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Guerras comerciais e ameaças militares: A batalha pela influência econômica na região da Oriente Médio e Norte da África Guerras comerciais e ameaças militares: A batalha pela influência econômica na região da Oriente Médio e Norte da África

Guerras comerciais e ameaças militares: A batalha pela influência econômica na região da Oriente Médio e Norte da África

Foto por Mehr News Agency. Via Wikicommons. (CC BY 4.0)

Nos últimos 25 anos, a região do Oriente Médio e Norte da África (WANA) passou por uma transformação significativa em seus relacionamentos comerciais globais. Antes fortemente dependentes dos mercados ocidentais, particularmente dos Estados Unidos e da Europa, muitos países da região WANA diversificaram suas parcerias econômicas, com a China emergindo como um parceiro comercial dominante.

Essa mudança reflete tendências econômicas globais mais amplas e realinhamentos estratégicos à medida que os países buscam reduzir a dependência de parceiros tradicionais e explorar novas oportunidades econômicas. Com as decisões comerciais dos EUA sob o novo presidente Donald Trump, que apontam para uma guerra comercial global, e outras posições que ameaçam uma guerra violenta e até limpeza étnica, os países da região do Oriente Médio e Norte da África provavelmente se verão no epicentro dessa tempestade.

A ascensão da China

A China aumentou significativamente sua presença comercial na região WANA nas últimas duas décadas. Em 2022, o volume comercial bilateral entre a China e os países do Oriente Médio e Norte da África alcançou 469 bilhões de dólares, um grande aumento em relação aos cerca de 17 bilhões de dólares em 2000, quando o volume com os EUA era de cerca de 68 bilhões de dólares, de acordo com dados do World Bank’s World Integrated Trade Solutions. Isso faz da China o maior parceiro comercial de várias economias da região WANA, particularmente no setor de energia.

A Arábia Saudita, por exemplo, deixou para trás sua dependência tradicional dos mercados dos EUA, com a China se tornando seu principal importador de petróleo, quando as exportações de petróleo saudita para a China superaram as para os EUA em 2010, ilustrando uma mudança nos padrões comerciais. O reino tomou medidas para reduzir a dependência do dólar americano. No início de 2022, Riade sinalizou abertura para negociar em moedas alternativas, um possível indicador de desdolarização nos mercados globais de petróleo.

Enquanto isso, o Irã também se tornou um importante parceiro estratégico de comércio para a China. Segundo o Iran Open Data Centre, “a participação da China no comércio do Irã disparou de menos de 2% em 2000 para cerca de um terço em 2022.” Em contraste, os parceiros europeus — Alemanha, França e Itália — tinham uma participação de 20% em 1997, mas isso caiu para menos de 3% atualmente.

O centro atribui essa mudança a “sanções, mudanças geopolíticas e o crescimento do poder econômico asiático”, além do fato de que o rápido crescimento econômico da China e a Iniciativa do Cinturão e Rota forneceram ao Irã mercados alternativos e oportunidades de investimento. No entanto, “a crescente dependência do Irã em relação à China tem implicações econômicas e geopolíticas”, de acordo com o centro.

Apesar da crescente influência da China, os Estados Unidos continuam sendo um parceiro econômico significativo na região do Oriente Médio e Norte da África. Em 2022, o volume comercial dos EUA com os países da WANA ainda foi de aproximadamente 161 bilhões de dólares, com o hegemônico global mantendo fortes relações comerciais com os países do Golfo, Egito e Israel, frequentemente reforçadas por acordos militares e de defesa.

Quem depende dos EUA e quem está buscando outras opções?

Vários países continuam a depender dos EUA. No entanto, enquanto os EUA continuam a ter influência econômica na região, certos países são mais dependentes do que outros.

As ameaças mais recentes de Trump de reter bilhões em ajuda anual para o Egito e a Jordânia — a menos que apoiem seu plano de deslocar forçadamente os palestinos e transformar Gaza em um grande projeto imobiliário — expõem a dependência estratégica desses países dos fundos dos EUA por meio de ajuda militar e assistência econômica.

No entanto, o Egito está ativamente diversificando seu portfólio comercial, desenvolvendo laços econômicos mais estreitos com a China nos últimos anos. Pequim tem investido em projetos-chave de infraestrutura egípcia, incluindo a construção da Zona Econômica do Canal de Suez. O comércio entre China e Egito alcançou cerca de 18 bilhões de dólares em 2022, o dobro do volume comercial com os EUA, de acordo com dados do WITS. No caso da Jordânia, no entanto, o volume de comércio com os EUA e a China tem permanecido comparável desde 2000, segundo os mesmos dados.

Embora os Emirados Árabes Unidos e Israel mantenham estreitos laços de segurança com os EUA, com suas economias, particularmente nos setores de defesa e tecnologia, estando fortemente ligadas a Washington, países como Arábia Saudita, Iraque, Catar e Turquia estão ativamente expandindo suas parcerias comerciais com a China e outros mercados asiáticos para reduzir a dependência dos EUA.

Tanto o Iraque quanto o Catar estão se aproximando da China, especialmente no setor de energia, alinhando suas exportações com a crescente demanda chinesa. Isso fica evidente no fato de o Catar ter assinado recentemente acordos de fornecimento de GNL de longo prazo com a China, enquanto esta é a maior compradora de petróleo do Iraque, representando 35% de suas exportações totais, fazendo do Iraque seu terceiro maior fornecedor de petróleo, atrás apenas da Rússia e da Arábia Saudita. A Turquia também tem explorado alternativas ao comércio baseado no dólar americano, alinhando-se com a Rússia e a China em cooperação econômica.

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Foto por Eagleamn. Via Wikicommons. (Domínio Público)

A ascensão econômica da China versus a dominância militar dos EUA

Nos últimos 25 anos, houve uma transformação notável nas relações comerciais da região Oriente Médio e Norte da África. Embora os EUA continuem sendo um importante parceiro econômico e estratégico, especialmente devido à sua presença militar e vendas de armas, a rápida ascensão econômica da China reformulou as dinâmicas comerciais em toda a região. Países que antes eram fortemente dependentes dos EUA agora estão diversificando suas parcerias, buscando mercados alternativos e fontes de investimento.

À medida que as políticas comerciais de Trump continuam a evoluir, impactando tanto aliados quanto adversários dos EUA, o equilíbrio de poder na região WANA está prestes a passar por mais mudanças. A crescente influência econômica da China, juntamente com os esforços de alguns países da Oriente Médio e Norte da África para desdolarizar e fortalecer os laços com a maioria global, sinaliza um movimento em direção a um ambiente comercial mais multipolar do que no início do milênio.

No entanto, esse realinhamento econômico enfrenta uma força contrária significativa na forma da dominância militar dos EUA, incluindo por meio de seu aliado-chave, Israel. Com Washington e Tel Aviv dispostos a usar o poder militar — sem restrições por parte do direito internacional ou da ONU — a ascensão da presença econômica da China na região pode, cada vez mais, entrar em choque com os interesses estratégicos dos EUA, empurrando a região para um possível aumento da violência.

Texto traduzido do artigo Trade wars and military threats: The battle for economic influence in WANA, de Walid El Houri, publicado por Global Voices sob a licença Creative Commons Attribution 3.0. Leia o original em: Global Voices.

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