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Ferramenta subaquática inovadora da China expõe vulnerabilidade da rede vital de cabos submarinos. Ferramenta subaquática inovadora da China expõe vulnerabilidade da rede vital de cabos submarinos.

Ferramenta subaquática inovadora da China expõe vulnerabilidade da rede vital de cabos submarinos

Foto por Sergio77. Via Wikicommons. (CC BY-SA 3.0)

Pesquisadores da China revelaram uma nova ferramenta submarina capaz de cortar os cabos submarinos mais protegidos do mundo — e isso deixou muitos no Ocidente um tanto nervosos.

O desenvolvimento, divulgado pela primeira vez em fevereiro de 2025 na revista chinesa Mechanical Engineering, foi anunciado como uma ferramenta para salvamento civil e mineração no leito marinho. Mas a capacidade de cortar linhas de comunicação a 4.000 metros de profundidade — muito além do alcance da maioria das infraestruturas existentes — significa que ela pode ser usada para outros fins, com implicações profundas para as comunicações e a segurança globais.

Isso porque os cabos submarinos sustentam o tráfego internacional da internet, transações financeiras e comunicações diplomáticas. Incidentes recentes de danos a cabos perto de Taiwan e no norte da Europa já levantaram preocupações sobre a vulnerabilidade desses sistemas — e suspeitas sobre o papel de atores ligados a Estados.

A crescente sofisticação e abertura da tecnologia submarina, evidenciadas pelas últimas notícias da China, sugerem que a infraestrutura submarina pode desempenhar um papel maior na competição estratégica futura. Esse desenvolvimento acrescenta uma nova camada ao desafio de proteger infraestruturas críticas diante do avanço tecnológico e do aumento das chamadas táticas da “zona cinza” — ações hostis que ocorrem entre a guerra declarada e a paz.

A espinha dorsal da comunicação global

Apesar de sua aparência discreta, os cabos submarinos são a espinha dorsal dos sistemas de comunicação modernos. Estendendo-se por cerca de 1,4 milhão de quilômetros em todos os oceanos, esses cabos transmitem quase 100% do tráfego global da internet.

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Cabos submarinos unem o mundo. TeleGeography/submarinecablemap.com, CC BY-SA

Essas superestradas da informação são vitais para a economia moderna e indispensáveis para transações financeiras instantâneas e comunicações diplomáticas e militares em tempo real.

Se todos esses cabos fossem cortados de repente, apenas uma fração do tráfego de comunicação dos EUA poderia ser restaurada usando todos os satélites em órbita.

Todo o sistema é construído, operado e mantido pela iniciativa privada. Cerca de 98% desses cabos são instalados por um punhado de empresas. Em 2021, a norte-americana SubCom, a francesa Alcatel Submarine Networks e a japonesa Nippon Electric Company detinham coletivamente 87% do mercado. A chinesa HMN Tech detém outros 11%.

Gigantes da tecnologia como Amazon, Google, Meta e Microsoft possuem ou alugam cerca de metade da banda submarina global, segundo análise do grupo de pesquisa em telecomunicações TeleGeography, sediado nos EUA.

Vulnerabilidades e sabotagem

As características que tornam os cabos submarinos eficientes também os tornam altamente vulneráveis. Projetados para serem leves e eficazes, eles estão expostos a diversos riscos naturais, como erupções vulcânicas submarinas, tufões e inundações.

Mas a atividade humana ainda é a principal causa de danos, seja por arrasto acidental de âncoras ou emaranhamento com redes de pesca.

Agora, especialistas em segurança estão cada vez mais preocupados que futuras interrupções possam ser intencionais, com países lançando ataques coordenados a cabos submarinos como parte de uma estratégia de guerra híbrida.

Tais ataques poderiam perturbar não apenas comunicações civis, mas também redes militares críticas.

Um adversário, por exemplo, poderia cortar as estruturas de comando de uma nação de seus fluxos de inteligência, dados de sensores e comunicação com tropas em campo. As ramificações chegam até à dissuasão nuclear: sem comunicação confiável, um Estado com armas nucleares poderia perder a capacidade de controlar ou monitorar seus arsenais estratégicos.

A perda de comunicações, mesmo por alguns minutos, poderia ser catastrófica. Poderia significar a diferença entre uma defesa bem-sucedida e um ataque devastador.

Ameaças geopolíticas

Nos últimos anos, formuladores de políticas no Ocidente têm se preocupado especialmente com as capacidades da Rússia e da China para explorar as vulnerabilidades dos cabos submarinos.

Um incidente emblemático ocorreu em 2023, quando autoridades taiwanesas acusaram dois navios chineses de cortar os únicos dois cabos submarinos que fornecem internet às Ilhas Matsu.

O isolamento digital de 14.000 residentes por seis semanas não foi um caso isolado. O Partido Democrático Progressista de Taiwan apontou um padrão, observando que navios chineses perturbaram operações de cabos em 27 ocasiões desde 2018.

Em janeiro de 2025, a guarda costeira de Taiwan culpou um navio com bandeira de Camarões e Tanzânia, tripulado por sete chineses e operado por uma empresa de Hong Kong, pelo rompimento de um cabo submarino na costa nordeste da ilha.

Tais incidentes, frequentemente descritos como agressões na “zona cinza”, visam minar a resiliência do adversário e testar os limites de resposta.

O recente avanço da China em capacidades de corte de cabos coincide com o aumento de exercícios militares perto de Taiwan, incluindo manobras recentes.

Interrupções semelhantes ocorreram no Mar Báltico. Em outubro de 2023, um cabo de telecomunicações entre Suécia e Estônia foi danificado junto com um gasoduto. Em janeiro de 2025, um cabo ligando Letônia e Suécia foi rompido, desencadeando patrulhas da OTAN e a apreensão sueca de um navio suspeito de sabotagem ligada a atividades russas.

Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, chegou a insinuar a possibilidade de atacar cabos submarinos como retaliação por ações como as explosões no gasoduto Nord Stream em 2023.

O uso de navios ligados a Estados sob bandeiras de conveniência — registrados em outros países — complica ainda mais a atribuição e a dissuasão desses ataques.

Não apenas a segurança e a defesa estão em risco. O sistema financeiro moderno depende da conectividade contínua e de alta velocidade; qualquer interrupção, por mais breve, pode perturbar mercados, interromper negociações e causar perdas significativas.

O campo de batalha submarino

Diante da importância estratégica dos cabos submarinos e dos riscos que enfrentam, os governos ocidentais que desejam evitar conflitos precisam encontrar uma forma abrangente e coordenada internacionalmente para proteger essa infraestrutura.

Uma opção clara seria reforçar as capacidades de reparo e manutenção. Atualmente, uma vulnerabilidade significativa deriva da dependência excessiva de navios de reparo chineses. A robusta indústria marítima da China e seus investimentos estatais em telecomunicações globais contribuíram para que o país assumisse uma posição de destaque em navios de reparo de cabos.

A proteção dos cabos submarinos não deve, acredito, ser vista como responsabilidade de um único país, mas como uma prioridade coletiva para todas as nações que dependem dessa infraestrutura. Assim, acordos e estruturas internacionais poderiam facilitar o compartilhamento de informações, padronizar protocolos de segurança e estabelecer mecanismos de resposta rápida em caso de rompimento.

Mas esses esforços enfrentam ventos contrários. Os incidentes em Taiwan, no Báltico e em outros lugares ocorrem em meio à intensificação da competição entre EUA e China.

A China, ao desenvolver tecnologia de corte de cabos em águas profundas, pode estar enviando uma mensagem de intenção. Enquanto isso, a abordagem “America First” do governo Trump sinaliza uma mudança que pode dificultar parcerias para o bem global.

A defesa dos cabos submarinos reflete os desafios de um mundo hiperconectado, exigindo equilíbrio entre inovação, estratégia e cooperação. Mas, com países como China e Rússia testando essa infraestrutura vital, os sistemas que sustentam a prosperidade e a segurança do Ocidente podem se tornar uma de suas maiores vulnerabilidades.

Texto traduzido do artigo China’s new underwater tool cuts deep, exposing vulnerability of vital network of subsea cables, de John Calabrese publicado por The Conversation sob a licença Creative Commons Attribution 3.0. Leia o original em: The Conversation.

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