Esta data marcou o final de um importante evento diplomático, o sequestro da Embaixada da República Dominicana em Bogotá, que durou 61 dias, pelo grupo terrorista M-19. Este evento foi eclipsado por outro acontecimento de grande magnitude, que foi a tomada da Embaixada dos Estados Unidos em Teerã (Irã), que durou 444 dias, de setembro de 1979 a janeiro de 1981.
Portanto, o evento da Colômbia ocorreu enquanto o evento do Irã se desdobrava, e este foi acompanhado por grande atenção mundial. Desta forma, o evento na Colômbia perdeu representatividade. Porém, o período de 2 meses do cerco do M-19 na Embaixada dominicana teve consequências importantes, tanto para as pessoas diretamente envolvidas, como para as relações políticas da Colômbia e diplomáticas entre vários países.
O evento na embaixada
Jovens terroristas do grupo M-19 invadiram em 27 de fevereiro uma recepção que ocorria na hora do almoço na embaixada da República Dominicana em Bogotá, onde participavam diversos diplomatas, sobretudo latino-americanos. O embaixador norte-americano (Jorge Ascensio) também participava, além de outros diplomatas de Israel, Suíça, Áustria e Egito. Armados, os terroristas cercaram a casa da embaixada, e o cerco só se encerrou 61 dias depois, com os reféns restantes liberados e com os perpetradores sendo exilados para Havana, Cuba. Houve apenas uma morte, de um guerrilheiro, no período do sequestro.
Jorge Ascensio escreveu um livro, “Terror na Embaixada” (Editora Nova Fronteira, 1985) junto à sua mulher Nancy (ela não estava presente na embaixada), relatando em detalhes o que ocorreu nos 61 dias. Ascensio discorre no seu texto sobre o relacionamento amigável que ele soube construir com os sequestradores. Ascensio comenta que o governo norte-americano o “deixou de lado” em boa parte do tempo, muito em função da outra crise diplomática que o seu país enfrentava no Irã no mesmo momento.
A natureza do sequestro era política. O M-19 reivindicava a soltura de mais de 300 prisioneiros que estavam injustamente detidos por juízos políticos, executados pelo governo colombiano, que era chancelado por alguns militares. Além das solturas, o M-19 exigia uma quantia de resgate de algumas dezenas de milhões de dólares. O acontecimento teve importantes desdobramentos políticos, pois resultou na reavaliação pelo governo colombiano de diversos processos políticos contra “esquerdistas” que estavam presos.
O número de prisioneiros soltos foi muito menor do que o desejado pelo M-19, entretanto, muitos dos processos que estavam em curso tiveram critérios de condenação modificados. Adicionalmente, o evento de sequestro em embaixada, que já havia sido executado em Teerã, ganhou força na América Latina, sendo repetido posteriormente em outros locais da América Central e no Peru.
Ascensio, no seu livro, traça um interessante paralelo onde comenta que os sequestradores colombianos usaram inicialmente a tradicional retórica de que os EUA eram um país imperialista em relação à América Latina, mas com o passar do tempo não desenvolveram ódio específico ao país ianque. O que o M-19 queria era a atenção do governo colombiano, pois entendia que este último executava uma democracia falha, no que tangia ao desrespeito aos direitos humanos de determinados ativistas políticos do país. Em contrapartida, Ascensio pontua que o caso do Irã, era um caso permeado por um permanente ódio dos sequestradores em relação aos norte-americanos.
Em função do desfecho “positivo” do sequestro de 61 dias, Ascensio comenta que as relações Estados Unidos-Colômbia na verdade se estreitaram em alguns aspectos. Ascensio foi acusado por alguns norte-americanos de Washington, de ter sido vítima, talvez voluntariamente, da “síndrome de Estocolmo”, já que desenvolveu um bom relacionamento com os sequestradores. O norte-americano rebate as insinuações, afirmando que procurou, obtendo êxito, uma solução para todas as partes envolvidas na situação.
Ainda segundo Ascensio, o cerco à embaixada causou importantes transtornos psicológicos a alguns dos sequestrados mais “emocionalmente frágeis” do que ele. Porém, este caso ganhou relativamente pouca notoriedade na história diplomática, muito em função do outro evento que ocorria simultaneamente no Irã. A memória do evento provavelmente é bem mais marcante no imaginário colombiano, já que a política do país foi bastante chacoalhada por esse caso ocorrido em Bogotá em 1980.