Na última quinta-feira (29 de outubro) foi ao ar o décimo segundo episódio do Sala de Estratégia, em que abordamos a questão da pesquisa para exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Contamos com a pesquisadora Mariana Torres e com o professor Bruno Mendelski.
Neste episódio discutido como essa decisão pode gerar danos reputacionais significativos ao Brasil, justamente no momento em que o país vinha se consolidando como um ator importante do regime de mudança global do clima desde o retorno de Lula ao poder. A queda de mais de 30% no desmatamento da Amazônia em 2024 e o discurso brasileiro nas Nações Unidas haviam reconstruído cuidadosamente a credibilidade internacional do país após o período Bolsonaro. No entanto, a autorização para perfurar um poço exploratório na Amazônia — região com potencial estimado de 30 bilhões de barris — coloca em xeque toda essa construção diplomática conquistada nos últimos anos.
O timing da decisão torna a situação ainda mais delicada. A apenas três semanas da COP30 em Belém, evento que deveria consolidar a liderança climática brasileira, a notícia reverbera negativamente em círculos diplomáticos e ambientais ao redor do mundo. Como o Brasil pode presidir a conferência climática mais importante da década enquanto autoriza o primeiro passo para expandir sua fronteira petrolífera? Essa contradição não passa despercebida pela comunidade internacional.
Durante o episódio, foi explorado em profundidade como diferentes atores internacionais interpretam essa contradição brasileira. Países desenvolvidos, que historicamente poluíram durante suas industrializações e agora pressionam por conservação, ganham munição retórica poderosa para questionar a seriedade dos compromissos climáticos brasileiros. A narrativa de que o Brasil é um líder ambiental responsável fica fragilizada quando decisões como essa vêm à tona.
Por outro lado, países em desenvolvimento, que observavam o Brasil como possível modelo de liderança climática do Sul Global, agora veem com ceticismo a capacidade de conciliar desenvolvimento econômico com proteção ambiental. A mensagem implícita é preocupante: mesmo quem defende publicamente a transição energética cede aos interesses dos combustíveis fósseis quando há petróleo em jogo. Isso enfraquece a posição de todo o Sul Global nas negociações climáticas.
Mariana Torres e Bruno Mendelski trouxeram análises sobre as dimensões de Relações Internacionais dessa questão, explorando não apenas os aspectos técnicos da decisão, mas principalmente suas ramificações geopolíticas. O episódio desvenda como essa autorização para pesquisa exploratória, que pode parecer apenas uma decisão técnica e interna, na verdade tem consequências que ultrapassam as fronteiras brasileiras e afetam toda a arquitetura da governança climática global.
Para ouvir mais sobre o assunto sem perder nenhum detalhe e entender todas as camadas dessa complexa questão internacional, veja o videocast completo que está disponível em nosso canal no YouTube.