Introdução
Entre os positivistas e pós-positivistas sempre houveram debates em torno de criar melhores métodos e técnicas para pesquisas científicas sociais. No século XIX foram feitas tentativas de universalizar um método único para todas as pesquisas e todas as ciências, mas não foi possível definir este modelo universal, uma vez que as ciências existentes como a física, química, matemática, biologia são ciências de métodos próprios diferentes das ciências sociais e um não poderia se aplicar ao outro. As ciências sociais deveriam ter métodos e técnicas próprias e de relevância para ser considerada um conhecimento seguro, objetivo, racional e sistemático (GIL,2008).
Para os positivistas os métodos tinham que ser subjetivos, ou seja, não poderiam sofrer mudanças pela opinião do pesquisador, já os pós positivistas as pesquisas não necessariamente deveriam ser subjetivas, pois o autor interfere nas opiniões, mesmo que não explícitas nos trabalhos de pesquisas. O principal objetivo das técnicas e métodos é aprimorar os sentidos dos cientistas e organizar suas ideias de modo a tornar única e sistematizada ciência, para se diferenciar de outros conhecimentos empíricos (GIL,2008). Foram desenvolvidas diversas técnicas para estruturar as pesquisas sociais que necessitasse de coletas de dados para sua formulação.
A técnica do questionário e da entrevista são consideradas as mais utilizadas por pesquisadores em todo o mundo, mas elas devem ser utilizadas com sabedoria, tendo relação com o objeto de pesquisa e com o projeto de pesquisa a ser desenvolvido, para não sair do foco e ser bem aplicada. Conhecer um pouco sobre essas técnicas é muito importante para o pesquisador escolher a que melhor se aplica. A técnica do questionário é uma técnica mais fácil de aplicar e mais objetiva, aplica-se em pesquisas com finalidade quantitativa, já a técnica da entrevista em profundidade é uma técnica que necessita de mais conhecimento e aprofundamento do pesquisador, e se aplica em pesquisas qualitativas (PREMEBIDA,2013). Vamos analisar e comparar as vantagens e desvantagens destas técnicas para entendermos como e quando utilizá-las nas pesquisas e ter um ótimo resultado.
Análise comparativa questionário e entrevista em profundidade
A técnica do questionário é uma das mais utilizadas em pesquisas, pois é de fácil aplicação, seu objetivo é coletar dados sociais confiáveis com validade para o pesquisador, podendo ser aplicado tanto em pesquisas quantitativas quanto qualitativas. Para melhor aproveitamento desta técnica, faz se necessário organizar como ela deve ser aplicada com um planejamento de pesquisa.
Conforme conceitua Antonio Carlos Gil (2008 p,121):
Pode-se definir questionário como a técnica de investigação composta por um conjunto de questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter informações sobre conhecimentos, crenças, sentimentos, valores, interesses, expectativas, aspirações, temores, comportamento presente ou passado etc. Ele consiste basicamente em traduzir objetivos da pesquisa em questões específicas.
ANTONIO CARLOS GIL, 2008, P.121
O questionário pode ser padronizado de acordo com a intenção da pesquisa e pode ser utilizado para grande números de pessoas a serem pesquisadas. Com ele pode-se levantar características de um grupo ou pessoas, comportamentos com variações. O pesquisador constrói o questionário com foco nos dados que ele precisa para desenvolver sua pesquisa, deve levar em consideração o tipo de perguntas que ele pretende fazer e o modo que ele vai aplicar o questionário e em que local coletará os dados (PREMEBIDA,2008).
Segundo Premebida (2013, p.42):
O questionário é um instrumento de pesquisa social que permite a construção de informações de modo padronizado, sendo adequado às abordagens extensivas e objetivistas da metodologia quantitativa. Valendo-se de um questionário padronizado, podemos conduzir entrevistas estruturadas com diversos informantes, permitindo o registro de informações representativas de uma grande quantidade de pessoas.
PREMEBIDA, 2013, P.42
O questionário pode ser de perguntas fechadas, perguntas abertas ou misto que possui tanto perguntas fechadas quanto abertas, vai depender do objetivo da pesquisa. O primeiro de perguntas fechadas ele é mais simples, pode ser montado com uma pergunta e respostas prontas, onde o entrevistado pode marcar com X na resposta que ele considerar corretas. Esse meio é muito ágil para pesquisas com muitas pessoas, pois objetiva respostas rápidas. O segundo de perguntas abertas, pode ser feito com perguntas mais estruturadas sem respostas pré estabelecidas, colocando à disposição do pesquisado mais possibilidades de respostas. Já a de perguntas abertas e fechadas, compõe-se das duas opções, possui perguntas fechadas ao mesmo tempo, seu objetivo é guiar o entrevistado no objetivo da pesquisa e ao mesmo tempo dá a ele outras opções de respostas (PREMEBIDA,2013).
A desvantagem no questionário de perguntas fechadas é de impossibilitar outras respostas limitando o pesquisado. O questionário de perguntas abertas tem a desvantagem de perda de agilidade e exige melhor levantamento de dados com respostas diferentes. Já o de perguntas abertas e fechadas a desvantagens é especificar as perguntas de acordo com a pesquisa e na apuração dos dados. Em relação a aplicação, os questionários podem ser aplicados segundo o objetivo da pesquisa e tempo de respostas necessárias à apuração dos dados na pesquisa (PREMEBIDA,2013).
Aplica-se o questionário diretamente ou indiretamente, sendo que na forma direta, há interação do pesquisador com o entrevistado e na forma indireta pode ser feita através de plataformas online pela internet. A desvantagem do primeiro é o deslocamento do entrevistador e a demanda de tempo para quem vai responder. O segundo pode apresentar baixa taxa de respostas ou mesmo sem resposta dos entrevistados, dificultando o resultado da pesquisa. Para evitar a baixa taxa de resposta, a melhor forma é o pesquisador estruturar e organizar de maneira que no próprio formulário haja um guia que direciona e incentiva o pesquisado a passar para as próximas etapas. Identificar os tópicos importantes da pesquisa também ajuda muito na elaboração das perguntas necessárias à abordagem (PREMEBIDA, 2013).
Segundo Premebida (2013, p.47),
O questionário é uma ferramenta de trabalho do pesquisador social. Esta poderá estar bem adequada aos seus propósitos ou não. A precisão do instrumento se faz em relação ao objetivo de estudo e a teoria social que o embasa. Nesse sentido, um questionário bem construído permite ao pesquisador obter resposta ao seu problema de pesquisa, testar suas hipóteses e enfrentar todas as pautas de sua agenda de investigação e, ao mesmo tempo, ser exequível. Por isso o questionário não poderá ser muito extenso e nem fazer perguntas que não estejam diretamente relacionadas com o objetivo da pesquisa. Recomenda-se que um questionário não tenha mais do que 60 perguntas e nem ultrapasse 30 minutos de duração.
PREMEBIDA, 2013, P.47
A outra técnica muito utilizada pelos pesquisadores é a entrevista em profundidade, ela apresenta flexibilidade ao entrevistado e ao entrevistador. Além disso, esta entrevista vai além de perguntas e respostas, pois incentiva uma melhor formulação de perguntas com base no pertencimento social do envolvido na entrevista. Nesta técnica há uma conectividade com interação social específicas. Dá-se um melhor acesso a elementos sociais que não teria pela técnica do questionário simples como mencionado anteriormente (PREMEBIDA,2013). Neste tipo de entrevista, o entrevistado e o entrevistador ocupam papéis sociais diferentes e, na perseguição do sucesso da entrevista em profundidade, faz-se necessário minimizar as diferenças existentes (PREMEBIDA,2013).
Conforme Antonio Carlos Gil (2008 p,109):
A entrevista em profundidade é uma técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação. É uma forma de interação social e de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação e é adotada como técnica fundamental de investigação nos mais diversos campos de pesquisa.
ANTONIO CARLOS GIL, 2008, P.109
Nesta técnica de pesquisa há determinados padrões a serem seguidos, o entrevistador faz perguntas e aguarda o entrevistado responder juntamente com reflexões com o tema abordado no qual exige melhor preparação do entrevistador, necessita-se mais habilidades e melhor proximidade do entrevistado para que ele responda da melhor maneira possível. A entrevista em profundidade tem aspectos relacionados à história do entrevistado que conta seguindo uma sequência, normalmente é uma história de vida contada com biografia. O pesquisador deve estar atento aos fatos narrados para registrá-los para apurar e utilizar no desenvolvimento da pesquisa.
Segundo Antonio Carlos Gil (2008, p.57):
Dependendo das condições especiais de determinada pesquisa, a utilização da entrevista em profundidade pode revelar uma série de elementos da vida social que seriam inacessíveis por meio da utilização de outras técnicas de pesquisa, como um questionário fechado, por exemplo. Além disso, essa modalidade de entrevista pode “casar” muito bem com outras técnicas de pesquisa que procuram revelar, em profundidade, determinados aspectos das vidas sociais de determinado grupo social, promovendo um tipo de “retroalimentação” por meio de sua combinação com outras diferentes técnicas de pesquisa social.
ANTONIO CARLOS GIL, 2008, P.57
Os aspectos mais importantes na hora de organizar a entrevista de profundidade é sobre a disponibilidade do entrevistado, conhecimento do campo e antecipado do entrevistado, conhecimento do grupo caso o entrevistado faça parte de alguma comunidade, aspectos pessoais e culturais, bem como boa preparação anterior sobre o que deve ser abordado na entrevista de acordo com o entrevistado, para que ele sinta a vontade em responder perguntas sobre a vida pessoal e outras. Uma boa entrevista em profundidade procura descontrair o entrevistado para que ele fique mais à vontade em responder (PREMEBIDA,2013).
Em relação às duas técnicas mencionadas a primeira do questionário é tão importante quanto a da entrevista em profundidade, pois ambas devem ser utilizadas na melhor forma de apurar dados e conforme o objetivo da pesquisa a ser realizada. A técnica de perguntas e respostas pode ser utilizada em pesquisas mais focadas em análises quantitativas, onde pode ser usada para entrevistar em massa ou grandes números de pessoas, pois ela pede menos detalhes do entrevistado. Já a entrevista em profundidade pode ser melhor aplicada em pesquisas com objetivos qualitativos, onde pode-se apurar mais detalhes e informações do entrevistado, englobando questões sociais (GIL,2008).
As desvantagens vão depender muito do entrevistador de como ele estruturar as perguntas e contexto do tema a serem abordados pelo pesquisador na hora da entrevista. Ela deve caminhar em harmonia com o objetivo da pesquisa desenvolvida. A apuração e organização das informações coletadas também é importante para a técnica ser realmente eficaz. A entrevista em profundidade não impede de entrevistar pessoas que não sabem ler e escrever, já o questionário já limita estas pessoas (GIL,2008).
Em relação às respostas no questionário pode haver outra interpretação diferente do objetivo da pergunta, e dependendo de como foi elaborado não dá ao entrevistado acesso para esclarecer as dúvidas sobre as perguntas, a entrevista dá acesso a esclarecimentos. Em ambas as técnicas deve-se observar a motivação dos entrevistados, para que as respostas sejam as melhores possíveis e não comprometer o levantamento das informações necessárias. Sendo assim o pesquisador deve estar atento aos prazos da pesquisa em desenvolvimento e fazer um cronograma bem elaborado para que tudo seja feito com tranquilidade (GIL,2008).
Considerações finais
Qualquer escolha da técnica em pesquisa implica em perdas e ganhos, o que vai definir o sucesso da técnica será estruturar bem o projeto da pesquisa com um excelente planejamento entre prazo de entrega da pesquisa com o prazo de aplicação da técnica escolhida. Em relação ao questionário eles precisam ser objetivamente formulados, de modo que o entrevistado não seja levado a dar respostas que não represente efetivamente a sua opinião sobre o assunto abordado. Ela deve ser orientada seguindo a teoria e o problema de pesquisa (PREMEBIDA,2013).
Já a entrevista em profundidade a sua execução necessita de bons entrevistadores devidamente treinados, que possuem desenvoltura na conversação. É bom também os participantes dominarem conhecimentos sociais dos envolvidos na entrevista. Este tipo de técnica vai além do questionário de perguntas e respostas, promovendo uma construção livre por parte do entrevistado (PREMEBIDA,2013).
Referências Bibliográficas
PREMEBIDA, Adriano; et.al.: Pesquisa Social. Curitiba: Intersaberes, 2013.GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas S.A. 2008.