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Além do crescimento econômico, o PIB mede a força geopolítica em um mundo multipolar
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Além do crescimento econômico, o PIB mede a força geopolítica em um mundo multipolar

Foto por Jon Sullivan. Via Wikicommons. (Domínio Público)

Vivemos um momento em que o comércio global, a geopolítica e os interesses nacionais colidem com força. As regras tradicionais da economia estão mudando e, com elas, a forma de entender o poder.

Nesse contexto, o uso estratégico de ferramentas econômicas — como tarifas, sanções ou subsídios — para alcançar objetivos políticos (geoeconomia ou economic statecraft) ganha cada vez mais relevância. Essa abordagem coloca em dúvida muitas ideias que tínhamos como certas, como a eficiência do livre mercado ou o crescimento como sinônimo de bem-estar.

Novos atores geopolíticos

Durante décadas, o produto interno bruto (PIB) foi o grande indicador do sucesso de um país. Um PIB maior significava mais riqueza, mais emprego e mais desenvolvimento. Mas, hoje, o PIB não conta toda a história.

Em um mundo fragmentado e competitivo, não importa apenas o quanto se produz, mas como se produz, para que se produz e a quem beneficia. Assim, o PIB começa a ser visto como um reflexo do poder nacional, da capacidade de um país de resistir a crises, defender seus interesses e manter sua autonomia.

A globalização — que um dia prometeu prosperidade compartilhada graças aos mercados abertos —, a terceirização do trabalho e a interdependência já não ditam o rumo. Em seu lugar, surge um novo mapa multipolar — com potências emergentes como China e os BRICS —, novas alianças e um retorno ao nacionalismo econômico.

Nessa nova ordem, a segurança nacional, a soberania tecnológica e a autossuficiência estratégica pesam mais do que a eficiência ou o livre comércio sem restrições.

Poderio econômico, poder geopolítico

Os governos estão retomando o uso da geoeconomia. Agora, não se trata apenas de administrar a economia interna, mas de utilizar o poder econômico para influenciar outros países, apoiar aliados, proteger setores-chave e reduzir vulnerabilidades.

Os Estados Unidos, por exemplo, aplicam tarifas a produtos chineses não apenas por razões comerciais, mas para reduzir a dependência externa e reindustrializar o país. Além disso, investem fortemente em setores estratégicos, como semicondutores ou inteligência artificial, com o objetivo de garantir sua liderança tecnológica e militar.

A China também usa seu poder econômico como ferramenta de influência. Controla minerais críticos e domina partes essenciais da produção global. Por meio de empréstimos para infraestruturas, como os oferecidos em sua Iniciativa Cinturão e Rota, consegue expandir sua presença em muitos países do Sul global.

Em ambos os casos, o comércio e o investimento não são neutros, mas profundamente políticos.

Apostar na indústria e na inovação

Esse panorama nos obriga a repensar o que realmente significa o crescimento econômico. Um país que aumenta seu PIB graças a importações baratas ou à transferência de sua produção para o exterior pode apresentar bons números, mas fica exposto a interrupções globais ou pressões externas. Por outro lado, uma economia que aposta no fortalecimento de sua indústria, infraestrutura e capacidade tecnológica pode ser mais sólida e relevante, mesmo que seu crescimento seja mais lento. Isso tem consequências importantes:

  • Para empresas e investidores, focar apenas no PIB pode ser enganoso. Hoje, importam tanto os riscos geopolíticos quanto os econômicos. Setores como defesa, energia ou tecnologia avançada podem receber mais apoio estatal e oferecer melhores perspectivas a longo prazo.
  • Para os cidadãos, essa nova abordagem pode significar preços mais altos ou menos opções no mercado, mas também maior estabilidade, emprego local e segurança.

Mais rápido e em maior escala

A geoeconomia não é algo novo. As grandes potências sempre usaram o comércio e as finanças para influenciar o mundo. O que muda agora é a escala e a velocidade com que essa ferramenta é empregada.

Sanções, controles de exportação, incentivos fiscais e política industrial já fazem parte do arsenal estratégico de muitos países. O poder econômico já não se mede apenas pela riqueza, mas também pela capacidade de um país de defender seus interesses em um mundo instável.

O PIB continua importante como medida de desenvolvimento econômico. Mas agora também é um indicador de força estratégica.

Texto traduzido do artigo Más allá del crecimiento económico, el PIB mide la fortaleza geopolítica en un mundo multipolar, de Ulf Thoene, publicado por The Conversation sob a licença Creative Commons Attribution 3.0. Leia o original em: The Conversation.

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