Quase 1 trilhão de dólares australianos (600 bilhões de dólares americanos) foi apagado do valor da fabricante de microchips para inteligência artificial Nvidia da noite para o dia, na segunda-feira, quando uma startup chinesa pouco conhecida, a DeepSeek, ameaçou abalar o mercado tecnológico dos EUA.
Enquanto a Nvidia sofreu a maior perda diária da história do mercado de ações, outras gigantes da tecnologia – Microsoft, Alphabet e Amazon, que estão investindo pesadamente em ferramentas de IA concorrentes, como ChatGPT e Gemini – também foram impactadas.
O colapso foi causado pelo choque dos investidores com o desempenho alegado do novo chatbot R1 da DeepSeek. A IA chinesa foi relatada como mais avançada que seus concorrentes e menos custosa para desenvolver.
O DeepSeek R1 disparou em popularidade, tornando-se o aplicativo gratuito mais baixado na App Store da Apple, enquanto as ações de tecnologia e empresas relacionadas nos EUA caíram drasticamente.
Por que as ações de tecnologia despencaram
O mercado foi surpreendido pelo fato de a DeepSeek oferecer uma tecnologia mais barata, mas com desempenho comparável.
Isso mudou drasticamente as expectativas do mercado em relação ao poder de computação, demonstrando que é possível fazer mais com menos. Além disso, comprometeu a competitividade dos produtos e desenvolvimentos de IA das empresas de tecnologia dos EUA.
Os preços das ações são impulsionados pelas expectativas do mercado. O desempenho alegado do DeepSeek R1 levou a uma grande revisão das expectativas sobre o que era tecnologicamente possível e sobre o custo de desenvolvimento e operação da IA.
Os investidores rapidamente incorporaram a notícia de um concorrente chinês de baixo custo nos preços das ações, antecipando que esse novo participante poderia perturbar o mercado e reduzir a vantagem competitiva dos líderes existentes.
Quem é a DeepSeek e o que é o R1?
A DeepSeek foi fundada em 2023 pelo fundo de hedge chinês High Flyer, que vinha utilizando exclusivamente IA no mercado financeiro desde 2021.
A empresa desenvolve grandes modelos de linguagem (LLMs) que servem de base para chatbots e outras ferramentas baseadas em IA. O R1 é a versão mais recente do chatbot e do modelo subjacente da DeepSeek. Ele se baseia em versões anteriores de modelos de IA generativa desenvolvidos pela empresa e em uma quantidade significativa de dados, mas representa um avanço surpreendente em desempenho e custo.
Investidores em tecnologia acreditam que o R1 se iguala ou supera concorrentes, incluindo o ChatGPT 4.0 da OpenAI, em vários benchmarks.
No entanto, existem algumas diferenças-chave:
- O modelo subjacente do R1 opera de maneira muito menos intensiva. Ele é significativamente mais barato para desenvolver e executar, exigindo menos dados e poder computacional.
- O treinamento do modelo foi possível apesar da proibição de exportação dos EUA, que impede empresas chinesas, como a DeepSeek, de acessar chips de empresas americanas, como a Nvidia. O governo Biden introduziu leis que restringem a venda de certos chips e equipamentos de informática para a China, com o objetivo de impedir o acesso do país a algumas das tecnologias mais avançadas do mundo.
- Os dados de treinamento e os dados enviados ao R1 ficam armazenados em servidores na China. Como já há preocupações sobre privacidade de dados e propriedade intelectual em empresas sediadas nos EUA, a jurisdição do Partido Comunista Chinês (PCC) sobre esses dados é, para muitos, ainda mais preocupante.
- O código do programa do chatbot é gratuito para download, leitura e modificação, ao contrário do ChatGPT. No entanto, essa transparência pode ser enganosa – o que realmente importa é o modelo subjacente, não apenas o código do chatbot.
- O R1 é conhecido por censurar suas respostas de acordo com os valores do Partido Comunista Chinês.
O futuro da IA e das ações de tecnologia
Ainda não se sabe se essa queda nos preços das ações de tecnologia é um pânico irracional que será revertido ou se simplesmente reflete uma precificação correta. Os custos e benefícios futuros da IA ainda são incertos.
Essa é uma questão tanto tecnológica quanto econômica.
Em termos tecnológicos, ainda resta ver se o R1 realmente exige menos poder computacional e menos dados para ser treinado e utilizado.
Economicamente, há potenciais vencedores e perdedores. Os usuários de IA podem se beneficiar com um acesso mais barato à tecnologia, especialmente aos grandes modelos de linguagem (LLMs), o que pode levar a uma adoção maior e a ganhos de produtividade. Por outro lado, produtores já estabelecidos, como a Nvidia, podem sair prejudicados em um mercado que antes tinha poucos concorrentes reais.
De forma mais ampla, a sociedade pode se beneficiar com uma IA menos intensiva computacionalmente e, portanto, mais eficiente em termos energéticos. No entanto, o risco geopolítico de um único país dominar o mercado, aliado a preocupações sobre privacidade de dados, propriedade intelectual e censura, pode superar esses benefícios.
Texto traduzido do artigo DeepSeek shatters beliefs about the cost of AI, leaving US tech giants reeling, de Michael J. Davern e Matt Pinnuck, publicado por The Conversation sob a licença Creative Commons Attribution 3.0. Leia o original em: The Conversation.
