Enquanto salvavam vítimas da guerra civil da Nigéria, médicos e jornalistas perceberam como a ajuda humanitária internacional era limitada e enfrentava inúmeros problemas, como, dificuldade de acesso aos locais onde se encontravam os feridos; obstáculos burocráticos e políticos, que dificultavam a revelação da situação cruel que os civis enfrentavam durante os conflitos, et al.
Por conta disso, o médico e político francês, Bernard Kouchner, e um grupo de jornalistas, criaram em Paris, França, a organização internacional humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF), com o intuito de associar “ajuda médica e sensibilização do público sobre o sofrimento de seus pacientes, dando visibilidade a realidades que não podem permanecer negligenciadas”.
Modo de atuaçao
O Médicos Sem Fronteiras fornece ajuda médica-humanitária às pessoas que foram/são afetadas pela ausência de acesso à saúde e por conflitos armados, epidemias, desnutrição e desastres naturais, independentemente do local. Ademais, quando a atuação médica de um Estado não é o suficiente para garantir a sobrevivência da população, o MSF pode fornecer itens básicos, como, água, alimentos, medicamentos, saneamento e abrigos. Geralmente esse tipo de auxílio ocorre em tempos de crise, quando a vida da população, que já era instável, piora.
Regras e estrutura
A ética médica do MSF garante que qualquer pessoa receba ajuda, não podendo haver qualquer tipo de discriminação. A única coisa que ocorre é a separação entre vítima e agressor no local de atendimento. Uma vítima de violência sexual, por exemplo, nunca poderá ser atendida no mesmo local que o seu abusador. Além disso, o Médicos Sem Fronteiras é imparcial, garantindo o direito à confidencialidade.
Atuações em conflitos
1975: Auxílio aos cambojanos que fugiram do Khmer Vermelho, seguidores do Partido Comunista da Kampuchea, partido que governou o Camboja entre 1975 e 1979. Esse caso foi o “primeiro programa médico de grande escala durante a crise de refugiados”;
1980: Após a invasão da URSS no Afeganistão, o MSF forneceu proteção às vítimas da Guerra do Afeganistão;
1984: A Etiópia, país africano, estava passando por uma crise de fome em massa. Por conta disso, um grande projeto foi criado para resgatar o povo da desnutrição. Contudo, por ter denunciado o governo do país por desvio dos recursos de ajuda humanitária, o Médicos Sem Fronteiras foi expulso da Etiópia;
1986: Durante a Guerra Civil do Sri Lanka, que durou 26 anos, “clínicas móveis e hospitais para tratar dos feridos e traumatizados” foram montados pela organização internacional;
1988: As vítimas do terremoto que a assolou a Armênia em 88 receberam ajuda do MSF;
1991 e 1993: Neste ano o Brasil recebeu a primeira ajuda da organização, que foi necessária por conta de uma epidemia de cólera na Amazônia. Dois anos depois o MSF começou a fornecer ajuda médica às crianças de rua do Rio de Janeiro;
1994: O genocídio de Ruanda, que causou a morte de mais de 800 mil pessoas em apenas 10 dias, fez com que o Médicos Sem Fronteiras fizesse algo inédito, que foi clamar por uma intervenção armada internacional. A organização disse que eles não eram capazes de acabar com um genocídio.
1996: Novamente no Rio de Janeiro, a organização internacional elaborou o Programa de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST) e Aids.
Esses foram alguns dos trabalhos realizados pelo MSF ao redor do mundo.
Nobel da Paz
Por conta dos seus inúmeros trabalhos humanitários, a organização foi escolhida para receber o Prêmio Nobel da Paz de 1999, “em reconhecimento ao trabalho humanitário pioneiro em diversos continentes” e para homenagear os médicos responsáveis por ajudar inúmeras pessoas.
No discurso de recebimento do prêmio, o então presidente do conselho internacional do MSF, o Dr. James Orbinski, condenou publicamente a Rússia pela violência contra civis na Chechênia. Esse acontecimento demonstrou que o MSF não oferece apenas cuidados médicos, mas também aproveitam do seu importante papel para falar em nome das pessoas que sofrem injustiças e cujas vozes são caladas.
O Médicos Sem Fronteiras continua em atuação, salvando milhares de vítimas ao redor do mundo. Esses profissionais também se expõem ao risco para salvar vidas, mas nem por isso eles desistem de ajudar o outro e de lutar contra as injustiças que as pessoas sofrem.
“O silêncio tem sido, há tempos, confundido com neutralidade, e apresentado como condição necessária para a atuação humanitária. Desde o começo, MSF se estabeleceu em oposição a essa máxima. Não estamos certos de que as palavras podem sempre salvar vidas, mas sabemos que o silêncio pode, certamente, matar.”
Dr. James Orbinski