No dia 24 de fevereiro de 1949, o Acordo de Armistício entre Israel e Egito foi assinado em Rodes, na Grécia, dando fim às hostilidades entre israelenses e árabes que haviam começado em maio do ano anterior, como consequência direta da declaração de independência do Estado de Israel e da rejeição de países árabes do Plano de Partilha sugerido pela ONU (Organização das Nações Unidas) no final de 1947. O que foi a guerra de 1948 e como os acordos de armistício foram alcançados? O que exatamente ocorreu no dia 24 de fevereiro de 1949? Neste texto, serão respondidas cada uma dessas perguntas, formando uma caracterização geral da primeira guerra árabe-israelense e dos seus desdobramentos para o conflito.
A guerra árabe-israelense de 1948
A guerra árabe-israelense de 1948 foi o primeiro enfrentamento entre judeus e árabes na região, antecedida por disputas localizadas entre britânicos, palestinos e judeus ao longo das décadas anteriores. O principal evento desencadeador da guerra foi a declaração da independência de Israel, ocorrida 14 de maio de 1948, com o início da guerra datando de 15 de maio do mesmo ano, um dia após a consolidação do Estado judeu (KARSH, 2002).
Nesse dia, Egito, Transjordânia, Síria e forças expedicionárias do Iraque começaram uma invasão multidirecional às forças israelenses, fazendo com que uma guerra generalizada se iniciasse, durando por volta de 10 meses e terminando com a vitória israelense, que controlaria não só o território delimitado para um Estado judeu pela partilha da ONU, mas também 60% do que seria um Estado árabe de acordo com a proposta sugerida pela organização internacional.
De forma geral, a guerra teve duas fases: a primeira delas se iniciando em 30 de novembro de 1947, um dia após a adoção da Resolução referente à partilha da Palestina sugerida pela ONU, e terminando em 14 de maio de 1948, correspondendo tanto ao fim do Mandato Britânico quanto à independência israelense.
A primeira fase foi basicamente uma guerra civil, interna, pairada pela intervenção ocasional dos britânicos, que ainda detinham o poder na região, com a comunidade árabe palestina lutando para impedir que a comunidade judaica firmasse as bases de um Estado em sintonia com as demandas da resolução da ONU (KARSH, 2002).
Já a segunda fase se iniciou na noite de 14 para 15 de maio de 1948, pouquíssimas horas após a proclamação do Estado de Israel, passando a envolver as forças externas do Egito, da Síria, do Iraque, da Transjordânia, do Líbano, além de um grupo de soldados sauditas (KARSH, 2002). Essa fase só terminaria de fato em 20 de julho de 1949 com a assinatura do último dos acordos de armistício entre Israel e seus vizinhos árabes – mas antes disso é crucial falar daquele que seria o início do fim: o acordo de armistício assinado em 24 de fevereiro de 1949 entre Israel e Egito.
O acordo de armistício entre Israel e Egito
Foi no dia 6 de janeiro de 1949 que o chefe da comissão da Palestina pela ONU, Ralph Bunche, anunciou que o Egito havia finalmente concordado em iniciar as negociações com o Estado de Israel a respeito de um armistício. 6 dias depois, na cidade grega de Rodes, no dia 12 de janeiro de 1949, que as negociações se iniciaram.
No final de janeiro as negociações ainda se encontravam travadas, com Israel em vantagem tendo em vista sua ampla vitória militar até o momento. Israel passou a exigir que o Egito retirasse todas as suas tropas da área que correspondia ao agora extinto Mandato Britânico da Palestina (RAI, 2014).
Os egípcios insistiam que as forças árabes se retirassem para as posições que ocupavam em 14 de outubro de 1948, gerando um impasse que culminaria no assassinato, em 12 de fevereiro de 1949, de Hassan al-Banna, líder do grupo islâmico Irmandade Muçulmana. Israel ameaçou abandonar as negociações, mas os Estados Unidos, na posição de mediadores, exigiam que as partes obtivessem uma conclusão bem-sucedida das negociações (RAI, 2014).
Foi então que no dia 24 de fevereiro de 1949 que as negociações finalmente terminaram, com o seguinte desfecho: A primeira cláusula do acordo de armistício pedia que a Linha de Demarcação do Armistício não fosse interpretada em nenhum sentido como uma fronteira política ou territorial, sendo delineada sem prejuízo dos direitos, reivindicações e posições de qualquer das Partes do Armistício com relação à solução definitiva da questão da Palestina.
Já a segunda cláusula do acordo de armistício definia que a linha de demarcação do armistício fosse traçada em sua maior parte ao longo da fronteira internacional de 1922 entre o Egito e Mandato da Palestina, exceto na região próxima ao Mar Mediterrâneo, onde o Egito se manteve no controle de uma faixa de terra ao longo da costa, que ficaria conhecida como Faixa de Gaza.
Já as duas últimas cláusulas do acordo de armistício diziam respeito às forças egípcias sitiadas no Bolsão de Faluja, que foram autorizadas a retornar ao Egito com suas armas, com a área sendo entregue ao controle militar israelense e a respeito do estabelecimento de uma zona em ambos os lados da fronteira em torno da estrada de Uja al-Hafeer, passando a ser uma zona desmilitarizada e a ser sede do comitê de armistício bilateral entre os dois países.
Referências
KARSH, Efraim. The Arab-Israeli Conflict: the palestine war 1948. Oxford: Osprey Publishing, 2002.
RAI, Selina Kaur. What Were the Causes and Consequences of the 1948 Arab-Israeli War?. E-International Relations, 2014. Disponível em: < https://www.e-ir.info/2014/01/15/what-were-the-causes-and-consequences-of-the-1948-arab-israeli-war-2/>. Acesso em 24 jan. 2022.
The Surrender Document. New York Times, 1971. Disponível em: <https://www.nytimes.com/1971/12/17/archives/the-surrender-document.html>. Acesso em 25 nov. 2021.
WYNBRANDT, James. A Brief History of Pakistan. Checkmark Books: Nova Iorque, 2008.