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Admirável Mundo Novo – Aldous Huxley (1932)

Sobre o autor

Aldous Huxley viveu entre 1894 e 1963, vivenciando duas guerras mundiais, que em conjunto ao tratamento de uma doença ocular, ceratite, formulou sua visão do mundo, e, consequentemente, de sua arte. Ficou mundialmente conhecido por suas obras críticas e distópicas, incorporando juízos à sociedade, questões de revolução política e psicológica e ainda autoritarismo.

O inglês participou do cenário artístico americano de Hollywood, se envolvendo com drogas alucinógenas e popularizando sua opinião sobre os acontecimentos mundiais. Sua história é moldada pela curiosidade e pela literatura, envolvendo a poesia e os clássicos em seus livros de maneira concisa e fundamental.

A sociedade do Admirável do Mundo Novo

Na distopia de Aldous Huxley, escrita há 89 anos, em 1932, nos deparamos com a sociedade do Admirável Mundo Novo (Brave New World). Um mundo definido por Huxley como uma sociedade futurística de 2540, onde Freud e Ford são endeusados e utilizados como divisores de tempo, e a humanidade havia progredido até a sociedade perfeita, avançando nos campos políticos, sociais e tecnológicos.

Com o progresso, fatos considerados por nós como naturais são reconfigurados, tal como a família, relacionamentos e a reprodução. Seres humanos passam a ser fabricados em manufaturas via inseminação artificial, sendo criados em lotes e, desde sua fecundação, sujeitos ao condicionamento psicológico e ao Soma, uma droga distribuída pelo governo para garantir o controle sob os indivíduos. Por meio deste controle, criam pessoas possuidoras de específicas características intelectuais, físicas e estéticas, designando-os a determinadas posições dentro de um sistema de castas.

De forma geral, o governo tem total e absoluto controle sobre a população, incorporando a desnaturalização dos mais diversos aspectos sociais e reforçando a todo momento sua ideologia por meio da própria comunidade e do reforçamento do Soma, que garante que todo pensamento fora da curva seja eliminado, e o indivíduo em questão seja reinstalado dentro de sua específica posição.

Toda essa percepção e explicação da sociedade nos é fornecida por Bernard Marx, um membro da alta casta afetado por um erro durante seu processo de gestação que, logo assim, não se encontra na mesma posição de influência absoluta. Se inicia então uma exploração da individualidade e da realidade do coletivo, levando à descoberta de outros grupos, como é o caso da Reserva Selvagem, onde preceitos antigos ainda sobreviviam.

É ali que são introduzidos personagens essenciais para a distopia, como John, o  Selvagem, um jovem amante de Shakespeare levado por Bernard para o Admirável Mundo Novo junto com sua mãe, uma ex-moradora do local, para escancarar a realidade da gestação natural. Neste novo mundo, John tem sua individualidade questionada, pois seus princípios e ideologias como uma pessoa criada na Reserva são contraditórios aos das promulgadas em seu novo lar, levando a um conflito sob a descoberta da verdade e da felicidade. Questões como a relevância da verdade sob a felicidade e o bom convívio permeiam John, tanto em sua própria consciência quanto em sua vivência e relações.

Uma análise do Construtivismo Social na realidade da obra de Huxley

Ao trabalhar com a questão da construção social da realidade das relações humanas, define-se uma primordialidade das ideias sobre o materialismo, ou seja, as ideias seriam o fator definidor do poder material. A sociedade gerada por um contrato social é sujeita à ideologia e aos seres humanos, se contrariando ao natural uma vez que é regrada por normas, pensamentos e crenças da coletividade.

A sociedade descrita por Huxley se põe como a detentora de todo o poder e verdade, é autoritária, e, ao formular uma ideologia que se alicerça na felicidade e coletividade, consegue controlar a massa numa espécie de sociedade do espetáculo. Ademais, utiliza como peças fundamentais a impessoalidade das relações entre os indivíduos e o uso do Soma, droga que torna o usuário feliz e subserviente ao Estado, para manter a estabilidade.

Os seres humanos aceitam um aspecto social pela convivência e pelo conforto, sentem-se em casa e assim o pensamento crítico os foge. Entretanto, alguém exterior com uma ideologia diferente verá essa realidade de forma distinta. Esse é o caso de Bernard, devido ao seu irregular grau de condicionamento psicológico, e em maior escala em John, o Selvagem, que viveu toda sua vida em um lugar com princípios e valores desiguais.

Ressalto novamente que o poder da ideologia repousa sob a amplitude de seu compartilhamento, o que torna a existência de uma fonte de ideias divergentes uma ameaça. Para Bernard, além de sua gestação “defeituosa”, a questão estética o leva a se diferenciar dos outros membros de sua casta, pois ele é vítima da ditadura da beleza enquadrada no livro, e o fato de não se sentir parte da sociedade torna-o mais crítico a si mesmo. No caso de John, que se depara com uma realidade oposta a sua, é a dicotomia verdade e felicidade. Para ele, a ocultação da verdade e do livre arbítrio em prol da felicidade ignorante e das normas sociais é errônea. 

O relacionamento entre o jovem e uma mulher inserida nessa sociedade, Lenina, torna-se um exemplo dessa discordância de valores, pois as maneiras de se relacionar de ambos são opostas. O governo normaliza as relações de pouca intimidade emocional mas grande intimidade física, enquanto o Selvagem, vindo de uma comunidade diferente e tendo Shakespeare como um figura de influência, vê as relações de forma contrária. 

Os grandes ápices do livro rodeiam exatamente a questão das diferenças entre o que os personagens consideram correto e normal. Isso fica claro no capítulo 15, onde John inicia uma revolta após a morte de sua mãe motivado pelo seu estado emocional, o que é exatamente o oposto do que o Governo do Admirável Mundo Novo, que utiliza pesadamente a droga Soma para garantir um estado emocional padrão e cooperativo de felicidade e gratificação, aprova.

Essa reação de John simboliza a riqueza emocional humana. Uma pessoa livre para ser quem é, compõe-se por uma variedade de emoções além da felicidade, entretanto, dentro de uma sociedade que torna as relações impessoais e controla todos os aspectos de criação e desenvolvimento, inclusive o senso crítico, tal fato é uma ameaça inaceitável. 

É exatamente essa necessidade por “ser humano” que leva o jovem a se afastar da cidade e viver em isolamento em busca de uma vida que siga sua própria ideologia, contudo, o envolvimento dos habitantes alienados em seu exílio, demandando um show do mesmo em seu momento de auto-punição, acaba o envolvendo e levando-o a um dos rituais da sociedade do livro, a orgia. Acontece que o senso de culpa do ser humano é algo volátil e frágil, e levando em conta o peso diferente dado às ações por cada parte do ato, a balança de John simplesmente coloca a culpa acima do prazer, levando-o a buscar a redenção, que neste caso acaba sendo o suicídio.

Interpretação final

A sociedade distópica descrita por Aldous Huxley possui um caráter evidentemente autoritário, reportando a utilização por parte do Estado de diversas maneiras e ferramentas para a manutenção da ordem e estabilidade. É através de um processo de construção social que seus maiores esforços repousam, garantem ali a incorporação da tecnologia como fator essencial para vida, sendo esta controlada pelo Estado, e da criação de uma ideologia que garante a coerção da população de modo que não critiquem ou duvidem da realidade, forçando-os a um estado de obediência e alienação assistida por um elemento exterior, neste caso o Soma, que obriga o usuário a um estado de contentamento.

A maneira retratada em Admirável Mundo Novo de implementação e conservação de um governo autoritário se baseia fortemente no governo fascista de Mussolini na Itália, levando Huxley a utilizar de conceitos observados, e não imaginados em sua obra, sendo estes conectados fortemente ao Construtivismo Social.

Referências bibliográficas:

HUXLEY, Aldous. Admirável Mundo Novo. 21. São Paulo: Editora Globo, 2001.

JACKSON, Robert; SORENSEN, Georg. Introdução às Relações Internacionais. 3. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.

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