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Explicação: o que é descolonização?

Foto por CrisCatilloVel. Via Wikicommons. (CC BY 3.0)

A colonização é uma invasão: um grupo de pessoas toma posse da terra e impõe sua própria cultura aos povos indígenas.

A colonização moderna remonta à Era das Descobertas, no século XV, quando as nações europeias buscavam expandir sua influência e riqueza. Nesse processo, representantes desses países reivindicaram terras, ignorando os povos indígenas e apagando sua soberania.

Leis e forças policiais foram ferramentas significativas de desapropriação e opressão. Os povos indígenas foram brutalizados, explorados e frequentemente tratados como sub-humanos. Como descreveu Jean-Paul Sartre sobre a colonização:

[…] começa-se ocupando o país, depois toma-se a terra e explora-se os antigos donos com salários de fome […] por fim, retira-se dos nativos até mesmo o direito ao trabalho.

A colonização vai além do aspecto físico. Ela também é cultural e psicológica ao definir quais conhecimentos são privilegiados. Com isso, seus impactos não afetam apenas a primeira geração colonizada, mas criam problemas duradouros.

A decolonização busca reverter e remediar essa realidade por meio de ações diretas e da escuta das vozes dos povos originários.

Buscando a Independência

O termo “descolonização” foi cunhado pela primeira vez pelo economista alemão Moritz Julius Bonn na década de 1930 para descrever antigas colônias que alcançaram autogovernança.

Muitas lutas pela independência foram armadas e sangrentas. A Guerra de Independência da Argélia (1954-1962) contra os franceses foi particularmente brutal.

Outras lutas envolveram negociações políticas e resistência pacífica.

Embora a saída dos britânicos da Índia em 1947 seja amplamente lembrada como uma resistência não violenta sob a ética pacifista de Gandhi, a campanha começou em 1857 e não esteve isenta de derramamento de sangue.

A busca pela independência raramente é pacífica.

Justiça

Atualmente, o termo descolonização é utilizado para se referir à justiça restaurativa por meio da liberdade cultural, psicológica e econômica.

Na maioria dos países onde os colonizadores permaneceram, os povos indígenas ainda não ocupam posições significativas de poder ou autodeterminação. Essas nações são chamadas de países coloniais de assentamento – um termo popularizado nos anos 1990 pelo acadêmico Patrick Wolfe, que afirmou: “a invasão é uma estrutura, não um evento”.

protesto contra colonização
Foto por Washko Ink. Via Wikicommons. (CC BY-SA 3.0)

Outro termo importante para compreender a descolonização é “neocolonialismo”. Foi cunhado por Kwame Nkrumah, primeiro presidente de Gana, no início dos anos 1960, para se referir à continuidade do poder dos antigos colonizadores por meio de meios econômicos, políticos, educacionais e informais.

Nesses países neocoloniais ou coloniais de assentamento, a defesa dos direitos dos povos indígenas nem sempre se traduz em ação concreta. As vozes indígenas que clamam por tratados e reconhecimento da verdade na cultura, política, legislação e educação ecoam, enquanto a prática ainda avança lentamente.

A verdadeira descolonização busca desafiar e transformar a supremacia branca, a história nacionalista e a “verdade” dominante.

Os Direitos dos Povos Indígenas foram adotados pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007. O documento afirma:

Os povos indígenas têm o direito à autodeterminação. Por meio desse direito, determinam livremente seu status político e buscam livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural.

A declaração lista diversos direitos fundamentais no processo de descolonização, incluindo:

  • O direito à autonomia e autogoverno, incluindo financiamento para essas funções autônomas;
  • Proteção contra a remoção forçada de crianças de suas comunidades;
  • Preservação de sítios arqueológicos e históricos, além da repatriação de objetos cerimoniais e restos humanos;
  • Direito à educação em suas próprias línguas;
  • A mídia estatal deve refletir a diversidade cultural indígena;
  • Reconhecimento legal de suas terras, territórios e recursos tradicionais.

Formas de Apoiar a Descolonização

A descolonização deve envolver o desafio ao racismo, tanto consciente quanto subconsciente. Pessoas não indígenas em sociedades coloniais de assentamento podem começar refletindo:

  • Em que território estou vivendo? A que nação indígena pertence esta terra?
  • Se minha terra fosse roubada, minha cultura apagada e minha soberania negada, quais direitos eu desejaria, precisaria e esperaria ter?
  • Quem são os povos originários deste território? A quem devo ouvir e com quem devo trabalhar?

Para se engajar na descolonização, você pode:

  • Valorizar o conhecimento e a produção acadêmica indígena. Na Austrália, por exemplo, isso pode significar ouvir os povos indígenas sobre sua sabedoria no manejo de incêndios florestais;
  • Incentivar e exigir o ensino sobre os povos indígenas e suas culturas nas escolas;
  • Apoiar esforços de restituição, como programas que revitalizam línguas indígenas;
  • Cobrar das instituições – incluindo as áreas da educação, artes, mídia e política – a contratação de indígenas em todos os níveis da organização, especialmente em cargos de liderança;
  • Observar e identificar formas de discriminação e vieses inconscientes em seu local de trabalho e se posicionar contra essas estruturas;
  • Lutar por justiça com base na orientação dos povos indígenas, caminhando ao lado deles em manifestações e garantindo que suas vozes sejam o foco principal dos eventos.

O racismo fere, sufoca e mata quando não é enfrentado.

As estruturas racistas fazem da vítima o problema.

Podemos nos ajoelhar para lembrar os assassinados. Mas precisamos cobrar das instituições as reformas necessárias para a descolonização. Precisamos apoiar as pessoas dentro dessas organizações que se manifestam contra o racismo. Precisamos questionar se a colonização nos ensinou a permanecer parados, vestindo uniformes institucionais da mente, assistindo passivamente ao sufocamento.

Texto traduzido do artigo Explainer: what is decolonisation?, de Mary Frances O’Dowd e Robyn Heckenberg, publicado por The Conversation sob a licença Creative Commons Attribution 3.0. Leia o original em: The Conversation.

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