No novo episódio do Sala de Estratégia, Bruno Mendelsky e Guilherme Frizzera discutem o que está acontecendo no Caribe e no Pacífico Oriental. Desde setembro de 2025, os Estados Unidos realizaram pelo menos 16 ataques letais contra embarcações em águas internacionais. Oficialmente, são operações contra o narcotráfico.
No dia 31 de outubro, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos declarou que esses ataques violam o direito internacional humanitário e podem constituir crimes internacionais. Mas tem algo mais preocupante acontecendo. A narrativa de Trump não se limita a combater os cartéis. Ela também criminaliza chefes de Estados, equipara governos a organizações terroristas e usa a guerra às drogas como pretexto para algo muito maior.
Bruno Mendelsky, doutor em Relações Internacionais pela UnB, explica que os Estados Unidos é o maior mercado consumidor de drogas das Américas. Isso é um dado histórico. E ao longo das décadas, o governo americano tentou várias estratégias para conter esse consumo. A maior parte das drogas consumidas nos Estados Unidos vem da América do Sul, produzida na Colômbia, Bolívia e Peru, e geralmente traficada através do México. O que mudou desde setembro é que os Estados Unidos adotaram uma política muito agressiva. Classificam grupos criminosos de traficantes como grupos terroristas e, dessa forma, conseguem um artifício político interno para atacar embarcações.
O primeiro ponto que Bruno levanta é que esses ataques são ilegais. Eles ocorrem à margem do Direito Internacional porque são civis os atingidos. E civis não podem ser executados. Não há apresentação de provas, nem tentativas de interceptação não letal. Na verdade, tratam-se de execuções.
Guilherme Fizzera, doutor em Relações Internacionais pela UnB e professor coordenador da Uninter, traz outra camada da questão. Trump não está só atacando, ele está construindo uma narrativa que criminaliza chefes de Estado. É quase como um imaginário presente nos Estados Unidos quando se refere à América Latina, como se fôssemos narco-estados. Como se a junção entre o Estado formal e soberano estivesse ligada ao narcotráfico.
Quando você classifica os Estados como narco-estados, aquele que estiver no poder logo é o líder desse narco-estado e de uma facção criminosa que passa a ser todo o Estado. E essa reverberação toda que estamos vendo hoje sobre narcotráfico, há dez ou quinze anos estávamos vendo sobre Estados terroristas. Se o Estado age como terrorista, todas as medidas de contenção do terrorismo estão válidas. Agora essa lógica tem sido levada ao narcotráfico. Associa-se o narcotráfico ao próprio Estado. Então qualquer medida, inclusive contra seus presidentes, é válida, porque ele é líder de um cartel de drogas.
Os convidados também discutem uma questão fundamental: esses ataques acontecem em águas internacionais, fora de qualquer jurisdição nacional. É o mais próximo que temos materialmente daquela definição de anarquia no sistema internacional. Depois que você passa da soberania das suas águas, você está em águas que não pertencem a ninguém. Quem deu jurisdição aos Estados Unidos para ser o xerife daquele lugar?
No episódio completo, os convidados aprofundam essas questões e discutem se os Estados Unidos estão reativando a doutrina Monroe, quais são as implicações para a Venezuela especificamente, e o que isso significa para o futuro das relações internacionais na região. É uma conversa que conecta direito internacional, geopolítica, segurança e os limites da hegemonia americana.
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