Introdução
A revolução Yemeni, que o mundo testemunhou no ano de 2011, abalou diversas estruturas da nação, sendo gerada por impactos históricos e político-econômicos. Para analisar o evento de forma mais completa, ainda que resumindo determinadas partes, será abordado ao longo do texto dois pontos principais da revolução: suas causas e impactos. Desse modo, será possível absorver um conhecimento amplo do acontecimento e como ele se comportou dentro de seu contexto geopolítico.
Deve-se lembrar também que a revolução Yemeni ocorre dentro do período da Primavera Árabe, evento que certamente possui importância para ser destacado, ainda que não necessariamente uma causa. Além disso, tratar-se-á das causas de anos anteriores, com exceção da unificação do Iêmen em 1990, que será trabalhado mais adiante. Nesse sentido, pode-se avançar para as explicações que tiveram implicação direta no sentido de causa para a revolução.
Causas
Como já citado, deve-se inicialmente trabalhar uma das razões que contribuíram para conflitos sociais internos da nação, a unificação entre a República Árabe do Iêmen ( na parte norte) e a República democrática do Iêmen (na parte sul) em 1990. Charles Dunbar, embaixador dos Estados Unidos da América na República Árabe do Iêmen e posteriormente na República do Iêmen, descreve algumas razões pela qual houve pressa no processo de unificação do país. Uma delas é a mudança do clima do cenário político internacional trazido pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) na década de 1980, alterando a forma de relação do grupo com demais nações (DUNBAR, 1992).
Consequentemente, a realização desse processo em um curto espaço de tempo trouxe dificuldades imediatas, citando a dificuldade em padronizar o sistema de salários e a reforma agrária (DUNBAR, 1992) e futuras para o seu povo. Uma extensa divisão entre costumes e trejeitos, a formação da República do Iêmen carregou durante os anos uma fagulha do conflito entre sua população norte e sul. Um dos pontos que pode ser levantado para a razão da permanência de um conflito iminente está em suas instituições estatais, que pouco conseguiam fazer para a manutenção de uma democracia (DALACOURA, 2012) ou um sistema político estável.
Análogo a isso, observa-se mais recentemente a sequência de eventos causados pela Primavera Árabe, que teve início em 2010, gerando revoltas e guerras civis internas na região árabe. No cenário do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, que governou a nação República Árabe do Iêmen e posteriormente a República do Iêmen desde sua criação, sofreu intensas pressões internacionais devido seu caráter ditatorial e cedeu uma transição de poder no fim do ano de 2011 graças a iniciativa do Conselho de Cooperação do Golfo (ROLAND, 2015). Entretanto, o período que percorre até a transição de poder é caracterizada por uma forte repressão do governo e conflitos internos, que será abordado no próximo segmento.
Impactos
Chegando a reunir mais de 20 mil indivíduos em um manifesto contra o regime de Ali Abdullah Saleh, a revolução yemeni perdurou durante o ano de 2011 com protestos organizados por entidades civis e sociais. Muitos desses protestos, como citado anteriormente, foram inspirados pelos acontecimentos no Egito e Tunísia no ano anterior – que formam parte igualmente da Primavera Árabe. Além disso, a revolução causou impactos diretos na economia da nação, contribuindo para um efeito contínuo das manifestações.
Utilizando a ferramenta do banco de dados aberto do Banco Mundial, é possível verificar as variâncias de indicadores econômicos e sociais da nação ao longo dos anos. No gráfico abaixo, podemos analisar com mais detalhes alguns dados recorrentes de 2009 até o ano de 2012 a fim de compreender a variação desses anos.
Fonte: Banco Mundial; disponível em: World Development Indicators | DataBank
Observa-se que o Produto Interno Bruto (PIB), juntamente com o PIB per capita, sofreu abates fortes no ano de 2011 – mais precisamente, um índice de -12,7% no PIB e -15,1% no PIB per capita. Desse modo, a desigualdade da distribuição de renda não apenas acompanhou a queda de produção do país, mas a superou em termos percentuais, indicando uma crise interna mais forte do que o aparente. Ademais, também nota-se um aumento na inflação do consumidor – mais precisamente, um índice de 19,5% no ano de 2011 – relatando um outro forte abalo na vida da população.
Análogo a isso, é evidente o transtorno sentido pelos cidadãos ao longo do ano e um desfecho rápido na organização da estrutura política da nação. Foi apenas em novembro de 2011 que o então presidente Ali Abdullah Saleh concordou em renunciar do governo e dar início à transição; em fevereiro de 2012, Abdrabbuh Mansour Hadi assumiu o poder da República do Iêmen. Entretanto, no novo governo formado, houve ausência da representatividade dos jovens e ativistas sociais, assim como representantes dos movimentos autônomos e separatistas (ROLAND, 2015).
Essa não representatividade pode ser tratada como um novo indício do prolongamento da crise enfrentada pela população, perpetuando a instabilidade interna do território Iêmenita, uma vez que as discussões entre o norte e sul não foram concluídas. Nos anos seguintes, observou-se intervenções externas que possuíam o objetivo de controlar a situação, sem um sucesso aparente. Continua-se a ver uma nação fragilizada, que dispõe seus esforços na tentativa em construir uma união interna e o progresso social a partir do fortalecimento de suas instituições (ROLAND, 2015).
Referências
DALACOURA, Katerina. The 2011 Uprisings in the Arab Middle East: Political Change and Geopolitical Implications. International Affairs (Royal Institute of International Affairs 1944-), vol. 88, no. 1, Wiley, 2012, pp. 63–79, Disponível em: < The 2011 uprisings in the Arab Middle East: political change and geopolitical implications >. Acesso em: 20 nov.2021.
DUNBAR, Charles. The Unification of Yemen: Process, Politics, and Prospects. Middle East Journal, vol. 46, no. 3, Middle East Institute, 1992, pp. 456–76, Disponível em: < The Unification of Yemen: Process, Politics, and Prospects >. Acesso em: 20 nov.2021.
POPP, Roland. War in Yemen: Revolution and Saudi Intervention. Zurique: Center For Security Studies (Css), Eth Zürich, 2015. 5 p. Disponível em: < War in Yemen: Revolution and Saudi Intervention – Research Collection >. Acesso em: 20 nov. 2021.