A proclamação da república no Brasil aconteceu no dia 15 de novembro de 1889 e foi responsável por encerrar o regime monárquico que governou o Império do Brasil entre os anos de 1822 a 1889. A proclamação ocorreu em meio a um cenário de extremo descontentamento de diversos grupos sociais, como os grandes fazendeiros, a igreja e os militares.
A Guerra do Paraguai (1864-1870) é para muitos historiadores o maior conflito internacional armado que já aconteceu na América Latina, além de ter causado um grande número de mortes, estimado em cerca de 400 mil vítimas. Assim, além do exacerbado número de mortes, nota-se que a guerra causou severa destruição no Paraguai e alto endividamento ao governo brasileiro. Nesse contexto, a monarquia brasileira começou a perder sua popularidade, ao mesmo tempo que os militares, após tal conflito, começam a exigir dezenas de reivindicações, entre as principais, maior participação política e também aumento nos salários.
Nesse cenário, observa-se que a proclamação da república no Brasil foi fruto de uma grave crise no império brasileiro, o qual estava sendo incapaz de atender as demandas exigidas pela sociedade. No âmbito dos militares, a demanda centrava-se em melhores condições na carreira, como citado anteriormente. Na política, a maior demanda adivinha da administração do estado de São Paulo, o qual já possuía o título de principal estado do país, mas ainda contava com uma representação política pouco significativa.
Existiam também outras demandas dentro da sociedade brasileira, como as citadas pela socióloga Ângela Alonso, em relação ao grupo político dos liberais que desejavam maior inclusão no eleitorado brasileiro e também aos grupos populares que buscavam o estabelecimento do laiscismo no Brasil, além da pauta abolicionista que estava em discussão desde a década de 1870. Ainda de acordo com Ângela Alonso, o contexto, como descrito acima, era totalmente desfavorável para o império brasileiro, de modo que a socióloga completa sua análise dizendo que em 1889, a questão não era se a monarquia cairia, mas quando ela cairia (ALONSO, 2019).
A vista disso, a proclamação da república possuiu alta representação dos militares, como Deodoro da Fonseca, o qual foi responsável por derrubar o gabinete ministerial e se tornar o primeiro presidente do Brasil, destituindo o gabinete do Visconde de Ouro Preto, que atuava como primeiro-ministro. Como já era previsto, houve uma breve tentativa de resistir ao ato, através de uma organização composta por monarquistas, como Conde d’Eu e André Rebouças, mas ela não avançou.
Dom Pedro II, o último imperador do país, quando ainda estava em Petrópolis buscou formar um novo gabinete, mas sua proposta não foi aceita, de modo que os republicanos, em seguida, formaram um governo provisório. Dando seguimento a administração política do país, o governo de Deodoro da Fonseca contou com muitos dos envolvidos na conspiração contra a monarquia, como Quintino Bocaiuva, o qual assumiu a pasta das Relações Exteriores; Benjamin Constant, que ficou responsável pela pasta da Guerra; Aristides Lobo que assumiu a pasta do Interior e Rui Barbosa, responsável pela pasta da Fazenda.
A família imperial, por fim, recebeu a ordem para deixar o país em até 24 horas, no dia 16 de novembro de 1889. Assim, no dia 17 de novembro, a família real embarcou para Lisboa, e década de 1880 ficou para sempre marcada na história da política brasileira por seus diversos conflitos, frutos da disputa política entre monarquistas e republicanos, mas que também trouxe mudanças extremamente significativas para o país, como a implementação da república, implantação do federalismo, estabelecimento do sufrágio universal masculino e fim do voto censitário, implantação do Estado laico e estabelecimento do presidencialismo.
No entanto, é importante ressaltar que embora a república tenha se vinculado com mudanças na estrutura política e social do Brasil, diversas problemáticas continuaram existindo e até com maior amplitude, como o curral eleitoral e o voto de cabresto, o qual representava uma prática político-cultural, onde ocorria a ilustração de um ato de lealdade do votante ao chefe local, sob severa vigilância para certificar que os votantes só sairiam dos barracões na hora exata da votação (SCHWARCZ, 2019).
Lilia Schwarcz, historiadora e antropóloga brasileira, exemplifica durante o livro “Sobre o Autoritarismo Brasileiro” como o coronelismo manifestado durante a política da república, ainda se manifesta nos dias atuais, principalmente em cidades localizadas no interior dos estados brasileiros, onde políticos se manifestam do desfavorecimento econômico de uma parcela da população, para coagir os eleitores a votarem em determinados candidatos, visando manterem-se no poder. À vista disso, a análise buscou trazer elementos históricos sobre a data em questão, além de avanços e contínuos retrocessos que tal ato político alavancou no cenário brasileiro.
Referências
ALONSO, Ângela. Instauração da república no Brasil. In.: SCHWARCZ, Lília M. e STARLING, Heloísa M (orgs.). Dicionário da república: 51 textos críticos. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. p. 164.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.