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O comércio do café entre Brasil e Alemanha no biênio 2016-2017

Ao longo dos anos, o comércio foi se tornando uma prática cada vez mais comum aos países, contudo, em cada período da história esse comércio foi conduzido de maneira diferente. De maneira geral, pode-se compreender o comércio internacional como sendo uma forma de trocar bens e produtos entre países, fazendo com que se tenha uma diversidade dos mesmos e de parceiros comerciais. Como forma de se estudar essa relação, com o tempo, diversas teorias foram sendo criadas. Essas teorias podem ser divididas em duas categorias: clássicas e neoclássicas. Dentro do presente artigo, a teoria escolhida foi a clássica de Vantagens Comparativas.

Neste texto, será analisada a relação entre Brasil e Alemanha, haja vista a importância de ambos os países em suas regiões e nos blocos em que estão inseridos, Mercosul e União Europeia, respectivamente. Assim, o presente trabalho será dividido em quatro seções: a primeira analisará a relação entre ambos os países (a nível político, diplomático e econômico), desde seu início, por volta do século XVI, até os dias atuais. Na segunda, será feita uma análise dos pontos em comum como, por exemplo, a participação no grupo das vinte maiores economias (G-20). Na terceira, a Alemanha ganhará uma atenção maior entre os países integrantes da União Europeia, e com isso serão abordados os produtos responsáveis pelas exportações e importações. Na quarta e última seção, será analisado o produto café a partir de seu surgimento e importância para a economia nacional.

Dessa maneira, os pontos estarão divididos em: (1.1) Contexto histórico das relações Brasil-Alemanha; (1.2) Pontos em Comum; (1.3) A Alemanha como principal parceira comercial na Europa; e (1.4) Produtos mais vendidos para a Alemanha: o Café (1.4). Essa divisão foi feita com o intuito de compreender melhor os momentos da relação bilateral e comercial entre Brasil e Alemanha, e de explicar o que vem a ser a teoria de David Ricardo sobre as Vantagens Comparativas e de que maneira a mesma pode ser aplicada ao estudo do comércio entre ambos os países.

Contexto histórico das relações Brasil-Alemanha

As relações entre Brasil e Alemanha foram iniciadas por volta de 1824 nos campos diplomático, comercial e de cooperação. Além disso, também pode ser contabilizado o processo de chegada de imigrantes ocorrido anteriormente – em grande parte no sul do Brasil, iniciado aproximadamente no século XVI. Já em 1825, ocorreu o reconhecimento da Independência Brasileira pela Prússia e pelas cidades hanseáticas de Lübeck, Bremen e Hamburgo – após a celebração do Tratado de Comércio e Navegação entre o Império do Brasil e o Reino da Prússia.

No ano de 1826, houve a abertura do primeiro consulado brasileiro no estado de Hamburgo, na Alemanha. Anos mais tarde, o Brasil suspendeu as relações diplomáticas com a Alemanha e declarou guerra ao império alemão após o naufrágio de navios mercantes brasileiros no período da Primeira Guerra Mundial, mais precisamente no ano de 1917, pelos alemães. Ao longo da década de 1930, o comércio entre ambos os países se intensificou e a Alemanha tornou- se a principal parceira comercial do Brasil, devido às exportações de algodão. Porém, na década seguinte, essa parceria econômico-financeira se deteriorou, e logo depois foi reconhecido o “estado de beligerância” pelo Brasil com a Alemanha e com a Itália durante a Segunda Guerra Mundial – mais precisamente no ano de 1942, além da suspensão das relações entre a República Brasileira e os países do Eixo. No entanto, as relações diplomáticas e comerciais teuto-brasileiras foram reestabelecidas no pós-Guerra.

No decorrer da década de 1950, empresas alemãs passaram a fazer grandes investimentos no Brasil, principalmente na área industrial – como a montadora Volkswagen e a siderúrgica Mannesmann. No ano seguinte, ocorreu a construção da embaixada alemã na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, e da embaixada brasileira em Bonn, capital da então Alemanha Ocidental. A década de 1970 representa o auge dessa relação devido a acordos de cooperação na área energética, sobretudo relacionados à energia atômica (Acordo Nuclear de 1975).

Já nas décadas seguintes ocorreram avanços – como a celebração de tratados sobre transporte aéreo e no campo da pesquisa, além de acordos de cooperação nas  áreas econômica, agrícola e de energia-, e retrocessos (o Brasil já não era mais tão relevante para o comércio alemão) na relação entre os dois países. Durante a década de 1990, a Alemanha também perdeu espaço no comércio brasileiro para a Argentina, devido a criação e crescimento do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Ademais, ao longo dessa década, os Estados Unidos ganharam ainda mais espaço.

Nos últimos anos, a relação entre ambos os países se tornou ainda mais próxima, e, em 2012, foi lançada uma feira internacional na área da tecnologia em Hannover, na Alemanha – nesse evento o Brasil foi destaque como país parceiro, devido a sua atuação como fornecedor de soluções e de produtos de alta tecnologia. Em 2013, foi lançado o Encontro Econômico Brasil-Alemanha (EEBA), que reúne governantes e empresários com o objetivo de discutir a ampliação de investimentos e outras formas de cooperação. Em 2015, foi inaugurado o mecanismo das Consultas Intergovernamentais de Alto Nível Brasil-Alemanha para reforçar a cooperação entre ambos, além da discussão sobre uma possível reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Pontos em comum

Ambos os países integram o G20, grupo que reúne as vinte maiores economias mundiais – ao lado de: África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, China, República da Coreia, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia Turquia e União Europeia, e cujo objetivo é cooperar e dialogar nos campos econômico e financeiro, integrando países desenvolvidos e em desenvolvimento, além da busca pela estabilidade econômica (reduzindo o risco de futuras crises financeiras) e a promoção do crescimento sustentável.

Juntos, esses países representam 90% do PIB mundial (Produto Interno Bruto), 80% do comércio internacional, 2/3 da população mundial e 84% da emissão de gases de efeito estufa. Com relação ao seu contexto de surgimento, o G20 foi criado em 1999, devido a crises financeiras na década de 1980 e 1990, e também tinha a intenção de ser mais amplo e eficaz que o G7 (que mais tarde se tornou o G8, com a entrada da Rússia), dessa vez reunindo chefes de estado e governo e não mais somente, um encontro de ministros.

Assim sendo, é possível perceber que o G20 não é uma Organização ou Organismo Internacional. Por esse motivo, não possui estrutura permanente e nem mesmo recursos próprios (essa é uma responsabilidade assumida pelo país que preside o grupo). Dessa forma, sua presidência é rotativa e assim cada país tem a chance de permanecer nesta posição por um ano (ocorrendo a alternância entre as regiões, e também entre países desenvolvidos e em desenvolvimento).

A Alemanha como principal parceira comercial na Europa

Atualmente, a Alemanha é a quarta parceira comercial do Brasil no mundo, atrás apenas da China, dos Estados Unidos e da Argentina, respectivamente, e desde 2012 a principal parceira comercial na Europa (ao longo da última década o comércio vem aumentando, com pequenas variações). Além desse comércio, a parceria Brasil-Alemanha impulsiona também o comércio entre União Europeia e América do Sul, visto que são as maiores economias em seus respectivos blocos e regiões.

Já para o comércio alemão, o Brasil também é considerado um parceiro bastante relevante, principalmente por ser o maior parceiro aqui na América Latina. Com relação às exportações de produtos e bens brasileiros para a Alemanha, segue-se a mesma linha: café em grãos, minério de ferro e soja (seus derivados) – como poderá ser observado na Tabela (1). Com relação aos produtos manufaturados e semimanufaturados, os mesmos passaram a ganhar espaço nos últimos anos. Em contrapartida, as importações de produtos alemães se concentram em: medicamentos, maquinários, e partes ou peças de automóveis, além dos manufaturados (nas categorias: consumo final, bens intermediários e bens de capital).

Os produtos mais exportados pelo Brasil para a Alemanha entre o biênio 2016-2017 foram: café em grão; minério de ferro; farelo e resíduos de soja.
Os três produtos mais exportados pelo Brasil nos anos de 2016 e 2017 | Fonte: MDIC (dados organizados pela autora)

Produtos mais vendidos para a Alemanha: o café

Como foi possível observar, o café é um produto muito importante, não só para o comércio brasileiro, mas também para o mundial. O mesmo passou a fazer parte da história brasileira a partir do século XVIII com a chegada de suas primeiras mudas, e em seguida passou a ocupar um lugar de destaque na economia nacional, sendo o responsável por uma série de avanços no Estado Brasileiro.

Tanto nas regiões do Vale do Paraíba quanto no Oeste paulista, o produto teve êxito, influenciando os rumos para a abolição da escravidão, e como o mesmo era o ponto forte da economia nacional, foi necessária a substituição dos escravos por mão de obra imigrante, já que esta era mais qualificada. A partir disso, e ao longo dos séculos XIX e XX, o produto ganhou ainda mais espaço no comércio mundial. Um exemplo disso é o fato de que na década de 1970 houve um aumento do consumo do café na Alemanha – além do fato de que o país se tornou um grande exportador de café na Europa.

Sendo assim, boa parte das exportações brasileiras com destino à Alemanha são em grande parte produtos básicos, e como exemplo disso, têm-se as exportações de café, que  são feitas em sacas de 60 kg, do tipo grão verde, de duas variedades: arábica e robusta. Dessa forma, a Alemanha é a segunda maior importadora do café brasileiro (com 6.220.107 (18,3%) e 5.524.829 (17,9%) – 2016 e 2017, respectivamente), atrás apenas dos Estados Unidos (19% e 19,9%) e seguida por Itália (8,5% e 9%), Japão (7,5% e 6,8%) e Bélgica (6,1% e 5,8%).

Outro tipo de café consumido pelos alemães é o café diferenciado (que possui qualidade superior ou certificado de prática sustentável). Dessa forma, eles se mantiveram no  terceiro lugar até 2016 (699.388 sacas, o que representa 12%) e em 2017 passaram na frente do Japão, tornando-se o segundo país na compra desse tipo de café (708.060 sacas, o que representa 13,8%). Com relação aos principais destinos de recebimento desse grão, estão os portos de Bremen e de Hamburgo, na Alemanha (3.015.839 (B) e 2.731.338 (H), em 2016 ; 2.813.971 (B) e 2.492.083 (H), em 2017), ocupando o 1º e 2º lugar (sendo seguida pelos  portos de Antwerp na Bélgica, de New Orleans nos Estados Unidos e de Génova na Itália).

Outros dados a respeito da exportação de café verde, como dado total, preço da saca, volume e tipo entre os anos de 2013 até 2017 podem ser observados na Tabela (2).

O comércio do café entre Brasil e Alemanha no biênio 2016-2017 1
 Exportação – Janeiro a Dezembro – sacas de 60 kg | Fonte: CECAFÉ – Relatório de Dezembro de 2017 (dados organizados pela autora)

O comércio através da Teoria das Vantagens Comparativas

Como foi dito anteriormente, o comércio foi realizado de diversas formas ao longo dos anos, seja por meio do escambo ou de qualquer outra prática. Isso pode ser visto como uma forma de se obter bens e serviços que apenas um país não seria capaz de produzir sozinho, ou que não produziria com tanta eficiência, sendo necessário que haja a troca desses produtos. E tendo como base as teorias do comércio internacional, é possível explicar essa situação pelo ponto de vista das Vantagens Comparativas ou Vantagens Relativas do economista e político britânico David Ricardo, teoria a qual foi baseada na teoria do valor- trabalho associada a Karl Marx.

Por meio dessas vantagens, é possível observar que um país deve se especializar e exportar um bem ou produto em que seja relativamente mais eficiente (maior produtividade  do trabalho), e importar aquele bem ou produto em que não é eficiente (menor produtividade do trabalho). Dessa maneira, o que é levado em consideração não é o custo absoluto (Vantagens Absolutas de Adam Smith), mas sim a produtividade (fator trabalho ou mão de obra) que cada país possui e o custo de oportunidade (que deve ser menor, ou seja, de baixo custo).

Esses pontos podem ser vistos com mais clareza no exemplo que foi proposto pelo teórico – exemplo que se refere ao comércio de vinhos e tecidos entre Portugal e Inglaterra; onde para um era mais vantajoso abrir mão da produção de vinho e focar na produção de tecidos já que é mais eficiente e assim fazer comércio com o outro país sob as condições da livre concorrência (cada um produzindo aquilo que é mais eficiente a um custo menor e assim seria possível se beneficiar de ambos os produtos).

Com relação a um exemplo prático e real, pode-se usar o exemplo das exportações do café brasileiro, onde é mais vantajoso para o Brasil se dedicar a produção de café devido ao fato de ter um terreno e recursos naturais próprios para o plantio do produto. Já a Alemanha, que não possui nenhum dos dois, acaba tendo que importar o produto que é vendido pelo Brasil (para chegar aos seus produtos finais), já que a mesma é uma grande exportadora de café para a Europa. Também é possível perceber que a Alemanha possui uma vantagem com relação ao Brasil já que possui tanto a mão-de-obra qualificada quanto a não qualificada.

É importante observar que o produto que o Brasil vende para a Alemanha é apenas a matéria-prima, nesse caso um produto sem valor agregado, pois o custo seria muito alto, e pelo ponto de vista das Vantagens Comparativas, o custo da produção deve ser baixo, ou seja, ter um menor custo. Dessa forma, é possível compreender que a relação que existe entre ambos os países é de complementaridade e não de competitividade.

Portanto, é possível observar que para o autor o que importa de fato é a produtividade que cada país possui, e não o custo absoluto que envolve toda essa produção. Dessa forma, por mais que um país seja eficiente na produção de todos os seus produtos, ainda assim seria vantajoso praticar o comércio devido ao fato de que um país pode possuir vantagens comparativas na produção de um determinado bem a um custo menor e ainda assim se beneficiar da produção de outro bem que não seja tão eficiente.

Considerações finais

A partir de toda a análise feita sobre o tema escolhido, é possível observar a importância da exportação do café não só para o comércio do Brasil como também para o comércio como um todo. Foi possível aprofundar e compreender melhor a história do comércio, nesse caso o brasileiro, e também foi possível ter uma ideia a respeito de seus parceiros, cada um com características tão peculiares e ao mesmo tempo tão complementares como é o caso alemão. Assim, observou-se a maneira como o café foi introduzido na economia e de que forma o mesmo se manteve como base da economia nacional durante um ciclo tão extenso (1800-1930).

Dessa forma, é possível chegar a uma conclusão sobre as exportações de café e, sobretudo, a partir de todos os pontos citados anteriormente, observar que as exportações desse produto foram e ainda são bastante relevantes para o desenvolvimento da economia nacional. Principalmente por se tratar de um produto tão importante e que durante muitos anos ocupou uma pauta bastante significativa, senão a mais importante. Além desse lugar de destaque, foi por meio da produção e venda do café que uma série de avanços foram sendo conquistados dentro do comércio brasileiro – como é o caso da urbanização e da industrialização.

Referências bibliográficas:

GEORGE, Samuel et al. Brasil e Alemanha: Uma relação do século XXI. Oportunidades de comércio, investimentos e finanças. Alemanha: Bertelsmann Stiftung, 2014. p. 60 folhas. Artigo – Bertelsmann Stiftung, 2014.

HOLANDA, Felipe Macedo de. Apresentação. In: RICARDO, David. Princípios de Economia Política e Tributação. São Paulo: Editora: Nova Cultural Ltda, 1996. Tradução de Paulo Henrique Ribeiro Sandroni.

RELATÓRIO MENSAL DEZEMBRO 2016: Exportações Brasileiras e Consumo Externo De Café. Conselho Dos Exportadores De Café Do Brasil (CECAFÉ). Relatório. S.l. 2016.

RELATÓRIO MENSAL DEZEMBRO 2017: Exportações Brasileiras. Conselho Dos Exportadores De Café Do Brasil (CECAFÉ). Relatório. S.l. 2017.

SOARES, Frederico Lamego de Teixeira. Análise econômica da parceria Brasil – Alemanha no contexto das relações entre o Mercosul e a União Europeia. Revista Brasileira de Política Internacional (RBPI), 2000, vol.43, nº2, p. 87-90.

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