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Utilização de Tecnologia no Processo Migratório de Refúgio: uma Análise a Respeito do Rastreamento de Migrantes via GPS

O uso crescente de tecnologias de vigilância para monitorar migrantes no Reino Unido e Estados Unidos revela falhas éticas, legais e humanitárias, associando a migração a atividades criminosas e desconsiderando os direitos individuais, contrariando normas internacionais de proteção aos refugiados. O presente estudo busca entender se o uso dessas tecnologias viola princípios de direitos humanos e pode criar um ambiente de exclusão e estigmatização das comunidades migrantes. Para isso adotada uma abordagem metodológica multifacetada, examinando criticamente as políticas de rastreamento de migrantes nos Estados Unidos e no Reino Unido, especialmente por meio de notícias e a leitura crítica dessas.

Introdução

Refugiados são pessoas que saem de seus países de origem devido a fundados temores de perseguição em relação à raça, religião, nacionalidade, pertencimento a grupo social específico, opinião política e, em alguns países, como o Brasil, devido à grave e generalizada violação dos direitos humanos (ACNUR, s.d). Diante disso, os refugiados e migrantes comuns migram para outros países em busca de melhores condições de vida, enfrentando diversos obstáculos em seu percurso e no país de destino, como dificuldades de comunicação e diferenças culturais. 

Esses obstáculos, enquanto na era digital, podem ter seus efeitos amenizados com o uso de tecnologias ou, a depender de como o emprego dessas é realizado, pode colaborar para maiores problemáticas e estigmatização no processo de migração. Dentre essas problemáticas, cabe-se destacar o uso de tags de GPS, que significa “Global Positioning System” (Sistema de Posicionamento Global), para monitorar e rastrear migrantes irregulares, sendo alguns, inclusive, solicitantes de refúgio, em países como o Reino Unido e os Estados Unidos, durante 24 horas do dia e em tempo real.

Desde 2022, no Reino Unido, o sistema já é utilizado para monitorar migrantes em liberdade condicional de imigração, enfrentando deportação, tendo sido adotada também em casos de solicitação de refúgio (Taylor, 2022). A Privacy International, uma ONG com sede no Reino Unido que se dedica a proteção das pessoas em questões relacionadas à tecnologia e proteção de dados, teceu críticas quanto a adoção dessa medida, destacando ser uma política invasiva e desumanizante de controle migratório (Privacy International, 2022). Já nos Estados Unidos, a proposta foi realizada pelo governo Biden em maio de 2023 e visa monitorar os migrantes enquanto o processo de solicitação de refúgios não é finalizado (Galvez, 2023). 

Diante do exposto, a pergunta que este trabalho pretende responder é: “O uso das tecnologias de vigilância e rastreamento de migrantes viola princípios de direitos humanos e podem criar um ambiente de exclusão e estigmatização dessas comunidades?”

O presente estudo se baseou em uma metodologia que integrou uma abordagem multifacetada para examinar criticamente as políticas públicas relacionadas ao rastreamento de migrantes, com foco principal nos Estados Unidos e no Reino Unido. Inicialmente, foi construída uma base de dados composta por uma ampla gama de notícias sobre as políticas adotadas nos dois países. Em seguida, após fazer uma seleção das notícias mais relevantes, realizou-se uma leitura crítica desses documentos, combinando análises de artigos acadêmicos previamente publicados, visando compreender as nuances e implicações das estratégias de rastreamento.

Para a apresentação dos resultados da pesquisa, o trabalho foi dividido em três partes, sendo a primeira responsável por apresentar as políticas adotadas no Reino Unido e nos Estados Unidos, incluindo as suas justificativas e trazendo um viés crítico sobre elas. Já na segunda parte, é feita uma análise das reações da comunidade internacional, especialmente da organização Privacy International, com foco no debate sobre as medidas tomadas pelos países e os seus desdobramentos. E, por fim, busca-se elucidar como se dá a relação entre as medidas de rastreamento em matéria do cumprimento ou não de tratados internacionais sobre direitos humanos e proteção de migrantes e refugiados, mais especificamente a sua relação com a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Com a realização dessa análise, objetiva-se avaliar se o uso dessas tecnologias de vigilância viola princípios de direitos humanos, tais como a privacidade, a liberdade e a dignidade, conforme estabelecido por convenções internacionais. Ademais, pretende-se investigar se tais medidas governamentais podem criar um ambiente de exclusão e estigmatização dessas comunidades, impedindo-as de exercer plenamente seus direitos e contribuir de forma efetiva para a sociedade de acolhimento. Essa análise crítica visa não apenas elucidar as implicações imediatas dessas políticas, mas também contribuir para o debate sobre as futuras consequências e a busca por soluções mais humanizadas e compatíveis com os valores de respeito aos direitos humanos no contexto migratório contemporâneo.

Rastreamento de Migrantes nos Estados Unidos e no Reino Unido

Em primeiro lugar, quando se trata sobre as políticas migratórias adotadas pelo Reino Unido ao longo dos anos, nota-se que, historicamente, o país busca se inserir no cenário internacional como um Estado acolhedor, especialmente no que tange ao oferecimento de refúgio e asilo. No entanto, apesar da imagem de hospitalidade propagada pelo país, observa-se que políticas cada vez mais restritivas foram adotadas ao longo do tempo de forma que se apresentam como um reflexo de uma abordagem securitária e de controle de fronteiras (Ibrahim; Howarth, 2018).

Nesse sentido, pode-se citar como exemplos dessa postura, primeiramente, o Aliens Act de 1905, que foi uma medida que visava estabelecer uma classificação dos migrantes que chegavam ao país, categorizando os migrantes judeus e de origem do Leste Europeu como indesejáveis, traçando inúmeras restrições a sua entrada e permanência. Há também o Dubs Amendment de 2016, que foi uma emenda ao Immigration Act de 2016 com o objetivo de permitir que o país acolhesse crianças desacompanhadas que estavam em situações de vulnerabilidade em países da União Europeia. Porém, a emenda não foi implementada de forma eficaz, deixando muitas crianças desacompanhadas em situações precárias e vulneráveis sem a devida proteção e assistência necessária (Ibrahim; Howarth, 2018).

Tendo em vista esse histórico de medidas restritivas, em junho de 2022, o governo do Reino Unido adotou mais uma política de caráter securitário contra os migrantes que chegavam ao país. Essa medida foi projeto piloto que tinha como objetivo monitorar os solicitantes de refúgio que estavam no Reino Unido sem documentos ou que entravam por meio de rotas irregulares, como embarcações marítimas. Segundo o Ministério do Interior do país, o objetivo desse projeto era impedir que esses migrantes em situação irregular fugissem ou desaparecessem. Porém, apenas cerca de 1% dos solicitantes de refúgio foram computados como desaparecidos em 2020, não havendo, portanto, uma justificativa plausível para a adoção de uma medida extrema de monitoramento (Cockerell, 2023). 

Os dispositivos utilizados para a realização do rastreio eram os mesmos adotados no sistema de justiça criminal do país, utilizado em pessoas previamente condenadas, as famosas tornozeleiras eletrônicas (Cockerell, 2022). Nesse sentido, mesmo diante da falta de justificativas plausíveis e comprovadas que refletissem a necessidade de permanecer com essa medida, em 2023, o Ministério expandiu o projeto piloto, investindo milhões de dólares na tecnologia (Lazenby, 2023).

Tendo em vista a implementação desse projeto, nota-se que a adoção desse rastreamento, especialmente devido a utilização do mesmo equipamento de rastreio de pessoas condenadas, reforça como a migração ainda é vista por um viés puramente securitário, tratando a migração como uma questão de segurança nacional, dentro da qual, os migrantes seriam uma ameaça.

Cabe destacar também que essa medida do Reino Unido foi abordada por uma fonte do Ministério do Interior do país como um dos meios favoritos para garantir que o governo tivesse controle sobre os migrantes indocumentados que chegam ao país. Isso seria utilizado, segundo a antiga Secretária do Interior, Suella Braverman, para caso os migrantes tivessem a sua solicitação de residência negada, pudessem ser removidos para países seguros, como a Ruanda, que era um país que o Reino Unido possuía um acordo de transferência de migrantes (Al Jazeera, 2023).

Entretanto, ao analisar um relatório da ONG Human Rights Watch sobre a situação de Ruanda em 2022, nota-se que o país enfrenta um cenário de forte controle político e repressão contra opositores reais e percebidos do governo, inclusive com detenções arbitrárias, relatos de tortura e morte suspeitas (Human Rights Watch, 2023).

Diante disso, surge mais um questionamento: além do monitoramento constante de migrantes, demonstrando uma visão extremamente securitária sobre a migração, os impactos posteriores ao rastreamento, segundo às declarações já realizadas por autoridades políticas do país, podem representar uma possível violação de direitos humanos? De acordo com o que o já foi abordado, nota-se pontos de atenção sobre questões relacionados com os desdobramentos dessa medida em maior prazo, um exemplo é relacionado sobre como os dados coletados serão utilizados e para quais propósitos.

Em segundo lugar, tratando-se a respeito da proposta de rastreamento nos Estados Unidos, a qual utiliza monitores de tornozelo, rastreadores de smartwatch, check-ins telefônicos ou visitas pessoais para fazer o monitoramento, a medida é defendida como uma forma paliativa de monitoramento de migrantes para evitar a acomodação dessas pessoas em centros de detenção. Medida essa que o governo Biden tinha o objetivo de evitar, pelo alto volume de críticas que ela recebe internamente e internacionalmente. O programa prevê que migrantes que atravessem a fronteira de maneira irregular ou que aguardam as suas audiências de asilo, tenham que utilizar a tornozeleira eletrônica de rastreamento e sejam submetidos a um toque de recolher (Gálvez, 2023).

Desse modo, de acordo com o governo estadunidense, essa medida seria uma forma de localizar os solicitantes de refúgio que tivessem sua solicitação indeferida – sem recorrer a necessidade de manter essas pessoas detidas – e uma forma de desincentivar as pessoas a entrarem no país de forma irregular (Gálvez, 2023).

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Segundo Sherman-Stokes, professora clínica associada da Faculdade de Direito da Boston University e especialista em direitos dos migrantes, essa medida faz com que os migrantes se encontrem em uma situação de limbo jurídico. Isso porque eles possuem o direito de migrar e buscar asilo nos Estados Unidos, mas quando o fazem, são submetidos a situações de extremo constrangimento, como o uso das tags de rastreamento. Dessa forma, eles se encontram diante de uma situação de monitoramento constante que lhes causa medo e incerteza, podendo até mesmo resultar em diversos traumas (Brown, 2024).

Dado o exposto, fica claro que a medida adotada pelo governo dos Estados Unidos visa mascarar um processo de detenção de migrantes que já foi muito criticado, que são os centros de detenção de migrantes. Com isso, o governo estadunidense continua com a intenção de monitorar os solicitantes de refúgio de forma indireta, possuindo as suas localizações em todos os momentos do dia e limitando a sua possibilidade de locomoção com o toque de recolher, os submetendo a sérias questões de violações de privacidade.

Além de todas as problemáticas já levantadas sobre o rastreamento, cabe ainda mencionar da falta de transparência sobre como os dados coletados são     utilizados e armazenados. Nesse sentido, documentos recentes mostram que a US Immigration and Customs Enforcement Agency (Ice), está recolhendo e armazenando mais dados sobre os migrantes do que foi divulgado anteriormente.

A agência está armazenando as informações coletadas por até 75 anos, incluindo a utilização de um aplicativo de reconhecimento facial que coleta informações de localização sempre que alguém faz login no aplicativo ou faz uma chamada de vídeo, contradizendo declarações anteriores sobre o uso desses dados. Tal situação, levanta preocupações sobre a falta de transparência da agência de imigração e da empresa que administra o programa, bem como é realizada a coleta, o armazenamento e a utilização desses dados futuramente (Bhuiyan, 2023).

Reações de Organizações quanto ao Rastreamento de Migrantes

A adoção das políticas de monitoramento, especialmente pelo Reino Unido, repercutiu por diversos setores da sociedade, tanto aqueles a favor da adoção da política, quanto os que apresentavam várias críticas sobre ela. Dessa forma, cabe destacar o posicionamento realizado pela Privacy International, uma organização não governamental inglesa que tem como princípios proteger a democracia, defender a dignidade das pessoas e exigir responsabilidade das instituições que quebram a confiança pública em questões relacionadas com tecnologias e proteção de dados (Privacy International, [s.d]). 

Sobre as medidas de rastreamento adotadas pelo Reino Unido, a organização apresentou um posicionamento centrado nas preocupações éticas, de privacidade e legais associadas a essa prática. Além disso, destacou que as tornozeleiras GPS fornecem um histórico completo de localização, revelando detalhes íntimos e minuto a minuto da vida dos indivíduos monitorados. Esses dados são acessíveis às autoridades de controle, permitindo um monitoramento constante, o que pode impactar negativamente a privacidade e gerar ansiedade nos usuários.

Somado a isso, há riscos de reutilização dos dados por agências governamentais para outros propósitos, como mapeamento de crimes, investigações e tomada de decisões em casos de imigração. A Privacy International advertiu sobre a invasividade desse tipo de vigilância e ressaltou a importância de salvaguardas éticas, legais e técnicas para proteger os direitos individuais, além de recomendar cautela na adoção indiscriminada dessa tecnologia (Privacy International, 2022).

Diante dessa preocupação levantada pela Privacy International, em agosto de 2022, a organização apresentou uma queixa contra o Secretário de Estado do Interior do Reino Unido junto à autoridade de proteção de dados do Reino Unido, a Information Commissioner (ICO). A queixa engloba questões relacionadas com a coleta, processamento e compartilhamento de dados de localização de migrantes liberados sob fiança de imigração por meio da imposição de monitoramento eletrônico. Dessa forma, a Privacy International argumenta que o uso indiscriminado desses dispositivos representa um risco considerável para os direitos fundamentais e liberdades dos indivíduos monitorados. A ICO iniciou uma investigação sobre o assunto e solicitou informações ao Ministério do Interior e a organizações de direitos dos migrantes (Privacy International, 2024).

Em março de 2024, a queixa realizada pela Privacy International foi analisada e houve um parecer pela ICO. Segundo a ICO, o Ministério do Interior violou a lei de proteção de dados com a utilização do rastreamento de migrantes. A ICO afirmou que o departamento governamental falhou em avaliar suficientemente qual seria o impacto da medida na privacidade da coleta contínua de informações de localização de indivíduos, uma vez que a vigilância constante poderia revelar informações sensíveis sobre os migrantes, como religião ou estado de saúde (Coker, 2024).

Além disso, o Ministério do Interior não forneceu informações suficientes sobre como seria realizada a coleta e não forneceu evidências de que havia considerado métodos de monitoramento menos intrusivos. Por fim, a ICO também concluiu que o projeto não foi acompanhado por orientações e procedimentos robustos para garantir que as medidas fossem aplicadas de forma consistente e preservando a privacidade. Essa postura também foi endossada por John Edwards, comissário de Informações do Reino Unido, que abordou a respeito dessa falha em proporcionar informações suficientes e realizar as avaliações necessárias antes da adoção da medida, o projeto não se encontrava em conformidade com a lei (Coker, 2024).

Logo, em resumo, a atuação da Privacy International diante das políticas de monitoramento, especialmente as adotadas pelo Reino Unido, destaca-se pela defesa dos direitos individuais e pela exigência de responsabilidade das instituições. A organização demonstrou preocupações éticas, de privacidade e legais sobre o rastreamento, especialmente sobre os riscos de invasão de privacidade e possíveis usos abusivos dos dados coletados. A sua queixa apresentada à ICO resultou em uma investigação que concluiu que houve violação da lei de proteção de dados, evidenciando a importância do trabalho da Privacy International na garantia de medidas de vigilância responsáveis e éticas.

O Rastreamento de Migrantes sob a Ótica das Normas Internacionais

Com a adoção das políticas de monitoramento de migrantes pelo Reino Unido e Estados Unidos, cabe-se a realização de uma análise sobre a sua conformidade (ou a sua falta) com as normas internacionais de proteção de pessoas, mais especificamente aquelas que se relacionam com questões ligadas à privacidade.

Nesse sentido, é interessante analisar essa medida pela luz da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que foi adotada em 1948 e traduzida para mais de 500 idiomas, sendo o documento mais traduzido do mundo. A sua importância se destaca por ser um dos principais marcos internacionais e estabelecer a proteção de direitos humanos, de forma que busca ser uma norma comum sobre o tema e abranger todas as nações e povos (Nações Unidas, 2020).

Para se iniciar a análise da Declaração, faz-se necessário explorar o artigo 12. Esse      garante que nenhum ser humano poderá estar sujeito a interferência em sua vida privada, gozando de total proteção contra interferências e ataques a sua vida particular (Organização das Nações Unidas, 1948). Diante disso, nota-se que o rastreamento constante de migrantes pode ser analisado como uma violação a esse artigo. Isso se deve ao fato que de que, uma vez que os governos possuem acesso a informações pessoais dessas pessoas, as quais são obtidas através de suas localizações, a exemplo de sua religião e problemas de saúde, poderá ocorrer interferências diretas em suas vidas privadas e obtenção de informação pessoais.

Em adição a situação apresentada, cabe citar o seu artigo 14, que prevê que qualquer pessoa, que tenha sido vítima de perseguição, tem o direito de buscar e gozar de refúgio em países que possibilitem a sua segurança (Organização das Nações Unidas, 1948). A importância desse artigo se reflete na garantia legal que os migrantes em situação de risco possuem em migrar para países que possam lhes garantir uma vida digna e sem perseguições. Nesse sentido, eles possuem o direito de viver em um país onde a sua segurança e integridade sejam asseguradas.

Dessa forma, a realização de um monitoramento constante, sem informações assertivas sobre quais dados estão sendo coletados e sobre como serão utilizados posteriormente, gera um ambiente de estigmatização e violação de sua privacidade, mostrando que essa medida adotada pelos Estados Unidos e Reino Unido é uma clara violação a esse artigo.

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Conclusão

Diante do avanço crescente no uso de tecnologias de vigilância para monitorar migrantes, os projetos pilotos adotados no Reino Unido e nos Estados Unidos revelam falhas substanciais em seus propósitos, evidenciando preocupações éticas, legais e humanitárias fundamentais. A utilização de tecnologias de monitoramento como tornozeleiras eletrônicas e GPS para acompanhar os movimentos de solicitantes de refúgio e migrantes irregulares representa uma abordagem securitária que pode comprometer a privacidade e os direitos humanos dessas pessoas.

A expansão do uso de dispositivos de rastreamento do sistema de justiça criminal britânico para monitorar migrantes reflete uma abordagem equivocada que associa migração a atividades criminosas, desconsiderando os direitos essenciais desses indivíduos. Essta prática contraria normas internacionais de proteção aos refugiados, negligenciando o contexto de perseguição e a busca legítima por segurança. Da mesma forma, a proposta nos Estados Unidos de aplicar tornozeleiras eletrônicas e toques de recolher como uma alternativa à detenção de migrantes expõe uma tentativa de mascarar um processo já contestado. Ao restringir a liberdade de movimento e violar a privacidade, esta abordagem desrespeita os direitos humanos, perpetuando a estigmatização da migração como um ato criminoso.

Além disso, pela sua falta de transparência sobre como os dados são coletados, armazenados e utilizados, bem como a possibilidade de reutilização dessas informações para outros fins, as medidas levantam preocupações sobre os seus impactos na dignidade e na vida das pessoas afetadas. Além disso, a imposição de toques de recolher e outras restrições à liberdade de locomoção dos migrantes contribui para um ambiente de exclusão e estigmatização dessas comunidades.

Cabe ainda destacar toda a repercussão que essas medidas tiveram no cenário internacional, inclusive com o posicionamento da Privacy International, que têm desempenhado um papel crucial ao chamar a atenção para essas questões e defender os direitos e a dignidade dos migrantes. A decisão da ICO de considerar que o Ministério do Interior do Reino Unido violou a lei de proteção de dados com a utilização do rastreamento de migrantes ressalta a importância de se garantir a conformidade dessas políticas com as normas internacionais de direitos humanos  e a necessidade de se levantar o debate sobre o tema.

Portanto, o monitoramento constante e detalhado das localizações individuais representa uma invasão à privacidade, além de abrir espaço para a utilização inadequada desses dados para fins diversos daqueles relacionados ao controle migratório. Logo, é fundamental repensar a adoção dessas tecnologias de vigilância na gestão de migrantes, já que elas não apenas desrespeitam os direitos humanos, mas também levantam questões éticas e legais significativas. É imprescindível buscar alternativas mais humanitárias e que respeitem os direitos individuais, assegurando a proteção e dignidade dos solicitantes de refúgio, em conformidade com os princípios estabelecidos por tratados internacionais.

Referências

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