Martin Luther King (1929-1968) foi um ativista negro norte-americano que lutou contra a discriminação racial nos Estados Unidos. Nascido em 1929, em Atlanta, na Georgia, Luther King se tornou pastor batista aos 19 anos, formando-se, mais tarde, em teologia. Também realizou uma pós-graduação em teologia na Universidade de Boston, em 1951, dedicando-se aos estudos sobre filosofia de protesto não violento a partir das ideias do indu Mohandas K. Gandhi. Casou-se com Coretta Scott, em 1953, uma estudante de música que conheceu na Universidade. Em 1954, Luther King assumiu a igreja batista de Montgomery, Alabama, como pastor, e, no ano seguinte, iniciou a sua luta pelo reconhecimento dos direitos civis dos negros norte-americanos após uma mulher negra, Rosa Parks, ser detida e multada por ocupar um assento destinado para pessoas brancas em um ônibus de Montgomery. À vista disso, Luther King, durante uma campanha de 381 dias, conduziu um boicote ao sistema de transportes da referida cidade do Alabama, o que resultou na proibição racial no transporte público em decisão da Suprema Corte americana.
Em 1957, após fundar a Conferência da Liderança Cristã no Sul, uma organização composta por igrejas e sacerdotes negros, Luther King tornou-se líder da mesma e empreendeu esforços para pôr fim a segregação racial através de métodos pacíficos, como manifestações e boicotes em diversas localidades, por exemplo, em restaurantes, hotéis e outros ambientes públicos. Além disso, organizou marchas e protestos pelo término das discriminações no trabalho e em prol do direito ao voto e outros direitos essenciais. Destaca-se A Marcha para Washington em 1963, que contou com a participação de mais de 200 mil pessoas, de modo que Luther King realizou, em frente ao Memorial Lincoln, em Washington, o seu famoso discurso “Eu tenho um sonho”. Sua luta tornou possível a criação da Lei dos Direitos Civis (1964) e da Lei de Direitos Eleitorais (1965) nos Estados Unidos. Seus protestos e movimentos continuaram ao longo da década de 1960, até ser assassinado em 4 de abril de 1968 em Memphis, Tenessee.
O Prêmio Nobel e o contexto histórico
A luta pelo fim da discriminação e segregação da população negra entrou fortemente em pauta durante a década de 1950, sobretudo nos estados localizados no sul do país, notadamente carregados de um passado racista. A existência da segregação em locais públicos inviabilizava qualquer tipo de unificação social entre as pessoas negras, uma vez que elas eram proibidas de votar e de frequentarem muitos estabelecimentos – como a proibição de frequentarem as mesmas escolas que as pessoas brancas. Diante desta realidade, atos de violência e ataques às pessoas negras, sejam eles físicos ou morais, faziam parte de suas rotinas diárias.
No ano de 1954, antes mesmo do acontecido com a Rosa Parks, já havia sido proferida uma decisão pela Corte Suprema Americana que abria precedentes para o fim da segregação racial. Entretanto, mesmo após esse marco importante, poucas coisas mudaram na prática. Uma prova disso é que o estado natal de Luther King, a Geórgia, ainda mantinha segregação em todas as suas escolas, mesmo no início dos anos 1960. Exemplos como esse ilustram a importância de uma personalidade como Luther King nas mídias, que além de divulgar e promover a unificação social, também conscientizava todas as gerações de cidadãos negros a reconhecerem que tinham vozes valiosas na sociedade e que faziam parte de um movimento global.
Neste sentido, confrontos diretos entre ativistas negros e autoridades policiais tornavam-se cada vez mais comuns. Inclusive, Luther King foi preso durante esta época, no estado do Alabama, por organizar um protesto, que aos olhos das autoridades, constituía em desordem pública. Ao escrever uma carta durante seu curto período encarcerado, Luther King compreendeu que a resposta estava na resistência não violenta, decidindo continuar investindo nessa abordagem, e ampliar ao máximo o seu impacto. Ele continuou a liderar marchas e manifestações sociais em diversas áreas geográficas ao redor dos Estados Unidos, o que culminou na citada Marcha para Washington, em 28 de agosto de 1963. O resultado direto dessa Marcha eclodiu na promulgação da Lei dos Direitos Civis, em 2 de julho de 1964, que determinou a proibição de todas as formas de discriminação racial e decretava o fim da segregação racial (LISCHER, 1997). Tais acontecimentos acabaram por atrair a atenção da mídia internacional, e consequentemente, do comitê realizador do Prêmio Nobel.
O Prêmio Nobel constitui um dos desejos finais de Alfred Nobel: um célebre químico e inventor sueco, que ao morrer, destinou parte de sua fortuna para a criação de um prêmio mundial, a recompensar anualmente as pessoas responsáveis pelos melhores feitos da humanidade. Este prêmio divide-se em cinco categorias diferentes: química, física, literatura, medicina e paz.
Assim, Martin Luther King foi apontado pelo parlamento norueguês como vencedor do prêmio pela paz, em 1964, devido às suas contribuições inestimáveis para a promoção dos direitos da população afro-americana. Em sua autobiografia, Luther King (CARSON, 2014) ponderou sobre a nomeação, que simbolizava o alcance internacional da discussão sobre o problema do racismo no plano mundial, mas que não representava, ainda, uma satisfação com o movimento dos direitos civis devido à injustiça racial. À sua época, ele foi o homem mais jovem a receber o prêmio, aos 35 anos. Foi também o segundo homem negro a conquistar o Nobel. Luther King decidiu reverter o valor do prêmio para beneficiar o movimento dos direitos civis.
O legado de Luther King é perpetuado até os dias de hoje. A sua luta pelos direitos civis dos negros norte-americanos possibilitou que o país elegesse seu primeiro presidente negro, Barack Obama, em 2008, reeleito em 2012. Como símbolo da luta contra a discriminação racial, em 1983, foi instaurado nos Estados Unidos o feriado nacional Martin Luther King Day, sendo celebrado toda terceira segunda-feira do mês de janeiro, data próxima ao seu aniversário. E desde 1994, tal feriado foi designado como o dia nacional do serviço, de maneira que os cidadãos norte-americanos são instalados a celebrarem um dia de ação voltado à promoção da igualdade racial, ao invés de descanso.
Existem muitas obras que discutem seu ativismo, além daquelas que reúnem seus sermões e discursos. Para conhecer mais sobre Martin Luther King, assista ao documentário Meu nome é MLK Jr. (2018) e ao filme Selma: Uma Luta pela Igualdade (2015). Indica-se, também, a leitura dos livros A autobiografia de Martin Luther King da editora Zahar, Por que não podemos esperar: Martin Luther King da editora Faro Editorial e A Marcha, Livro 1 e Livro 2: John Lewis e Martin Luther King em uma história de luta pela liberdade, ambos da editora Nemo.
Referências
CARSON, Clayborne. (org.) A autobiografia de Martin Luther King. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2014.
LISCHER, Richard. The Preacher King: Martin Luther King, Jr. and the Word that Moved America. Nova York: Oxford University Press, 1997.