Os Estados Unidos imperaram de maneira hegemônica, como o grande e mais forte ator dentro do sistema internacional após a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, com o avolumamento significativo de poder e influencia da China, é crucial compreender o que está por trás do confronto de narrativas entre as duas maiores potências do Sistema Internacional. Apesar de possuir dissonâncias com o conflito entre URSS e os Estados Unidos, o intento deste artigo é corroborar demonstrando como americanos e chineses possuem visões antagônicas em diversas searas, como nas relações comerciais, questões tecnológicas, peleja armamentista e a busca por influencia em distintos países ao redor do globo, sendo lembrado por alguns especialistas em politica internacional como Nova Guerra Fria.
Nova Guerra Fria
Um regime autocrático emulando contra uma democracia. Hostilidades e assimetria em diversos âmbitos. Essa história já foi descrita pela humanidade e ao que tudo indica, voltando com intensidade no Século XXI, porém com a permuta de um dos atores centrais envolvidos no embate. Iniciou-se falar em Guerra Fria nos anos de 1946-1947, após o término da Segunda Guerra Mundial tendo como término os anos entre 1989 -1991 com a queda do Muro de Berlim e subsequentemente fragmentação do império soviético. O final da Guerra Fria foi interpretado como a derrocada do “socialismo real”, ou ainda como o triunfo do “mundo livre” capitalista e a vitória dos Estados Unidos sobre o colosso soviético (RIBEIRA, 2012).
Entretanto, um país de cultura milenar, potência em ascensão, a Republica Popular da China (RPC), volta a colocar em cheque a hegemonia e a pujança norte americana, lembrando em alguns quesitos, a relação de rivalidade com a que foi contra os soviéticos. Talvez a maior diferença entre o acirramento das relações com a URSS e a China, seja a pujança econômica chinesa e a interdependência comercial entre chineses e americanos, visto o grau de intensidade e profundidade das relações comerciais entre os dois Estados. A China absorve diversos produtos culturais oriundos dos norte-americanos e o país asiático vende muitas mercadorias para os Estados Unidos, sendo uma relação muito mais ampla com a que ocorreu com a União soviética.
Na visão chinesa, o país considera sua ascensão como uma correção às injustiças históricas e devolve o país ao lugar que historicamente lhe corresponde. Nenhum país na história da humanidade jamais experimentou tamanha queda livre como a China durante o Século da humilhação, durando 110 anos – entre a primeira Guerra do Ópio em 1839 e a fundação da Republica Popular da China comandada por Mao Tse-tung, em 1949. Conforme descreve Gary Hufbauer, especialista do Instituto Paterson de Economia Internacional, “Para mim, isso significa que essa guerra entre China versus Estados Unidos vai durar pelo menos tanto como aquela ou até mais. “Sei que não é uma perspectiva muito bonita, mas é a que vejo”. Hufbauer, além de especialista em Economia Internacional, é um veterano da primeira linha de fogo daquela prolongada altercação com Moscou.
O especialista ainda complementa seu raciocínio explanando que “como aconteceu na Guerra Fria, os dois lados procurarão aliados para se reforçar, mas a China tem mais habilidades para isso. A URSS atraiu aliados com a ocupação militar. Pequim não precisa, o presidente Xi Jinping está usando a economia para colocar os outros países em sua órbita”. A habilidade chinesa em persuadir aliados fica evidente no projeto de infraestrutura denominada belt and road initiative, conhecida no Brasil como Nova Rota da Seda, que abarca países em todos os continentes do mundo sob a esfera de influência chinesa. Com um número crescente de países se tornando dependentes da infraestrutura de transporte e da energia chinesa, laços econômicos mais fortes, tornarão cada vez mais oneroso para os governos centro-asiáticos opor-se ao Estado Chinês.
A interdependência comercial, significativa entre Pequim e Washington, justificada por alguns acadêmicos relutarem em ainda não utilizarem o termo Nova Guerra Fria não impede China e Estados Unidos de assumirem papéis totalmente antagônicos, podendo ultrapassar o conflito ideológico de narrativas, se transformando em combates bélicos. Vale lembrar que tanto China quanto Estados Unidos, por motivos opostos, frequentemente enviam navios de guerra e porta aviões para o mar meridional, também conhecido como Mar do Sul da China (Msch), área que os chineses, por motivos históricos reivindicam como sendo uma região de sua jurisdição e os Estados Unidos, por configura-se como um importante ator nas dinâmicas marítimas, uma vez que se alinham com os países lindeiros e tentam manter na região uma certa balança de poder. O posicionamento dos americanos não inibe de se promoverem na região, a saber, em 2009, quando um destroyer norte americano aproximou-se da área reivindicada pela China, não houve acovardamento por parte de Pequim, pelo contrário, o Estado chinês enviou patrulha e interceptou o navio norte-americano, avultando as tensões diplomáticas entre os países, causando desconforto internacional por se tratar das duas maiores potências mundiais bélicas. Segundo o relatório de maio do CRS (na sigla inglesa) “A China significa agora um grande desafio à capacidade da Marinha norte-americana de dominar e controlar as águas do Pacífico ocidental, o primeiro desafio de envergadura equivalente desde o final da Guerra Fria.
Stephen Walt, professor de Relações Internacionais da Universidade de Harvard afirma que as duas maiores potências globais rivalizam a longo prazo por “visões estratégicas incompatíveis”, como o desejo da China de dominar a Ásia. Walt complementa descrevendo “parece a guerra fria soviético-americana em alguns aspectos, mas ainda não é tão perigosa quanto a rivalidade anterior”.
As relações entre China e Estados Unidos não passavam por momentos de tamanha instabilidade desde que os dois países estabeleceram laços diplomáticos plenos em 1979, admitiu o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Li. O presidente americano Donald Trump, também destacou que a relação com Pequim está “prejudicada” a ponto do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, asseverou o fim da política de aproximação, ao mencionar que “o mundo livre deve trinfar contra essa tirania”.
Segundo o estudo do Pew Research Center divulgada em abril deste ano, 66% dos norte-americanos exprimem uma opinião desfavorável sobre a China. Em contrapartida, uma pesquisa da Universidade Renmin de Pequim entre uma centena de acadêmicos chineses exterioriza que 62% deles conjectura que os Estados Unidos pretendem lançar uma guerra fria contra seu país.
O advento da Covid-19 colaborou para que as desavenças entre os dois Estados se intensificassem. A ponto de Trump denominar a Covid-19 como “vírus chinês”, fazendo uma alusão de que supostamente o vírus seja uma doença produzida pela China e pelo gerenciamento irresponsável que Pequim teve pela doença. A estratagema de Segurança Nacional da Administração de Trump denotou em dezembro de 2017 a China e a Rússia como rivais que ameaçavam a prosperidade e os valores dos Estados Unidos. Conforme o documento dizia “Após ter sido descartada como um fenômeno do século passado (Guerra Fria), a competição entre grandes poderes voltou”, informava o documento, retomando a linguagem da corrida entre as superpotências.
Campo Tecnológico
No campo tecnológico, as arestas entre americanos e chineses ficam cada vez mais exacerbadas sobre a questão do 5G. Para Águeda Parra, engenheira, sinóloga e doutora em Ciências Políticas, pela primeira vez a China participará dos padrões que vão gerar uma revolução industrial, sendo protagonista e com uma margem de dez anos à frente de seus rivais. Ademais, com experiência do desenvolvimento comercial dessa tecnologia em seu país. Nessa batalha tecnológica, os americanos já começaram a utilizar sua pujança geopolítica, para persuadir seus aliados de não utilizarem a tecnologia chinesa 5G. O governo britânico liderado por Boris Johnson declarou que proibirá o uso da tecnologia da HUAWEI nas redes 5G divergindo em relação à posição britânica anterior, pesando frente a decisão do Estado britânico as sanções impostas em maio pelos americanos para deter a aquisição por parte da empresa de microprocessadores e software de tecnologia norte americana, vitais ao seu desenvolvimento.
Os EUA fundamentam tais ações com o pretexto de que a HUAWEI e outras empresas chinesas são controladas pelo Exército Popular chinês e são uma ameaça à segurança nacional. Tal atitude britânica, comprando a ideia dos EUA, demandara um investimento extra de 3 bilhões de euros. As companhias de telecomunicações deverão planejar a remodelação de torres de comunicação e do material já instalado pela HUAWEI, além de iniciar a busca por alternativas a todos os componentes supridos por essa empresa e que compõem parte das atuais redes 3G e 4G, para quando chegar o momento de renová-las.
Existe uma conexão possível entre o passado e o presente no duelo tecnológico entre os Estados. O que antes eram naves espaciais e armas, na contemporaneidade pode ser resumido ao predomínio da internet, por meio do padrão 5G. Até mesmo um aplicativo das redes sociais denominado Tiktok é alvo de disputa entre China e Estados Unidos, sendo esse aplicativo banido pelo governo Trump sob a justificativa de que Hackers chineses poderiam roubar dados sigilosos dos norte-americanos.
A disputa por uma nova banda de comunicação no mercado tecnológico também terá o Brasil como cerne das relações entre China e EUA. O Brasil possui algo em torno de 225,3 milhões de aparelhos para 211 milhões de pessoas, ou seja, o Estado brasileiro possui mais celulares do que cidadãos em seu território, sendo considerado um país de extrema valia para investimentos tecnológicos. Alguns especialistas consideram que a concessão de uma nova frequência para as operadoras é um assunto de segurança nacional e, portanto, deveria ter um cuidado redobrado por partes dos Governos. Conforme descreve o economista e ex-secretário do Ministério da Defesa do Brasil , Flávio Basílio “É a guerra fria do século XXI porque se trata da escolha o padrão tecnológico de dados. É tão importante que vemos presidentes de vários países debatendo essas questões”. Com o alinhamento quase automático com os Estados Unidos, é intensificado a tese entre os técnicos e parlamentares de Brasília de que o Palácio do Planalto está avaliando a possibilidade de cercear a atuação em seu mercado.
Alguns profissionais do assunto explanam que apesar de toda a pressão norte-americana, não há garantia de que empresas preferidas dos Estados Unidos sejam 100% seguras. No caso, as concorrentes da HUAWEI e que contam com a simpatia do governo americano são a sueca Ericsson, a finlandesa Nokia e a sul coreana Samsung. O engenheiro e coordenador do curso de engenharia da computação do Insper, Fábio de Miranda, dilucida “há um receio dos EUA de perderem hegemonia, por isso agem dessa maneira, acrescentando na visão do engenheiro, que o Brasil não deveria excluir a Huawei do processo de leilão do 5G porque segundo ele “enquanto país periférico e não tão próximo de tensões politicas tão exacerbadas, o ideal seria focar no custo e na performance de tecnologia e assegurar uma auditoria sobre os equipamentos”.
O certo mesmo é que a questão tecnológica promove e demonstra como os interesses americanos e chineses possuem visões antagônicas em relação ao 5G, demonstrado através do poder de convencimento que as duas maiores potências do planeta pretendem influenciar países aliados para promover e divulgar suas possíveis propensões.
INFLUÊNCIA GEOPOLITICA
Segundo Michael Kofman, pesquisador da CNA Corporation e membro do Kennan Institute, Centro Internacional Woodrow Wilson, em Washington a competição atual não advém de uma oscilação de poder ou de uma ideologia por si só, mas sim de “decisões conscientes tomadas por líderes, das estratégias que eles perseguiram e de uma série de desentendimentos específicos na política internacional”. Sob a esfera geopolítica, Pequim e Washington exibem visões opostas em relação ao mundo contemporâneo. Essa divergência ocorre por exemplo na Venezuela, na qual o Estado chinês junto com a Rússia, são os principais pilares do governo de Nicolás Maduro no sistema internacional. O respaldo chinês à Venezuela custou à China entre 50 e 60 bilhões de euros. A China defende a soberania da Venezuela em assuntos de cunho doméstico e a não interferência de outros atores nos assuntos internos do país.
Diferentemente dos EUA, que descrevem a Venezuela como uma ditadura, impondo sanções econômicas e até mesmo a cogitação do uso de força militar postulada por Donald Trump em 2017, elevando dessa maneira as tensões entre Caracas e Washington. Os norte-americanos não reconhecem Maduro como presidente da Venezuela, mas sim o líder da fragmentada oposição venezuelana Juan Guaidó, fazendo com que diversos países também reconhecessem Guiadó como líder venezuelano.
A América Latina está proporcionando para China uma região sublime para os investimentos chineses. Sergio Guzmán, diretor da consultoria Colombia Risk, explana que “A China tem uma estratégia bem solidificada. Procura conquistar uma cabeça de ponte e de lá se expandir”. Os investimentos chineses, principalmente em áreas de infraestrutura, setor das matérias-primas, demonstram que Pequim está almejando exercer sua influência em um contexto geopolítico tradicionalmente liderado pelos norte-americanos. Os EUA sempre exerceram seu peso e poder na América Latina, frequentemente caracterizada como seu “quintal”, através de políticas exteriores para região como Big Stick ou a doutrina Monroe. Pequim está aos poucos modificando as premissas de dependência da região. Guzmán revela que “A China não abriu nenhum mercado, e sim aproveitou o vazio deixado por outros países”.
Na busca por influência geopolítica, no continente africano, existe uma disparidade entre China e EUA. Pequim deixa claro as intensivas e solidificadas relações que mantem na África. Entre 2007-2017 delegações chinesas realizaram 79 visitas a 43 países em 10 anos. Em comparação com os norte-americanos, o último presidente americano a pisar em solos africanos foi Barack Obama em 2015, na Etiópia. Conforme o centro de análises Conselho de Relações Exteriores de Nova York, a “retórica de Washington na África tem mais a ver com combater a influência da China do que com uma estratégia de desenvolvimento. O continente africano é vislumbrado como uma oportunidade sine qua non para o crescimento no comércio, no investimento em obras de infraestrutura, cooperação e até mesmo presença militar dos chineses na África. A primeira base naval fora do território chinês foi no continente africano, no Djibuti, que tem como uma das metas resguardar as numerosas propensões que o Estado chinês tem longe do seu território.
A recíproca é verdadeira, e os líderes africanos consideram o interesse mútuo, de modo que “isso não é só questão da China, e sim também da África”, fazendo uma alusão de como os líderes africanos são tão entusiasmados, se não mais, no momento de se comprometer com os mandatários chineses. Uma região que sempre careceu de investimentos de envergadura e que vislumbram na China, os investimentos necessários para progressão do continente.
No continente europeu, Mike Pompeo falou abertamente de guerra fria, conforme descreve um diplomata da União Europeia (UE) durante uma videoconferência dos ministros das Relações Exteriores, em 15 de junho deste ano. Após o encontro, ficou evidenciado o choque de narrativas entre Washington e Pequim, colocando a UE no âmago dessas narrativas. Conforme retrata o vice-presidente da Comissão Europeia e alto representante de Política Exterior do bloco, Josep Borrell “acho que a posição da Europa deve ser a de não participar desse confronto” complementando ainda que “há uma tentativa de que a Europa se posicione de um lado ou de outro”. A indagação que se faz é como o maior bloco econômico irá se manter à margem de uma altercação, que apontara o desenvolvimento tecnológico das próximas gerações. Ou seja, a Europa está no meio do fogo cruzado entre as disputas entre chineses e norte-americanos, e segundo uma fonte diplomática da UE, será necessário intensificar a soberania estratégia em todos os terrenos, sejam comerciais, de inovação ou de tecnologia.
O principal país do bloco europeu, a Alemanha, através do Governo de Angela Merkel, advoga por trilhar um caminho próprio europeu, não tomando partido em tal disputa. A receptividade europeia para investimentos chineses que passou de 700 milhões de euros (4,2 bilhões de reais) em 2008 a bater o recorde anual em 2016 com 37 bilhões (225 bilhões de reais), fez o bloco europeu repensar e proteger sua economia para deter a entrada das empresas chinesas e para impedir a aquisição de empresas europeias desvalorizadas pela crise.
Apesar de não apreciar, a Europa se evidencia a ser um dos cenários de uma nova Guerra Fria (EL PAÍS, 2020).
O continente asiático demonstra como a China possui aliados, mas também arestas com países aliados a Washington. Do ponto de vista chinês, o objetivo imediato para o continente asiático é fomentar a influência da China na Ásia Central. O Estado chinês abarcaria os seus vizinhos regionais numa série de arranjos institucionais como a Nova Rota da Seda, Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (BAII), Interação e Medidas de Construção da Confiança na Ásia (CICA, em inglês), os corredores para o oceano Índico através do Paquistão e de Mianmar.
O Fundo da Rota da Seda é nada mais nada menos que o primeiro passo na direção de um sistema regional de relações políticas e econômicas mutuamente benéficas para todos os envolvidos, tendo a China no centro de todas essas operações. O continente asiático é o baluarte da Nova Rota da Seda que possui dentre vários escopos, intenções geopolíticas. Todas essas ações fazem parte da contribuição a médio prazo, para uma Ásia cada vez mais sinocêntrica.
Com a eleição de Barack Obama (2009), o presidente americano não tardou em modificar os rumos da política externa dos EUA na região. Uma das alterações foi o chamado “pivô estratégico” para Ásia e o uso contínuo do termo “Ásia-Pacífico” ao invés de “Ásia Oriental”, deixando claro a mensagem que os norte-americanos, assim como os chineses, fazem parte da mesma “Bacia do Pacífico” e, consequentemente, embora o pivô estratégico tente apresentar-se como um instrumento diplomático, sua execução não pode ser dissociada da esfera militar (MAJID, 2013, p. 27).
A China conserva disputas de fronteira não resolvidas com diversos países em sua vizinhança, tanto no Msch, quanto com a Índia. Seus projetos de reivindicação territorial no Mar Meridional, construindo ilhas artificiais, propendem a manter altos níveis de arestas ao decorrer dos próximos anos. Os Estados Unidos têm um tratado de autodefesa mútua com o Japão e, em 2012, corroboraram que o tratado abarcaria as ilhas Senkaku (conhecida pelos chineses como ilhas Diaoyu). Entre Japão, Estados Unidos e China, nenhum dos três Estados está instruído a parecer fraco e recuar no mar da China oriental, demonstrando dessa maneira, assim da maneira que ocorria na guerra fria com a extinta URSS, como a busca por aliados em diversas localidades do mundo, tem sido fator preponderante para os interesses tanto de chineses quanto de norte-americanos.
ARMADILHA DE TUCÍDIDES
Conforme Napoleão explanou certa vez “A China é um gigante adormecido, que siga dormindo, pois quando acordar, o mundo vai tremer”. A china acordou, e parece estar tirando o sono da maior potência mundial pós segunda guerra mundial, que é os Estados Unidos. A rivalidade sino-americana tem sido tema que aflige muitos teóricos de Ciências Políticas, na qual um deles é Graham Alison, professor de Harvard e especialista em Ciências Políticas que difundiu a Armadilha de Tucídides, a qual descreve que “quando um poder emergente ameaça destronar uma superpotência, o resultado mais provável é a guerra”. Alison ainda completa que “ nos últimos quinhentos anos, terminaram em guerra doze dos dezesseis casos (75%), em que um grande poder ascendente ameaçou deslocar uma potência dominante”.
“Foi a ascensão de Atenas e o medo que isso incutiu em Esparta que tornou a guerra inevitável”. – Tucídides, na História da Guerra do Peloponeso.
O professor de Harvard deixa uma reflexão sobre o conflito China X Estados Unidos, na qual indaga que, se Washington e Pequim seguirão os trágicos passos da Grã-Bretanha e da Alemanha há um século atrás, ou conseguirão uma maneira de evitar a guerra tão ativamente quanto os Estados Unidos e a União Soviética fizeram durante a Guerra fria. A reposta de tal pergunta, somente o tempo irá vociferar. Na visão deste trabalho, o que ocorrerá, ou melhor descrevendo, o que está ocorrendo, é o que John Mearsheimer, destacado autor realista de Relações Internacionais, descreve como espera a emergência de uma concorrência clássica no campo da segurança na qual afirma que “Devemos esperar ver guerras por procuração, nas quais aliados chineses e norte-americanos vão lutar entre si, apoiados por seus respectivos patrocinadores. Pequim e Washington provavelmente também estarão à espreita de oportunidades para derrubar, em todo o mundo, regimes que sejam aliados do outro lado. A maior parte desses esforços será secreta, embora alguns venham a ser abertos. Também veremos evidências de cada lado empreendendo uma estratégia de aguçar e sangrar, quando houver a oportunidade de atrair o outro lado para guerras custosas e tolas”.
Nesse ano (2020), eleições presidenciais ocorrerão nos Estados Unidos, e mesmo que o opositor de Trump vença o pleito, no caso o democrata Jon Biden, especialistas em política externa americana dão como certo que essa guerra fria continuará com Biden na presidência. Segundo Hufbauer “ A retórica e a ênfase serão possivelmente diferentes. Biden falaria de comércio, mas certamente falaria mais de Hong Kong, e dos Uigures, sobre meio ambiente etc. Permutaria a interlocução, mas a guerra comercial não irá se extinguir, isto porque a plataforma econômica de governo do democrata incorpora em partes o nacionalismo econômico de Trump sob a máxima “compre produtos americanos”, mostrando assim, que a rivalidade com Pequim não passa por política de governo, mas sim por uma política de Estado.
56º Secretário de Estados dos Estados Unidos, Henry Kissinger, responsável pela normalização das relações diplomáticas com a China, escreve que ”apesar de sua importância para ordem global, tanto a China quanto os Estados Unidos são profundamente ambivalentes sobre o sistema internacional. Enquanto Pequim nunca usufruiu de tanta influência na era moderna, os Estados Unidos têm pouca experiencia em lidar com outro ator de poder comparável”.
Considerações Finais
Embora alguns teóricos não concordem com a denominação Nova Guerra fria, o objetivo deste trabalho foi descrever como China e Estados Unidos rivalizam em diversas temáticas do sistema internacional, expondo complexidades e heterogeneidade de tais relações, lembrando em alguns pontos o conflito ideológico protagonizado entre URSS e Estados Unidos. A pujança econômica chinesa e a interdependência entre as duas maiores economias mundiais não são empecilhos para que conflitos ideológicos ponham em lados antagônicos chineses e norte-americanos. O forte armamento bélico, inclusive com armamentos nucleares, impeça que Washington e Pequim se confrontem diretamente, mas a comunidade internacional observa com atenção o aumento das hostilidades de narrativas e de ações entre as duas maiores potências do globo terrestre.
Referências Bibliográficas
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HENDLER, Bruno; NOGUEIRA, Isabela. O Sudoeste Asiático entre Estados Unidos e China: “arquipélagos de economia de mercado” ou palco da competição interestatal capitalista? Disponível em: https://cartainternacional.abri.org.br/Carta/article/view/489/334. Acesso em 18 de julho de 2020;
MAJID, Munir. Southeast Asia Between China and the United States. London School of Economics and Political Science 2013;
RIBEIRA, Ricardo. A GUERRA FRIA: BREVES NOTAS PARA UM DEBATE – USP, 2012;
STUENKEL, Oliver. O mundo pós- ocidental: potências emergentes e a nova ordem mundial. 1. ed. Zahar. Rio de Janeiro: Nova biblioteca de Ciências Sociais, 2018.