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Narendra Modi – Índia, Potência Econômica e Militar | Líderes Mundiais | Aula 4 Narendra Modi – Índia, Potência Econômica e Militar | Líderes Mundiais | Aula 4

Narendra Modi – Índia, Potência Econômica e Militar | Líderes Mundiais | Aula 4

Transcrição de vídeo publicado no canal da Relações Exteriores. Veja mais vídeos aqui.


Bom, boa tarde a todas as pessoas que estão ouvindo. Fico feliz em ver que algumas pessoas que estavam hoje de manhã no curso de inverno voltaram para a gente conversar sobre Modi. Então essa é a quarta aula, salvo engano, do curso de lideranças mundiais.

A segunda que eu participo, né, a primeira foi sobre Donald Trump, mas também já tivemos aula sobre Nicolás Maduro, aula sobre o Khaminei, se não me engano, e hoje a gente vai discutir Índia com o Modi e eu já começo dizendo que me parece um tema super relevante, inclusive para quem está no início da graduação em relações internacionais ou num curso já mais avançado, né, no momento mais avançado da graduação em relações internacionais, também é um tema super relevante para desenvolver pesquisa.

A Índia é hoje o país mais populoso do mundo, é também uma potência do ponto de vista econômico, inclusive em termos de desenvolvimento tecnológico, é relevante do ponto de vista geopolítico e do ponto de vista militar, né, então se situa em uma região bastante relevante, com outras potências, com proximidade a outras potências e também é, enfim, uma potência militar, inclusive pelo fato de que detém armas nucleares, né.

Então a gente está falando de um estado super relevante e pouco estudado no Brasil, então com certeza se eu posso incentivar alguém a estudar a Índia eu com certeza farei isso. Também uma liderança do sul global e que vai imprimir muito essa noção de ser uma liderança do sul global no âmbito da política externa.

Bom, então hoje o nosso encontro, né, esse vídeo é para falar um pouco especificamente sobre o Modi e eu pensei em fazer uma exposição aqui de uns 40, 50 minutos e depois eu abro para o debate caso a gente tenha dúvidas ou questões, comentários, desabafos, de qualquer forma quem quiser já colocar algum tipo de indagação, algum tipo de questionamento no chat pode ficar à vontade e se eu achar que cabe, se eu achar que é o caso eu já respondo durante a exposição.

Bom, então para a gente falar sobre o Modi eu pensei em estruturar essa exposição, essa fala em três momentos, né, e cabe dizer que eu não sou nem de longe especialista em política externa indiana, enfim, estou muito longe disso, estudei exatamente para compor essa aula, é um tema que me interessa sobre diversos pontos de vista, mas não é um tema que eu consigo acompanhar com frequência e não me aprofundei durante minha trajetória acadêmica, de qualquer forma fiquei muito feliz com a oportunidade de poder aprender um pouco mais sobre a Índia estudando para montar essa aula.

Então colocado isso, eu pensei em dividir essa fala em três momentos, um primeiro momento para a gente contextualizar a política externa indiana, né, então se a gente vai falar sobre como que Modi modifica ou não a política externa indiana, é importante em primeiro lugar a gente falar de que contexto, no contexto no qual ele surge, como que a Índia, até Modi, vinha se inserindo na ordem internacional, vinha se colocando, quais são os temas centrais para a política externa indiana, então esse é o primeiro momento, o primeiro momento de introdução e de contextualização do tema.

Um segundo momento para a gente falar do Modi em si, né, então de onde que ele vem, qual é o discurso que ele apresenta e como que ele inserte a política interna indiana e a gente vai ver que se existe a discussão sobre o quanto ele modifica a política externa indiana do âmbito da política externa, existe muito mais clareza, existe muito mais certeza que há um ano antes e depois de Modi para pensar a Índia.

E por fim a gente chega no momento de analisar aquilo que nos interessa um pouco mais talvez, que é pensar a política externa, que é pensar a política externa e os efeitos de Modi sobre essa trajetória de política externa e a gente vai discutir um pouco quais são as mudanças, quais são as continuidades, se de fato a gente consegue falar em uma transformação a partir de Modi.

Então os objetivos da aula são exatamente contextualizar a ascensão de Narendra Modi nos planos interno e no plano externo, analisar as mudanças e continuidades na política externa indiana e debater, né, se existem ou não existências mudanças, então conversar com vocês, pensar em indagações que surjam a partir de vocês é algo bastante importante, faz parte dos objetivos desse momento e por fim examinar as especificidades da Índia como representante do sul global.

Então vamos para o início, né, contextualizando a política externa indiana, as bases da política externa indiana, a Índia se torna independente do jugo britânico em 1947.

Já no contexto de guerra fria e desde o início a política externa indiana inserida nesse contexto de guerra fria, ela se coloca como baseada numa ideia de não alinhamento, de não alinhamento a nenhuma dessas grandes potências, de um certo equilíbrio entre ambas e da busca de uma postura que seja assertiva, de uma postura que seja própria da defesa dos interesses nacionais indianos e muito a partir de uma leitura de uma divisão de mundo em norte-sul, então isso é algo que vai estar presente desde o início da política externa indiana.

Em 1947 é relativamente recente, principalmente quando a gente fala desde a América Latina, cujas independências remontam ao século 19, mas apesar disso a Índia fica independente muito antes de outros países asiáticos ou africanos, então a Índia é um país também que vai ter uma influência grande em todo o processo de descolonização, então vai ser uma liderança importante em promover essa agenda da descolonização no âmbito da ONU, das organizações internacionais.

Então desde o início existe essa ideologia anticolonial, anti-imperialista que faz parte da retórica e do discurso de política externa indiana. Então a gente tem como principal liderança o primeiro-ministro, o primeiro-primeiro-ministro, o Nehru, que é enfim reverência central para falar sobre política externa da Índia, ele fica no poder de 1947 até 1964, e hoje em dia existem comparações entre Modi e Nehru, então Modi é sempre colocado como aquele que é mais resiliente, que mais tempo está no poder desde Nehru, que apresenta mais mudanças em termos de pensar a política externa desde Nehru

Então Nehru é essa grande liderança e que foi também uma grande liderança do terceiro mundo, então a Índia é um país que foi central nas articulações e na construção de um terceiro mundo no momento da guerra fria, então muitas vezes a gente fala daquela caracterização da guerra fria em primeiro, segundo e terceiro mundo.

Mas essa não é simplesmente uma caracterização, também é uma definição política, então os países em desenvolvimento se definiram como países do terceiro mundo nessa tentativa de demandar uma nova ordem econômica internacional e demandar a possibilidade de não alinhamento com as grandes potências, então Índia é uma referência importante quando a gente pensa na conferência de Bandung em 1955 e também é uma referência importante do movimento dos não alinhados, então Nehru vai ser essa grande liderança que vai ser muito relevante na construção de uma política pautada nos países do terceiro mundo que depois a gente vai renomear e vai perceber como países do sul global.

Dentre as ideias que estão colocadas na noção de terceiro mundo, do movimento dos países não alinhados, algo que é muito relevante é a noção de coexistência pacífica. A noção de coexistência pacífica e os cinco princípios que compõem a coexistência pacífica, eles foram pela primeira vez articulados em um acordo bilateral entre China e Índia em 1954, salvo engano. Quando a gente lê sobre isso, muito do que aparece é a ideia de que esses princípios eles surgiram desde a China, mas eles são adotados pela Índia também e eles se inserem, eles são incorporados na conferência e na declaração de Banduí.

Esses cinco princípios são defesa da soberania, não intervenção em assuntos internos, a própria coexistência pacífica, a ideia de solução dos conflitos de forma pacífica e eu tô esquecendo alguns deles, mas vamos retomar. Respeito pela integridade territorial e não intervenção, não agressão mútua, não interferência nos assuntos internos, igualdade de benefício mútuo e coexistência pacífica. Então esses são princípios que guiam a atuação dos países do sul global e também são centrais para a gente pensar na política externa indiana.

Além disso, além de ser guiada por esses cinco princípios, a política externa indiana também buscava naquele momento apresentar a Índia como uma nação plural, democrática e secular. Então isso estava bastante presente na política externa da Índia, pelo menos até a ascensão do Modi. A ideia de que se trata de uma nação plural na qual o hinduísmo, claro que tem um papel, um papel que é relevante, mas não se trata de uma nação hindu, mas uma nação plural, na qual estão abrigados pessoas de origem hindu, muçulmanos e outras minorias étnicas e religiosas.

Além disso, a ideia de democracia, então a ideia de ser a maior democracia do mundo também fazia parte do discurso de política externa indiana. Então a gente tem esses princípios que vão guiar a política externa da Índia durante a guerra fria, principalmente a noção de ser uma liderança do terceiro mundo, de demandar maior igualdade no âmbito do sistema e da ordem internacional e de se colocar nesse âmbito dessa disputa norte-sul.

No pós-guerra fria, então, a gente tem uma situação no qual já não existe mais essa disputa entre grandes potências, mas a Índia permanece sem construir uma aliança que seja permanente, que seja duradoura, com alguma grande potência, então a Índia permanece tendo relações bastante ambíguas com os Estados Unidos, existem pontos importantes de aproximação, mas existem pontos importantes de diferença, de divergência também, e um deles é exatamente essa demanda por democratização das organizações internacionais, maior espaço para os países do sul global.

Então não existe esse alinhamento com os Estados Unidos total, embora existam alguns pontos de aproximação. Do ponto de vista econômico, existe uma adesão bastante cuidadosa ao neoliberalismo, então nesse momento, no pós-guerra fria anos 90, é o momento no qual diversos países em desenvolvimento que existiam, há uma adesão completa aos regimes internacionais, eles vão se inserir nesses regimes internacionais em diversos âmbitos, principalmente nos âmbitos econômicos, e no caso da Índia, essa vai ser uma adesão bastante cuidadosa, preservando a atuação do Estado, principalmente do ponto de vista de temas que se relacionam com ciência e tecnologia, e então temas econômicos estratégicos.

E a Índia permanece como essa liderança, como essa voz, como ela própria vai se colocar, do sul global, inclusive em negociações internacionais.

Então quando a gente olha para as negociações internacionais no âmbito da OMC, existe uma importância muito grande da Índia, então uma demanda grande da Índia por abertura dos países da União Europeia, dos Estados Unidos, quando a questão de agricultura, por exemplo, então a Índia é um país que tem uma postura bastante firme nas negociações que se referem à liberalização comercial, a liberalização econômica de forma geral, uma liderança bastante importante, e que atua inclusive junto com o Brasil nesse sentido.

Existe uma autora, Virita Nalikan, que estuda negociações internacionais desde a Índia, e que estuda o caso da Índia também, mas que é uma referência importante para a gente pensar então nessa atuação dos países do sul global, especificamente da Índia, nas negociações econômicas internacionais. Bom, então isso é para contextualizar um pouco a situação da Índia até 2014.

Então um país que se colocava como um país democrático, um país plural, uma liderança do sul global, um país que não busca alinhamentos automáticos, que busca evitar esses alinhamentos automáticos, que respeita a soberania, então tem soberania como um dos valores importantes da sua política externa, mas um país que se coloca de forma próxima ao ocidente desse ponto de vista de ser um estado democrático, um estado liberal, um estado plural.

Em 2014, então, Moulde chega ao poder com uma narrativa que depois vai se tornar uma narrativa bastante próxima, bastante similar a outras lideranças que passam a ser identificadas pela literatura como lideranças de ultradireita ou de extrema-direita, que possuem conexões globais e que possuem uma narrativa global frente à ordem internacional, uma narrativa comum frente à ordem internacional.

E essas lideranças de extrema-direita são lideranças, então, que vão participar de uma crítica comum às organizações internacionais, às normas internacionais e, principalmente, a elementos liberais e de um liberalismo político, principalmente, que compõe essa ordem internacional. Então a crítica à ordem internacional é uma característica que está presente nas lideranças de extrema-direita, mas como a gente vai ver, o Moulde traz algumas particularidades, porque apesar de ele ser, muitas vezes, descrito como talvez o grande representante da extrema-direita no seu global e alguém que tem essa peculiaridade de já estar no poder há bastante tempo, apesar disso, existem especificidades importantes e não é tão claro, assim, até que ponto ele produziu mudanças em termos de política externa.

Então ele chega ao poder em 2014 a partir de vitórias importantes do seu partido, o BJP, quando a gente está falando de um sistema que é parlamentarista, né, então ele pode acompanhar exatamente as eleições por parlamento, e o seu partido BJP, que não era um partido hegemônico na Índia, era um partido menor, ele chega ao poder a partir de eleições que são descritas dessa forma, né, tsunami, ou seja, existe uma vitória avassaladora do BJP contestando a hegemonia que existia até então, a hegemonia política, do Congresso Nacional Indiano.

E Moulde, ele se apresenta como um outsider, como alguém que não vem da política, como alguém que tem uma origem humilde e vai colocar isso a partir de uma narrativa de ser um outsider, alguém que vem de fora da política.

Inclusive ele mesmo é de uma classe, de uma casta, ele provém de uma casta, de fora da política, né, então o pai dele era comerciante, faz parte do mito do BJP, a ideia e a construção de imagem do pai dele como sendo um comerciante de chá, que vendia chá no metrô, e também como uma narrativa povo versus elite, uma narrativa anti-sistema, uma narrativa que pode ser descrita como populista, porque coloca exatamente essa ideia de um povo versus elite.

Quem é esse povo? Como que esse povo é construído? Esse povo é construído não necessariamente como indianos, mas como hindus, né, então como indianos hindus versus indianos hindus que valorizam uma tradição nacional e uma história que remonta a milênios e que valorizam essa cultura hindu, portanto, versus uma elite, uma elite que é uma elite corrupta, então o discurso anti-corrupção também faz parte da ascensão de Modi ao poder, e escândalos de corrupção permeavam, né, esse momento em 2014, sua eleição, uma elite que é corrupta e ao mesmo tempo que não é nacional, é uma elite voltada para fora, uma elite cosmopolita que não valoriza aquilo que é tradicional, aquilo que é indiano.

Então a gente consegue perceber essa simbologia de uma cultura hindu, de valorização da cultura local, inclusive nas próprias vestimentas que o Modi usa, no fato de que ele pratica publicamente yoga, né, então faz parte da forma como a gente se coloca

Essa ideia da política de yoga, então isso está colocado. Então existe essa construção que Modi coloca como sendo um homem trabalhador, um homem do povo, um homem que valoriza a tradição hindu, então isso é algo que é colocado que faz parte da sua construção de imagem, né, um homem sem vícios também. Também é importante colocar que faz parte dessa construção de liderança o fato de que Modi tem um interesse importante por política externa.

Então desde o início, desde que chega ao poder, Modi é um líder que vai viajar bastante, então alguns autores vão falar que o que ele traz de novidade para a política externa indiana também é essa maior presença, essa maior iniciatividade, o fato de que ele busca sempre estar presente em reuniões importantes de fóruns internacionais.

E como eu já comecei dizendo para vocês, ele é visto como um representante importante das outras direitas no cenário internacional, em ascensão no plano global. E por que que ele seria então essa representação, esse representante da extrema direita? Exatamente porque ele nega aquela narrativa anterior que apresentava a Índia como um estado plural, como um estado que vai tolerar, que vai respeitar as minorias e que se coloca exatamente como esse estado, talvez até em alguma medida, formado por diversas culturas.

Então é assim que Modi vai colocar a Índia. Modi vai entender, vai representar a Índia como sendo uma nação hindu. Então se busca construir essa narrativa civilizacional de uma continuidade histórica entre a civilização hindu e a Índia contemporânea.

E nesse processo existe um processo de restrição das liberdades de minorias específicas, principalmente políticas que são políticas voltadas contra a população muçulmana, população islâmica, que é bastante numerosa na Índia. Então nesse sentido existe essa contestação importante da pluralidade que compõe a democracia liberal. E isso como Guilherme coloca, busca a ideia do povo hindu, então essa ideia de uma nação homogênea que teria um papel de liderança mundial.

Constrói essa narrativa que é excludente, mas que gera o maior poder para ele. Exatamente através dessa narrativa de valorização da cultura hindu, de valorização da população hindu, que ele consegue algo que é muito relevante para ele em termos de política interna, que é exatamente o apoio político das castas inferiores, os chamados intocáveis. Então ele é popular exatamente nesse segmento, em vários segmentos, mas também especificamente nesse segmento da população que faz parte dessas castas, que são castas inferiores e sobre as quais existe todo um processo de inferiorização econômica, mas também de estigma social, de estigma político, e ele consegue então se eleger com base no voto dessas pessoas.

Então quando a gente pensa em termos de construção da nação, se a gente pensa em termos da nação como sendo uma comunidade imaginada, existe uma diferença clara entre a Índia pré-Modi e a Índia pós-Modi.

Porque antes de Modi existia essa ideia de incorporação das minorias, da Índia pensada de forma plural, e agora a gente tem essa comunidade imaginada que é a ideia de uma Índia homogênea e uma Índia formada pela população hindu, o que de fato claro que não corresponde à realidade, mas enfim, é a forma de tentar criar uma hegemonia e é algo que esteve presente na construção dos estados nacionais europeus também

Então o que a gente vê talvez seja algo que é muito específico da Índia, exatamente porque essa afirmação do nacionalismo no plano interno, que talvez tenha a ver com uma replicação de formas de exclusão que aconteceram em outros lugares, em outros momentos, em outros momentos históricos.

Também existe um apoio importante do governo às milícias, há milícias nacionalistas, milícias que a gente pode considerar de extrema-direita, um apoio que eu coloquei velado, mas que na verdade não é tão velado assim, e essas milícias são milícias que exatamente vão perseguir, vão estigmatizar a população muçulmana, é bastante diferente da realidade que a gente vive, então às vezes ler sobre a Índia parece que a gente está a uma distância bastante grande dessa cultura, porque por exemplo é o fato de que na Índia essas milícias vão perseguir pessoas que estão consideradas anti-indus, e pessoas consideradas anti-indus são por exemplo açougueiros, pessoas que consomem carne bovina.

Então essa é uma questão que está colocada, que está presente, e que faz parte da atuação dessas milícias, que são milícias paramilitares, são milícias violentas, e que tem por alvo principalmente a população muçulmana, então, e o próprio Modi na sua juventude ele fez parte de uma dessas milícias, então o passado dele já se insere nessa situação.

Também se trata de uma liderança que vai contestar a democracia liberal, em primeiro lugar por essa noção do pluralismo, do respeito às minorias, do desrespeito aos direitos das minorias, e também pelo uso de formas de legislação que vem do período colonial.

Então ele não propõe novas leis, mas ele faz o uso, o governo de Modi faz o uso de uma legislação do período colonial para colocar censura, para colocar restrições às liberdades de assembleia e às liberdades de expressão, então o que tem o que tem acontecido na Índia é que existe um processo de censurar, de restringir liberdades, de restringir direitos daqueles que se colocam como oposição ao governo Modi, o que é um ataque claro à democracia liberal, e também existe um processo de concentração de poder em Nova Délhi, então existe uma disputa importante entre Modi representando Nova Délhi e as regiões da Índia, e nesse sentido existe também essa concentração de poder em Nova Délhi.

O Guilherme colocou aqui que o senso de nacionalismo paraneiro era diferente como um país de múltiplas culturas, o que justificava anexar a Cachimira, e o que gera violência hoje em dia, mas também talvez seja um nacionalismo no caso de Nehru muito voltado para fora também, um nacionalismo pensando a Índia como um país que havia se tornado independente recentemente e que lutava contra o imperialismo, contra a colonização, então um nacionalismo que construía o seu outro também no ambiente externo.

A gente tem isso na Índia contemporânea, na Índia de Modi, mas a gente também tem a pregação desse nacionalismo interno e um nacionalismo que pensa a nação como una, como homogênea. Apesar disso, existem algumas continuidades na política e algumas continuidades muito relevantes na política externa da Índia, o que faz com que alguns autores até digam que apesar dessa mudança expressiva do ponto de vista da política interna, o que a gente vê quando a gente olha para a política externa são muito mais continuidades.

Então aqueles elementos que eu havia mencionado para vocês no início da exposição, o fato de que a Índia busca se colocar como um país que não é alinhado a nenhuma grande potência, como uma liderança do sul global, tudo isso permanece e a própria ideia de projetar a Índia como uma potência, uma potência emergente, uma potência assim, uma liderança global importante, não é uma novidade que aparece com o Modi.

Talvez Modi traga uma nova energia, um novo senso para isso, porque como eu disse para vocês, ele tem essa característica de buscar protagonismo internacional, de buscar se colocar, buscar viajar bastante, então ele está presente em todos os fóruns, em todas as reuniões ele coloca uma ênfase importante na política externa.

Mas essa ideia de protagonismo indiano, de assertividade indiana na política externa e da presença da Índia como uma potência em ascensão, um país que até gostaria de ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, um país que pode se colocar como uma potência militar, tudo isso não é algo que vem de Modi, é algo que continua com o Modi, que já vem e que faz parte da política externa indiana desde a independência.

Ele também continua com a política de não comprometimento com alianças, então o que se coloca hoje pela literatura, a literatura que discute política externa indiana, vai falar de uma política de multi-alinhamento, o que é muito próximo de um não alinhamento, porque se você se alinha a vários centros de poder, isso significa dizer que não existe um alinhamento completo, não existe um alinhamento total a nenhum deles, são conexões parciais. Então existe isso que a literatura vai colocar como política de multi-alinhamento, o que gera relações bastante complexas com os Estados Unidos e também com a Índia.

No caso dos Estados Unidos, importa dizer que hoje a Índia é parte do Quad, uma articulação de segurança que foi criada pelos Estados Unidos e que conta também com a presença de Austrália e do Japão, a própria Índia, e os Estados Unidos, então é uma articulação importante que reúne lideranças relevantes e também faz parte da ideia de se contrapor à ascensão chinesa no Índio Pacífico.

Então a gente tem, no caso dos Estados Unidos, uma política externa que cada vez mais se relaciona e foca, tem como ênfase, o que eles chamam de Índio Pacífico, que é essa grande região que vai da Índia até e passa pela China, pela Oceania, então eles vão ter essa região política, os Estados Unidos vão entender essa região como sendo importante, e uma região importante porque é uma região onde a liderança chinesa, ela se estabelece de forma cada vez mais consolidada.

Então para os Estados Unidos construir parceria com a Índia importa, é relevante, porque isso é uma forma de se contrapor à ascensão chinesa, e para a Índia isso também é benéfico em alguns momentos, em alguns sentidos, em outros não, por isso que existem essas relações bastante complexas, ao mesmo tempo que a Índia se aproxima dos Estados Unidos, desse ponto de vista estratégico, quando a gente vai falar, por exemplo, de uma atuação multilateral da Índia, da Índia nas organizações internacionais, a Índia não vota como os Estados Unidos, por exemplo, a Índia tem uma postura de votos que é bastante autônoma, que é bastante assertiva e que é bastante parecida com outros países do seu global.

Quando a gente fala de relações com a China, por outro lado, são relações ainda mais complexas, porque existe uma disputa territorial e existem tensões geopolíticas, inclusive com escaramuças fronteiriças entre esses dois países, em diversos momentos, então essa rivalidade entre China e Índia, ela permanece, ela permanece tanto do ponto de vista da disputa por uma liderança regional, na vizinhança dos dois países, mas ela permanece também do ponto de vista dos conflitos territoriais.

Ao mesmo tempo, os dois países são, por exemplo, integram, por exemplo, os BRICS, são membros fundadores dos BRICS, a Índia também integra a Organização para a Cooperação de Xangai, então ao mesmo tempo que existe essa rivalidade bilateral, que é muito forte.

E eu falei do Conselho de Segurança, a China nunca aceitaria uma presença indiana no Conselho de Segurança da ONU, por outro lado, existe essa atuação conjunta em fóruns do sul global, em fóruns que demandam uma maior participação dos países em desenvolvimento e, portanto, uma desconcentração de poder na ordem internacional, e quando a gente pensa nisso, a gente pensa principalmente em uma diminuição da relevância e diminuição do poder de países como Estados Unidos e os países europeus.

Desde sempre, também, a política externa indianela é muito focada nas relações com os vizinhos, né, então, como em outro, como outras potências regionais, outras potências emergentes, é importante pontuar que a região importa muito, né, então, Modi participa, Modi tem relações importantes com o Brasil, a Índia busca desenvolver relações importantes com o Brasil, com os países dos BRICS, mas, no fundo, o que importa mais são as relações com os países da própria vizinhança, e é nessa vizinhança que a Índia tem capacidade de estabelecer melhor uma liderança própria.

Então, nesse sentido, nesse sentido específico, Modi não traz tantas mudanças, porque existe uma permanência de, principalmente, quando a gente pensa em fatores que são mais estratégicos e de alinhamentos, não existe um questionamento de alinhamentos pelo fato de ser uma liderança de extrema direita, por exemplo. Então, apesar dessa situação de repressão das minorias muçulmanas internamente na Índia, Modi é uma liderança que, no plano global, vai buscar construir boas relações com o Oriente Médio, com os países árabes, é uma liderança que vai buscar construir ótimas relações com o Lula, por exemplo, apesar de ser uma liderança esquerda.

Então, a gente tem essa situação bastante diferente quando a gente tem outros, como, por exemplo, o Trump, que hoje em dia, que tem essa narrativa de confrontação com lideranças de esquerda, inclusive do próprio Brasil. Então, a gente tem uma situação que é bastante diferente no caso da Índia. Quando a gente pensa em política externa indiana, talvez o primeiro termo que vem à mente é o fato de ser uma política externa bastante pragmática, e Modi não vai contestar esse pragmatismo.

Então, é assim que a liderança coloca, apresentando continuidades importantes na política externa indiana. Tudo bem para que, se vocês tiverem algum comentário, alguma sugestão, podem ficar à vontade para colocar. Mas, existem também mudanças, como seria inevitável quando a gente fala da ascensão de um líder que coloca em pauta, inclusive, uma definição de identidade nacional.

Então, o que Modi faz quando ele chega ao poder e coloca que a Índia é uma nação hindu, é uma releitura da identidade nacional indiana. Essa tentativa de construção de uma valorização do hinduísmo, mas principalmente a ideia de uma continuidade histórica entre uma civilização milenar, que faz parte da cultura indiana, mas que não representa a Índia como um todo. Então, o que a literatura tem falado, e depois, na parte das referências eu indico certinho, mas alguns autores têm falado de um processo de assafronização, pensando no assafrão como sendo uma especiaria tradicional da Índia, uma especiaria que, inclusive, vai compor a bandeira indiana.

Então, existe essa ideia de assafronização da diplomacia indiana, que tem a ver com essa projeção da Índia como uma nação hindu. Então, existe essa projeção passada, como se existisse uma continuidade histórica entre aquela civilização antiga, milenar, que produziu os Vedas, que pela primeira vez estruturou, por exemplo, os Yoga Sutras, que tem uma medicina tradicional muito reconhecida e muito difundida internacionalmente, que é o Ayurveda. Então, existe essa tentativa de construção desse passado como sendo um passado que continua no presente.

Então, os Vedas, os textos sagrados do hinduísmo, que foram escritos milênios atrás, eles são recuperados e eles são vistos como algo que ainda influi e que ainda define a nação indiana. Então, existe essa projeção passada e essa projeção futura também. Então, o que está muito presente é a ideia da Índia como um estado de civilização, como uma civilização que é diferente do Ocidente, é uma civilização própria, que tem sua própria cultura, que tem suas próprias origens e que se diferencia do Ocidente e que se diferencia também de outras culturas, de culturas orientais, por exemplo.

Então, essa ideia de um subcontinente, mas mais do que isso, de uma civilização própria, é algo que é muito presente na retórica indiana e que talvez ajude a explicar também por que não muda tanto a política externa em termos de alianças e de aproximação ou afastamento de certos países. Porque, tendo em vista essa ideia de uma civilização que é única.

O que se coloca que é algo que é reproduzido também por outras lideranças de extrema direita é a ideia de que no âmbito interno do Estado-nação deveria existir essa homogeneidade, deveria existir essa unidade nacional e que, enfim, cada cultura teria seu lugar, seu espaço em termos de constituir-se enquanto uma cultura forte, uma cultura homogênea, diferente das demais, separada das demais e que atuaria na ordem internacional no sentido do que o ministro Ernesto Araújo chamaria de um pan-nacionalismo. A ideia de culturas separadas que se relacionam entre si naquilo que é necessário, mas sem que haja uma integração sociocultural entre essas nacionalidades, entre essas culturas.

Então, os intercâmbios seriam bastante restritos, mas isso não significaria, por exemplo, a necessidade de romper relações comerciais ou de romper relações diplomáticas. Então, seria a ideia de construção de uma ordem nacional que fosse segura para esses nacionalismos, uma ordem nacional que preservasse essa homogeneidade dentro de cada nação. Então, o multiculturalismo vai contra a mescla, a sincretização de culturas, mas não necessariamente é uma postura totalmente anti-internacionalista.

Também existe no âmbito… Então, essa ideia de uma safronização da diplomacia, se a gente for pensar em termos concretos, ela faz com que, por exemplo, haja uma valorização do hindi e do sânscrito como idiomas e como linguagens que são utilizadas no próprio âmbito da diplomacia. Então, o que vai se contestar, por exemplo, é o fato de que até então o inglês era utilizado pela diplomacia indiana. Então, os diplomatas indianos utilizavam do inglês nas suas próprias comunicações internas e isso era visto como um recurso de poder, inclusive.

Porque como na ordem internacional contemporânea o inglês é o idioma mais utilizado para construção de acordos, de tratados, o fato de que os diplomatas indianos estão treinados em inglês, eles vêm de uma tradição de falar inglês como língua nativa, inclusive, isso é algo que era visto como um recurso importante nas negociações internacionais. E com essa valorização do hinduísmo, valorização dessa tradição milenar, que vai acontecer também uma valorização do hindi e do sânscrito. O sânscrito é o idioma antigo que é utilizado, inclusive, em aulas de yoga a gente ouve a utilização do sânscrito, os mantras, eles estão, em geral, em sânscrito.

Então, é algo que vai ser valorizado pelo Modi, mas principalmente o hindi. O hindi que não é falado na Índia como um todo, existem mais de 22 línguas na Índia e o que se quer colocar nesse momento é o hindi não só como língua oficial, mas como língua oficial, como uma língua que seria de todos os indianos e que todos os indianos deveriam saber falar hindi, o que não necessariamente é o caso. Então, existe também essa busca de expansão, além disso, existe também a busca de expansão e de construção da cultura local como uma forma de soft power.

Então, Modi é uma liderança de extrema-direita que vai pregar um estilo de vida que é pautado no vegetarianismo, na ideia de que a Índia poderia promover a conciliação internacional e, por exemplo, com Modi, muitas vezes indo até a ONU, que a ONU começa a celebrar o Dia Internacional do Yoga, que é inclusive em 20 de junho. Então, é importante a gente se atentar a isso, né?

Eu tô falando tudo isso porque isso faz parte da minha vida pessoal, né? Então, eu pratico yoga bastante tempo e demorei para perceber esse fato de que o Dia Internacional do Yoga é promovido por uma liderança de extrema-direita que, no caso da Índia, vai entender que a valorização dessa cultura pode acontecer e que ela tem acontecido no sentido de reprimir aqueles que são diferentes, aqueles que demandam pelo seu direito à diversidade e à diferença. Então, no caso da Índia, existe essa repressão bastante interna a outras culturas, o que me parece que não converge muito com os princípios do yoga, mas isso é uma outra discussão que não veio ao caso.

E existe essa mudança, então, também no serviço diplomático, como eu falei, a valorização do hindi, e o que tem a ver com aquela narrativa de povo versus elite. Então, o próprio serviço diplomático, ele é visto como uma representante dessas elites que são corruptas, dessas elites que seriam antinacionais, que seriam anti-índia, por serem não necessariamente valorizadoras de um modo de vida, de uma tradição, que é hindu. E para talvez representar um pouco dessas mudanças e continuidades da política externa indiana, me pareceu que toda a estética da presidência indiana e a própria presidência indiana no G20 seria uma forma de ilustrar e de sintetizar tudo isso.

Então, em 2023, a Índia assume a presidência do G20. Esse é um fato que mostra as continuidades da política externa indiana. Então, desde sua independência, a Índia é um país que valoriza articulações massuais.

Os países do sul global estão presentes. Terceiro mundo hoje, sul global. Então, existe uma valorização importante dessas iniciativas, como o BRICS, G20, a própria organização para a cooperação de Xangai.

Então, existe uma valorização de tudo isso e uma assertividade, uma busca de promoção da Índia como uma liberança dentro desses fóruns e essas articulações. No caso do G20, a presidência indiana também passou pela construção de uma reunião de outros países do sul global. Então, Modi chamou uma conferência para a qual foram combinados mais de 170 chefes de Estado e que aconteceu já duas vezes, que chama Vozes do Sul Global.

Então, Vozes do Sul Global. E nessas edições, o que se busca é exatamente ouvir propostas daqueles países que não necessariamente fazem parte do G20. Então, existe uma própria crítica interna ao G20 ser uma articulação que envolve as 20 maiores economias do mundo e, portanto, deixa grande parte do mundo de fora.

Então, se cria, inclusive, essa articulação para que a Índia consiga se colocar como uma dessas lideranças do sul global. E uma assertividade grande da Índia que se coloca como essa liderança e como essa potência em ascensão. Então, a Índia é sul global, mas é uma das grandes lideranças desse sul global.

Por outro lado, a gente vê todo um simbolismo que talvez não estaria presente antes disso. Então, antes da ascensão do mundo. O tema escolhido para o G20 foi One Earth, One Family, One Future.

E essa é uma passagem que, ou três expressões dessa ideia, ela é coletada dos Upanishads. Os Upanishads fazem parte daquele conjunto de textos sagrados que foram produzidos pela cultura milenar, pelos Vedas. Então, isso tem a ver com uma recuperação dessa cultura milenar hindu, mas também tem a ver com a busca de pensar em novos paradigmas que não são necessariamente os paradigmas ocidentais.

Então, a gente vê também inscrições em sânscrito, a gente vê o acordo do asafrão, o anidologo do G20, que é a cor da bandeira indiana, as três cores colocadas. E a gente vê a flor de lótus também, que é uma representação dessa civilização milenar. Então, vocês têm alguma pergunta, alguma questão? Eu trouxe essa imagem para a gente tentar sintetizar essas mudanças e essas continuidades.

Então, quando a gente pensa em Índia como essa liderança do sul global, como um país que vai ter relações complexas, muito bem pensadas, com as grandes potências, a gente vê muitas continuidades. Quando a gente pensa no simbolismo e na própria construção da identidade nacional indiana, aí sim existem mudanças que são bastante significativas. Alguma questão? Algum comentário? Aqui tem algumas referências que eu usei para construir essa exposição e são textos muito bons.

Como eu disse para vocês, existe muito pouco, se trabalha muito pouco com Índia no Brasil, mas a gente tem o texto do Guilherme Bueno, que está aqui com a gente, que foi publicado na revista Relações Exteriores, que é um texto muito didático, muito fácil de ser lido e que eu indico para vocês como uma introdução. Então é um texto que se chama Política Externa da Índia, uma perspectiva histórica e estratégica. Então é um texto que ajuda bastante a pensar nas bases da política externa indiana, nas continuidades que permanecem desde a independência.

Existe esse texto também do João Paulo Nicolim Gabriel, que enfim, ele é um pesquisador relativamente jovem, pesquisa a Índia há bastante tempo, fez um mestrado sobre a Índia, o doutorado dele é mais sobre a questão nuclear, mas também envolve a Índia, e ele tem esse texto que se chama, que foi publicado em 2021, na Mural Internacional, Nacionalismo na Índia, de Narendra Modi, do Bharara Janata Park. Esse texto também está disponível gratuitamente, e que também é bastante didático para a gente pensar nessas mudanças, nessas continuidades e como que Modi importa também para a gente pensar em política interna indiana. Existe uma coleção de textos que foi publicada pela revista International Politics em 2021.

Um desses autores é o Ian Howe, também uma referência central para pensar em política externa indiana. O que está colocado aqui é a introdução, mas outros textos também são bastante relevantes. E esse texto do Pujo Kira, que fala sobre aquela ideia de assafronização, saffronizing diplomacy, que vai discutir exatamente a questão do serviço diplomático indiano sobre o jogo, sobre o poder do Narendra Modi.

Vou passar as indicações, mas antes disso, o Guilherme fez uma pergunta que me parece relevante. A doutrina Modi 2.0 lista áreas de alta tecnologia. Parece querendo uma posição ao lado dos Estados Unidos e da China? Me parece que sim, me parece que a Índia se coloca como essa possibilidade de uma liderança, não só de uma liderança do sul global, mas de uma grande potência.

Então, está nos âmbitos dos objetivos da Índia se colocar como essa grande potência e até o discurso de ser uma grande civilização milenar, compõe essa narrativa da Índia como um ator que se coloca como uma grande potência em exceção. E me parece também que no caso da Índia, pelo que eu li, a tecnologia é vista como relevante para o desenvolvimento nacional desde os anos 90, pelo menos. Então, a China adota essas formas econômicas liberalizantes, mas ela entende que a área de ciência e tecnologia é uma área estratégica e é uma área na qual deve existir uma atuação importante do Estado.

Então, a ideia de que o Estado deve investir em ciência e tecnologia me parece que é algo que é visto pela Índia como constitutivo do seu poder no sistema internacional e como talvez um dos grandes elementos disso, desse poder internacional indiano. Então, eu diria que talvez passe por aí. Essa valorização da tecnologia, da Índia como um ator que também poderia se colocar nessa competição, nessa corrida, nessa rivalidade tecnológica que coloca Estados Unidos e China.

É claro que a Índia parte de um outro lugar. Então, existe uma assimetria importante entre Índia, China e Estados Unidos, mas de fato existe essa ambição indiana de se construir como uma liderança importante, inclusive nesse tema. Aqui eu coloquei algumas indicações que me parece que são relevantes para a gente pensar, seja o próprio Modi, seja a extrema-direita, seja a cultura indiana.

Dois livros. O primeiro livro que se chama The Darker Nations, que é do Prachad, que é um livro que vai discutir a construção política do terceiro mundo. Então, ele volta na Guerra Fria e ele vai discutir essa construção política.

Ele me parece super importante para a gente pensar a própria Índia, porque discute o Nehru como uma liderança relevante, mas também um livro importante para a gente pensar no momento atual e quais são as possibilidades do seu global a partir de uma dinâmica maior de competição entre as grandes potências, de rivalidade entre grandes potências.

Então, acho que voltar a esse período me parece que é bastante relevante para pensar o momento contemporâneo, embora o que a gente possa tratar e traçar são paralelos e as realidades políticas são bastante diferentes. Esse segundo, que é um livro que vai debater as ultra-direitas no momento contemporâneo, no Senado e na política internacional contemporânea, que se chama World of the Right, me parece que é uma introdução importante para a gente pensar as ultra-direitas, as extremas-direitas na política internacional contemporânea.

O terceiro, que é um filme cuja canção principal foi indicada ao Oscar há alguns anos atrás, que se chama R.R.R., é um filme que me pareceu divertidíssimo, eu adorei assistir o filme, mas ele também é muito problemático porque ele acaba reproduzindo muito da narrativa do próprio governo de extrema-direita da Índia como sendo essa nação hindu, dessa recuperação de uma força que vem dessa tradição e que vem do próprio hinduísmo.

Então, é um filme que vai retratar a luta anticolonial indiana, então nesse sentido ele é interessante, ele é divertido e ele traz algumas pautas importantes para o debate, mas por outro lado também vai trazer essa narrativa da Índia como sendo essa nação hindu que vai logo excluir as minorias. E por fim, um documentário que está disponível no Netflix, que se chama To Kill a Tiger, que vai retomar e vai discutir um pouco das questões de gênero na Índia e as questões de abuso sexual nesse caso.

Também é um tema bastante relevante para a gente pensar a Índia contemporânea, se trata de uma sociedade bastante patriarcal, talvez em razão também do legado colonial, mas enfim, é um tema importante para ser debatido também quando a gente pensa em Índia. Bom, será que a gente tem mais perguntas, mais considerações? Acho que eu consegui terminar no tempo certo, exato, agora são 4 horas. Faço minhas as palavras do pessoal da pista, então se inscreva no canal do YouTube.

Estamos com discussões sobre lideranças mundiais acontecendo todas as terças-feiras, às 15 horas, então fiquem atentos, que semana que vem tem mais, e ativem as notificações, porque só serão notificados aqueles que tiverem feito isso. E além disso, também temos um podcast semanal, sala de estratégia sempre às quintas, às 15 horas, e já estão convidados para conversar com a gente de novo quinta-feira, então nesse mesmo horário. Muito obrigada mais uma vez a todos pela atenção, pelo privilégio de conversar com vocês e a gente se vê.

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