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Não precisamos da mineração em mar profundo, nem dos seus danos ambientais. Eis por quê Não precisamos da mineração em mar profundo, nem dos seus danos ambientais. Eis por quê

Não precisamos da mineração em mar profundo, nem dos seus danos ambientais. Eis por quê

Foto por Rov Kiel 6000. Via Wikicommons. (CC BY 4.0)

A mineração em mar profundo promete fornecer minerais críticos para a transição energética sem os problemas da mineração terrestre. Também promete trazer riqueza para nações em desenvolvimento. Mas as evidências sugerem que essas promessas são falsas e que a mineração causaria danos ao meio ambiente.

A prática envolve coletar nódulos rochosos de vastas áreas do fundo do mar. Esses aglomerados do tamanho de batatas contêm metais e minerais como zinco, manganês, molibdênio, níquel e terras raras.

A tecnologia para minerar o mar profundo existe, mas a mineração comercial ainda não ocorre em nenhum lugar do mundo. Isso pode mudar em breve. Nações estão se reunindo este mês em Kingston, Jamaica, para aprovar um código de mineração. Esse código abriria caminho para o início da mineração nos próximos anos.

Na quinta-feira, a agência científica nacional da Austrália, CSIRO, divulgou pesquisas sobre os impactos ambientais da mineração em mar profundo. O objetivo é promover um melhor gerenciamento ambiental, caso a mineração avance.

Nós já questionamos a justificativa para a mineração em mar profundo, com base em nossa expertise em política internacional e gestão ambiental. Argumentamos que a mineração é prejudicial e que os benefícios econômicos foram exagerados. Além disso, os metais e minerais a serem extraídos não são escassos.

A melhor ação é proibir a mineração no leito marinho internacional, seguindo a coalizão por uma moratória.

Gerenciando e monitorando danos ambientais

Avanços tecnológicos recentes tornaram a mineração em mar profundo mais viável. Mas a remoção dos nódulos — que também requer bombeamento de água — demonstrou danificar o fundo do mar e ameaçar a vida marinha.

A CSIRO desenvolveu os primeiros frameworks de gerenciamento e monitoramento ambiental para proteger ecossistemas do mar profundo. O objetivo é fornecer “ferramentas científicas confiáveis para avaliar os riscos ambientais e a viabilidade da mineração”.

Cientistas da Griffith University, Museums Victoria, University of the Sunshine Coast e Earth Sciences New Zealand também participaram do trabalho.

A Metals Company Australia, subsidiária da empresa canadense de exploração em mar profundo, encomendou a pesquisa. Ela analisou dados de testes de mineração realizados pela empresa no Oceano Pacífico em 2022.

A empresa lidera esforços para acelerar a mineração, incluindo pressionar pelo código de mineração e explorar a mineração comercial com aprovação do governo dos EUA.

Em um briefing esta semana, o cientista-chefe da CSIRO, Piers Dunstan, afirmou que a atividade mineradora afetou substancialmente o fundo do mar. Alguns organismos, especialmente os fixados nos nódulos, têm pouca chance de recuperação. Ele destacou que, se a mineração avançar, o monitoramento será crucial.

Somos céticos de que os impactos ecológicos possam ser gerenciados mesmo com esse novo framework. Pouco se sabe sobre a vida nesses ecossistemas, mas pesquisas mostram que a mineração causaria perda e dano significativos ao habitat.

Precisamos mesmo abrir a fronteira oceânica para mineração? Argumentamos que não, por três motivos.

1. Os minerais não são escassos

Os minerais necessários para a transição energética são abundantes em terra. Reservas globais conhecidas de cobalto, cobre, manganês, molibdênio e níquel são suficientes para décadas, mesmo com a demanda crescente.

Não há razão convincente para extrair minerais do mar profundo, considerando a inviabilidade econômica. A mineração em águas profundas é especulativa e inviável financeiramente.

Alegações sobre escassez são usadas para legitimar uma nova fronteira extrativista. Investidores oportunistas podem lucrar com especulação e subsídios governamentais.

2. Mineração no mar não substituirá a terrestre

Defensores alegam que a mineração em mar profundo pode substituir parte da mineração terrestre. A mineração terrestre causa problemas sociais, como violações de direitos indígenas, e danos ambientais.

Mas a mineração no mar não substituirá ou reduzirá a terrestre. Contratos de mineração terrestre são de longo prazo, e as empresas não abandonarão projetos em andamento.

A mineração no mar também enfrenta desafios similares, além de novos problemas. Questões como trabalho análogo à escravidão persistem, agravadas pela dificuldade de fiscalização.

3. Patrimônio comum da humanidade e o Sul Global

Segundo a Convenção da ONU sobre o Direito do Mar, o leito marinho é patrimônio comum da humanidade. Os lucros deveriam ser distribuídos equitativamente.

Parcerias comerciais entre países do Sul Global e empresas do Norte não trouxeram benefícios. Quando a Nautilus faliu em 2019, Papua-Nova Guiné ficou com milhões em dívidas.

A Metals Company tem parcerias com Nauru e Tonga, mas o acordo com os EUA gera incerteza. Investidores europeus assumiram o controle da Blue Minerals Jamaica, desviando lucros.

Vale a pena investir?

Grandes investidores já saíram do setor ou faliram. A Metals Company recebeu notificação de exclusão da Nasdaq por desempenho financeiro ruim.

Diante dos riscos ambientais, a mineração em mar profundo não vale a pena.

Texto traduzido do artigo We don’t need deep-sea mining, or its environmental harms. Here’s why, de Justin Alger, D.G. Webster, Jessica Green, Kate J Neville, Stacy D VanDeveer e Susan M Park, publicado por The Conversation sob a licença Creative Commons Attribution 3.0. Leia o original em: The Conversation.

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