A data foi criada durante um fórum realizado no dia 10 e 11 de fevereiro de 2015 sobre a saúde feminina e desenvolvimento, com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Royal Academy of Science International Trust (RASIT), uma ONG que promove a educação para jovens e que já formou, desde 1969, aproximadamente 10,5 mil meninas.
Hoje sob a liderança da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e da entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres), o evento acontece em diversos países com atividades que visam celebrar e dar visibilidade ao papel feminino, encorajando as realizações das mulheres e buscando atrair novas aspirantes a carreira científica e tecnológica.
As Nações Unidas têm tido um papel fundamental para o desenvolvimento desse diálogo, promovendo debates, visibilidade e conscientização sobre a discriminação e inferioridade das mulheres em várias esferas da vida social. Com efeito, os acordos internacionais como a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, juntamente com a Declaração de Pequim em 1995, são marcos inquestionáveis.
Causas e conceitos
Para além disso, a IV Conferência das Nações Unidas sobre a Mulher ao estabelecer a Declaração de Pequim, tornou-a conhecida por ser a “Ação para a igualdade, o Desenvolvimento e a Paz”, a qual continua ter influência até hoje, porque nela permitiu-se avanços conceituais e a promoção da situação das mulheres.
Nesse sentido, identificou-se nessa época doze áreas de preocupação prioritária, aqui fazemos seus principais desdobramentos: crescente número de mulheres em situação de pobreza (feminização da pobreza); desigualdade quanto ao acesso à educação, capacitação, saúde, violência, conflitos armados, estruturas econômicas, atividades produtivas, acesso a recursos, acesso ao poder político e as decisões, insuficiência de apoio ao acesso aos mecanismos institucionais, tratamento estereotipado nos meios de comunicação e ao acesso aos meios, desigualdade no manejo dos recursos naturais, meio-ambiente, falta de proteção e promoção específicas aos direitos das meninas.
Destaca-se ainda na Declaração de Pequim alguns conceitos importantes como o de: gênero, empoderamento e transversalidade. O conceito de gênero passou de uma análise biológica para a compreensão de relação entre homens e mulheres, definidos muitas vezes pela sociedade, chaves para superar a desigualdade.
O conceito de empoderamento da mulher realça a importância da mesma adquirir o controle sobre o seu desenvolvimento, e o governo e a sociedade devem criar condições para o apoio deste processo. Quanto a transversalidade, busca-se assegurar a perspectiva de gênero para todas as esferas das políticas públicas e na atuação governamental.
Esses conceitos mostram a importância do tema, pois trata-se não só de reconhecer desigualdades entre homens e mulheres, mas uma questão de direitos humanos, que decorrem de vários fatores como os vistos anteriormente.
Objetivo de desenvolvimento sustentável número 5 – igualdade de gênero
Nesta ceara, em setembro de 2015, líderes mundiais reuniram-se na sede da ONU, em Nova York, para decidirem um plano a ser seguido por todos os países participantes com 17 novas metas globais para os próximos 15 anos, chamados de Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), conhecido também como Agenda 2030.
Essa agenda contou com a participação de 193 países e foi assinada a Resolução 70/1, que prevê uma nova política global com o compromisso de enfrentarem os problemas mundiais para o Desenvolvimento Sustentável do Mundo, melhorando a qualidade de vida de todas as pessoas.
Dentro dessa meta global a ODS de número 5 trata sobre a igualdade de gênero, retomando ideais da Conferência de Pequim, porque apesar de todos os esforços para inspirar e envolver mulheres e meninas na ciência e seu desenvolvimento social, elas continuam a ser excluídas, pois há uma lacuna de gênero na ciência.
Isso porque, mesmo com um bom desempenho em ciências e matemática, atualmente, estima-se que menos de 30% dos pesquisadores no mundo são mulheres que escolhem a ciência, a tecnologia, a engenharia e a matemática, em inglês a sigla (Stem), o que na realidade representa muito pouco para essa área.
A análise que se faz é que as mulheres foram excluídas da educação formal por muitas décadas sob justificativas pseudobiológicas, relacionando o corpo feminino a menor capacidade intelectual e cognitiva. E ainda hoje, a maior carga de serviços domésticos e cuidados familiares ficam a cargo das mulheres.
Para exemplificar essa situação que põe as mulheres em desvantagem temos o meio acadêmico, gerando disparidades não só no desenvolvimento de estudos e publicações de artigos, mas na representatividade entre pesquisadores.
Apesar de ter um número de mulheres em formação nas faculdades e em mestrado equiparável ao dos homens, elas são minorias em doutorados e pós-doutorados, no caso os homens publicam mais, são mais citados e viajam mais para desenvolverem suas pesquisas. Assim, ser homem é um fator positivo para um avanço mais rápido na carreira e tornar-se um pesquisador principal, aumentando a desigualdade de gênero.
Observa-se ainda que a ciência é uma disciplina da cooperação, quando se pensa em cientistas logo se lembra de nomes como: Albert Einstein, Charles Darwin, Isaac Newton ou Stephen Hawking, a maioria de conhecimento geral e são predominantemente, masculinos.
No entanto, a descoberta do DNA, dos cromossomos Y e X foi feita por uma mulher Nettie Stevens, assim como as dez mulheres que revolucionaram a ciência, a saber: Ada Lovelace na Matemática; Marie Curie em Física e Química; Janaki Ammal na Botânica; Chien-Shiung Wu na Física; Katherine Johnson na Matemática; Rosalind Franklin na Química; Vera Rubi na Astronomia; Gladys West na Matemática; Florrie Wong-Staal, virologista e bióloga molecular; e Jennifer Doudna, bioquímica. Todas foram conquistas femininas, mesmo que muitos ainda desconheçam essa lista, são mulheres que conseguiram driblar o machismo e gerar grandes contribuições para o desenvolvimento das ciências.
Considerações finais
Logo, apesar do bom desempenho das mulheres na ciência e tecnologia, a lacuna de gênero ainda persiste devido à baixa porcentagem de escolha nessa área, pela falta de incentivo e fatores sociais impostos, portanto são potenciais desperdiçados, o que aumenta a desigualdade entre homens e mulheres.
Por fim, é necessário seguir com as metas propostas, mantendo o incentivo da Unesco, ONU Mulheres e demais ONGs voltadas para o tema, propiciando o apoio, a conscientização, o empoderamento, e, consequentemente, cobrar políticas públicas globais a todos os países participantes da Agenda global 2030, para que assim possam surgir mais mulheres cientistas, pesquisadoras e nas demais áreas da tecnologia no mundo.
Referências bibliográficas:
ONU Mulheres. Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher. Disponível em: https://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2013/03/convencao_cedaw.pdf
ONU News. Mulheres na Ciência, general brasileiro na RD Congo e fórum sobre coronavírus. 2020. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2020/02/1703781
Politize. Agenda 2030: quais os esforços para promover o desenvolvimento sustentável. Disponível em: https://www.politize.com.br/agenda-2030/
Portal ciclo vivo. 10 mulheres que revolucionaram a ciência. Disponível em: https://ciclovivo.com.br/planeta/meio-ambiente/10-mulheres-que-revolucionaram-a-ciencia/
Revista Galileu. Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência: o que elas podem comemorar? Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2019/02/dia-internacional-das-mulheres-e-meninas-na-ciencia-o-que-elas-podem-comemorar.html
Unesco. UNESCO celebra o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Disponível em: https://pt.unesco.org/news/unesco-celebra-o-dia-internacional-das-mulheres-e-meninas-na-ciencia