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Educação Ambiental como Instrumento Estratégico para a Descarbonização do Setor de Energia
Educação Ambiental como Instrumento Estratégico para a Descarbonização do Setor de Energia Educação Ambiental como Instrumento Estratégico para a Descarbonização do Setor de Energia

Educação Ambiental como Instrumento Estratégico para a Descarbonização do Setor de Energia

Com a ascensão de crises ambientais no cenário internacional é reconhecida a necessidade de reavaliar normas e práticas da sociedade contemporânea. Este trabalho analisa em profundidade o contexto histórico da educação ambiental, assim como sua relevância para a capacitação de profissionais da matriz energética, atribuindo estudos de caso para evidenciar como órgãos estatais moldam suas políticas públicas acerca da necessidade de responsabilidade socioambiental. Conclui-se que a educação ambiental é um pilar fundamental na conscientização das mudanças climáticas e a chave para impulsionar mudanças significativas na estrutura sociocultural.

Introdução

As mudanças climáticas têm provocado transformações globais abrangentes, afetando a economia, a produção de alimentos e os hábitos de consumo de diferentes camadas sociais. A busca por soluções sustentáveis torna-se uma pauta cada vez mais urgente em um contexto de desafios ambientais crescentes. Diante disso, a descarbonização figura como princípio central do Acordo de Paris (2015), tratado internacional que busca conter os efeitos do aquecimento global por meio de medidas destinadas à redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE).

    No Brasil, as metas estabelecidas pelo acordo impactam diretamente pilares da indústria nacional, como os setores de energia, siderurgia, metalurgia, cimento, alumínio, química e papel, sendo o energético o foco deste estudo. Este setor representa parcela significativa das emissões globais, e sua transição para uma matriz limpa e renovável constitui eixo essencial da descarbonização, já que a redução da pegada de carbono é condição indispensável para a sustentabilidade dos sistemas energéticos.

    Essa transição pressupõe a adoção de tecnologias de produção renovável e de práticas sustentáveis aplicadas ao cotidiano dos profissionais do setor, com vistas à melhoria da eficiência energética e à redução de impactos ambientais. Nesse processo, a Educação Ambiental, enquanto instrumento estratégico, torna-se fundamental para promover atitudes conscientes em relação ao meio ambiente e fortalecer competências necessárias à transformação da matriz energética.

    Para que a pesquisa e a inovação em energias renováveis mantenham seu ritmo, é necessário que trabalhadores e gestores desenvolvam novas habilidades. A Educação Ambiental, além de formar cidadãos mais comprometidos, contribui para o fortalecimento de políticas públicas e iniciativas empresariais voltadas à sustentabilidade. Quando as pessoas compreendem os impactos ambientais de suas escolhas, tendem a apoiar ações governamentais e corporativas que favoreçam energia limpa e eficiência no consumo. Dessa forma, este artigo analisa como a Educação Ambiental influencia a promoção de valores sustentáveis e sua relevância no plano de metas de descarbonização do setor energético.

    Contexto Histórico da Educação Ambiental

    Os primeiros registros sobre os impactos ambientais resultantes do crescimento econômico ganharam destaque a partir da década de 60, quando movimentos sociais em defesa das minorias passaram a questionar valores e comportamentos da sociedade contemporânea.

    Na década seguinte, os anos 70 marcaram um reconhecimento global dos prejuízos ecológicos, e os movimentos ambientalistas ganharam maior força. Em Estocolmo, na Suécia, ocorreu a primeira conferência internacional, a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano (1972), onde foram introduzidas as primeiras discussões sobre a degradação ambiental, em resposta à demanda mundial por soluções dos líderes estatais.

    Esse encontro resultou na “Declaração sobre o Ambiente Humano” ou “Declaração de Estocolmo” (1972), que atribuiu ao ser humano a responsabilidade pela preservação do patrimônio ambiental e o direito fundamental de acesso a um ambiente saudável. A declaração também propôs a criação do “Programa Internacional de Educação Ambiental”, voltado a instruir as gerações presentes e futuras.

    Outros encontros internacionais seguiram-se, como o Seminário Internacional sobre Educação Ambiental em Belgrado, na Iugoslávia, que originou a Carta de Belgrado (1975), documento que definiu metas de capacitação individual e coletiva para a criação de uma população mais consciente dos problemas socioambientais. Dois anos depois, ocorreu a Conferência Intergovernamental de Tbilisi, na Geórgia (1977), que reuniu educadores, cientistas e autoridades, e resultou na “Declaração de Tbilisi” (1977, p. 2), segundo a qual:

    “(…) A Educação Ambiental deve abranger pessoas de todas as idades e todos os níveis do ensino formal e não-formal. Os meios de comunicação social têm a grande responsabilidade de colocar seus enormes recursos a serviço dessa missão educativa. Os especialistas no assunto, e aqueles cujas ações e decisões podem repercutir significativamente no meio ambiente, deverão receber, no decorrer de sua formação, os conhecimentos e atitudes necessários, além de detectarem plenamente o sentido de sua responsabilidade nesse aspecto. Uma vez compreendida devidamente, a educação ambiental deve constituir um ensino geral permanente, reagindo às mudanças que se produzem num mundo em rápida evolução. Esse tipo de educação deve também possibilitar o indivíduo compreender os principais problemas do mundo contemporâneo, proporcionando-lhe conhecimentos técnicos e as qualidades necessárias para desempenhar uma função produtiva visando a melhoria da vida e à proteção do meio ambiente, atendo-se aos valores éticos(…).”

    Os princípios da Declaração de Tbilisi estabeleceram diretrizes globais para a Educação Ambiental, mas sua aplicação variou entre os países. No Brasil, a temática surgiu no fim da década de 1960, como consequência do “milagre econômico”, mas sob o regime militar priorizou-se o crescimento econômico, em detrimento das questões ambientais.

    Barros (2021, p.51) observa que naquele período os setores conservadores do capitalismo tratavam os problemas ambientais como questões técnicas, e que  não conseguiam integrá-los de forma consistente em suas políticas sociais. Assim,as iniciativas de reformar a matriz curricular de ensino permaneceram restritas devido a uma compreensão restrita  da dimensão ambiental.

    Na década de 70, o Brasil iniciou suas primeiras ações governamentais ambientais em resposta à pressão internacional, que condicionava empréstimos e investimentos à adoção de medidas de preservação. Em 1973, a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente marcou a regulamentação inicial da Educação Ambiental no país, incentivando políticas públicas de preservação. Posteriormente, a SEMA, junto ao Ibama e ao Ministério do Meio Ambiente, promoveu comissões interinstitucionais de Educação Ambiental para estimular programas estaduais.

    Com a redemocratização, a Constituição de 1988 passou a prever, no artigo 225, parágrafo 1º, VI, a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino. A Rio 92 impulsionou novas medidas, levando à criação, em 1994, do Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA). Apenas em 1999, contudo, foi sancionada a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9.795), que reconheceu a Educação Ambiental como processo permanente e estruturante da educação nacional.

    Em consonância com a PNEA, São Paulo instituiu, em 2007, a Política Estadual de Educação Ambiental (PEEA), por meio da Lei nº 12.780, que define em seus artigos 3º a 5º a Educação Ambiental como aprendizado permanente que promova valores, conhecimentos e competências para a sustentabilidade. Em 2012, foram homologadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental (DCNEA), consolidando sua obrigatoriedade na Educação Básica de forma transversal, integrada às disciplinas.

    Embora relativamente recente, a Educação Ambiental avançou significativamente no cenário político e pedagógico, ganhando relevância tanto em políticas públicas quanto em práticas educacionais e sociais. Desde os debates internacionais da década de 1970 até sua consolidação nos currículos escolares brasileiros, observa-se a crescente valorização da relação entre desenvolvimento econômico e sustentabilidade.

    Contudo, persistem desafios para a efetiva implementação das diretrizes e para o engajamento da sociedade. A Educação Ambiental deve ser compreendida não apenas como recurso pedagógico, mas como compromisso contínuo de governos, instituições e cidadãos na construção de um futuro sustentável.

    Assim, promover consciência ecológica e responsabilidade socioambiental segue essencial para garantir às gerações futuras acesso a um meio ambiente saudável, consolidando a Educação Ambiental como pilar do desenvolvimento humano e da qualidade de vida.

    Transição Energética e Empregos verdes

    A transformação dos sistemas energéticos contemporâneos é marcada por um processo complexo e multifacetado, que consiste na transição de um modelo baseado em combustíveis fósseis para uma matriz predominantemente renovável. Essa mudança responde às demandas urgentes de mitigação das alterações climáticas e representa um dos pilares fundamentais da construção de uma economia sustentável. Conforme destaca Figueredo (2024), a transição energética constitui uma transformação estrutural destinada a reduzir a dependência de fontes poluentes e estimular o uso de tecnologias limpas e eficientes.

    Nesse contexto, a substituição dos combustíveis fósseis por fontes renováveis, como solar, eólica e biomassa, simboliza uma mudança paradigmática. Essa transformação exige não apenas investimentos robustos em infraestrutura, mas também a reformulação dos modelos de produção e consumo de energia. A implementação de políticas públicas consistentes, capazes de incentivar inovação tecnológica e adoção de soluções sustentáveis, é condição indispensável para a consolidação desse novo paradigma. Além disso, a diversificação da matriz energética mostra-se essencial para minimizar impactos ambientais e garantir um desenvolvimento econômico mais equitativo (FIGUEREDO, 2024).

    Paralelamente, a discussão sobre os chamados empregos verdes tem se fortalecido nos âmbitos acadêmico e político. Esses empregos são definidos como atividades que contribuem para a proteção ambiental e para o avanço do desenvolvimento sustentável. Porto (2024) evidencia que a capacitação de profissionais para setores sustentáveis é determinante para atender às novas demandas do mercado de forma eficiente e inovadora. A importância dos empregos verdes está em seu potencial de articular geração de renda qualificada com preservação dos recursos naturais, ampliando oportunidades sociais em consonância com a agenda climática global.

    O panorama brasileiro tem apresentado avanços consistentes. Conforme Moscon (2024), a expansão dos setores ligados às energias renováveis, em especial solar e eólica, tem gerado um crescimento expressivo de postos de trabalho. Essa tendência reflete não apenas a transformação da matriz energética, mas também a elevação da consciência social sobre a relevância de práticas sustentáveis. Os dados da Agência Internacional de Energia (IEA, 2023) apontam que o Brasil figura entre os dez países que mais criaram empregos em energia renovável na última década, confirmando o potencial do país na transição verde.

    O relatório da United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO, 2022) reforça que a integração da Educação Ambiental aos processos de capacitação técnica amplia a empregabilidade nos setores emergentes, qualificando trabalhadores para a transição energética. Segundo as analíses do  Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC, 2023) enfatiza que os investimentos em educação e treinamento podem reduzir desigualdades no acesso a empregos verdes, tornando a transição mais justa e inclusiva. Esses documentos internacionais conectam diretamente a Educação Ambiental à descarbonização, demonstrando que a formação de cidadãos conscientes e profissionais qualificados é um fator-chave para a efetividade das metas climáticas globais.

    O Papel da Educação Ambiental na Capacitação de Profissionais

    Outro aspecto crucial para o avanço da transição energética e a consolidação dos empregos verdes é o papel da Educação Ambiental. A capacitação profissional voltada a novas tecnologias tem se mostrado uma estratégia eficaz para a disseminação do conhecimento e o preparo de mão de obra especializada. Conforme analisa Mohammed (2024), a Educação Ambiental é essencial para que trabalhadores estejam aptos a operar e desenvolver tecnologias inovadoras capazes de viabilizar a produção de energia de forma sustentável. Programas de formação, cursos técnicos e iniciativas de extensão universitária têm fortalecido a construção de um setor energético mais resiliente e preparado para os desafios do século XXI.

    A inclusão de conteúdos sobre sustentabilidade e energias renováveis no currículo escolar e universitário reforça a compreensão dos futuros profissionais acerca da necessidade de uma mudança de paradigma no setor energético. Essa abordagem educativa vai além da capacitação técnica, promovendo uma formação capaz de influenciar as  políticas públicas e a percepção social sobre a descarbonização. Nesse sentido, a Educação Ambiental funciona como elo entre conhecimento científico e prática cotidiana, estimulando inovação e empreendedorismo em áreas estratégicas para o desenvolvimento sustentável.

    Além da formação técnica, a conscientização pública exerce papel decisivo no apoio a políticas sustentáveis. O debate sobre descarbonização não se limita aos profissionais da área, mas envolve toda a sociedade, que precisa compreender a relevância da adoção de práticas ecologicamente responsáveis. Conforme exposto pela International Labor Organization (ILO, 2022) e a Organization for Economic Co-operation and Development (OECD, 2022) destacam que a mobilização social e a difusão de informações sobre os benefícios das energias renováveis são fatores determinantes para a efetividade de políticas públicas de sustentabilidade.

    A Educação Ambiental, nesse sentido, tem potencial de mobilizar a sociedade, ampliando o debate e incentivando a participação ativa dos cidadãos na formulação e fiscalização de políticas de descarbonização. A partir de uma perspectiva integrada, os esforços educacionais se somam às iniciativas governamentais e privadas, criando um ambiente propício à inovação e à transformação do setor energético. Essa articulação entre educação, políticas públicas e iniciativa privada é fundamental para enfrentar os desafios de uma economia de baixo carbono (ILO; OECD, 2022).

    Em síntese, o desenvolvimento de um sistema energético sustentável passa necessariamente pela conjugação de esforços em diversas frentes: a transformação da matriz energética por meio da adoção de fontes renováveis, o fortalecimento dos empregos verdes como motor de uma economia sustentável e a promoção da educação ambiental como ferramenta de capacitação e conscientização. A articulação desses elementos configura um caminho promissor para a construção de um futuro em que o crescimento econômico esteja em harmonia com a preservação ambiental, proporcionando benefícios tanto para a sociedade quanto para o meio ambiente. A integração de políticas públicas eficazes, iniciativas educacionais robustas e investimentos estratégicos em tecnologias limpas representa a base para a consolidação desse novo paradigma, que se impõe como indispensável diante dos desafios ambientais e energéticos contemporâneos.

    Portanto, ao reconhecer a importância da transição energética e dos empregos verdes, é possível vislumbrar um cenário em que o desenvolvimento sustentável seja uma realidade tangível. O papel da educação ambiental, ao promover a capacitação de profissionais e a conscientização da população, se revela crucial para a implementação de políticas de descarbonização e para a construção de uma sociedade mais justa e ecológica. A convergência dessas iniciativas constitui, assim, um passo fundamental rumo a um futuro sustentável, em que a inovação e o compromisso com o meio ambiente caminhem lado a lado com o progresso econômico.

    Resultados e Discussões

    O avanço das políticas de descarbonização e sustentabilidade tem sido impulsionado por diversas iniciativas ao redor do mundo. A análise dos estudos de caso permite identificar estratégias bem-sucedidas e obstáculos recorrentes por diferentes regiões na transição para uma economia de baixo carbono. Este capítulo apresenta quatro experiências, sendo dois no Brasil e dois em países europeus, explorando seus impactos e contribuições para a mitigação das mudanças climáticas.

      Programa Energias da Amazônia

      O Programa Energias da Amazônia representa um marco na transição energética brasileira, consolidando-se como o maior programa de descarbonização do mundo. Desenvolvido pelo governo federal , o projeto tem como principal objetivo reduzir a dependência do óleo diesel na geração de energia na região amazônica, substituindo-o por fontes renováveis. A Amazônia, devido à sua vastidão e complexidade logística, historicamente depende de geradores a diesel para fornecer eletricidade a comunidades isoladas, o que resultou em custos elevados e em impactos ambientais significativos, como emissões de gases de efeito estufa e riscos associados ao transporte de combustíveis em longas distâncias.

      Este caso demonstra avanços na adoção de sistemas solares, eólicos e híbridos, mas também revela desafios técnicos e sociais. A infraestrutura elétrica precária e a necessidade de engajamento comunitário dificultam a implementação de soluções. Apesar disso, a substituição progressiva do diesel por fontes limpas traz ganhos ambientais e socioeconômicos de longo prazo, favorecendo a sustentabilidade regional (MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, 2023).

      Projeto de Descarbonização em Porto Alegre

      Porto Alegre destacou-se como um dos pólos urbanos brasileiros comprometidos com a agenda climática. O estudo de caso concentra-se no monitoramento e execução de políticas públicas subnacionais voltadas para a descarbonização. O objetivo declarado é atingir emissões líquidas zero de gases de efeito estufa até 2050, alinhando-se a compromissos internacionais de mitigação climática.

      A iniciativa articula múltiplos eixos de ação, incluindo a ampliação da mobilidade sustentável, a modernização da matriz energética e a criação de incentivos para práticas urbanas de baixo carbono. Esse exemplo evidencia a importância das políticas públicas locais ao mesmo tempo em que expõe desafios, como dependência de financiamento externo, necessidade de continuidade administrativa e resistência de setores empresariais. Tais fatores podem limitar a escala e a eficácia das ações, mesmo diante de propostas inovadoras (BROSE, 2022).

      Projeto de Educação Ambiental na Galiza, Espanha

      Na comunidade rural de Lavacolla, na Galiza, desenvolve-se um projeto de educação ambiental para promover uma transição socioambiental de baixo carbono. A iniciativa adota uma metodologia participativa, registrando narrativas de mulheres acima de 65 anos para compreender como a emergência climática é vivenciada localmente. Essa abordagem qualitativa valoriza a memória coletiva e as práticas sustentáveis transmitidas ao longo das gerações.

      Esse caso ilustra a relevância do conhecimento tradicional na adaptação às mudanças climáticas, bem como a importância de incluir grupos marginalizados no debate ambiental. Contudo, revela também limitações, como a dificuldade em transformar experiências locais em políticas públicas estruturadas. A ausência de maior apoio institucional dificulta a expansão do impacto, embora fortaleça a resiliência comunitária no nível local (EICHENBERG, 2020).

      Iniciativa Comunitária “Aveiro em Transição”, Portugal

      A cidade de Aveiro, em Portugal, abriga a iniciativa “Aveiro em Transição”, um movimento que busca construir comunidades mais resilientes e sustentáveis por meio da educação ambiental e da mobilização cidadã. O projeto incentiva a redução da dependência de sistemas industriais globais, defendendo práticas locais como agricultura sustentável, consumo consciente e uso de energia renovável descentralizada.

      Esse exemplo evidencia o impacto positivo de ações comunitárias na descarbonização, ao mesmo tempo em que aponta desafios para sua manutenção, como a necessidade de financiamento contínuo, a dependência de voluntariado e a dificuldade de replicação em contextos urbanos maiores. Ainda assim, reforça a relevância da educação ambiental como ferramenta de transformação social e demonstra a viabilidade de transições ecológicas impulsionadas pela sociedade civil (ARAÚJO; SILVA; RIBEIRO, 2020).

      Impactos da Educação Ambiental na Descarbonização

      A educação ambiental desempenha um papel essencial na descarbonização ao promover mudanças comportamentais, estimulando a adoção de tecnologias limpas e qualificar profissionais para atuar no setor sustentável. A análise dos estudos de caso apresentados reforça como diferentes abordagens educativas contribuem de maneira significativa  para esse processo, ainda que enfrentem limitações contextuais.

      A conscientização acerca da crise climática é um fator determinante para o sucesso de políticas e projetos de descarbonização. O envolvimento da população na transição energética depende, em grande parte, da circulação de informações claras sobre os impactos das mudanças climáticas e sobre as alternativas disponíveis para mitigá-los. O caso da Galiza, por exemplo, ilustra como práticas de educação ambiental podem transformar percepções locais sobre a emergência climática, fortalecendo o senso de pertencimento e a responsabilidade coletiva na adoção de medidas sustentáveis (EICHENBERG; MOSER; CAMPOS, 2020).

      A incorporação de tecnologias sustentáveis também exige programas educativos que incentivem sua aceitação e implementação. A experiência de Porto Alegre demonstra que estratégias locais são essenciais para engajar diferentes setores sociais na adoção de energias renováveis e na busca por eficiência energética. Projetos em escolas e universidades, além de ações comunitárias, têm sido fundamentais para difundir hábitos de redução de emissões de CO2, consolidando uma cultura de sustentabilidade desde as etapas iniciais de formação. Entretanto, a continuidade dessas práticas depende de financiamento e da integração entre políticas públicas e sociedade civil, sob risco de estagnação em mudanças de gestão.

      A transição para uma economia de baixo carbono requer ainda mão de obra qualificada, capaz de atender às demandas de setores emergentes como energia renovável, mobilidade sustentável e gestão ambiental. A capacitação de trabalhadores é componente-chave para garantir que o crescimento dos chamados empregos verdes seja inclusivo. O relatório da UNESCO (2022) e do IPCC (2023) destacam que investimentos em educação reduzem desigualdades de acesso a essas novas oportunidades, tornando a transição mais justa. Programas de treinamento técnico e cursos profissionalizantes, portanto, não apenas ampliam a empregabilidade, mas asseguram que a mudança estrutural ocorra de forma equitativa e sustentável.

      De modo geral, a Educação Ambiental pode ser entendida como vetor de inclusão social, ao garantir que comunidades diversas participem ativamente da transformação energética. Contudo, sua implementação ainda enfrenta obstáculos relevantes, como falta de recursos financeiros, resistência política em alguns contextos e a distância entre propostas acadêmicas e a realidade cotidiana das populações.

      A análise dos casos evidencia que a descarbonização bem-sucedida exige ações integradas, articulando políticas públicas, participação comunitária, incentivos econômicos e programas educacionais consistentes. As experiências brasileiras mostram a importância das iniciativas governamentais, enquanto os exemplos europeus reforçam o impacto das abordagens comunitárias e educativas. Assim, a transição para um modelo sustentável depende da colaboração entre diferentes atores sociais, garantindo que a mitigação das mudanças climáticas seja conduzida de forma inclusiva, realista e eficaz.

      Conclusão

      A Educação Ambiental permanece como um dos pilares fundamentais para a transição energética, pois atua tanto na conscientização social quanto na promoção de práticas sustentáveis. Ao longo deste trabalho, demonstra-se como a incorporação de conhecimentos ambientais pode influenciar diretamente a forma como a sociedade enfrenta os desafios energéticos contemporâneos, estimulando a adoção de fontes renováveis e a redução dos impactos derivados do uso excessivo de combustíveis fósseis.

      Nesse sentido, torna-se evidente que a implementação de programas educacionais voltados à sustentabilidade e à energia limpa é uma necessidade urgente. A sensibilização e o engajamento da população, aliados a políticas públicas consistentes, são fatores determinantes para viabilizar um futuro mais equilibrado. O relatório da UNESCO (2022) reforça que a integração da Educação Ambiental às estratégias nacionais amplia a adesão social às medidas climáticas. Já o IPCC (2023) alerta que, sem investimentos contínuos em educação e qualificação, os avanços em descarbonização podem ser comprometidos por desigualdades sociais e resistências culturais.

      Conclui-se, portanto, que a Educação Ambiental não apenas capacita indivíduos a tomar decisões mais responsáveis em relação ao meio ambiente, mas também impulsiona mudanças estruturais na sociedade. O progresso da transição energética depende diretamente do nível de informação, consciência e engajamento da população. Assim, torna-se indispensável investir em iniciativas educacionais que promovam a sustentabilidade em todas as esferas da vida, desde a formação básica até a especialização técnica.

      Contudo, é necessário reconhecer os desafios que ainda persistem. A instabilidade política, a escassez de recursos financeiros e a fragmentação das políticas públicas podem dificultar a continuidade de programas educacionais e a aplicação prática de diretrizes ambientais. Além disso, a distância entre discursos globais e realidades locais exige adaptações que considerem a diversidade cultural e socioeconômica de cada contexto.

      Portanto, os desdobramentos futuros da descarbonização dependerão da capacidade de governos, empresas, instituições de ensino e sociedade civil de convergirem esforços em torno de uma agenda comum. Diante disso, a Educação Ambiental consolida-se como elemento indispensável para articular conhecimento, cidadania e responsabilidade coletiva, pavimentando o caminho para um futuro sustentável em que progresso econômico e preservação ambiental sejam compatíveis.

      Referências

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      Estudante de Relações Internacionais da Universidade Veiga de Almeida, no Rio de Janeiro. Membro da Uniclima, com forte interesse em temas ligados a transição energética e descarbonização.

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