Líderes da Otan concordaram em elevar os gastos com defesa para 5% do PIB de seus países até 2035, durante uma cúpula em Haia, Holanda, em 25 de junho. O presidente dos EUA, Donald Trump, que passou meses afirmando que a Europa deveria assumir mais responsabilidade por sua própria segurança, descreveu o compromisso como “uma vitória monumental para os EUA” e um “grande triunfo” para a civilização ocidental.
Alguns meses antes, em março, a UE também lançou seu aguardado livro branco sobre defesa. O documento apresenta um plano para melhorar a prontidão da Europa contra ameaças militares até 2030. Somado ao fato de que os gastos militares globais dispararam na última década, esses desenvolvimentos indicam que as maiores potências agora priorizam a diplomacia militar em detrimento da econômica.
Um dos principais argumentos por trás da diplomacia militar é que maiores gastos com defesa atuam como dissuasão para conflitos futuros. A corrida armamentista nuclear entre EUA e União Soviética durante a Guerra Fria oferece algum respaldo a essa tese. A perspectiva de destruição mútua era tão grande que serviu de freio a uma guerra nuclear.
Mas será que aumentar gastos militares é realmente o preço necessário para mais paz e prosperidade? Minha pesquisa sobre interações entre empresas, geopolítica e economia política da defesa indica que isso não representa um “grande triunfo” para a sociedade ou a produtividade econômica.
A dissuasão exige certo nível de jogo de risco para funcionar. Porém, como o economista americano Thomas Schelling apontou em seu livro de 1960, A Estratégia do Conflito, o problema desse jogo é que ele depende de permitir deliberadamente que situações saiam parcialmente do controle, com o intuito de forçar a outra parte a recuar.
Isso pode resultar em erros estratégicos. Os esforços do ex-presidente americano Richard Nixon em 1969 para criar tal situação ameaçando usar armas nucleares no Vietnã falharam em convencer soviéticos e vietnamitas do norte. Isso sem dúvida reforçou a convicção do Vietnã do Norte de que poderia sobreviver à guerra, prolongando o conflito para os EUA.
O recente confronto entre Israel e Irã também mostrou que o jogo de risco pode gerar situações com baixas significativas sem resolução clara a longo prazo. O Irã há muito entende que manter-se no limiar da capacidade nuclear ofereceria dissuasão contra ameaças externas.
Mas essa estratégia criou inúmeras oportunidades para erros. Israel alegou que o Irã estava perto demais de desenvolver armas nucleares e, com os EUA, lançou ataques que afirmam ter causado danos significativos às capacidades de enriquecimento nuclear e à liderança militar iraniana.
Além disso, não está claro quanto gasto militar é necessário para dissuadir agressões. Os aliados da Otan agora se comprometeram com um grande aumento nos gastos com defesa — graças em grande parte à pressão de Trump.
No entanto, até mesmo a meta anterior da Otan de que países destinassem 2% de sua renda nacional à defesa mostrou-se pouco atraente para muitos governos. Isso ocorreu mesmo em áreas pós-conflito como os Bálcãs, onde a Otan tem forte atuação.
Uma alternativa custosa
Aumentar gastos com defesa também falha em garantir prosperidade econômica. Analisando os gastos militares dos EUA na Guerra do Vietnã, o economista Les Fishman observou em 1967 que a diplomacia militar era muito mais custosa que sua equivalente econômica.
A produção militar exige investimentos continuamente altos para manter progresso tecnológico, desviando recursos públicos de outras áreas da economia.
Isso não significa que gastos com defesa tenham efeito totalmente negativo. Estudos encontraram evidências de que financiamento federal americano em P&D militar aumenta significativamente a pesquisa privada em setores como químico e aeroespacial.
E na última década, o valor de investimentos de capital de risco na indústria de defesa dos EUA cresceu 18 vezes, superando setores como energia e saúde. Mas tais investimentos em P&D militar são frequentemente reconhecidos como ineficientes e não necessariamente a melhor forma de impulsionar produtividade.
Fishman destacou que o Plano Marshall, que forneceu ajuda econômica substancial à Europa Ocidental após a Segunda Guerra, teve retorno muito maior para os EUA.
A estabilização econômica manteve a União Soviética à distância com custo relativamente baixo comparado à Guerra do Vietnã, onde as baixas foram de tal magnitude que tornaram qualquer análise de custo-benefício irrelevante.
Aumentar gastos militares também representa oportunidade perdida de investir em projetos socialmente benéficos, agravando a crise climática.
Segundo estudo compartilhado com o Guardian em maio, o rearmamento inicial planejado pela Otan poderia aumentar emissões de gases de efeito estufa em quase 200 milhões de toneladas anuais. O compromisso ampliado de defesa só agravará isso.
Diferente da defesa, onde a adaptação de tecnologias civis para usos militares tem custo social, muitos investimentos verdes envolvem substituições benéficas que reduzem o custo da transição ecológica.
Substituir sistemas de aquecimento e transporte baseados em combustíveis fósseis por bombas de calor e veículos elétricos, por exemplo, é muito mais vantajoso socialmente que adaptar satélites civis para sistemas de mísseis.
Um último ponto é que a própria diplomacia militar desestabiliza a geopolítica. Os esforços dos EUA para conter o comunismo na Ásia nos anos 1950 e 1960 são um bom exemplo. Tais esforços não só levaram a China a alinhar seu comércio com outros Estados comunistas, como consolidaram a autossuficiência como pilar da estratégia econômica chinesa.
Tudo isso sugere que a atual corrida por gastos militares dissuasórios traz custos sociais enormes que podem se revelar economicamente dispendiosos e geopoliticamente desestabilizadores.
Texto traduzido do artigo Nato leaders pledge increased defence spending – is this really the price for peace and prosperity?, de Damian Tobin, publicado por The Conversation sob a licença Creative Commons Attribution 3.0. Leia o original em: The Conversation.
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