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Equador: Daniel Noboa, recém-reeleito, conseguirá governar um país em crise? Equador: Daniel Noboa, recém-reeleito, conseguirá governar um país em crise?

Equador: Daniel Noboa, recém-reeleito, conseguirá governar um país em crise?

Foto por Asamblea Nacional del Ecuador. Via Wikicommons. (CC BY-SA 2.0)

Daniel Noboa foi reeleito presidente do Equador com uma margem que surpreendeu a maioria dos observadores. Apenas semanas antes do segundo turno em 13 de abril, as pesquisas o mostravam empatado com sua rival de esquerda, Luisa González. No final, Noboa obteve cerca de 56% dos votos contra 44% de González, uma diferença de mais de 1 milhão de votos.

A vitória dá a Noboa, um empresário de 37 anos e outsider político, um mandato completo de quatro anos. Noboa venceu um mandato presidencial reduzido em novembro de 2023 em uma eleição antecipada convocada quando seu predecessor, Guillermo Lasso, dissolveu o congresso para escapar de um impeachment.

A eleição também marca a terceira derrota consecutiva nas eleições presidenciais para o movimento liderado pelo ex-presidente Rafael Correa, cuja influência continua polarizadora na política equatoriana.

González, no momento desta publicação, recusa-se a reconhecer a derrota, alegando fraude eleitoral “grotesca”. “Recuso-me a acreditar que o povo prefira mentiras à verdade”, ela disse. Mas ela não apresentou provas para sustentar a alegação.

Observadores internacionais, incluindo a UE e a Organização dos Estados Americanos, confirmaram que as eleições foram livres e justas. Na ausência de provas, as alegações de fraude parecem mais um teatro político do que um desafio real à integridade da votação.

De herdeiro político a governante dominante

A campanha de Noboa focou fortemente na segurança — um tema que passou a dominar a vida pública equatoriana enquanto o país enfrenta níveis recordes de violência. Desde que assumiu a presidência em 2023, Noboa governa sob um permanente estado de emergência.

Ele declarou um “conflito armado interno” no início de 2024, mobilizou o exército em prisões e nas ruas e lançou um amplo plano de segurança chamado Plan Fénix. O plano inclui a construção de uma nova prisão de segurança máxima na província costeira de Santa Elena, inspirada na política muito criticada de El Salvador para conter a violência.

Inicialmente, essas medidas garantiram a Noboa amplo apoio. Mas o cenário logo escureceu. Janeiro de 2025 foi o mês mais violento já registrado no Equador, com 781 homicídios. Grupos criminosos permanecem enraizados nas cidades portuárias e prisões do país. E organizações de direitos humanos expressaram sérias preocupações sobre prisões arbitrárias, uso excessivo da força e militarização da vida civil.

Apesar desses contratempos, a mensagem de força e ordem de Noboa claramente ressoou com os eleitores. Os equatorianos, exaustos com a violência crescente, parecem dispostos a aceitar um governo mais autoritário em troca de segurança. Essa é uma tendência vista em toda a região, desde a reeleição do presidente Nayib Bukele em El Salvador em 2024 até a crescente aprovação de policiamento militarizado no Brasil, Honduras e México.

Desafios econômicos e políticos

Os desafios que Noboa enfrenta agora são assustadores. O mais urgente é a descida do Equador no crime organizado e na violência narcótica. Situado entre Colômbia e Peru, o país se tornou um importante centro de trânsito para cocaína destinada aos EUA e Europa. Cartéis internacionais poderosos se associaram a gangues locais, e o Estado perdeu o controle sobre grandes extensões de território.

Em resposta, Noboa não apenas fortaleceu as forças armadas, mas também buscou assistência internacional. Em 2024, ele se reuniu com Erik Prince, fundador da Blackwater, uma controversa empresa militar privada dos EUA. Isso levantou preocupações sobre a terceirização da segurança do Equador e suas implicações para os direitos humanos. Ele também sugeriu a ideia de hospedar tropas estrangeiras no Equador, uma proposta que exigiria uma emenda constitucional.

Mas soluções militarizadas não conseguiram acabar com a violência durante o primeiro mandato de Noboa, nem é provável que tenham sucesso em seu segundo mandato.

A crise de segurança do Equador não é apenas uma questão de policiamento — é uma crise de capacidade estatal. O judiciário está cheio de corrupção, as prisões se tornaram centros de coordenação criminosa e os policiais frequentemente estão em desvantagem e mal pagos. Sem reformar essas instituições, a guerra de Noboa contra o crime corre o risco de se tornar uma guerra sem fim.

Ao mesmo tempo, a economia do Equador está enfraquecendo. Em 2024, o país entrou em recessão, com o PIB encolhendo e a inflação subindo. O Equador depende da hidroeletricidade para sua geração de energia, e uma seca histórica naquele ano causou apagões que duraram até 14 horas por dia. Isso revelou anos de subinvestimento em infraestrutura.

Em resposta, Noboa aumentou o IVA, cortou subsídios aos combustíveis e garantiu um empréstimo de US$ 4 bilhões (cerca de R$ 20 bilhões) do Fundo Monetário Internacional. Essas medidas impopulares provocaram reclamações, mas não protestos em massa, um fato que alguns analistas atribuem mais ao cansaço do que à aprovação.

A desigualdade permanece alta, especialmente para jovens e moradores de regiões rurais e costeiras. Desemprego e subemprego afetam quase metade da população em idade ativa, e cerca de um terço dos equatorianos vive na pobreza. Noboa anunciou novos programas de transferência de renda e emprego jovem, mas são medidas paliativas, não estruturais.

Para piorar, Noboa governa com apoio limitado na Assembleia Nacional. Seu partido, Ação Democrática Nacional, ocupa 66 das 151 cadeiras da câmara — uma a menos que a Revolução Cidadã de González.

O partido indígena Pachakutik controla um bloco crucial de nove cadeiras, mas está dividido internamente. A aprovação de leis exigirá a construção de coalizões e compromissos — habilidades que Noboa ainda precisa demonstrar em larga escala.

A credibilidade de Noboa também foi questionada. A empresa de exportação de bananas de sua família, Noboa Trading, foi vinculada a várias apreensões de drogas na Europa. Embora não haja evidências que impliquem Noboa diretamente, as revelações levantam questões desconfortáveis sobre seu discurso antidrogas e possíveis conflitos de interesse.

Rumo à reforma democrática

A vitória de Noboa lhe dá uma oportunidade, mas não um cheque em branco. Seu sucesso agora dependerá de sua capacidade de passar de governar por decreto a governar por consenso. O público espera resultados: menos violência, mais empregos e maior estabilidade política.

Para atender a essas expectativas, ele precisará restaurar o Estado de direito, proteger os direitos humanos e construir instituições inclusivas capazes de resistir ao controle criminoso. Isso significa profissionalizar a polícia, fortalecer o judiciário e enfrentar as profundas desigualdades que alimentam a violência e o desespero.

Também significa recuar de gestos teatrais, como alianças com mercenários estrangeiros, e focar no trabalho lento e muitas vezes frustrante de construção estatal.

Nos próximos meses, Noboa enfrentará um teste simples, mas profundo: ele conseguirá transformar seu mandato eleitoral em progresso real e duradouro para um país à beira do abismo? O futuro do Equador pode depender da resposta.

Texto traduzido do artigo Ecuador: Can freshly re-elected Daniel Noboa govern a country in crisis? de Nicolas Forsans publicado por The Conversation sob a licença Creative Commons Attribution 3.0. Leia o original em: The Conversation.

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