Com início em sua campanha, e sendo gradativamente reverberada mais alto, a temática ambiental ganhou um lugar de destaque no governo Bolsonaro, o qual vem sendo um espaço de atritos, críticas e preocupações internacionais. Porém, mesmo com as mais variadas posições contrárias à administração federal, o governo se mostra bem claro e objetivo em sua forma de operar. Nesse sentido, o objetivo desse artigo é trazer à luz o centro da prática governista em relação à temática ambiental.
Certamente que a súplica encontrada no poema “A oração da Árvore” de Veiga Simões (1888-1954) não encontra benignidade por parte do governo Bolsonaro. Talvez se o Eu lírico do poema fosse uma laranjeira, encontraria benevolência nas políticas governamentais a fim de proteger suas “laranjas”.
O modus operandi que a administração federal sobre o governo Bolsonaro vem fazendo com a pauta ambiental vem minando a imagem do Brasil perante o exterior. Em um governo que falava reiteradamente sobre investimentos, a fuga de capitais que o cenário desastroso de queimadas sem precedentes trouxe parece não mexer com as posições adotadas pela pasta ambiental. Mas por que o Bolsonaro insiste em adotar essas medidas? Por que o desdém em relação a como a Sociedade Internacional olha para a pauta em xeque?
O núcleo estruturante da atuação
As ações do governo, nesse sentido, giram em torno de um núcleo de ideias que trazem dois pontos estruturantes. Por um lado, temos um presidente que se viu jogado aos impropérios de uma pandemia e que, com isso, necessita reforçar seu eleitorado que vinha enfraquecido, sobretudo após a saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça, e, se possível, aumentar sua popularidade, o que por sinal vem conseguindo com o auxílio emergencial. Por outro lado, temos a política externa do chanceler e Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Olavista assumido, Araújo insta em negar o modus operandi da prática internacional, o multilateralismo e o globalismo. Ao lado dele, há o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que é provavelmente o ministro mais criticado do governo Bolsonaro; contudo peça central para as medidas defendidas pelo presidente desde sua campanha.
Em relação ao primeiro ponto, sua retórica é composta por alguns elementos a fim de reforçar seu eleitorado mais fiel, como a maneira incisiva com o trato ambiental demonstrado pelo presidente, apoiando de forma reiterada o desenvolvimento de atividades de cunho econômico em áreas de floresta, e, com isso, incentivando a prática de grileiros na região, desmatamentos e os garimpos ilegais, reduzindo a verba destinada a órgãos de controle ao desmatamento, entre outros. Sua retórica, seu modo de agir, seu modo de falar, sua necessidade de criar um inimigo, ora é o tal comunismo, ora é a imprensa que distorce as informações afim de prejudica-lo, são muito fortes; transformando o país em um palco de insustentabilidade.
A mensagem é clara e seu eleitorado a entende. Depois da publicação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril de 2020, boa parte de seus eleitores sentiram-se convictos de que o presidente saiu favorecido com a exposição, o que se viu ali foi o Jair Messias Bolsonaro da campanha, com os mesmos discursos e práticas. Deste modo, ao dar atenção ao seu eleitorado e, assim se voltando ao âmbito doméstico, Bolsonaro se isola do âmbito externo em um espaço a esmo; com ações incisivas em um momento de incerteza, seja em relação a pandemia do coronavírus (e, com isso, soma-se as profundas mudanças econômicas trazidas), seja em relação a disputa presidencial nos Estados Unidos entre o democrata Joe Biden e o republicano, e aliado do presidente brasileiro, Donald Trump.
O outro ponto diz respeito à Ernesto Araújo e Ricardo Salles; ambos são importantes para o governo e figuras centrais de toda essa questão. A retórica de Araújo contra o tal comunismo e a aversão ao globalismo/multilateralismo que as ideias Olavistas possuem fizeram com que o Brasil se aproximasse cada vez mais dos Estados Unidos de Trump; as ações do governo dirigidas à sua base forte de apoio evangélico fez com que a aproximação com Israel fosse maior e explícita. Como representação estética da política externa do governo Bolsonaro pode ser citada a fotografia de ambas as bandeiras, dos EUA e de Israel, levantadas em plena rampa do planalto e, se uma imagem vale mais que mil palavras, o que se conclui com isso é a simulação bolsonarista de patriotismo.
Se a atuação de Araújo é ruim, a de Salles é pior. Foi justamente “passando a boiada”, que em 2019, o primeiro ano de gestão de Salles na frente da pasta, – segundo dados do Instituto de Pesquisas Espaciais –, o Brasil teve aproximadamente 10,7 mil km2 de área desmatada na Amazônia, um aumento de aproximadamente 53% em comparação com 2018. Soma-se a isso o desestímulo de órgãos de controle, como o Ibama e o ICMBio, as políticas ambientais que reverberam interna e externamente; que, com isso, travam a negociação referente ao tratado Mercosul – União Europeia, que precisa ser aprovada no parlamento de cada um dos respectivos países membros e que encontrou resistência de deputados europeus. Além do mais, a política ambiental pode ser um tiro no pé do agronegócio brasileiro, com os mercados globais, tanto compradores como também consumidores, se preocupando cada vez mais com a sustentabilidade. Porém, aparentemente isso não parece incomodar a China, que já vem há algum tempo sendo um dos maiores destinos de exportação brasileira.
Se através de um ponto de vista isso parece ser ruim, de outro não é. A atuação de Salles compactua com ruralistas e atuantes que buscam a todo o custo desvirtuar a sustentabilidade de desenvolvimento econômico. As falas encontram bom ouvintes no eleitorado e revigoram ideias. Assim, as medidas de ambos ministros vêm contribuindo com o presidente e, nesse aspecto, a atuação de ambos corresponde a uma cartilha certa. Não é um desgoverno como uns dizem, mas sim um governo explícito, em sua forma, em seu tom e em seu conteúdo. Nesse aspecto, não há uma pedra no meio do caminho, há um governo Bolsonaro.
Conclusão
Bom, as próximas cenas desta peça, onde, infelizmente, o Brasil é o palco e nossas florestas são parte do cenário, irão dizer como a atuação do governo brasileiro se dará na esfera internacional. O resultado das eleições americanas podem ser um fator interveniente disso. Se o candidato democrata vencer, cabe saber se terá ou não uma atitude pragmática em relação ao Brasil, vide a aproximação acelerada da China e a questão da tecnologia 5G. Além do mais, pontos crucias para o mandato do presidente brasileiro estão em discussão, como a reforma administrativa que já vem gerando barulho, ou a proposta do futuro programa de renda chamado de “renda cidadã”. Se entre escolher pautar sua atuação para a esfera internacional ou para a esfera doméstica, Bolsonaro encontra maior refúgio na doméstica, por ser mais oportuno; cabendo saber o ponto em que essa ação vira do avesso e passa a ser danoso.
Referência bibliográfica:
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