Vinte anos atrás, o dia 11 de setembro deixou de ser uma mera data comum para o mundo – especialmente para os norte-americanos. Mesmo após duas décadas do maior atentado terrorista da história dos Estados Unidos, e que marcou todo o mundo pela sua proporção, o ataque às Torres Gêmeas do complexo World Trade Center ainda é fruto de muito debate e reflexão na política internacional.
Originalmente, o World Trade Center (WTC) foi um grande complexo formado por sete edifícios localizados na região de Lower Manhattan em Nova York, nos Estados Unidos. O WTC original, muito caracterizado pelas chamadas “Torres Gêmeas”, teve sua pedra fundamental colocada em 1966, mas teve sua finalização e abertura em 4 de abril de 1973, com cerca de 110 andares. Até o momento do atentado, o World Trade Center 1 (Torre Norte) e o World Trade Center 2 (Torre Sul) originais estavam entre os edifícios mais altos do mundo. Um dos maiores complexos empresariais do mundo, que levou sete anos para sua construção total no centro financeiro de Nova York, foi completamente reduzido a escombros e pó em menos de duas horas, com o Pentágono também sendo seriamente atingido. Para além dos danos materiais, quase 3 mil pessoas perderam suas vidas naquela manhã.
Os atentados foram executados por 12 homens da rede Al Qaeda, uma organização formada por militares fundamentalistas islâmicos, fundada em meados de agosto de 1988 por Osama Bin Laden. Eles foram responsáveis pelo sequestro de quatro aviões comerciais com o objetivo de atingir grandes símbolos econômicos, militares e políticos dos Estados Unidos. Dois dos quatro aviões foram lançados contra o World Trade Center, em Nova York, e um terceiro avião contra o Pentágono, próximo de Washington DC. O quarto avião possuía duas opções de alvos: o Capitólio, que é a sede do Congresso norte-americano, ou a Casa Branca; porém, graças à interferência dos passageiros a bordo da aeronave, o avião acabou por ser direcionado para a zona rural de Shanksville, na Pensilvânia.
O primeiro avião atingiu a Torre Norte às 08:46 da manhã. O voo 11 da American Airlines, um boeing 767, que decolou de Boston com destino a Los Angeles com 92 pessoas a bordo (somando os cinco jihadistas), chocou-se contra a primeira torre à uma velocidade de aproximadamente 790 km/h, abrindo uma enorme fenda nos andares superiores do edifício, que imediatamente entraram em chamas. Às 09:03 da manhã o segundo avião, se chocou contra a Torre Sul. O voo 175 da United Airlines, também um boeing 767 que possuía a mesma trajetória do primeiro (decolagem de Boston com destino a Los Angeles), com 65 pessoas a bordo (entre elas os cinco jihadistas) se chocou com a segunda torre à uma velocidade de aproximadamente 950 km/h, provocando uma imensa explosão.
Ainda antes do ataque ao Pentágono, o então presidente George W. Bush foi avisado a respeito do que ainda então seria um “aparente ataque terrorista”. Ao final do dia, após ser evacuado para a base aérea de Barksdale, Louisiana, Bush fez o seu discurso presidencial, denunciando os ataques e os classificando como desprezíveis. Mais do que esbravejar, Bush prometeu ao povo norte-americano que iria encontrar todos os envolvidos, tanto os que participaram diretamente do ataque quanto os que estivessem protegendo ou acolhendo terroristas.
Especialistas em todo o mundo afirmam que há diversas interpretações do que significa o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001. Para além das trágicas perdas humanas e do ataque físico à representação financeira do capitalismo nos Estados Unidos, é necessário considerar que, aquele atentado buscou confrontar diretamente a então intitulada “Nova Ordem Mundial”. Após o fim da União Soviética em 1991, os Estados Unidos se afirmam como grande hegemon político e militar mundial, ditando as novas regras do processo produtivo urbano e industrial, a partir da globalização financeira.
Entender o “fim” do 11 de setembro de 2001, implica em considerar que ele é o resultado de um extenso processo histórico e político do Oriente Médio. Não se deve perder de vista também que os primeiros armamentos e treinamento militar enviados ao Afeganistão foram feitos pelo próprio Estados Unidos. Tratava-se ainda do contexto da Guerra Fria, onde os norte-americanos ofereceram ajuda ao povo afegão para evitar a expansão da União Soviética pelo território sul, alcançando os poços de petróleo ou o Oceano Índico.
Mesmo vencendo, o Afeganistão se encontrou profundamente destruído após quase dez anos de conflito bélico, o que gerou uma profunda revolta com o governo estadunidense. Os combatentes afegãos chefiados por Bin Laden, passaram a acusar os Estados Unidos de descumprimento do acordo que fizeram a respeito de ajudar financeiramente o Afeganistão em sua reconstrução. Somado a isso, uma série de intervenções dos Estados Unidos aos países do Oriente Médio, apoiado pelo Estado de Israel, juntamente com a interferência no Irã a partir de 1950, foram se tornando grandes motivações para o que culminou no ataque de setembro de 2001.
O ataque que levou a cabo a vida de quase 3 mil pessoas diz respeito a uma revolta de grupos muçulmanos radicais que acusam o Ocidente, especialmente os Estados Unidos e seus aliados, por suas maiores dificuldades, mazelas e sofrimentos.
Também é possível refletir que a partir daquele momento, o próprio terrorismo estava passando por um processo de sofisticação, elevando sua dificuldade de identificação e localização de grupos e autores, que estavam focados em trazer à tona que uma superpotência mundial, como a norte-americana, ainda era passiva de ser atacada.
Os ataques de 11 de setembro também iniciaram o período mundialmente conhecido como “Guerra ao Terror”, que transcende a ideia de declaração de guerra a um país específico. A Guerra ao Terror dizia respeito a um combate efetivo ao terrorismo mundial, por meio de leis que restringiram a liberdade e a privacidade dos próprios cidadãos estadunidenses. Os Estados Unidos iniciou então um processo político, econômico e militar contra o “eixo do mal”, forma pelo qual chamava os grupos terroristas e nações que de alguma maneira – a partir de uma interpretação norte-americana – ameaçavam valores ocidentais como democracia e liberdade individual.
A partir daí, as relações entre os Estados Unidos e o Oriente Médio vivem em um ciclo vicioso de vingança, onde a Guerra ao Terror levou à prisão de diversos prisioneiros que não receberam julgamento e ficaram isolados por muitos anos. Essas prisões serviram de motivação para outros grupos terroristas muçulmanos mais recentes se pronunciarem buscando vingança, como o é o caso do Estado Islâmico.
Desta forma, mesmo passados vinte anos do ataque de 11 de setembro de 2001, seus desdobramentos ainda se fazem presentes e com proporções ainda significativas. Novos grupos terroristas surgem a cada dia, novas promessas de vingança e um rastro enorme de destruição e perdas humanas é formado, gerando uma reflexão constante sobre um ciclo de violência que parece estar cada vez mais longe de acabar.