana vamos discutir BRICS, então fiquem atentos, porque é o que vai ser bastante interessante, estão todos convidados.

Além disso, eu sou pesquisadora no âmbito de pós-doutorado, eu estou desenvolvendo um pós-doutorado no área de direitos humanos, aqui em Aracaju, Sergipe, na Universidade Tiradentes, e além disso eu sou doutora em Relações Internacionais pelo programa de pós-graduação São Tiago Dantas, e mestre também pela mesma instituição.

A minha pesquisa, já de bastante tempo, ela envolve política externa dos Estados Unidos, minha tese de doutorado foi sobre política externa dos Estados Unidos para a América Latina, então esse é um tema, e essa liderança em específico é uma liderança sobre a qual eu já venho pensando há algum tempo, e também tenho acompanhado política externa dos Estados Unidos já tem um tempo. Então, como eu disse para vocês, o objetivo da série é explicar como certos líderes contemporâneos estão moldando ou desafiando a ordem internacional por meio de decisões estratégicas, diplomacia, ideologia e poder.

Então, pensar um pouco sobre como a política externa contemporânea, ela é moldada também pela atuação de certos líderes. Então, quando a gente pensa naquela relação agência-estrutura, que a gente vê lá nas teorias de relações internacionais, aqui nós vamos focar na agência e pensar um pouco como alguns líderes específicos contribuem, seja para a manutenção do status quo, manutenção de uma ordem internacional, para, enfim, mudanças nessa ordem internacional, sejam mudanças progressistas, sejam mudanças no sentido de restauração de uma velha ordem.

E nós vamos olhar tanto para potências ocidentais, então a ideia aqui é discutir um pouco Estados Unidos, alguns países europeus vão entrar também, mas também vamos olhar para potências do sul global, potências revisionistas, como é o caso, por exemplo, da Índia, da China, vamos olhar para Oriente Médio e para América Latina.

Oriente Médio, por ser uma região bastante importante do ponto de vista geopolítico e América Latina, a região na qual nos inserimos e estamos situados. Então, fiquem atentos, a ideia é que saia lives, que essas aulas aconteçam todas as terças-feiras, então hoje é uma exceção, hoje está saindo às quartas, mas vai acontecer às terças-feiras, nesse mesmo horário das três horas. Então, essa é um pouco a ideia.

Então, hoje a gente começa discutindo Donald Trump e eu pensei em dividir essa exposição, falar um pouco sobre ele, a partir de três momentos. Então, o primeiro momento para a gente contextualizar. Então, quem é Donald Trump, de onde ele vem, como que ele chega na política.

Um segundo momento para a gente falar da atuação de Donald Trump no governo. Então, nesse momento a gente vai discutir se existe uma doutrina de política externa ou se existe simplesmente, o que existe é simplesmente uma postura errática, uma postura de tentativa e erro e um discurso bastante estérico. Então, a gente vai se debruçar sobre esse debate, sobre se existe ou não uma doutrina ou mesmo uma estratégia de política externa e adentrando um pouco mais, detalhando um pouco mais a política externa de Donald Trump.

Então, eu vou falar um pouco sobre as articulações que ele tem mantido com a direita global e como existe a formação de certos consensos no que se refere à ordem internacional e depois a gente fala das relações dos Estados Unidos sobre Trump com as grandes potências, China e OTAN e as relações com o sul global. E, por fim, a gente faz uma síntese e conclui essa exposição. Como eu disse para vocês, depois disso eu abro para discussão e se alguém já tiver alguma questão em mente, já tiver alguma reflexão e já quiser mandar no chat, não tem problema nenhum.

Fiquem à vontade para usar o chat e depois, no final, eu faço as minhas considerações. Então, quem é Donald Trump? Então, como todos sabem, o presidente dos Estados Unidos, foi presidente dos Estados Unidos duas vezes, em seu segundo mandato, embora não sejam mandatos ininterruptos. Então, ele já disputou a presidência três vezes, ganhou em duas vezes, perdeu em uma vez e teve um interstício entre esses dois mandatos que foi o governo do Joe Biden.

Então, ele é uma pessoa que chega na presidência dos Estados Unidos sem ter uma carreira na política e se apresentando em um primeiro momento, nessa primeira eleição, que foi uma eleição que aconteceu em 2016, ele chega ao poder em 2017.

Nesse momento, ele se apresentava como um outsider, como alguém de fora da política e, inclusive, que tinha uma retórica e uma forma de comunicação com o público que era diferente, que tinha um outro jargão, que não era aquele jargão da política, que denunciava um pouco a ideia de um politicamente correto. Então, ele é essa pessoa que, em um primeiro momento, chega à presidência dos Estados Unidos em uma situação que é vista como até de surpresa.

Então, não se esperava, naquele momento, que ele ganharia as eleições. Então, a maior parte das pessoas apostava numa eleição da Hillary Clinton e, mesmo antes disso, não se esperava quando ele se apresenta como, se apresenta nas primárias do Partido Republicano, não se imaginava que ele conseguiria essa nomeação e ele consegue, depois consegue chegar à presidência. Dizem, inclusive, que nem mesmo ele acreditava que poderia ganhar, que poderia chegar a ser presidente dos Estados Unidos, que foi uma surpresa até para ele.

Mas, enfim, isso é algo que dizem, né? São rumores. Mas qual a carreira profissional, então? Ele é uma pessoa que se estabeleceu no ramo imobiliário, né? Então, ele ganhou protagonismo, ele ganhou força e se tornou uma pessoa conhecida a partir de negócios no ramo imobiliário e no ramo televisivo.

Ele herda o negócio da família, né? Então, a família dele, o pai dele já trabalhava nesse ramo imobiliário, dos negócios imobiliários e ele vai, então, expandir esses negócios da família para outras áreas, né? Então, além de trabalhar com o que, nos Estados Unidos, eles chamam de real estate, ele vai abrir cassinos, ele vai abrir hotéis e ele também vai produzir e participar de um reality show nos Estados Unidos, que, enfim, marcou discussão pública, cultura popular nos Estados Unidos por um tempo importante, né?

Então, esse foi o Aprendiz, né? The Aprendiz, que teve 14 temporadas e, inclusive, a gente teve, eu não sei se vocês lembram, isso já tem um tempo, a gente teve uma cópia, uma emulação desse The Aprendiz aqui no Brasil com o Roberto Justus.

O slogan, né? A frase chamativa daquele, desse reality show, que era um reality show de empreendedorismo, que pessoas do, da área dos negócios, né? Tinham que disputar um cargo nas empresas Trump e o jargão do Trump nesse momento era, you are fired, né? Você está despedido. Então, é assim que ele se coloca, é assim que ele se torna uma pessoa bastante conhecida nos Estados Unidos e ele constrói sua imagem. Então, é uma pessoa que já estava no imaginário popular dos Estados Unidos, mesmo antes de se tornar presidente e ele até faz algumas aparições em algumas algumas séries, por exemplo, ele aparece no filme Esqueceram de Mim 2, que é um filme bastante conhecido.

Não sei se hoje em dia ainda é bastante conhecido, mas com certeza da minha geração foi. E ele constrói a partir dessa carreira no ramo de negócios e na televisão a imagem de ser um homem de negócios, peró e capaz de construir os melhores acordos possíveis, né? Então, essa frase eu peguei de um, de um texto que foi publicado no OPEU, o Observatório Político dos Estados Unidos, que é um blog do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos dos Estados Unidos, que acompanha a política externa dos Estados Unidos. Então, fica como referência.

Eu vou colocar aqui no chat, porque aí eu acho que vocês conseguem ver também. Depois a Giovana coloca para vocês no, aqui grandinho para aparecer para vocês, isso. Observatório Político dos Estados Unidos, o OPEU.

Então, a partir dessa presença na mídia e se construindo, né, como milionário, uma pessoa de sucesso, ele busca construir essa imagem de ser um bom negociador, um negociador agressivo, mas um negociador que, ao mesmo tempo, consegue bons resultados e me parece que essa é uma característica importante para a gente pensar em como o Donald Trump leva isso para a política externa, né?

Então, se colocar como um negociador agressivo, que vai romper com certos consensos, que vai blefar bastante, que vai jogar alto, é algo que permeia toda a política externa dele e também existe um pouco, um pouco dessa personalidade, né, dessa característica dele de sempre tentar se colocar como aquele que consegue costurar esses bons negócios. Então, isso faz parte da forma como ele pensa a política externa. Conseguir esses ganhos em termos de negociações, porque mesmo que por vezes a gente não entenda isso como ganhos, como necessariamente algo positivo, mas tentar construir essa imagem, essa narrativa de ser um bom negociador é algo que permeia a política externa dele.

Então, ele é uma pessoa que vem desse histórico, né, desse background e ele não ocupa nenhum cargo político, mas ele constrói uma narrativa política, principalmente durante o governo do Barack Obama, em oposição ao governo Barack Obama. Então, ele se coloca talvez como, inclusive, um parque inimigo do governo, do governo e do presidente Obama naquele momento. E é importante que ele, ele constrói essa narrativa já a partir de uma teoria da conspiração, né.

Então, o principal argumento dele, a principal questão que ele coloca nesse momento é a ideia de que Barack Obama não havia nascido nos Estados Unidos, ele vai questionar isso e ele vai colocar esse, essa narrativa, esse fato como um tema que vai fazer parte dessa narrativa e que vai acabar sendo discutido nos Estados Unidos, né. Então, ele já chega quebrando o consenso, quebrando questões que eram vistas, enfim, como parte de um senso comum. Se aceitava a ideia, né, até porque é verdade, de que Barack Obama nasceu nos Estados Unidos.

Se não fosse assim, ele não poderia ter concorrido a presidência dos Estados Unidos, né. Então, ele já chega com essas teorias da conspiração, já chega desafiando uma noção de verdade, tentando, enfim, a partir de mentiras, a partir de suspeitas infundadas, vai levar o debate público para um outro caminho e cria essas controvérsias, cria essas dificuldades, cria esses ruídos à política externa dos Estados Unidos. Geralmente, ele é descrito como uma pessoa que é temperamental, é impulsiva e é auto-central, né.

Então, é descrito como uma pessoa que fala bastante de forma impulsiva, não necessariamente ele vai repetir aquilo que os conselheiros, que os assessores dizem para ele que deve ser feito. Ele é uma pessoa, também, que gosta de controlar suas próprias redes sociais. Então, ele não deixa essa questão para o staff, ele gosta de ele mesmo escrever nas suas próprias redes sociais.

Ele é visto como uma pessoa que muda bastante de humor, né. Ele tem uma postura bastante errática, então, vai e vem são comuns no âmbito da política externa dos Estados Unidos sobre Trump e também é visto como uma pessoa autocentrada, né. Então, algo que também aparece bastante na discussão sobre política dos Estados Unidos e que é visto como algo que influencia a tomada de decisão nesse momento do presidente é o fato de que Trump tem a ambição de ganhar um prêmio do meio da paz, a partir da costura de algum acordo de paz.

Então, essa é uma questão que tem se colocado. Então, Trump chega à presidência rompendo consensos importantes, né. Então, quando ele chega à presidência dos Estados Unidos, naquele momento, em 2017, ele chega com uma retórica de política externa que não era baseada naquilo que os grandes think tanks colocavam como sendo mais apropriado e que se afastava bastante da retórica até então predominante.

De que formas, né? Então, Barry Posen, e eu acho que existem três elementos para a gente pensar a política externa dos Estados Unidos sobre Trump, que me parece que trazem contribuições importantes. Eu destaco esses três. Os dois primeiros são textos que foram publicados na revista Foreign Affairs durante o primeiro mandato Trump, e me parece que trazem elementos importantes para a gente pensar nessa política externa de Donald Trump.

E o terceiro é a proposição do Kasmud, que vai pensar em características comuns, em características de consenso da extrema direita global, e que me parece que são importantes também para a gente pensar os Estados Unidos nesse momento.

Então, Barry Posen, nesse texto de 2018, ele propõe a ideia de que Trump vai romper com uma retórica, com uma narrativa de política externa dos Estados Unidos, que era muito comum até então, que legitimava a política externa dos Estados Unidos, que era aquela ideia de que os Estados Unidos são sim uma liderança, eles são sim um país com a maior potência do mundo, eles são sim de alguma forma hegemônicos, mas essa seria uma hegemonia benigna, essa seria uma hegemonia que traria benefícios não só para os Estados Unidos, mas para o globo como um todo.

Porque, a partir dessa visão, que é a visão do internacionalismo liberal, muito defendida pelo I. K. Barry, mas por, enfim, diversos atores de política externa dos Estados Unidos, diversos tomadores de decisão, a partir dessa noção se coloca que os Estados Unidos são essa grande liderança que levaria os direitos humanos, que levaria uma expansão da democracia, por exemplo, e do liberalismo de forma geral para o globo como um todo.

Então, existe essa narrativa legitimadora da política externa dos Estados Unidos, que é presente desde muito tempo, e que era mais ou menos consensual na política externa dos Estados Unidos. Claro que existem divergências dentro desse paradigma, e que muitas vezes esse próprio paradigma, ele é muito contraditório, e presidentes dos Estados Unidos vão adotar posturas que vão contra ele. Mas, ainda assim, muitas vezes em nome dessa busca e dessa promoção da democracia ou dos direitos humanos.

Então, para trazer um exemplo, para que talvez isso fique um pouco mais claro, por exemplo, os Estados Unidos invadem o Iraque em 2003, sem o mandato do Conselho de Segurança da ONU, sem autorização do Conselho de Segurança da ONU, isso vai contra a ideia do internacionalismo liberal de que existiria, e os Estados Unidos proporiam uma construção do multilateralismo, uma valorização das organizações internacionais, mas, por outro lado, os Estados Unidos fazem isso em nome da democracia, em nome dos direitos humanos.

Quando a gente pensa sobre a fegalição, era muito claro naquele momento a ideia também de salvar as mulheres daquele país, salvar essas mulheres da operação, levar uma ampliação dos direitos das mulheres no Oriente Médio. Então, isso é algo que estava colocado naquele momento.

Trump, por outro lado, ele vai romper com essa narrativa. Então, ele vai criticar as organizações internacionais, de forma geral, ele vai deixar algumas dessas organizações internacionais e ele vai abandonar essa, ou ele vai perder muita ênfase essa ideia de defesa da democracia como algo que vai definir a política externa dos Estados Unidos. Então, nesse sentido também a gente pode pensar nas rivalidades entre grandes potências.

Então, uma grande continuidade entre o governo Trump e o governo Biden é o fato de que China é percebida como uma ameaça. Mas, para o governo Trump, China é uma ameaça do ponto de vista comercial, do ponto de vista econômico, do ponto de vista de empregos que estão perdidos nos Estados Unidos. Enquanto Biden vai colocar essa disputa como sendo, por exemplo, uma disputa entre países autoritários e países democráticos.

Então, nessa visão do Barry Posen, o que o Trump faz é um rompe, ele rompe com esse consenso, com essa estratégia de construção da hegemonia de forma liberal, mas, apesar disso, ele não abandona a hegemonia, ele não abandona a primazia.

Os Estados Unidos buscam continuar liderando. Naquele momento, no primeiro governo Trump, havia uma discussão nos Estados Unidos sobre se Trump colocava em prática uma política externa isolacionista ou não isolacionista, né? E o Posen vai dizer que não, ele vai dizer que a política externa dos Estados Unidos continua sendo uma política de primazia, porque, apesar dessa mudança discursiva, existe uma continuidade importante dos gastos em defesa e o investimento também nas tropas dos Estados Unidos no exterior, que estavam alocadas em bases militares na Europa ou na Ásia.

Então, na visão dele, não existe um isolacionismo, mas um rompimento com esse consenso. Um outro autor importante, que faz parte da discussão de política externa nos Estados Unidos, que é bastante conhecido, publicou um… ele tem um livro, né, o Walter Russell Mead, ele tem um livro no qual ele coloca quatro paradigmas, quatro tradições da política externa dos Estados Unidos, né? Sendo que ele aponta que duas dessas são predominantes desde o final da Segunda Guerra Mundial. E quais são essas tradições? Ele pensa essas tradições e as nomeia a partir de pessoas que são aqueles pais fundadores dos Estados Unidos, né, que eles tiveram presentes no momento da independência ou das primeiras presidências.

E ele entende que existem quatro tradições de política externa na história dos Estados Unidos. Aqui tem como base o Hamiltonianismo, né, tem Hamilton como ponto central, que é a ideia de que os Estados Unidos constroem sua liderança global a partir da construção de uma ordem econômica internacional, né, a partir do livre mercado, por exemplo, e dos frutos, dos benefícios que esse livre mercado vai trazer para a sociedade, para os países como um todo.

Uma outra perspectiva seria o Wilsonianismo, a ideia de que os Estados Unidos constroem sua liderança global a partir da construção de instituições liberais, de um multilateralismo e da expansão de uma visão de mundo e de valores estadunidenses, principalmente democracia e direitos humanos.

E aí, na visão do MIDE, essas duas tradições, né, que são tradições de envolvimento, de construção da ordem internacional, elas têm diferentes ênfases e elas predominaram desde o final da Segunda Guerra Mundial. Então, desde o final da Segunda Guerra Mundial havia um consenso em que o debate de política externa dos Estados Unidos não era um debate no sentido, ah, os Estados Unidos devem liderar ou não devem liderar, mas era muito mais como liderar. O que que importa mais? Importa mais economia, importam mais valores.

Como que esses valores devem ser exportados? É por meio do exemplo, é por meio da construção de instituições, ou é, por exemplo, pela imposição desses valores por meio da força e a partir de intervenções, intervenções humanitárias, né? Apesar disso, existem também duas outras tradições, que são o Jeffersonianismo e o Jacksonianismo. Quando a gente olha para o Jeffersonianismo, existe um olhar em termos, então é a forma como os Estados Unidos devem olhar para dentro, e esses valores, eles importam, mas eles, eles importam apenas como exemplo. Então, os Estados Unidos não deveriam expandir internacionalmente esses valores.

É um olhar muito mais de priorização da política interna. E o Jacksonianismo, que tem como base a presidência do Andrew Jackson, que é considerado o primeiro presidente populista dos Estados Unidos, populista no sentido de, de que é o primeiro que busca uma comunicação direta com o público, com os eleitores, também é uma visão que coloca a política interna em primeiro lugar e que busca um certo isolaçãoismo, mas ao mesmo tempo que entende os Estados Unidos como sempre ameaçados, a partir de ameaças internas e de ameaças externas.

Então, essa ideia de uma ameaça constante, tanto uma ameaça interna como uma ameaça externa, é isso que vai explicar a política externa do Donald Trump, né?

Então, o Walter Russell Mead entende que é uma política externa baseada nesse populismo, né, não apelo direta, mas numa política externa baseada e orientada para o interno, então que vai criticar o âmbito internacional, que vai criticar as instituições internacionais, mas ao mesmo tempo que é combinada com essa sensação permanente de ameaças, tanto internas como externas, né, ameaças internas, a gente pode pensar no crime, na migração, que são questões que são securitizadas pelo governo Trump, e questões externas aí a gente tem a Constituição da China como essa grande ameaça.

Então, é uma política externa que vai se caracterizar também por um forte militarismo e por uma valorização das forças armadas como sendo essa instituição que pode salvar, que pode resguardar esses valores. E ele vai entender, então, que essa política externa é uma política externa que é crítica à ordem liberal internacional, que é crítica ao liberalismo, mas ele entende que não existe uma visão do Donald Trump para reconstrução da ordem internacional em outras bases, né, então o que existe é muito mais uma crítica à ordem internacional e ao liberalismo do que, de fato, uma alternativa, a busca de uma alternativa à ordem internacional.

E essa ideia, né, de uma crítica à ordem internacional, na verdade, é algo que vai permear não só a política externa dos Estados Unidos, mas que vai permear um movimento global transnacional de direita, de ultradireitas, que vão questionar a ordem liberal internacional, essa ordem baseada em regras que teria sido criada sob a liderança dos Estados Unidos no pós- Segunda Guerra Mundial, essa ordem que é baseada no liberalismo político, democracia e direitos humanos, no liberalismo econômico, uma retórica de livre comércio, uma valorização, pelo menos discursiva, do livre comércio e no multilateralismo, né, nas organizações internacionais.

A gente vê que Donald Trump desafia tudo isso, né, então, em primeiro lugar, ele se coloca como um ator, como um político que vai admirar líderes autoritários, né, então ele vai, em certos momentos, criticar, criticar não, vai exaltar a força de líderes como o Putin, como o próprio Xi Jinping

Então ele tem essa visão de admiração de líderes autoritários, isso está presente, e em um segundo momento, a questão do livre comércio, né, ele coloca em prática uma política, uma guerra comercial lá, no primeiro mandato, fora também, novamente, uma política baseada nas tarifas, né, na ideia de imposição de tarifas globais, e o multilateralismo a partir de um desafio e uma crítica às instituições internacionais, às organizações internacionais.

Isso a gente vai ver a partir de uma literatura sobre essa extrema-direita, sobre essas forças globais de ultradireita, que é uma característica desses, dessas novas lideranças, que são lideranças de direita, e que criticam bastante a ordem internacional.

O Kasmud, ele coloca que a extrema-direita global, ela é uma extrema-direita que é caracterizada, essa extrema-direita contemporânea, né, ou que ele vai chamar de ultradireita, que talvez seja melhor, então ele usa o termo far-right, em inglês, que é melhor traduzido como ultradireita, porque ele usa o termo extreme-right, extrema-direita, para falar de uma parte, de um segmento dessa ultradireita, mas ele fala que essa ultradireita, ela tem em base três características principais.

Uma narrativa populista, e aqui por exemplo, no populismo a gente está entendendo uma formação discursiva, um discurso político, que constrói a ideia de que existe um povo, e esse povo, ele está em contraposição a uma elite corrupta, que enfim, não presta atenção aos interesses do povo, mas tem, busca seu próprio enriquecimento, busca seus próprios interesses, e alguns autores que vão pesquisar a extrema-direita, as pessoas vão falar, então, que existe uma busca de construção das elites transnacionais, do estéril das organizações internacionais, como sendo essa elite transnacional, que vai contra os desejos das populações locais, das populações nacionais, do povo.

Então, essa é uma característica do governo Trump né que faz parte da sua retórica de política externa, essa ideia de uma narrativa povo versus elite. O nativismo é uma outra característica, então a ideia de um nacionalismo combinado com xenofobia, então a ideia de reforçar o nacionalismo, mas, ao mesmo tempo, esse nacionalismo construído a partir de uma exclusão do outro, de uma desvalorização do outro, da construção do outro, do estrangeiro, como algo radicalmente diferente. A gente vê isso no governo Trump, principalmente a partir da criminalização da migração, que também era algo que já estava presente no primeiro mandato, e volta com muita força nesse segundo mandato.

E a questão do autoritarismo, que ele vai entender aqui o autoritarismo como uma proposta social mesmo, ou uma visão da ordem social baseada na hierarquia e na ordem. Então, na ideia principalmente de uma hierarquia bem definida, de lideranças fortes, do questionamento de uma certa horizontalidade, de uma ênfase, por exemplo, na questão do patriarcado, a ideia de que existem papéis sociais que são papéis femininos, papéis sociais que são papéis masculinos. Então é um pouco isso que ele vai colocar, quando ele pensa nessas características globais da extrema-direita.

E Kasmudi vai entender que, apesar de terem algumas características em comum, as lideranças de extrema-direita não conseguem construir uma visão de ordem internacional. Então, por elas serem muito nacionalistas, e muito diferentes entre si, são poucas essas características comuns, e isso faz com que elas não tenham, assim como Walter Rousseau me descoloca, que elas não tenham uma visão de reforma, uma visão de reestruturação da ordem internacional. E isso é diferente do que outros autores vão colocar, mas Kasmudi, que é uma das principais referências, quando a gente vai pensar na extrema-direita, ele coloca, então, isso.

Essa ideia de que a extrema-direita global, ela critica a ordem internacional, ela tem de forma comum essa crítica à ordem internacional, mas ela não consegue criar uma visão alternativa, uma outra visão de ordem. Então a estratégia dessas lideranças seria muito mais sair e criticar as organizações internacionais do que criar uma outra forma de diplomacia, uma outra forma de relação entre os Estados. E quem é Trump no âmbito dessa nova direita global? Então, ele é um ator que vai, vai até então, conforme eu tenho tentado colocar para vocês.

Então, retomando um pouco, Donald Trump é um ator, um ator político que vai desafiar consensos estabelecidos nos Estados Unidos, consensos deles que referem a uma valorização da ordem, de uma ordem baseada em regras, o que aparece nos documentos dos Estados Unidos como Rule Based Order, e que é descrito na literatura de política externa como a ordem liberal internacional.

Ele vai entender que a hegemonia, a liderança dos Estados Unidos, ela passa muito mais pelo poder militar, pela construção da força e pela coerção, do que pela manutenção e fortalecimento dessa ordem liberal internacional. Então, ele vai criticar o multilateralismo, ele vai criticar, ou ele vai colocar em segundo plano a narrativa sobre democracia, e ele vai questionar de forma muito aberta o livre comércio, e a ideia de uma economia livre, principalmente nessas questões que se referem ao comércio.

Então, isso é o que está colocado. Ele destrói consensos internos no que se refere à política externa, ou ele é um sintoma dessa quebra de consenso, a gente pode interpretar dessa forma também, em algo que os autores que eu coloquei para vocês anteriormente, principalmente o Walter Russell Mead, mas outros autores também vão colocar, que Trump, ele muito mais expressa, ele é muito mais um sintoma do fato de que essa ordem liberal internacional ela não entregava, ela não significava benefícios para a população dos Estados Unidos.

Por mais que certas corporações estadunidenses, por exemplo, poderiam se beneficiar dessa ordem liberal internacional, inclusive de uma liberalização econômica que avançou muito nas últimas décadas, e principalmente uma liberalização financeira também, que apesar disso a população dos Estados Unidos não sentia esses benefícios, esses benefícios não chegavam a essa população, e isso permeia também todo o discurso do Trump.

A ideia de que seria necessário colocar a América em primeiro lugar, os Estados Unidos, os interesses dos Estados Unidos em primeiro lugar, e não a construção dessa ordem, porque por exemplo, o fato de que se investia muito na construção dessa ordem dentro da narrativa do governo Trump e do Trump como candidato, isso era algo que beneficiava muito mais a China, por exemplo, do que os próprios estadunidenses, então se parte muito da ideia de que existem indústrias nos Estados Unidos que levaram suas fábricas para a Ásia.

Porque era mais barato produzir na Ásia, e isso fez com que a população estadunidense perdesse empregos, por exemplo, então essa ideia de empregos, de bons empregos que existiam no passado e que foram perdidos em razão da globalização é algo que vai fazer parte da narrativa do governo Trump e isso vai ser muito direcionado à China, então a ideia da construção da China como uma ameaça, mas ameaça também do ponto de vista econômico, então é algo que vai fazer bastante parte do discurso e que vai permear toda a política externa do governo Trump.

E quem é o Trump, então, nesse movimento global de extrema direita, que vai criticar a ordem internacional, a ordem internacional que foi criada pelos próprios Estados Unidos, então isso é algo bastante interessante, é bastante contratatório, porque até quando a gente pensa nessas lideranças e a gente pensou na série, dividimos pensando em potências ocidentais e potências revisionistas, mas quando a gente olha para Trump e a ordem internacional, Trump não vai buscar simplesmente uma manutenção do status quo, ele vai criticar essa ordem liberal que foi construída pelos próprios Estados Unidos.

Então, em certa medida, existe um certo revisionismo também, ou pelo menos uma crítica às normas e às instituições internacionais por parte do governo Trump. Então, a eleição do Trump lá em 2016 foi um dos principais expoentes, um dos principais sintomas desse avanço da extrema direita no âmbito global, então é um marco bastante importante para as outras direitas globais. E é, junto com o Brexit, são os dois grandes acontecimentos que vão levar a um aumento da discussão sobre a direita global, esse movimento global de ultradireitas, que vai levar também a um aumento exponencial da quantidade de trabalhos acadêmicos sobre esse tema.

E além de Trump, um personagem bastante importante que tem buscado construir essas articulações entre lideranças de diversas partes do mundo é o Steve Bannon, que foi o estrategista-chefe do primeiro governo Trump, que estava muito presente durante a primeira campanha eleitoral, enfim, é uma liderança que sempre esteve ali perto de Donald Trump, e que ajuda a construir parte do discurso, pelo menos do ponto de vista da campanha eleitoral.

Então, Steve Bannon é uma pessoa bastante importante para a gente pensar nessas articulações de extrema direita, das ultradireitas, e que constrói pontes, inclusive, com o Eduardo Bolsonaro, que hoje está lá nos Estados Unidos como parte desse movimento. E quais são as características dessas ultradireitas globais que vão, então, criticar a ordem liberal internacional? A ideia da construção dessa elite transnacional como sendo o grande inimigo, a ideia de um povo que se contrapõe com uma elite que não é uma elite nacional, mas é uma elite transnacional, a partir da narrativa de que houve uma degradação, houve uma perda de soberania ao longo dos últimos anos, e seria necessário, então, uma retomada dessa soberania.

Então, é um discurso bastante soberanista, desse ponto de vista da política externa, e é um discurso que também vai criticar alguns avanços e algumas propostas mais progressistas que ganharam espaço nas organizações internacionais nos últimos tempos.

Então, temas como direitos das mulheres, direitos das comunidades LGBTQIA+, direitos dos povos indígenas, todos esses temas são temas progressistas e que vão avançar, vai haver um aumento da discussão sobre esses temas de direitos relacionados com diversidade, com equidade, e Donald Trump, junto com outras lideranças de extrema direita, vão questionar isso a partir da ideia de uma defesa de valores tradicionais.

Então, quais seriam esses valores tradicionais? A ideia de família e uma concepção heteronormativa de gênero, gênero como sendo mulher e homem, então Trump vai atacar um pouco também os direitos das pessoas transexuais, isso fica bastante claro e é bastante importante, um marco bastante importante desse segundo mandato Trump, e também isso vai se expressar a partir da valorização de certos direitos, no âmbito do regime internacional de direitos humanos, como são as questões relacionadas à liberdade, principalmente à liberdade de expressão e à propriedade privada.

Essas são características não só do governo Trump, mas de lideranças de extrema direita, das ultradireitas globais e que vão se manifestar, por exemplo, na formação de um documento que se chama Consenso de Gênero, que vai questionar a visão hegemônica, a visão de senso comum que se tem sobre os direitos das mulheres e principalmente direitos reprodutivos. Esse foi um exemplo bastante importante, bastante claro, de articulação das ultradireitas no âmbito global, durante o primeiro governo Trump. E como Trump se coloca, então, com relação ao multilateralismo.

Então, Trump vai colocar em ação práticas de política externa que vão se alinhar nesse discurso das ultradireitas globais. Então, ele vai, como presidente dos Estados Unidos, criticar as organizações internacionais de forma geral, uma crítica bastante direcionada à própria ONU, à OMC, mas também à OTAN, por exemplo, e ele vai deixar algumas instituições internacionais. Então, ele sai dos acordos de Paris, sai do acordo de Paris sobre mudanças climáticas, ele sai do Conselho dos Direitos Humanos da ONU.

Então, ele vai colocar em prática uma estratégia de sair dessas organizações. Ele critica de forma muito clara a OMS durante o período da pandemia. Então, aquele momento da pandemia era um momento que era visto como um momento no qual seria muito importante investir e valorizar o multilateralismo, porque as soluções da pandemia eram soluções que tinham que ser soluções globais, e o que Donald Trump vai fazer é criticar a OMS.

E o que fica como pergunta sobre isso é se existe a criação ou não de um internacionalismo reacionário. Então, o que Donald Trump faz é muito mais sair dessas organizações ou se existe uma visão própria sobre a ordem internacional a partir dessas lideranças de ultradireita global. E o que alguns autores vão colocar, como, por exemplo, a Rita Abrahamson da Universidade de Ottawa, no Canadá, é a ideia de que existe sim uma crítica coesa, uma crítica em certa medida até coerente desses grupos de ultradireita ao multilateralismo, à ordem liberal internacional, e à busca de construção de uma ordem internacional em bases, em formas que seriam reacionadas.

Então, o Consenso de Genebra que eu mencionei para vocês é um exemplo disso. E seria uma ordem internacional muito mais baseada em um questionamento do multiculturalismo e uma valorização da soberania nacional. Então, isso é algo que está bastante presente.

Então, a política externa do governo Trump é uma política externa que vai se pautar bastante nisso, nessa crítica ao multilateralismo e nessas articulações com a extrema-direita global. E como que ela se coloca, então, com relação às grandes potências, com relação a outros temas? Então, talvez uma das principais questões que é colocada pelo governo Trump e algo que se intensifica bastante durante o governo Trump, é a construção da China como uma ameaça aos Estados Unidos. Isso não é algo que foi criado pelo governo Trump.

Então, a visão da China como uma ameaça à liderança dos Estados Unidos é algo que já vem de bastante tempo. A gente já pode perceber nos mandatos do Barack Obama com a ideia de um pivô na Ásia, por exemplo. Então, essa ideia da China como uma ameaça é algo que já vem de antes, mas que se intensifica e que ganha uma centralidade do debate muito clara a partir do governo Trump.

Como eu disse para vocês, essa construção da ameaça, ela passa, ela permeia a esfera econômica e ela é pautada a partir de uma prática ou de práticas de política externa que estão baseadas nessa ideia de uma imposição de tarifas importantes das relações econômicas China e Estados Unidos e hoje para o globo como um todo. Como eu havia mencionado para vocês, Trump tem muito aquela noção, aquela ideia de se colocar como um grande negociador e a sua estratégia de negociação é muito baseada na criação de fatos, na criação de exageros, na construção de quase um caos para conseguir alguns ganhos. Então a guerra comercial pode ser vista dessa forma.

Trump coloca essas tarifas e coloca tarifas muito elevadas para conseguir enfim, chocar as audiências, mostrar que os Estados Unidos sob seu governo teriam disposição política de acabar com essas tarifas para depois negociar essas tarifas e colocar em prática tarifas que são menores, mas são menores em relação ao que foi anunciado anteriormente e não ao que era no passado.

Então com isso se consegue uma mudança narrativa, uma mudança importante e alguns ganhos nesse sentido daquilo que os Estados Unidos os Estados colam com relação àquilo que havia anteriormente. Então a construção da China como inimigo e a questão da guerra comercial é algo que vai faltar no governo Trump muito mais do que a ameaça constituída pela Rússia.

Então quando a gente pensa nos governos democratas a ameaça russa é muito mais enfatizada do que a questão da China. E com Trump a gente tem uma reversão disso e uma ênfase muito clara na China como esse grande inimigo, o que vai permear também o governo Biden. Então a gente talvez muito de mudanças, muito de diferenças, de contrastes entre Trump e Biden mas uma continuidade nessa construção da China como inimigo.

Trump vai intensificar isso mas a partir do seu governo isso é algo que vai permanecer com muita centralidade durante o governo Biden e que mostra um consenso bipartidário nessa construção da China como inimigo. Muitos autores vão dizer que o que está por trás dessa guerra comercial são questões de disputa pela liderança tecnológica. Então o que se busca, o que os Estados Unidos buscam com isso é muito mais não deixar que a China avance na liderança tecnológica principalmente em questões como inteligência artificial e produção de chips.

Então se entende que se a China conseguir capacidade know-how para produzir o que já tem, né? Mas para produzir de forma mais eficiente do que as empresas dos Estados Unidos inteligência artificial generativa e semicondutores que isso desafia de forma clara, de forma importante a hegemonia dos Estados Unidos. E nesse sentido também algo que vai passar essas disputas entre China e Estados Unidos é a disputa pelo acesso a minerais críticos, a minerais estratégicos no sul global. Então o acesso a lítio, a diversos outros minérios que estão relacionados com a construção de baterias com uma transição energética é algo que também vai pautar, por exemplo as disputas entre China e Estados Unidos na América Latina.

Então isso é no que se refere a China e Rússia, né? Construção principalmente da China como um inimigo e no que se refere aos aliados tradicionais dos Estados Unidos existe uma retórica crítica a essas alianças. Então a OTAN, que é a Organização do Tratado do Atlântico Norte, ela é baseada na construção da ideia de que um ataque a uma dessas potências seria considerado um ataque a todas as potências que fazem parte da OTAN. Então a ideia da OTAN como essa aliança, uma aliança contínua, uma aliança permanente é algo que permeia a construção da OTAN e que faz parte da própria da própria do próprio significado da OTAN.

Então esse comprometimento discursivo com o artigo 5º é algo que seria importante para que a OTAN fosse vista como eficiente para que houvesse uma confiança dos próprios países mas também de outras potências de que um ataque a um desses Estados seria considerado um ataque a todos eles. E o que Trump faz é quebrar um pouco desse discurso e colocar em dúvida se os Estados Unidos reagiriam ou não caso um país da OTAN fosse atingido fosse atacado por alguma outra grande potência. Então nesse sentido existe essa quebra da confiança com relação à OTAN e também um incentivo grande dos Estados Unidos aos gastos de defesa.

Então o que o Donald Trump coloca é que os Estados Unidos vêm gastando muito com defesa para proteger seus aliados e é necessário que esses aliados também arquem de forma mais participativa com essa defesa do Ocidente como um tom. Então a ideia de que é importante incentivar os gastos em defesa dos países da OTAN é algo que faz parte de forma muito clara do discurso do Donald Trump. E como são as relações do Donald Trump com o Sul Global? Então talvez algo que fique muito claro quando a gente olha para o discurso do Trump é um desprezo importante e uma xenofobia descarada com relação aos países do Sul Global.

Então no primeiro mandato a gente viu por exemplo a proibição da entrada de pessoas de certas nacionalidades nos Estados Unidos. A gente vê nesse momento uma criminalização da migração também bastante forte e a ideia de que existem pessoas que são nativamente americanas então a ideia de que existem aqueles que são os verdadeiros americanos e existem os migrantes que são pessoas que deveriam voltar às suas casas voltar aos seus territórios. Então isso é algo que é colocado de forma bastante preconceituosa inclusive e Trump faz menção usando palavras de baixo calão para se referir a países do Sul Global.

Então ele fez isso quando ele falou por exemplo no caso do Haiti usou termos bastante pejorativos em diversos momentos para se referir ao Haiti. Então ele combina esse desprezo, essa ideia de que são países menores que os Estados Unidos seriam um país superior do ponto de vista cultural, do ponto de vista até de uma, talvez uma humanidade evoluída, não sei. Ele faz uso de termos bastante preconceituosos quando ele se refere a países do Sul Global.

Essa xenofobia é bastante clara. E existe um tom constante de ameaças a países que de alguma forma vão desafiar essa liderança dos Estados Unidos. Quando a gente pensa nas relações dos Estados Unidos com a América Latina e quando a gente olha por exemplo para as campanhas eleitorais, isso foi algo que eu cheguei a analisar durante a campanha eleitoral, inclusive publiquei sobre isso, a América Latina parece principalmente a partir dessa narrativa.

Então não se fala em políticas ainda da América Latina a não ser quando se fala de migração e quando se fala de crimes. Talvez essa não seja infelizmente uma especificidade do governo Trump ou do Trump enquanto candidato. Isso é algo que também aparece quando a gente olha os discursos ou as propostas de política externa para a América Latina dos candidatos democratas.

Então muitas vezes a América Latina aparece nas campanhas eleitorais muito por essa lente. A migração e do crime. Como vamos fazer para conter a migração latino-americana dos Estados Unidos? Como vamos fazer para conter o crime dos Estados Unidos e essa identificação do crime e do criminoso como aquele que vem de fora? E muitas vezes inclusive como latino.

Então passa por tudo isso. A política e as relações com a América Latina E aqui também é importante dizer um desprezo pelas organizações regionais latino-americanas.

Então Trump é o primeiro presidente em muito tempo durante seu primeiro mandato que não participa de uma cúpula das Américas o que vai tirar a relevância da cúpula das Américas, mas claro, sempre ao mesmo tempo combinando duas estratégias que estão presentes quando a gente fala das organizações internacionais como um todo que a gente já viu anteriormente.

Há tanto uma saída ou uma desvalorização dessas organizações como uma tentativa de imposição de uma outra visão, uma visão reacionária uma visão muito mais pautada na soberania na ênfase em certos direitos que são os direitos relacionados à liberdade de expressão, à propriedade privada e a gente tem visto isso atualmente, por exemplo, na disputa pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Então ao mesmo tempo que existe um desprezo com relação a essas organizações regionais, como por exemplo a OEA, os Estados Unidos eles propõem uma candidatura própria à OEA e propõem como essa indicada a Comissão Interamericana de Direitos Humanos uma mulher que é uma mulher que tem uma visão bastante próxima do governo Trump sobre o que significam direitos humanos ou seja, privilegiando alguns direitos que são esses direitos relacionados à propriedade à liberdade de expressão enfim.

E deixando de lado uma outra narrativa sobre direitos humanos que era mais presente na contemporaneidade que é muito mais voltada na ideia de diversidade, de equidade em igualdade de gênero em combate ao racismo enfim, então ele busca colocar em prática essa outra visão e o que a gente tem visto também é uma uma noção de uma reconstrução, uma permanência dessa primazia dos Estados Unidos o que vai fazer com que haja um tom de ameaça constante e que ficou muito claro na última semana em razão da cúpula dos BRICS há países que desafiem essa hegemonia essa primazia

Essa liderança estadunidense como vocês viram, eu imagino que tenham visto aconteceu a cúpula dos BRICS aqui no Rio de Janeiro, no Brasil e a gente vai ter oportunidade de discutir isso na quinta-feira mais Trump caracterizou então BRICS como sendo uma articulação anti-americana então isso estava presente, essa ideia estava presente de um anti-americanismo e colocou que todos os países que de alguma forma se aproximassem dos BRICS seriam considerados então anti-americanos e sofreriam retaliações

Tendo que essas retaliações seriam a imposição de tarifas extras tarifas comerciais extras a esses países o que é uma mudança também de intensidade importante até então não se colocava de forma tão clara BRICS como sendo uma aliança anti-ocidental e é Trump que vai colocar dessa maneira, que vai colocar essa confrontação de forma clara Bom, então para finalizar o que a gente vê? Qual é o legado do governo Trump e o que a gente pode esperar para o futuro?

A gente tem como como legado importante tantos temas que se referem à política interna dos Estados Unidos e ao processo de tomada de decisão dos Estados Unidos como a política externa e as questões da ordem internacional então do ponto de vista da política interna como nós vimos, existe um cumprimento de um consenso que era predominante desde a segunda guerra mundial que entendia que a liderança dos Estados Unidos.

Ela passava pela construção de uma ordem internacional pautada no liberalismo político, democracia e direitos humanos no liberalismo econômico, livre comércio e no multilateralismo Trump vai questionar de uma forma ou de outra tudo isso Então a gente tem esse primeiro momento dessa quebra do consenso o que vai fazer com que por exemplo, negociações multilaterais de comércio que vinham sendo gestadas até então, elas saiam totalmente de externo.

Hoje a gente já não fala mais de TPP com participação dos Estados Unidos por exemplo, a gente tem também do ponto de vista interno uma mudança no caráter do partido republicano então o partido republicano que era composto por neoconservadores por as vezes pessoas até mais moderadas que Trump ele tem uma reconfiguração e aqueles apoiadores de Trump ganham muita força no partido republicano então em um primeiro momento havia muita crítica a Trump dentro no interior do partido republicano e hoje a gente tem um partido republicano que é tomado pelo Trumpismo e a gente também pode perceber principalmente nesse segundo mandato apesar de sair da duela mas que do governo.

O aumento da influência das lideranças das Big Tech na política interna dos Estados Unidos e no âmbito da política externa e da política internacional um aumento da instabilidade internacional uma certa deslegitimação da hegemonia dos Estados Unidos uma hegemonia que não mais se pauta nessas discussões sobre construção de uma ordem liberal internacional e uma consolidação das disputas entre grandes potências como estando no plano central da política externa dos Estados Unidos.

A partir dessa construção discursiva de China e Rússia como inimigos bom antes disso que eu tinha preparado para vocês eu vi que o pessoal aqui da revista mandou algumas perguntas se alguém mais tiver questões eu fico aqui para responder a gente ainda tem tempo então o pessoal aqui colocou a política externa de Trump ficou marcada por decisões abruptas como a retirada do acordo de Paris e do acordo nuclear com o Irã esses movimentos foram frequentemente justificados com base em interesses imediatos dos Estados Unidos sim.

E no caso do acordo com o Irã também uma disputa política Trump vs Obama então Trump criticava o acordo com o Irã não só pelo seu significado e pelo fato de que o governador Trump também mantém uma política muito próxima de Israel uma aliança muito próxima com Israel mas porque foi um acordo construído pelo seu antecessor então essas disputas políticas Obama Trump elas também vão impregnar e vão informar a política externa do primeiro mandato Trump.

Então, isso está colocado, né? Está colocado tanto a ideia de que as organizações internacionais e acordos, tratados internacionais, não correspondem aos interesses dos estadunidenses, da população dos Estados Unidos, mas também essas disputas políticas, elas vão informar essas decisões de política externa. E aí, na sua visão, até que ponto essa visão transnacional do homem de negócios, das relações internacionais, comprometeu a credibilidade diplomática dos Estados Unidos no longo prazo? Eu acho que compromete bastante. E talvez isso seja um pouco medido quando a gente pensa sobre análise, pesquisa de opinião, sobre a opinião pública internacional e como a imagem dos Estados Unidos é afetada por isso no globo como um todo.

O que a gente vê é que existe uma confiança cada vez menor nos Estados Unidos como essa liderança que seria capaz de construir uma ordem internacional, de construir uma liderança que, de alguma forma, se coloca como benigna. Então, me parece que essa postura errática de Trump, essas indas e vindas, tudo isso mostra uma postura que gera bastante desconfiança no mundo como um todo e gera uma deslegitimação dessa liderança dos Estados Unidos. Não que isso não existisse antes, principalmente na América Latina, política externa de vários países da região é pautada e passa por uma crítica bastante forte aos Estados Unidos.

Mas, apesar disso, o que a gente vê durante um governo Trump é uma intensificação desses questionamentos. E aí o que a gente talvez veja também é uma busca dos países europeus e talvez até em aliança com o Canadá, uma busca de aumentar suas articulações para depender cada vez menos dos Estados Unidos. Até que ponto a política externa de Trump foi pensada mais como performance para o público político doméstico como estratégia internacional consistente? De fato, como eu coloquei para vocês na resposta anterior, inclusive muito da oposição do Donald Trump a certos acordos, ele fazia parte das disputas com atores do Partido Democrata, o próprio Barack Obama principalmente.

Então existe muito isso, essa tentativa de se colocar como um homem de negócios, como esse negociador esperto e ser colocado na frente de pensar o interesse, que seja o interesse dos Estados Unidos como um todo. Então essa ideia de uma projeção do Trump muito mais do que uma projeção dos Estados Unidos é algo que está presente. Então, como eu disse para vocês, existe essa discussão, parece que o Trump tem essa ambição de ganhar um prêmio Nobel da paz e muitas vezes isso é colocado como um objetivo maior do que aquilo que poderia ser considerado o objetivo dos Estados Unidos enquanto o Estado Nacional mesmo.

Mas eu também diria que isso não é necessariamente algo particular do governo Trump, talvez seja mais intenso no governo Trump, mas essa priorização do interno e da política interna é algo que está presente em outros governos também. O Clênis Ribeiro pergunta, obrigada pela pergunta, Clênis. Os Estados Unidos têm uma filosofia mais idealista e o Trump teria uma visão mais materialista da política internacional? Eu acho que do ponto de vista discursivo, sim.

Então se a gente for pensar que a hegemonia, se a gente definir a hegemonia como construção de um consenso e construção de um consenso que também é mantido pela força, então a força está sempre latente ali, a dimensão de construção de um consenso, de exportação de uma visão de mundo, ela é colocada em segundo plano pelo governo Trump. Mas isso não significa que outros governos também não tivessem uma visão materialista, então isso também estava presente em outros governos. Mas geralmente a narrativa era uma narrativa que era permeada.

Havia a justificativa de que certas políticas eram feitas, de que certas práticas eram justificáveis porque elas levariam a uma expansão do liberalismo. Então se colocam certas, se estão tomadas certas decisões que, por exemplo, vão contra as organizações internacionais, mas que colocam isso como parte de uma defesa de longo prazo do multilateralismo. E é nesse sentido, dessa narrativa, dessa justificativa, dessa legitimação da hegemonia que me parece que o discurso de Trump quebra com consensos importantes.

Terezinha coloca o discurso nacionalista e xenófobo oferece resposta simples para problemas complexos, atraindo classes médias desencantadas e até minorias sociais. Claro, com certeza isso está presente no governo Trump, mas está presente também na direita europeia. Então a ideia de que se existe um aumento da dificuldade interna, um aumento da pobreza, um aumento do desemprego, isso seria causado porque existe um aumento das migrações.

Quando na verdade isso tem várias outras razões. Então eu falei, por exemplo, da questão de empresas dos Estados Unidos que se estabeleceram na China. O que os economistas colocam é que se essas empresas voltassem para os Estados Unidos, isso não resolveria o problema do desemprego estrutural.

Porque essas são empresas que se tornaram automatizadas. Então a volta dessas empresas não significaria necessariamente uma volta dos empregos, porque esses empregos já não existem mais. Essas operações são operações que estão automatizadas.

Em que medida a retórica nacionalista e protecionista de Trump… Perguntou da Camila, né? Obrigada pela pergunta. Então em que medida a retórica nacionalista e protecionista de Trump influenciou a credibilidade dos Estados Unidos perante seus aliados históricos e afetou sua liderança global? Então me parece que vai nesses dois sentidos. Esse retórica nacionalista, essa retórica xenófoba, de desconstrução da ordem, desvalorização das instituições internacionais, ela desafia a credibilidade dos Estados Unidos quando a gente pensa nas elites internacionais, quando a gente pensa principalmente em Europa.

Então é uma Europa que passa a questionar sua aliança com os Estados Unidos, que deixa de ver os Estados Unidos como um fator que protegeria a Europa. E afeta a credibilidade quando a gente pensa em diversas partes do mundo. Mas por outro lado existe essa tentativa de construção dessa articulação política com outros líderes que também são de extrema direita para mudar, para criar uma ordem internacional com base e reacionar.

Então ao mesmo tempo que ele desconstrói certas articulações, que ele desconstrói essas alianças e que isso significa uma desconfiança cada vez maior com relação ao papel dos Estados Unidos e o que os Estados Unidos estariam dispostos a fazer em nome da democracia, dos direitos humanos, do livre comércio, ao mesmo tempo busca se construir essas outras articulações. O Elon Musk tem tanto interesse no governo dos Estados Unidos pois depende do financiamento das agências para seus projetos. Os Estados Unidos seguem governados, mesmo com Trump, pelo complexo militar-industrial.

Sobre o Elon Musk eu colocaria em primeiro lugar que desde a entrada dele no governo existem interesses que são conflitantes. O governo Trump é um governo que se pauta por uma crítica às organizações internacionais no âmbito do meio ambiente, do clima. Existe uma retórica de negacionismo do aquecimento global e isso vai contra o interesse do Elon Musk de vender carros elétricos.

Os carros elétricos são vistos como uma solução do ponto de vista da transição energética, da construção de formas de energia limpa. Então já existia essa contradição ali desde o início. Ao mesmo tempo que o Elon Musk, como todos os outros grandes empresários, dependem de financiamentos dos Estados Unidos e dependem inclusive de financiamento estatal no âmbito do desenvolvimento de tecnologias.

Então são lideranças que se colocam muitas vezes como lideranças autoconstruídas, que se construíram sem o apoio do Estado, mas isso não é verdade. Na verdade elas se constroem inclusive a partir de financiamentos estatais. Isso quando a gente pensa nos milionários, nos milionários dos Estados Unidos.

Então o financiamento das agências é bastante relevante. E com relação à segunda questão, se os Estados Unidos serem governados, mesmo com o Trump, pelo complexo militar e industrial, me parece que o complexo militar e industrial é um ator muito relevante quando a gente pensa em tomada de decisão nos Estados Unidos.

Eu acho que eu não diria que os Estados Unidos estão governados pelo complexo militar e industrial, mas existe uma disputa política nos Estados Unidos que perpassa diversos atores importantes e um dos atores centrais, um dos atores de maior peso, de maior destaque, continua sendo o complexo militar e industrial, que tem influência na política de defesa, o que talvez seja evidenciado pelo contínuo aumento dos gastos militares nos Estados Unidos.

Então os gastos militares crescem já há bastante tempo independente do governo, independente de quem está na presidência. E isso mostra o poder do complexo militar e industrial. Com o eslogan Make America Great Again na política externa, Trump realmente buscou restaurar a liderança global dos Estados Unidos? Ou foi mais um discurso simbólico diante da sessão baixinha? Eu não sei se eu vejo essas duas questões como excludentes não, Camila.

Então o que ele propõe é uma outra visão sobre a liderança dos Estados Unidos. É uma visão de liderança que está apancada muito mais nessa frente coercitiva e nesse tom mais ameaçador, nessa retórica mais agressiva com relação a países que desafiam a liderança dos Estados Unidos. Se isso vai dar certo, me parece que não.

Não me parece a estratégia mais acertada, mas me parece que é a estratégia que está colocada. E a construção da China como uma ameaça repassa essa ideia da tentativa de manutenção de uma hegemonia dos Estados Unidos, tanto por governos republicanos como por presidências democratas. Há como exemplificar alguém dessa elite transnacional que Trump considera como inimigo? E o porquê? Talvez o próprio Barack Obama.

Então, enfim, o Barack Obama, a ONU, não se colocam necessariamente as lideranças, mas muitas vezes se coloca a ONU, muitas vezes se coloca… Eu não estou conseguindo pensar em um exemplo do Trump, mas um exemplo que faz parte da narrativa da extrema-direita global é, por exemplo, o George Soros, que aparece como sendo essa pessoa que, teoricamente, financiaria grupos de esquerda, grupos progressistas em diversas partes do mundo. Ou se coloca, enfim, secretário-geral das Nações Unidas. Então, é muito mais essa crítica às organizações internacionais mesmo e às lideranças dessas organizações internacionais.

Acho que seria por aí. Tem mais alguma pergunta? Amanhã nós temos a discussão sobre o BRICS, no Sala de Estratégia. Eu, Guilherme e Bruno.

Então, ficam todos convidados. E eu agradeço. Foi ótimo conversar com vocês.

Obrigada pelas perguntas. Vou ficar também pensando sobre elas. E é sempre bom participar das iniciativas da Revista de Relações Exteriores.

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