Andrew Carnegie: o evangelho da riqueza e a filantropia
Andrew Carnegie (1835-1919) era escocês, mas mudou-se ainda jovem para os Estados Unidos. Ainda na adolescência, começou a trabalhar no ramo da metalurgia e da siderurgia. Durante a vida adulta, Carnegie era o maior empresário do setor do ferro e do aço. Em sua autobiografia, o escocês afirma ter vendido sua empresa para J. P. Morgan, uma das grandes fortunas da história estadunidense. Com isso, Carnegie tornou-se um dos homens mais ricos dos Estados Unidos.
Entretanto, Andrew Carnegie logo tornou-se conhecido por feitos que iam além dos seus êxitos profissionais. Ele é descrito até hoje, em quase todos os relatos existentes sobre ele, não apenas como um grande empresário e uma das maiores fortunas da era contemporânea, mas sim como um idealista em prol da paz mundial e um homem que não fazia distinção no trato com as pessoas. Ao se aposentar, o empresário escocês, aos poucos, tornou-se um grande filantropo.
Entretanto, Carnegie (1889) criticava a filantropia sem propósito e enaltecia maneiras de realmente se fazer o bem por meio dela. Segundo ele, “o homem que morre rico, morre em desgraça” (CARNEGIE, 1889, p. 685). Porém, sempre alertava para o fato de “quem tem excedente de riqueza dá milhões a cada ano, pode produzir mais mal do que bem, e realmente retardar o progresso das pessoas” (CARNEGIE, 1889, p. 686). Sendo assim, o escocês elogiava alguns tipos específicos de filantropia.
Um tipo de filantropia bastante destacada nos escritos de Carnegie (1889) são as doações para a criação e manutenção de universidades e institutos que promovem conhecimento. Neste sentido, o filantropo ressalta instituições como a Stanford, a Hopkins, a Cornell, a Packer, entre outras. Um segundo tipo de benfeitoria citado por Carnegie (1889) são as doações para a fundação de bibliotecas públicas. Mas, mais do que isso, ele enaltecia as doações realizadas em vida.
Em o Evangelho da Riqueza, escrito em 1889, Carnegie evidencia suas aspirações como filantropo e estabelece quais seriam as obrigações morais e práticas de todos aqueles que detêm grandes fortunas. Sendo assim, Carnegie se tornou um exemplo para as gerações futuras e, consequentemente, para os futuros milionários ou bilionários da filantropia. Afinal, ele não se contentou apenas com um discurso ou um guia de como deveriam ser feitas benfeitorias para a humanidade, Carnegie doou grande parte de sua riqueza para a fundação de diversos institutos.
Entre os anos de 1890 e 1913, o Carnegie Hall, o Palácio da Paz, o Instituto Carnegie de Pittsburgh, o Instituto Carnegie de Washington, a Corporação Carnegie de Nova York, o Carnegie Endowment for International Peace e a Universidade Carnegie Mellon. Neste breve artigo, será tratado com mais especificidade a fundação e o funcionamento do Instituto Carnegie de Washington.
Fonte: Biografia de Andrew Carnegie
A fundação do Instituto Carnegie de Washington, Vannevar Bush e o Projeto Manhattan
O Instituto Carnegie de Washington (CIW, sigla em inglês) foi fundado em 1902 com doações do empresário e filantropo Andrew Carnegie para o fomento de pesquisas científicas em diversas áreas e diversos ramos que as englobam. O Instituto foi importante para a atuação estadunidense na Segunda Guerra Mundial. Em especial, para o Projeto Manhattan, por intermédio de Vannevar Bush.
Vannevar Bush foi nomeado presidente do Instituto Carnegie de Washington, atuando entre 1938 e 1955. Após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, Bush convenceu o então presidente Franklin D. Roosevelt a criar o Comitê de Pesquisa de Defesa Nacional, no intuito de facilitar as pesquisas e o avanço científico em meio ao conflito. À frente da presidência do Instituto e do Comitê, Vannevar Bush deu os passos iniciais para o Projeto Manhattan.
Vale ressaltar que o Projeto Manhattan ocorreu totalmente em segredo e com o auxílio de pesquisas realizadas dentro do Instituto Carnegie de Washington. Ademais, as bombas atômicas desenvolvidas durante o Projeto e que atingiram Hiroshima e Nagasaki foram, em grande parte, responsáveis pela vitória dos Aliados e pelo fortalecimento dos Estados Unidos.
O Instituto Carnegie de Washington na atualidade
Desde 2007, houve uma mudança no nome para diferenciá-lo dos demais institutos Carnegie. Portanto, a partir deste momento o Instituto Carnegie de Washington passou a se chamar Instituto Carnegie para Ciência (Carnegie Institute for Science, CIS). A sede do Instituto fica localizada na capital dos Estados Unidos e conta ainda com o observatório Las Campanas, localizado no Chile.
Vale destacar que ao longo da sua existência, o Instituto abrigou pesquisadores bastante renomados como Charles Richter, o criador da Escala Richter, responsável pela medição de terremotos; Andrew Fire e Barbara McClintock, ganhadores do Prêmio Nobel por seus estudos na área da genética; e Edwin Hubble, o responsável pela descoberta da expansão do Universo e da existência de outras galáxias, revolucionando os estudos sobre o Espaço. E assim, segue a trajetória do Instituto através de seus membros eméritos e de alunos de pré e pós-doutorado, além da realização de seminários, palestras e divulgações científicas.
Atualmente, o Instituto atua no fomento de pesquisas científicas com temas bastante contemporâneos de diversos setores, podendo citar: ecologia (metamorfose de anfíbios, biogeoquímica marinha, oceanografia química, biología vegetal, etc.), geofísica e geoquímica, genética (embriologia, genoma humano, doenças genéticas, etc.), astronomia (cosmoquímica, astrofísica teórica, astronomia observacional, dinâmica estelar, etc.).
Porém, há uma grande polêmica envolvendo um dos prédios do Instituto Carnegie de Washington. O prédio de belas artes do Instituto foi vendido ao Catar, em 2021, sob protesto. O temor de alguns alunos e professores é que essa negociação seria contrária aos pensamentos de Andrew Carnegie, considerando que o Catar seja um país que além de não promover avanços científicos, possui uma postura distante dos preceitos declarados pelos Direitos Humanos.
Segundo o atual presidente do Instituto, Dr. Eric Isaacs, a decisão contestada pela comunidade científica é uma medida que faz parte da reestruturação, não apenas do Instituto, mas da corporação Carnegie como um todo. Portanto, várias questões foram ponderadas, entre elas o custeio e o fomento das pesquisas que são extremamente altas, culminando assim com a venda do prédio ao Catar.
Vale ressaltar que a maioria dos observatórios que compõem a pesquisa do Instituto Carnegie de Washington já não se encontram localizados na capital do país, e sim, em Pasadena, na Califórnia. Neste sentido, a venda arrecadada com esta venda serviria para financiar ainda mais as pesquisas que já ocorrem entre o Instituto e o Instituto de Tecnologia da Califórnia (CalTech, sigla em inglês), além da construção de um novo prédio.
Referências
CARNEGIE, A. The Best Fields for Philantropy, The North American Revise, v. 149, n. 397, 1889. Disponível em: < https://www.jstor.org/stable/25101907>. Acesso em: 09 nov. 2021.