O objetivo deste artigo é compreender como a diplomacia cultural e a diplomacia pública podem apoiar o soft power da China. Apesar das semelhanças e da presença de ambas as diplomacias na dinâmica nos Institutos Confúcio (IC), estes conceitos não são iguais. A fim de identificar suas devidas particularidades, o foco desta investigação será os Institutos Confúcio salientando suas respectivas características. Desta forma, será possível analisar como os elementos da diplomacia cultural e da diplomacia pública apoiam os Institutos Confúcio para ser um mecanismo de soft power da China para as relações sino-brasileiras.
As ferramentas metodológicas desta investigação conduzem métodos de pesquisa qualitativa e histórica com uma coleta de dados feita a partir de recursos primários e secundários. A fim de estabelecer uma estrutura viável para a investigação, as principais questões de pesquisa são: Como os conceitos de diplomacia cultural e diplomacia pública apoiam o soft power da China? Por que os Institutos Confúcio podem ser considerados estratégias tanto como diplomacia cultural ou como diplomacia pública? Como o soft power da China atua no Brasil através dos Institutos Confúcio?
Esta pesquisa entende o Instituto Confúcio como mecanismo de soft power com o objetivo de introduzir a República Popular da China (RPC) no mundo e de desenvolver relações amigáveis como os países anfitriões dos IC, neste caso, o Brasil. A diplomacia chinesa tem o objetivo de mostrar ao mundo a ponte entre a cultura tradicional chinesa e a modernidade em meio à um cenário de globalização. A diplomacia pública tem o propósito de conduzir uma narrativa de comunicação sobre a China para a o mundo, moldando uma imagem positiva (HARTIG, 2016).
O primeiro Instituto Confúcio estabelecido no Brasil foi em 2008 e, um ano depois, a China tornou-se o maior parceiro econômico do Brasil. Há uma necessidade crescente de fortalecer os laços entre China e Brasil nas mais diversas áreas, desde a econômica e financeira, assim como as esferas social e cultural. A partir deste argumento, a presente investigação deve destacar como os elementos da diplomacia cultural e da diplomacia pública podem contribuir para o desenvolvimento do soft power da China e, em última instância, para as relações sino-brasileiras.
Perspectivas de Soft Power
Joseph Nye Jr., notório professor da Universidade de Harvard, quem, desde a década de 1970, tem contribuído para a escola Neoliberal Institucionalista das Relações Internacionais, cunhou o termo soft power em artigos publicados nos anos 1980; e nas décadas seguintes, publicou ‘Soft power: The Means to Sucess in World Politics’ (2004). No prefácio de sua obra, ele afirma: “Quando suas políticas são vistas como legítimas aos olhos dos outros, nosso soft power é reforçado (NYE, 2004)”. Assim, Nye divide o soft power em três vertentes principais a fim de explicar seu impacto na sociedade internacional, sendo eles: cultura, valores políticos e políticas externas.
Joseph Nye argumenta que o poder brando (soft power) “é o outro aspecto do poder que ocorre quando um país consegue que outro país queira o que este quer, em contraste com o poder duro ou poder de comando (hard power) de ordenar que outros façam o que ele quer”. O poder de atração tem sido um instrumento importante para líderes políticos e filósofos usarem agendas políticas e/ou quadros de debates como forma de moldar as preferências dos outros. Os Estados são agora capazes de legitimar seu poder tornando sua cultura e ideologia mais atraentes, o que significa que o ‘poder’ está gradualmente se tornando menos transferível, menos coercitivo e menos tangível (NYE, 2004). Desta forma, os meios econômicos e militares tendem a assumir formas de hard power, enquanto as esferas culturais e ideológicas de soft power.
Desde o estabelecimento da RPC, o intercâmbio people-to-people (interpessoal) tem se tornado cada vez mais importante para proporcionar à China um canal para estabilizar e aprofundar as relações com outros países, promover a cooperação e o diálogo tanto em nível bilateral quanto multilateral. Durante as primeiras décadas do Novo Milênio, o governo chinês tem reivindicado fortemente a adoção de medidas de soft power como parte da grande estratégia para alcançar um desenvolvimento pacífico. Além de o ex-presidente Hu Jintao e o atual presidente chinês Xi Jinping enfatizarem a necessidade de aumentar o soft power da China, os Livros Brancos sobre relações exteriores chinesas destacam a sua importância. Em 2017, o 17º relatório do Congresso do Partido Comunista da China incentiva a China a “melhorar a cultura como parte do soft power de nosso país para melhor garantir os direitos e interesses culturais básicos do povo” (WANG, 2008). Neste sentido, os Institutos Confúcio são potenciais mecanismos de soft power para acelerar estes laços culturais.
Enquanto o mundo inteiro conhece a cultura chinesa por sua tradição milenar, sua cultura ainda não apresenta valores popularmente universais, como a indústria cultural dos Estados Unidos, por exemplo. As culturas não-ocidentais não possuem a mesma popularidade quanto as ocidentais, considerando que a complexidade existente muitas vezes se torna intimidante e não tão glamorosa aos olhos de estrangeiros. Este cenário, no entanto, já está se transformando, considerando a indústria cultural japonesa e sul-coreana. À vista disso, a China está investindo em larga escala na divulgação de sua cultura para que o mundo a compreenda em meio a menos estereótipos.
Uma tentativa estratégica da China em difundir seu soft power é através da disseminação de sua língua e cultura, o que permite uma melhor compreensão do país e, consequentemente, uma possível redução das imagens superficiais negativas da China. Neste sentido, o Instituto Confúcio é um aspecto relevante do soft power da China ao incentivar a população estrangeira a aprender o mandarim – idioma oficial (普通话 – putonghua) (ZHAO, 2010); a cultura tradicional chinesa; além de promover programas de intercâmbio que atraem estrangeiros à China.
Instituto Confúcio como diplomacia cultural
As origens da diplomacia cultural moderna datam desde o final do século XIX na Europa, em que grupos intelectuais e artistas das elites liberais estabeleceram diferentes organizações culturais estrangeiras como políticas nacionalistas com o objetivo de disseminar sua língua e cultura de origem. A França foi o país pioneiro da diplomacia cultural com a criação da Aliança Francesa. A China, no início dos anos 2000, seguiu o mesmo padrão com o estabelecimento dos Institutos Confúcio.
Segundo Patricia M. Goff, professora associada no departamento de Ciência Política da Universidade Wilfrid Laurier, a diplomacia cultural cria duas premissas. A primeira diz que boas relações podem se enraizar no terreno fértil do entendimento e do respeito. Enquanto a segunda premissa repousa no pressuposto de que arte, linguagem e educação são os pontos de entrada mais significativos na cultura. A diplomacia cultural se baseia em um espectro de abordagens ideacionais da diplomacia (GOFF, 2013).
Dentre o vasto número de características que a diplomacia cultural pode acessar, é relevante enfatizar que existem inúmeros aspectos que podem ser de difícil compreensão pelos estrangeiros. Os intercâmbios estudantis, por exemplo, oferecem oportunidades individuais de transmissão deste tipo de conhecimento a respeito de uma sociedade e suas respectivas particularidades. Este é um ponto específico onde os Institutos Confúcio e outros centros culturais e linguísticos chineses operem ativamente. As autoridades chinesas e o mundo acadêmico reconhecem as limitações de traduções e a dificuldade de compreender plenamente uma cultura diferente, razão pela qual o aprendizado do mandarim é fortemente encorajado.
Instituto Confúcio como diplomacia pública
O termo diplomacia pública foi cunhado pelo ex-diplomata americano Edmund Gullion em meados da década de 1960 com o objetivo de estabelecer uma distância entre as atividades de informação governamental no exterior e o termo ‘propaganda’, que, no então cenário de Guerra Fria, adquiriu um significado pejorativo.
Falk Hartig, pesquisador no pós-doutorado da Universidade Goethe de Frankfurt, sugere que a China tem como objetivo mostrar uma imagem de uma nação apoiadora da paz, vítima de agressão estrangeira, oponente da hegemonia, país em desenvolvimento, cooperador internacional e grande potência. Enquanto parte da população do Ocidente compartilha a visão da China como um país socialista e aceitam sua imagem como um país emergente, os mesmos rejeitam a imagem como um cooperador internacional e apoiadora da paz. (HARTIG, 2016).
Esta é a principal razão pela qual a diplomacia pública desempenha um papel importante na agenda da política externa chinesa. Ao ensinar a língua e a cultura chinesa, os estrangeiros têm a oportunidade de melhor entender o modo de pensar na perspectiva chinesa. Uma vez entendida a intenção da China em relação ao mundo, as imagens negativas podem ser reduzidas permitindo que as parcerias aconteçam em meio a uma dinâmica com menos obstáculos, pré-conceitos, desconfiança e medo. Portanto, o Instituto Confúcio é uma relevante vertente da diplomacia pública chinesa no processo de divulgação da cultura e a língua chinesa.
Instituto Confúcio no Brasil
O Hanban, Escritório do Conselho Internacional de Língua Chinesa, é uma organização que coordena institutos, compreende representantes de 12 ministérios estaduais e opera o Instituto Confúcio. O IC é uma plataforma de intercâmbio cultural estabelecida pelo governo chinês operando em parceria com universidades e instituições educacionais estrangeiras. O primeiro instituto foi estabelecido em 2004 na Coréia do Sul; e até 2018, 149 países estabeleceram 550.000 Institutos Confúcio e mais de 1.100 Salas Confúcio ao redor do mundo, o que mostra o significativo progresso em termos de expansão do soft power da China através da disseminação da educação e cultura (XINHUA, 2018).
Desde o estabelecimento das relações diplomáticas em 1974, China e Brasil tem mantido um relacionamento consideravelmente estável. Em 1993, o presidente Itamar Franco e o presidente chinês, Jiang Zeming, lançaram a ‘Parceria Estratégica’ entre ambos países (MRE, 2020) – uma parceria estratégica crucial realizada entre dois grandes países em desenvolvimento com status semelhante de liderança regional. O objetivo consta em desenvolver uma cooperação duradoura, estável e estrategicamente viável em meio a um cenário de win-win (ganhar-ganhar, em que ambos se beneficiam).
Entretanto, pode-se afirmar que a relação China-Brasil no Novo Milênio se tornou consideravelmente mais promissora. Um importante marco na esfera de cooperação sociocultural foi o Programa Executivo de Cooperação Educacional Sino-Brasileira assinado para o período de 2006-2008, o qual diz respeito ao ensino da língua portuguesa e do mandarim através do reconhecimento mútuo de diplomas de educação superior, a criação de Institutos Confúcio, a organização do Exame de Língua Chinesa (HSK) e do Exame de Língua Portuguesa (Celpe-Bras) (ANEXO A, 2016). Em 2008, o primeiro Instituto Confúcio foi estabelecido no Brasil.
De acordo com o site da Hanban, em termos absolutos, entre os 40 Institutos Confúcio presentes na América Latina, o Brasil conta com 11, o que significa que 27,5% dos IC latino-americanos estão localizados em território brasileiro. Além dos 11 Institutos Confúcio, existem 3 Salas Confúcio. No estado de São Paulo, há três IC filiados a três grandes universidades paulistas. A UNESP (Universidade Estadual Paulista) é uma universidade pública estadual com sede na cidade de São Paulo – IC mais antigo e estruturado do país – e com salas em 13 diferentes cidades paulistas. Ademais, a UNESP também criou duas outras salas Confúcio fora do estado de São Paulo, uma na UFMA (Universidade Federal do Maranhão) e outra na UFAM (Universidade federal do Amazonas).
Cada IC tem o compromisso de promover a língua e a cultura chinesa. Entretanto, cada Instituto também possui suas particularidades que o caracterizam como único. Enquanto alguns são mais focados em estudantes universitários com o intuito de promover a língua e cultura de maneira mais generalizada, outros são mais focados em empresários em que o ensinamento do idioma também pode assumir um viés para o mundo dos negócios (PARADISE, 2009). Os IC com foco em chinês para negócios são mais restritos e, portanto, selecionados. No Brasil, o IC da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado) é o único com esta característica e marca um ponto importante na história dos IC no Brasil.
O governo chinês, juntamente com a Hanban, já tem um programa bem estruturado sobre o que e como os estrangeiros devem aprender a respeito da China. Como mostra a experiência da última década, as aulas de caligrafia, chá e Tai Chi Chuan, independentemente de seu valor tradicional e milenar, não são mais suficientes para atrair o interesse dos estrangeiros. A UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), além da parceria com o Instituto Confúcio, também estabeleceu parcerias com outras 10 universidades chinesas para intercâmbio de estudantes e conhecimentos gerais em diferentes áreas. Além disso, a UNICAMP tem importante cooperação com institutos de pesquisa, tais como o Academia Chinesa de Ciências Sociais e o grupo de estudos Brasil-China.
Com a maior demanda de profissionais com conhecimento da língua e cultura chinesa, os IC estão constantemente tentando inovar. Neste sentido, além da parceria de universidades chinesas e brasileiras com os IC, empresas também tem sido potenciais alvos, assim como organizações socioculturais públicas e privadas com o objetivo de promover as relações sino-brasileiros nos mais diversos âmbitos. Exemplo dessas parceiras são: o Instituto Cultural Brasil-China, o Ibrachina, o Consulado Geral da China, a Câmara de Desenvolvimento Econômico Brasil-China, entre outros (IBRACHINA, 2019).
Um exemplo relevante de uma destas parcerias inovadoras que faz uso de estratégias de diplomacia cultural e diplomacia pública é a CPFL Energia, empresa brasileira que agora tem 54,64% de sua participação acionária controlada pelo grupo chinês State Grid desde 2017 (FIA, 2019). Uma vez transferido o controle da empresa para mãos chinesas, e, a fim de reduzir o choque cultural para os trabalhadores e para a comunidade local, a empresa lançou novas iniciativas com o Instituto Confúcio da UNICAMP na cidade de Campinas, estado de São Paulo.
Entre as atividades promovidas, representantes chineses e brasileiros, acadêmicos e executivos foram convidados para palestrarem e darem aulas sobre uma diversa gama de assuntos culturais relacionados à China – exemplo de diplomacia cultural. A empresa também patrocinou um festival internacional de cinema com filmes autênticos chineses, o que para muitas pessoas marcou sua primeira experiência, uma vez que a maioria dos brasileiros são mais familiarizados com filmes nacionais brasileiros ou de Hollywood. Estas iniciativas são transmitidas por um programa chamado ‘Café Filosófico’ patrocinado pela CPFL Energia juntamente com outras empresas privadas, além do governo do estado de São Paulo e do governo federal do Brasil. Um canal público de televisão chamado ‘TV Cultura’ transmite este programa, além de estar disponível nas plataformas da Internet. Este exemplo de transmissão de informações por diferentes meios de comunicação, portanto, pode ser caracterizado como uma estratégia de diplomacia pública.
Uma vez que o número de empresas e a influência chinesa cresce no Brasil, as oportunidades de emprego também aumentam. Neste sentido, a demanda por mão-de-obra brasileira qualificada em língua e cultura chinesa tende, consequentemente, a aumentar. Empresas chinesas com filiais em território brasileiro – a BYD, por exemplo – frequentemente entram em contato com Institutos Confúcio pedindo recomendação de pessoas com conhecimento da língua e cultura chinesa. O povo e as autoridades chinesas reconhecem a dificuldade para um estrangeiro aprender o mandarim (PRUDENCIANO, 2009). Entretanto, sabe-se também que, para aprender a língua chinesa, é necessário conhecer – pelo menos em um nível básico – a cultura e, para isso, o interesse e a curiosidade são fatores essenciais para que o processo de aprendizado flua de maneira mais amena, tendo em vista a dificuldade do processo.
A demanda de estudantes brasileiros para aprender mandarim e cultura chinesa tem tido um aumento significativo nos últimos anos e a tendência é a de que continue aumentando. A maioria deste público são executivos ou estudantes universitários com perspectivas de algum tipo de relacionamento com a China, independente da área de atuação. Este cenário está agora se alargando aos jovens estudantes e adolescentes através dos Institutos Confúcio. No entanto, um obstáculo que os IC enfrentam é que a demanda para aprender chinês com professores e tutores qualificados está superando o que é realmente ofertado – há uma deficiência no número destes profissionais qualificados para aprender o idioma e a cultura no longo prazo (MARIANI, 2018). A maioria dos estudantes chineses que se formam em linguística com foco na língua portuguesa tendem a seguir uma carreia empresarial ou governamental, o que resulta em um número limitado de graduados que escolhem seguir a profissão na área de educação. A principal consequência é que vários dos educadores dos IC no Brasil são jovens voluntários com pouco conhecimento de português e, portanto, levando a problemas de comunicação em sala de aula (YE, 2015).
A China possui mais de 20 universidades na quais o departamento de linguística oferece cursos de português. Apesar do impressionante número de cursos disponíveis, a quantidade de profissionais fluentes qualificados na língua portuguesa não atende à demanda total, considerando que o Brasil não é o único parceiro da China que fala o português. Enquanto existem mais de 2.500 universidades ao redor do mundo que possuem cursos superiores de linguística com foco em língua chinesa, o Brasil conta com apenas uma, a USP – Universidade de São Paulo.
É precisamente neste ponto onde o Instituto Confúcio pode proporcionar um cenário win-win tanto para a China quanto para o Brasil. Uma vez que o a vasta maioria das universidades brasileiras não oferecem educação superior em mandarim, o IC pode contribuir para a educação do povo brasileiro neste aspecto. Os IC, juntamente com outras instituições, trabalham para promover uma aliança mais forte entre os países parceiros em prol não apenas da esfera econômica e financeira, mas também para fortificar os laços socioculturais. Este intercâmbio cultural e acadêmico representa um grande potencial para as cooperações sino-brasileiros, em que se forma uma nova geração de intelectuais, gestores públicos e executivos com conhecimento da língua e cultura chinesa (PAULINO, 2019).
Em geral, os IC contribuem para que o povo brasileiro tenha melhores chances de empregos, maior conhecimento cultural, e prosperidade profissional. Portanto, como afirma o embaixador José Alfredo Graça Lima, o acordo de trazer os Institutos Confúcio ao Brasil está entre os resultados mais frutíferos da Parceria Estratégica Global (LIMA, 2016).
Considerações Finais
O termo soft power foi cunhado por Joseph Nye, entretanto, diferentes autores ao redor do mundo adotam o termo em suas próprias narrativas. No século XXI, o governo chinês adota o soft power como um aspecto importante de sua política externa. A base da confiança, o intercâmbio people-to-people e o desenvolvimento pacífico são elementos que caracterizam a perspectiva chinesa do soft power. As barreiras culturais e linguísticas, estereótipos enraizados, o sistema político único chinês e a complexidade do rápido desenvolvimento econômico são talvez as principais razões pela quais a China é alvo de medo, desconfiança e preconceito.
A fim de mudar este cenário, a China tem investido em larga escala em sua diplomacia cultural e pública. Os Institutos Confúcio compartem um ramo comum de ambas as diplomacias através da disseminação da língua e da cultura chinesa. Os chineses acreditam que, uma vez que os estrangeiros compreendam melhor a China, estes obstáculos poderão ser reduzidos e seus interessas nacionais poderão ser alcançados pacificamente. A promoção dos Institutos Confúcio, portanto, baseia-se em manobras não-coercitivas atraindo o interesse dos estrangeiros a compreender a China, um mecanismo de soft power.
Embora a diplomacia cultural, a diplomacia pública e o soft power da China estejam sob o controle do governo central, outros atores não-estatais também estão cada vez mais envolvidos. O Instituto Confúcio é “uma forma de diplomacia cultural e de diplomacia pública patrocinado pelo Estado e conduzido por universidades com o objetivo de construir uma rede de parcerias entre a China e o mundo (PAN, 2019)”. A China preza pela sua cultura tradicional adaptada à modernidade e luta ativamente para construir uma imagem melhor aos olhos do mundo estrangeiro. Estas medidas de diplomacia cultural e de diplomacia pública, portanto, visam apoiar a construção e a manutenção do soft power da China em todo o mundo, inclusive no Brasil. Vale ressaltar, no entanto, que nem toda medida de diplomacia cultural e pública visa necessariamente a promoção do soft power, mas que podem auxiliar este processo no âmbito dos Institutos Confúcio.
Após inúmeros diálogos e o crescente papel da China como parceiro econômico do Brasil, ambos os países chegaram a um consenso sobre a necessidade de aprender e melhorar seus conhecimentos mútuos. O Instituto Confúcio, neste sentido, é um dos vários canais de educação da língua e cultura chinesa para parte da população brasileira. Apesar de qualquer pessoa poder frequentar os IC – independente de idade, carreira e nível de conhecimento – o maior público são estudantes universitários e executivos com interesse em estabelecer e/ou melhorar suas oportunidades de emprego ou negócio com a China.
Desde 2008 até o presente momento, é notável o crescimento dos Institutos Confúcio, assim como suas atividades e parcerias inovadoras. Além dos cursos de idiomas e das tradicionais classes culturais, os IC têm estabelecido uma maior variedade de conexões com empresas chinesas, aprimorado suas atividades de transmissão de conhecimento e informação e estão constantemente tentando inovar a fim de proporcionar um ambiente mais atraente para os cidadãos brasileiros. Os Institutos Confúcio, portanto, prezam por características de diplomacia cultural e de diplomacia pública e atuam como mecanismos de soft power da China no Brasil. Vale ressaltar, no entanto, que ainda existe espaço para aprimorar o diálogo entre a China e o Brasil, além de haver um grande potencial a ser explorado para melhorar as relações sino-brasileiras.
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