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Cúpula Xi-Trump: Comércio, Taiwan e Rússia continuam no topo da agenda para os presidentes da China e dos EUA — seis anos após o último encontro
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Cúpula Xi-Trump: Comércio, Taiwan e Rússia continuam no topo da agenda para os presidentes da China e dos EUA — seis anos após o último encontro

Photo by Igor Omilaev on Unsplash

Seis anos se passaram desde que os presidentes Xi Jinping e Donald Trump se encontraram pela última vez, mas o conteúdo das discussões permanece em grande parte o mesmo. Em 2019, comércio e Taiwan também ocupavam posição de destaque na agenda.

Antes do encontro esperado entre ambos, em 30 de outubro de 2025, Trump também indicou que quer envolver a China nos esforços para levar a Rússia à mesa de paz — acrescentando um terceiro tema de peso para os dois discutirem.

Mas o que mudou nesses três temas — comércio, Taiwan e as relações China-Rússia — desde a última reunião entre Trump e Xi?


Taiwan: os falcões americanos em retração

Em comparação com 2019, a principal variável que mudou é se os Estados Unidos suavizaram sua posição sobre Taiwan.

No primeiro governo Trump, a política para Taiwan foi moldada por figuras como o então secretário de Estado Mike Pompeo, notoriamente linha-dura em relação à China e à questão taiwanesa. Naquele momento, Washington parecia empenhada em reforçar sua garantia — mas não um compromisso formal — de ajudar Taiwan a manter um caminho de autonomia, sem apoiar explicitamente a independência.

Durante o governo Biden, a posição dos EUA em relação a Taiwan foi influenciada por outros eventos da relação sino-americana, como o balão espião chinês e a controversa visita da então presidente da Câmara, Nancy Pelosi, a Taipei — episódios que abalariam as relações Washington-Pequim e aumentariam as tensões no Estreito de Taiwan.

O atual secretário de Estado de Trump, Marco Rubio, também sempre foi considerado um político linha-dura quanto a Taiwan — mas há uma percepção mais ampla de que essa abordagem não domina o segundo governo Trump.

Grande parte disso gira em torno do próprio Trump e de questões sobre se ele busca um novo acordo de compromisso com a China que envolva também a posição americana sobre Taiwan.

Um indício disso surgiu no início de 2025, quando o governo Trump impediu o presidente taiwanês William Lai Ching-te de fazer escala em Nova York a caminho da América Central e do Sul — o que pode ser interpretado como uma concessão a Pequim. Da mesma forma, Trump cancelou US$ 400 milhões em armamentos que seriam destinados a Taiwan durante o verão.

Outra diferença importante, em relação a 2019, é que Taiwan vive um novo momento político. Naquele ano, o país era liderado por Tsai Ing-wen, presidente com postura prática e flexível quanto à independência — algo que Pequim veementemente se opõe.
O novo presidente, Lai Ching-te, não tem pressionado pela independência formal, mas analistas afirmam que ele é mais enfático ao destacar a separação entre Taiwan e o continente — uma posição que os EUA não querem parecer apoiar.

Enquanto isso, Pequim continua pressionando fortemente: dias antes da reunião Xi-Trump, a mídia estatal chinesa anunciou “exercícios de confrontação” com bombardeiros H-6K nas proximidades de Taiwan.

Mas isso é típico do padrão chinês: adotar uma postura maximalista antes das reuniões e reduzir a retórica durante as negociações.

O que Pequim quer, afinal?
Nos últimos meses, o Partido Comunista Chinês sinalizou que gostaria que a formulação americana sobre Taiwan mudasse de “os EUA não apoiam a independência” para “os EUA se opõem à independência”.

Mas não se espera que Washington faça essa mudança no curto prazo. A solução preferida, no curto e médio prazo, é manter o status quo — algo que se torna cada vez mais difícil diante da presença crescente da China no espaço aéreo e naval taiwanês.

Comércio: as ferramentas de Trump estão enfraquecidas

Em 2019, os Estados Unidos e a China estavam em processo de negociar um “acordo econômico e comercial de fase um”, que deveria se desenvolver em um pacto muito mais amplo.

Mas esse acordo maior nunca se concretizou. Ambos os lados enfrentaram dificuldades em cumprir os termos, e a pandemia de 2020 acabou desorganizando o comércio global e as cadeias de suprimentos.

Hoje, estamos em um ambiente tarifário muito diferente daquele do primeiro governo Trump — as tarifas agora são universais, e Trump quer que todos as paguem.

Isso cria, no curto prazo, uma posição de negociação mais difícil para Trump — há menos incentivo para que os aliados dos EUA ajudem a pressionar a China com restrições adicionais.

Tome o caso do Reino Unido, por exemplo. No primeiro governo Trump, uma série de ligações da Casa Branca pressionou o governo de Boris Johnson a banir a gigante chinesa Huawei de participar do mercado de telecomunicações britânico. Mas, naquele momento, não havia tarifa americana de 10% sobre produtos britânicos.

Embora 10% seja baixo em comparação com tarifas impostas a outros países, ainda representa um obstáculo quando se tenta pressionar aliados e parceiros contra a China.

Além disso, em relação a 2019, a vulnerabilidade das cadeias de suprimentos se tornou ainda mais evidente. Vimos isso nas ações da China ao restringir materiais de terras raras. Mas, nos anos seguintes, Pequim se inseriu ainda mais profundamente nas cadeias globais, dificultando também para Trump pressionar empresas americanas.

Tome o exemplo da Apple. Sob pressão do governo Trump, a empresa transferiu parte da produção de iPhones para a Índia, rival da China.
Na prática, porém, a produção de componentes e a montagem ainda ocorrem majoritariamente na China — pois nenhum outro país consegue realizar o trabalho com tamanha precisão e volume.


Rússia: a China continua equilibrando-se

A abordagem da China em relação à Rússia praticamente não mudou desde o primeiro mandato de Trump — Pequim continua tomando decisões sobre Moscou sem se preocupar com a opinião dos EUA.

É verdade que a invasão total da Ucrânia só ocorreu em 2022, três anos após o último encontro entre Xi e Trump. Mas já havia precedentes — a invasão da Crimeia em 2014 e a da Geórgia em 2008.

A China não condenou a Rússia por essas ações, mas absteve-se nas votações da ONU e nunca reconheceu formalmente as anexações.

O mesmo ocorre hoje: Pequim não reconhece as reivindicações russas sobre as áreas do leste ucraniano ocupadas por Moscou.

Assim, a China mantém uma postura equilibrada e cautelosa. Sua prioridade é não ofender a Rússia, vista como um mercado-chave para produtos chineses.

Pequim fornece tecnologia de uso dual (civil e militar) e compra petróleo russo, mas negocia duramentesem “taxas de amizade”.

A China deseja evitar qualquer perturbação nesse comércio e, portanto, tem se mostrado, primeiro desconfiada, depois aliviada, com o tom relativamente amigável do governo Trump em relação à Rússia.

Quanto à guerra em si, Pequim compreende que Moscou talvez não vença, mas consegue sustentá-la, e isso lhe é conveniente.
Uma Rússia isolada e dependente dos produtos chineses serve aos interesses estratégicos de Pequim.

Este artigo, intitulado “Xi‑Trump summit: Trade, Taiwan and Russia still top agenda for China and US presidents – 6 years after last meeting”, de autoria de Rana Mitter, Professor de U.S.-Asia Relations na Harvard Kennedy School, foi publicado originalmente em The Conversation. Está licenciado sob Creative Commons – Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-ND 4.0).

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