A perda de gelo na Antártida e seu impacto no planeta — aumento do nível do mar, mudanças nas correntes oceânicas e perturbação da vida selvagem e das cadeias alimentares — têm sido notícia frequentemente. Todas essas ameaças provavelmente estavam nas mentes dos delegados da Reunião Consultiva do Tratado da Antártida, que termina hoje em Milão, Itália.
Esta reunião é onde as decisões sobre o futuro do continente são tomadas. Essas decisões dependem de evidências científicas. Além disso, apenas os países que produzem pesquisas significativas sobre a Antártida — e são partes do tratado — têm o poder de decisão final.
Nosso novo relatório — publicado como pré-impressão pela Universidade do Ártico — mostra que a taxa de pesquisa sobre a Antártida e o Oceano Austral está caindo exatamente quando deveria estar aumentando. Além disso, a liderança em pesquisa está mudando, com a China assumindo a dianteira pela primeira vez.
Isso aponta para uma perigosa desvalorização da pesquisa antártica justamente quando ela é mais necessária, junto com uma mudança na influência nacional. A Antártida e as pesquisas realizadas lá são fundamentais para o futuro de todos, por isso é vital entender o que essa mudança pode significar.
Por que a pesquisa na Antártida é tão importante?
Com o rápido aquecimento da região antártica, o desestabilização das plataformas de gelo e a redução do gelo marinho, entender o ambiente do Polo Sul é mais crucial do que nunca.
A perda de gelo na Antártida não apenas contribui para o aumento do nível do mar, mas também afeta habitats da vida selvagem e cadeias alimentares locais. Ela também altera a dinâmica das correntes oceânicas, o que pode interferir nas cadeias alimentares globais, incluindo pescas internacionais que fornecem uma quantidade crescente de alimentos.
Pesquisas para entender esses impactos são vitais. Primeiro, conhecer o impacto de nossas ações — especialmente as emissões de carbono — nos motiva a fazer mudanças e pressionar governos a agir.
Segundo, mesmo quando as mudanças já são inevitáveis, precisamos saber como serão para nos prepararmos.
Terceiro, precisamos entender as ameaças ao ambiente antártico e ao Oceano Austral para governá-lo adequadamente. É aqui que o tratado entra em cena.
O que é o Tratado da Antártida?
A região abaixo de 60 graus sul é governada pelo Tratado da Antártida de 1959, juntamente com acordos subsequentes. Juntos, eles são conhecidos como o Sistema do Tratado da Antártida.
Cinquenta e oito países são partes do tratado, mas apenas 29 deles — chamados de partes consultivas — podem tomar decisões vinculantes sobre a região. Eles incluem os 12 signatários originais de 1959, além de 17 nações mais recentes que produzem pesquisas científicas substanciais relacionadas à Antártida.
Isso torna a pesquisa uma parte fundamental da influência de um país sobre o que acontece na Antártida.
Por grande parte de sua história, o Sistema do Tratado da Antártida funcionou muito bem. Manteve a paz na região durante a Guerra Fria, facilitou a cooperação científica e colocou disputas territoriais em suspenso indefinidamente. Ele proibiu a mineração indefinidamente e gerenciou pescas.
Recentemente, no entanto, tem havido crescente disfunção no sistema do tratado.
Proteções ambientais que parecem óbvias — como áreas marinhas protegidas e proteções especiais para pinguins-imperadores ameaçados — estão estagnadas.
Como as decisões são tomadas por consenso, qualquer país pode bloquear o progresso. Rússia e China — ambos atores de longa data no sistema — têm estado no centro do impasse.
O que nosso relatório descobriu?
Acompanhar a quantidade de pesquisas antárticas em andamento nos diz se as nações, como um todo, estão investindo o suficiente para entender a região e seu impacto global.
Também nos diz quais países estão investindo mais e, portanto, provavelmente terão maior influência.
(Número de publicações sobre a Antártida, 2022–2024)
Nosso novo relatório examinou o número de artigos publicados sobre tópicos antárticos e do Oceano Austral de 2016 a 2024, usando o banco de dados Scopus. Também analisamos outros fatores, como os países afiliados a cada artigo.
Os resultados mostram que cinco mudanças significativas estão ocorrendo no mundo da pesquisa antártica:
- O número de publicações sobre a Antártida e o Oceano Austral atingiu o pico em 2021 e depois caiu levemente ano a ano até 2024.
- Enquanto os Estados Unidos foram líderes em pesquisa antártica por décadas, a China os ultrapassou em 2022.
- Se considerarmos apenas publicações de alta qualidade (aquelas nos 25% melhores revistas), a China ainda superou os EUA, em 2024.
- Dos seis principais países em publicações totais (China, EUA, Reino Unido, Austrália, Alemanha e Rússia), todos, exceto a China, tiveram queda no número de publicações desde 2016.
- Embora a colaboração em publicações seja maior na pesquisa antártica do que em outras áreas, Rússia, Índia e China têm taxas anormalmente baixas de coautoria em comparação com outros países signatários.
(Número de publicações sobre a Antártida por ano para os maiores países em termos de produção de publicações, 2016–2024)
Por que esse declínio na pesquisa é um problema?
Uma recente investigação parlamentar na Austrália destacou a necessidade de financiamento estável. No Reino Unido, um relatório do comitê da Câmara dos Comuns considerou “imperativo que o Reino Unido expanda significativamente seus esforços de pesquisa na Antártida”, especialmente em relação ao aumento do nível do mar.
Analistas dos EUA apontaram para a inadequação da infraestrutura de quebra-gelos do país. Os cortes recentes no financiamento antártico pelo governo Trump só devem piorar a situação. Enquanto isso, a China construiu uma quinta estação na Antártida e anunciou planos para uma sexta.
Dada a população e influência global da China, sua liderança em pesquisa antártica não é surpreendente. Se a China assumir uma liderança em proteção ambiental antártica que corresponda ao seu peso científico, sua ascensão na pesquisa poderia ser positiva. Uma colaboração mais forte entre países também poderia fortalecer a cooperação geral.
Mas o declínio global no investimento em pesquisa antártica é um problema, não importa como se olhe. Ignorá-lo é por nossa conta e risco.
Texto traduzido do artigo Antarctic research is in decline, and the timing couldn’t be worse, de Elizabeth Leane e Keith Larson, publicado por The Conversation sob a licença Creative Commons Attribution 3.0. Leia o original em: The Conversation.