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Como Pequim planeja reagir às tarifas de Trump Como Pequim planeja reagir às tarifas de Trump

Como Pequim planeja reagir às tarifas de Trump

Foto por China News Service. Via Wikicommons. (CC BY 3.0)

O presidente da China, Xi Jinping, reuniu-se recentemente com 40 líderes de empresas multinacionais, incluindo a BMW e a AstraZeneca.

Em contraste com a retórica de Donald Trump, Xi disse aos executivos de alto escalão que a globalização não vai desaparecer. Ele está tentando impulsionar o investimento estrangeiro na China — que caiu nos últimos anos — e construir novas relações que possam compensar as tarifas impostas por Trump a muitos produtos chineses.

Na reunião de 28 de março, Xi “prometeu melhorar o acesso ao mercado” e assegurou aos líderes empresariais que as “linhas de comunicação” entre eles e o governo chinês estão abertas.

Xi espera aproveitar uma reação contrária às políticas de Trump e inspirar empresas a apoiarem Pequim, especialmente agora que surgem sinais de que a economia chinesa pode estar indo um pouco melhor do que o esperado no início de 2025. A produção industrial aumentou 5,9% em janeiro e fevereiro. O crescimento do crédito — que mede a quantidade de empréstimos concedidos pelos bancos — também parece estar se recuperando, sugerindo que os negócios podem estar em expansão na China.

As vendas no varejo, um importante indicador do consumo, cresceram até 4% em janeiro e fevereiro deste ano em comparação com o ano passado.

Pequim também está disposta a criar novos pacotes de estímulo para sustentar o crescimento econômico, o que pode elevar ainda mais a confiança do consumidor.

No entanto, tudo isso é prejudicado por uma crise imobiliária que começou em 2021. O que se seguiu foi uma dívida já elevada dos governos locais, agravada pela crise no setor de imóveis, e um alto desemprego entre os jovens, presente desde 2023.

A grande questão, então, é: quais são os fatores que podem levar a uma perspectiva mais otimista para os rumos da economia chinesa?

Determinação política de Pequim

De acordo com uma reportagem da Bloomberg, a China tradicionalmente dependeu de empréstimos baratos e subsídios para impulsionar setores econômicos como infraestrutura, manufatura e o mercado imobiliário. No entanto, esses tempos ficaram para trás.

O problema é que a China produziu mais bens do que as pessoas estão dispostas a comprar. No passado, Pequim contava com o Ocidente para consumir seus produtos, mas com o aumento do protecionismo e a ameaça de novas tarifas oriundas de um governo dos EUA liderado por Donald Trump, o consumo norte-americano de produtos chineses tende a cair.

E se outro mercado-chave, como a União Europeia, seguir o modelo econômico de Trump e também impor mais tarifas à China, a esperança chinesa de crescimento baseado em vendas para o Ocidente pode não se concretizar.

A maneira mais segura de Pequim impulsionar suas vendas é por meio do consumo interno. Isso, porém, não é fácil, já que os gastos domésticos da China permanecem relativamente baixos — cerca de 40% do PIB, aproximadamente 20% abaixo da média mundial. E se Pequim quiser que consumidores cautelosos gastem mais em meio a um cenário econômico ainda frágil, precisará fazer mais para aumentar a confiança do consumidor.

Embora a China tenha anunciado um pacote de estímulo em setembro de 2024, o governo demonstrou disposição para fazer mais. Em um discurso no parlamento chinês no início de março de 2025, o premiê Li Qiang prometeu um “plano de ação especial” para elevar vigorosamente o consumo interno ao longo de 2025. Algumas semanas depois, Li reiterou no Fórum de Desenvolvimento da China que Pequim lançaria mais pacotes de estímulo sempre que necessário.

Essas garantias provavelmente ajudaram a melhorar o sentimento do mercado, e o fato de a meta de crescimento do PIB da China ter sido fixada em um nível ambicioso de cerca de 5% pode sinalizar a confiança e determinação de Pequim de que a economia irá melhorar.

A revolução da IA na China

No passado, a China era vista como uma nação imitadora, conhecida por fabricar shanzhai, ou seja, produtos falsificados e pirateados. Essa dificuldade em inovar e a dependência dos designs de outros se deviam, em grande parte, a um sistema educacional baseado na memorização mecânica e a uma cultura hierárquica com forte ênfase no conformismo.

Por isso, muitos especialistas acreditavam que a China enfrentaria grandes dificuldades quando os EUA decidiram impor restrições ao acesso chinês a tecnologias de semicondutores e inteligência artificial. No entanto, apesar dessas barreiras, a China conseguiu desenvolver um modelo de IA altamente avançado, chamado DeepSeek, revelado no início deste ano, o que imediatamente fortaleceu a imagem da China como uma potência inovadora.

Ao contrário de outros modelos de IA, o DeepSeek aparentemente foi desenvolvido a uma fração do custo de modelos tradicionais como o ChatGPT, e pode contar com um sistema de codificação mais eficiente, que permite resolver problemas com maior rapidez. Isso levou Donald Trump a descrever o desenvolvimento do DeepSeek como um alerta para a indústria tecnológica dos EUA.

Muitas startups de IA na China agora estão reformulando seus modelos de negócio para competir com o DeepSeek, à medida que a tecnologia vem sendo amplamente adotada. A revolução da IA na China pode, inclusive, reduzir custos e, com isso, aumentar a eficiência no setor financeiro.

Com o retorno de Trump à Casa Branca, investidores ao redor do mundo têm buscado reduzir sua dependência dos Estados Unidos, procurando oportunidades de investimento em outros lugares. Isso não é exatamente surpreendente, dado o estilo imprevisível de Trump e o fato de que novas tarifas norte-americanas têm sido aplicadas até mesmo a aliados como México, Canadá e União Europeia.

Enquanto Trump adota um tom cada vez mais protecionista, a China segue na direção oposta. A inclinação de Trump para as tarifas e seu desinteresse pelos interesses econômicos de aliados dos EUA pode fazer com que Pequim nem precise se esforçar tanto para atrair mais países e empresas a considerarem o mercado chinês como alternativa.

Texto traduzido do artigo How Beijing plans to bounce back against Trump’s tariffs, de Chee Meng Tan publicado por The Conversation sob a licença Creative Commons Attribution 3.0. Leia o original em: The Conversation.

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