No dia 1ª de julho de 1991, o Pacto de Varsóvia foi oficialmente extinto no leste europeu, após a realização de uma cúpula entre os líderes do bloco militar, em Praga, capital da então Tchecoslováquia. Durante a Guerra Fria, o continente europeu foi palco de atuação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e do Pacto de Varsóvia, principalmente no que tange aos seus objetivos geoestratégicos de assegurar as suas áreas de influência. Pode-se mencionar que a dissolução do bloco de segurança oriental começou a partir de 1989, quando a derrubada dos governantes comunistas nas nações satélites iniciou o processo de transição política no leste da Europa.
Sendo assim, os eventos políticos que ocorreram no leste da Europa, no intervalo entre 1989 até 1991, são significativos para compreendermos a atual conjuntura política e militar do leste europeu. Atualmente, as ex-membros do Pacto de Varsóvia construíram alianças estratégicas com os Estados Unidos; e inclusive tiveram as suas candidaturas oficializadas na OTAN Desse modo, o presente marco histórico nos permite compreender os impactos geopolíticos que a dissolução do Pacto de Varsóvia possibilitou para o alargamento da OTAN no leste da Europa.
Antecedentes da criação do Pacto de Varsóvia
A Guerra Fria, que ocorreu entre 1945 até 1991, foi um período marcado pela bipolaridade no sistema internacional entre os Estados Unidos e a União Soviética. Durante esse período, americanos e soviéticos rivalizaram pela expansão de suas influências política, ideológica e militar para inúmeras regiões. Na Europa, americanos e soviéticos formaram dois grandes blocos militares antagônicos: a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), liderada pelos Estados Unidos e concentrada na porção ocidental do continente; e o Pacto de Varsóvia, comandada pela União Soviética, e formada pelas nações satélites localizadas no leste da Europa.
Fundada em 1949, a OTAN era composta, além dos Estados Unidos e do Canadá (nações atlânticas), por países europeus, representados pela Bélgica, Holanda, Luxemburgo (BENELUX), Dinamarca, Islândia, Itália, França, Portugal, Noruega e o Reino Unido. Logo, o objetivo estratégico da OTAN consistia em reforçar os laços euro atlânticos entre os Estados Unidos (nação líder) com a Europa Ocidental. Por outro lado, em 1955 surgiu o Pacto de Varsóvia, aliança militar que a União Soviética desenvolveu junto às nações europeias situadas no leste da Europa. Desse modo, o continente europeu permaneceu atrelado sob a influência de duas grandes potências militares e nucleares até 1991, ano que marcou a derrocada do bloco militar, e inclusive da União Soviética.
A fundação do bloco militar soviético (1955)
Criada com o objetivo geoestratégico de reforçar a sua influência política e militar no bloco do leste europeu, a União Soviética, acuada pela criação da OTAN, e posteriormente com a inclusão da Alemanha Ocidental, em 1955, estabeleceu a sua aliança militar como uma contrarresposta frente à criação da Aliança Atlântica pelos Estados Unidos. Sendo assim, o Pacto de Varsóvia foi constituído pela liderança da União Soviética e composta pelos Estados-satélites situados no leste europeu: Polônia, Tchecoslováquia (atual República Tcheca e a Eslováquia), extinta Alemanha Oriental (também conhecida por República Democrática Alemã, RDA), Hungria, Romênia, Bulgária e a Albânia. Também é importante mencionar que a Albânia e a Iugoslávia, duas nações comunistas durante a Guerra Fria, optaram pela neutralidade, sendo que os albaneses até chegaram a ingressar no bloco militar em 1955; não obstante, optaram pela sua retirada em 1968.
Dentre as suas premissas centrais, Moscou buscou utilizar o Pacto de Varsóvia com o objetivo estratégico e militar para assegurar a sua influência política e ideológica nos países satélites do leste europeu. Além disso, prevalecia os interesses pelo fortalecimento de seu poderio militar convencional, forças militares terrestres, contra quaisquer ameaças provenientes das nações membros da Aliança Atlântica. No mapa abaixo, as nações membros da OTAN estão representadas em azul, enquanto os países-membros do Pacto de Varsóvia estão classificados pela cor vermelha.
É importante destacar os principais eventos geopolíticos nos quais o Pacto de Varsóvia se envolveu no continente europeu. Em 1961, a crise de Berlim elevou as tensões militares entre a OTAN e o Pacto de Varsóvia ao seu ápice, quando as forças militares dos Estados Unidos e da União Soviética estiveram próximas de um possível desencadeamento de um confronto militar. A proximidade dos blindados americanos e soviéticos frente a frente no Checkpoint Charlie – posto de vigilância militar situado entre a Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental – testemunhou um momento de altíssimo risco real de um confronto que poderia desencadear uma guerra generalizada (KEMPE, 2013, p. 459).
Por outro lado, devido à grande concentração de tropas soviéticas situadas nos países do leste europeu, houve dois significativos momentos em que Moscou necessitou intervir incisivamente para fins de conter a ascensão de agitações populares críticas à interferência soviética. Em 1956, a União Soviética precisou conter a ascensão do nacionalismo na Polônia e na Hungria, países satélites que se rebelaram contra a interferência política de Moscou.
Posteriormente, a fim de conter um potencial risco de agitação social nos países satélites, em 1968, Moscou enviou tropas militares do pacto de Varsóvia para intervir na Tchecoslováquia, após a liderança política tentar uma aproximação com o Ocidente – evento que ficou caracterizado como a Primavera de Praga. Sendo assim, a intervenção do Pacto de Varsóvia na capital da antiga Tchecoslováquia, em Praga, foi um claro sinal que Moscou rejeitava quaisquer mudanças políticas e ideológicas no bloco das nações do leste europeu (LOWE, 2011, p. 225).
Entretanto, no campo de estudos estratégicos, a década de 80 evidenciou uma grande disputa geoestratégica entre os Estados Unidos e a União Soviética, através da OTAN e do Pacto de Varsóvia, pela conquista do centro da Europa: o Fulda Gap e o Front Central da OTAN no coração do território da Alemanha. Sendo assim, em 1982, o professor John Mearshemier desenvolveu dois artigos analisando os conceitos estratégicos que americanos e soviéticos poderiam empregar diante de um possível conflito militar. Assim, “Maneuver, Mobile Defense, and the NATO Central Front” (1982) e “Why the Soviets Can’t Win Quickly in Central Europe” (1982), esclarecem detalhadamente as táticas e estratégicas militares de Washington e Moscou.
O Pacto de Varsóvia atuou como um bloco militar da União Soviética entre 1955 até 1991. Cabe lembrar que os eventos políticos no leste europeu em 1989 impactaram a manutenção do Pacto de Varsóvia, uma vez que, indubitavelmente, as mudanças de regimes nos países satélites influenciaram diretamente a manutenção do bloco militar soviético. Desse modo, iniciando na Polônia e finalizando na Romênia, o ano de 1989 ficou marcado pela derrocada dos governos comunistas (sob a influência de Moscou) nos países do leste europeu, inclusive com a queda do muro de Berlim, grande símbolo da Guerra fria, logo no ano seguinte, a Alemanha seria posteriormente unificada – e administrado com um governo de caráter ocidental.
No dia 1ª de julho de 1991, o Pacto de Varsóvia foi dissolvido pela União Soviética (URSS), após ter atuado no tabuleiro geopolítico como uma aliança militar antagônica às forças da OTAN na Europa. Sendo assim, após a sua dissolução, os países que faziam parte do Pacto de Varsóvia se aproximaram do Ocidente; e posteriormente foram incluídos na Aliança Atlântica.
Impactos geopolíticos do leste europeu no pós-1991
Após a dissolução do Pacto de Varsóvia e da União Soviética, ambos os eventos ocorridos em 1991, o sistema internacional entrou numa nova fase geopolítica. Assim, os Estados Unidos assumiram a posição de única potência no cenário internacional, e a OTAN se manteve atuante mesmo com o término da aliança militar oriental – passando por um processo de reordenação nas suas premissas estratégicas para o período pós-Guerra Fria. Desse modo, a década de 90 foi caracterizada como o período de expansão dos Estados Unidos para o leste europeu, região que outrora esteve sob a influência da União Soviética através dos Estados satélites.
Assim, em 1990, dois grandes eventos impactaram o processo de alargamento da OTAN na Europa. Primeiro, os Estados Unidos inauguraram a etapa das primeiras conversações com as nações do leste europeu, através da cúpula sediada em Londres. Segundo, com a unificação da Alemanha, o território da Alemanha Oriental foi incorporado ao bloco atlântico. Posteriormente, as cúpulas seguintes sediadas em Roma (1991), Bruxelas (1994) e Madrid (1997), aproximaram os Estados Unidos e a Aliança Atlântica com o leste europeu, o que levou à primeira fase de alargamento da OTAN em 1999, após a reunião em Washington oficializar a inclusão da Polônia, República Tcheca e a Hungria – ex-membros do extinto Pacto de Varsóvia.
Na atual conjuntura política, a Aliança Atlântica é composta por trinta países-membros; inclusive, as nações que compunham o antigo Pacto de Varsóvia – exceto a Rússia – ingressaram na OTAN. Desse modo, o alargamento do bloco atlântico permitiu que os Estados Unidos pudessem expandir a sua influência política e militar no leste europeu.
Considerações finais
Criada com o objetivo estratégico de assegurar o leste europeu sob a sua influência, a União Soviética estabeleceu o Pacto de Varsóvia como uma medida de segurança para fins de conter qualquer ameaça da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na porção oriental da Europa. A importância de analisar a data histórica da dissolução do Pacto de Varsóvia consiste em compreender quais foram os impactos geopolíticos que o término do bloco militar acarretou para as nações do leste europeu.
Logo, com o vazio estratégico da Europa Oriental deixado pela também extinta União Soviética em 1991, no período pós-Guerra Fria, os Estados Unidos iniciaram conversações com as nações do leste europeu, sendo que, posteriormente, as ex-membros do Pacto de Varsóvia foram admitidas na OTAN. Por outro lado, a Rússia (sucessora da União Soviética) além de não ser incluída no bloco atlântico, trabalha atualmente a sua política externa com o objetivo de reforçar as suas posições militares diante do alargamento da Aliança Atlântica no leste europeu.
Referências bibliográficas:
KEMPE, Frederick. Berlim: 1961: Kennedy, Khruschov e o lugar mais perigoso do mundo. 1ª Ed. São Paul: Companhia das Letras, 2013.
LOWE, Norman. História do Mundo Contemporâneo. 4ª edição. Porto Alegre: Penso, 2011.
MEARSHEIMER, John. Maneuver, Mobile Defense, and the NATO Central Front. International Security, Winter 1981/82 (Vol. 6, No. 3).
MEARSHEIMER, John. Why the Soviets Can’t Win Quickly in Central Europe. International Security, Summer 1982 (Vol. 7, No. 1).