O livro de Meron Medzini (2017), intitulado Golda Meir: A political Biography (uma biografia política) comenta a história de vida de Golda Meir uma política judia que se tornou a quarta pessoa a obter o cargo de Primeiro-Ministro, no quinto mandato do Estado de Israel, e também conhecida por ser a primeira mulher a se tornar Primeira-Ministra de Israel. A obra começa antes mesmo do nascimento de Golda, apresentando a família dela a partir de seus avós e sua primeira infância em Kiev e Pynsk, sua mudança para Milwaukee nos Estados Unidos, sua jornada na Palestina e finalmente como Estado de Israel. O autor faz conexões com sua criação e jornada com a sua forma de agir tanto com sua família e em sua carreira política.
Na obra Golda é retratada como uma criança curiosa e ativa, que lia muito e se interessava por política desde muito cedo, tendo como principal influência em sua vida sua irmã, que a introduziu ao movimento sionista e ao socialismo, inspirando-a a lutar pela construção do Estado de Israel, resolução que a fez ser uma das fundadoras do Estado assinando a promulgação em 1948. Meir foi Ministra do Trabalho e Seguro (1949-1956), Membro do Knesset – Câmara Legislativa de Israel (1948-1974), Ministra das Relações Exteriores (1956-1966), Secretária-Geral do partido trabalhista Mapai (1966-1968) e Primeira-Ministra de Israel (1968-1974). O livro narra de forma detalhada a vida da Ex Primeira-Ministra passando tanto por crises pessoais com seu Marido e Irmã, como por momentos históricos dos quais ela presenciou como a fundação de Israel, encontros importantes, o movimento sionista e a guerra de Yom Kippur.
Narrando a vida de Golda Meir de 1898 a 1978, a obra traz tanto trechos de suas falas e raros escritos, quanto de pessoas próximas como seus filhos, o primeiro Primeiro-Ministro israelense David Bem-Gourion, David Remez, seu marido Moris Meyerson e sua irmã mais velha. Em sua carreira Meir foi apresentada como uma pessoa com talento para explicar as coisas de maneira fácil e encantar, assim como sua rigidez quanto a pontualidade e limpeza, além de sua resignação e “cabeça-dura”. Apesar de ser uma mulher em um mundo extremamente masculino e de ter trabalhado anos como Secretária-Geral de uma Organização do Trabalho de Mulheres, o livro não a retrata como uma feminista, retratando-a mais como interessada no trabalho feito pela organização do que na ideologia feminista.
O autor conclui a obra mostrando como a comunidade israelense e judia a percebia principalmente depois da guerra de Yom Kippur, onde suas ações como Primeira-Ministra não foram apreciadas e hoje dentro dessa comunidade ela é vista ainda com certa negatividade, e como o autor percebe que apesar de Israel não se recordar tanto dela o mundo, principalmente nos Estados Unidos tem se lembrado, nos quais foram lançados vários livros e biografias sobre ela, assim como séries e filmes. O autor credita sua saída do comando do país principalmente a falta de capacidade de Meir para se conectar com a geração mais jovem e seus ideais, tanto ela não conseguia entender a deles como não soube passar adiante seus ideais para a nova geração.
Para a construção do manuscrito, foram usados documentos das principais fontes da vida de Golda, como os arquivos do Kibutt Merhavia, do partido trabalhista Mapai, da Organização Mundial Sionista, do Histradut, das Nações Unidas, do governo de Israel e estadunidense, da própria Meir, entre outros, assim como, vários livros tanto em hebraico como em inglês. Percebe-se uma pesquisa e leitura extensa por parte do autor para a confecção da obra da forma mais correta possível e fidedigna aos acontecimentos e vida de Golda, algo no qual o autor consegue repassar com maestria, principalmente quando ele coloca em contraponto a realidade de Meir e das situações em que ela vivia.
Quanto ao autor do livro, Meron Medzini, atualmente é professor emérito do departamento de estudos asiáticos da Universidade Hebraica de Jerusalém. Nascido em Jerusalém em 1932, completou seus estudos nos Estados Unidos, obtendo seu Bacharelado pela New York City College, Mestrado pela Georgetown e Ph.D. por Harvard. Ele trabalhou como Diretor de Imprensa do governo de Israel (1969-1978), atuando como porta-voz dos governos de Levi Eshkol, Golda Meir e Yitzhak Rabin. Começou a lecionar a Universidade Hebraica de Jerusalém em 1964 e se aposentou em 2017. Autor de vários artigos e livros – sendo dois sobre Golda Meir – do qual esta obra resenhada ganhou o Prêmio do Primeiro-Ministro em 2010. Os temas de seus livros rodeiam muito a história de Israel, do Japão e sua política externa, assim como a história do Japão, com uma obra intitulada “Under The Shadow of The Rising Sun: Japan and the Jews Under the Holocaust Era” publicada em 2016, sua última obra foi publicada em 2020 “Golda Meir: A Reference Guide to Her Life and Works”.
Quando analisamos a trajetória e vida do autor do manuscrito se compreende o interesse que o mesmo teve em pesquisar e registrar os momentos da Ex Primeira-Ministra, vendo que além de ser professor da Universidade Hebraica e de estudos asiáticos, o autor se interessa por política externa e relações exteriores, considerando que Meir além de ser Primeira-Ministra também foi Ministra das Relações Exteriores de Israel e quase como uma porta-voz do movimento sionista para o mundo durante anos, fomentando as relações das quais o país desfruta até hoje com alguns de seus aliados, torna-se então crucial o entendimento da vida e carreira de Meir para entender a construção e fomentação do processo político tanto do Estado de Israel como de sua política externa, algo que claramente interessou ao autor. No prefácio dessa edição o autor comenta ter feito a obra para que a nova geração soubesse quem foi Golda Meir, as duas versões em hebreu para seus filhos e a terceira agora em inglês para seus netos e os judeus mundo afora. Nesta seção o autor mostra ter grande carinho por Meir e diz ter a conhecido desde sua infância por ser filho de uma de suas amigas mais próximas.
A obra em inglês lançada em 2017 surgiu em um contexto de muitas ocasiões importantes para Israel: os 100 anos da Declaração de Balfour, 50 anos da partilha da ONU da Palestina, 50 anos da ocupação da faixa de Gaza e 30 anos da Primeira Intifada, ou seja, o ano de 2017 foi um ano que muitos se lembraram da formação do Estado israelense e como Golda foi uma das fundadoras que momento mais oportuno para a publicação da versão em inglês do que o ano em que todos estariam relembrando muitos acontecimentos durante o ano, dos quais Meir esteve presente e foi parte atuante como a criação do Estado de Israel e o movimento sionista, diante disso, comprova-se a relevância da publicação, não apenas pela pessoa que estava sendo contada a história, mas pela história em si – a obra torna-se importante para o povo judeu e para as Relações Internacionais pelo entendimento do Estado israelense que a mesma acaba ofertando.
Uma característica da obra que só poderia ser avaliada pois o manuscrito fala sobre a vida e carreira de uma mulher é o fato de ela ter atingido tal posição máxima em sua carreira como uma mulher em uma cultura que normalmente meninas não eram prioridade quanto a escola e estudos e em épocas em que esse trato da sociedade era mais forte do que na atualidade, não foi retratado Golda Meir como uma mulher de ferro, sem sentimentos ou uma supermulher que conseguia conciliar tudo, o fato de também ser retratado as dificuldades que ela teve em sua família, que ela sentia por deixar os filhos e a relação desgastada com o marido, junto a inúmeras obrigações com o movimento e o Estado, além de seu próprio senso de dever com o que ela acredita, a humanizam quanto mulher, quanto política e Primeira-Ministra. Por normalmente mulheres em posições de poder serem retratadas como frias e distantes, incapazes ou hipermasculinizadas, como Margaret Thatcher e até mesmo Dilma Rousseff, o livro traz um sopro novo e mostra o lado humano de Golda Meir.
Acredito que livros biográficos são extremamente necessários para uma compreensão das decisões e ações das pessoas quanto a certas situações, o que na minha concepção, torna-se ainda mais essencial quando a biografia se trata de chefes de Estado ou pessoas importantes na história, sendo um bom espectro de aprendizado pois entendemos como aquela situação se desenrolou, e nesses casos, como funciona o governo e Estado sem necessariamente ser um livro didático, tornado o aprendizado mais lúdico. Essas obras também servem para humanizar tanto a figura que está sendo retratada como ao leitor, desenvolvendo nele a capacidade de empatia e de “se colocar” no lugar daquela pessoa, compreendendo melhor a situação, decisões e ações tomadas. Vale apena ressaltar que empatizar e entender não é concordar com as ações, mas saber de onde elas vieram e como foram feitas.
De habilidade de leitura fácil, onde tirando as citações diretas é todo narrado em terceira pessoa dando a sensação de que é uma história contada ao leitor, esta é uma obra na qual prende o leitor mesmo que o você não seja judeu ou simpatize com a causa sionista, por relatar partes tanto da vida de Meir como de pontos importantes da Segunda Guerra Mundial, movimento sionista e fundação do Estado de Israel, recomenda-se a alunos, pesquisadores, professores e interessados em Relações Internacionais, História e Ciência Política, principalmente aqueles com o foco em relações israelenses, estudos migratórios e Oriente Médio.
Palavras-chave: Golda Meir; Israel; Movimento Sionista; Political Biography.
Referências Bibliográficas
MEDZINI, Meron. Golda Meir: a political biography. [S.I.]: De Gruyter Oldenbourg, 2017. 743 p.
Ficha técnica
Título: Golda Meir: A political biography
Autor: Meron Medzini
Editora: De Gruyter Oldenbourg
Local: Tel Aviv
Ano de publicação: 2017
Páginas: 743
ISBN 978-3-11-048734-3