Histórico
Criado em 1961 como um experimento estrutural dentro das Nações Unidas, o World Food Program (WFP, sem tradução oficial para o português) é atualmente a maior organização humanitária do mundo. O programa nasceu há 60 anos e de acordo com a ONU auxilia mais de 115 milhões de pessoas em seus programas de distribuição de alimentos para comunidades impactadas por desastres, pessoas em situação de desnutrição e fome. Além disso, o programa atua na construção de comunidades resilientes para a produção de alimentos e geração de renda. Atualmente o WFP está presente em 84 países e conta com 20 mil pessoas trabalhando em todas as etapas de auxílio da organização.
De acordo com pesquisadores da McGill Universit a produção atual de alimentos seria suficiente para alimentar 10 bilhões de pessoas. As estimativas da população mundial atual é de 7.9 bilhões de pessoas. Matematicamente a conta seria simples, o excedente de alimentos garantiria certo conforto, sendo suficiente para alimentar a população mundial por pelo menos os próximos 10 anos. Entretanto, as complexidades sociais, conflitos, desastres naturais, desigualdade e mudanças climáticas tornam essa tarefa complicada, requerendo um esforço conjunto entre Organizações Internacionais, governos e organizações não governamentais. Neste sentido, a criação do WFP solidifica a necessidade de organizar e coordenar os esforços de combate à fome e promover comunidades resilientes ao redor do mundo.
Atualmente o foco da organização está em promover apoio alimentar primeiramente a países afetados por algum conflito. Segundo o site do programa, um terço da população mundial encontra-se impactada por alguma forma de conflito armado. Essa conexão do WFP com o alívio de crises humanitárias se remete à 1963, em que foi implementado o primeiro plano de desenvolvimento e suporte da organização. Até hoje, o Sudão é um dos focos da organização que trabalha em parceria com outras agências da ONU como, por exemplo, o ACNUR e a UNICEF, promovendo não apenas o acesso à comida, mas outras necessidades fundamentais para populações afetadas por conflitos. De forma macro, o WFP é hoje uma parte fundamental das Nações Unidas para a realização dos ODS, em especial no que tange o combate à fome, produção e consumo sustentável e alívio da pobreza.
Em 2020, ano do aniversário de 60 anos da organização, o Comitê do Prêmio Nobel garantiu ao WFP o seu primeiro Prêmio Nobel da Paz. Em anúncio o Comitê ressaltou “por seus esforços para combater a fome, por sua contribuição para melhorar as condições de paz nas áreas afetadas por conflitos e por atuar como uma força motriz nos esforços para evitar o uso da fome como arma de guerra e conflito” (traduzido pelas autoras). Mesmo antes da premiação a atuação do WFP é reconhecida e impulsionada em nível global, resultando em uma das organizações mais reconhecidas dentro do sistema da ONU.
Como exemplo das ações de emergência do WFP, em 2000, Moçambique e Zimbabué foram atingidos pelo ciclone Ida. De acordo com dados publicados após a tragédia, o furacão ceifou mais de 800 vidas e deslocou mais de 500 mil pessoas impactadas diretamente pelos ventos e pelas enchentes. A atuação do WFP foi fundamental para garantir as necessidades básicas dessas populações. Para além dos objetivos principais, as ações do WFP também têm embarcado na transferência de renda para famílias em situação de vulnerabilidade, como o caso da República Democrática do Congo. Neste exemplo, famílias assessoradas pela transferência relataram que a fonte adicional de renda foi fundamental para a manutenção da produção e incremento de forma a prover maior quantidade de comida para as famílias e permitir a venda do excedente, garantindo o acesso a outros produtos.
Nesta direção, o avanço das mudanças climáticas e o aumento da necessidade de implementar em larga escala práticas sustentáveis na produção de comida, o WFP vem estabelecendo constantes programas de fomento para a implementação de tecnologias da produção ao abastecimento de comunidades, que promovam um melhor uso de recursos naturais e impulsionem a digitalização de comunidades rurais, fator essencial para a inclusão e desenvolvimento de países em situação de vulnerabilidade.
WFP no Brasil
O WFP Centro de Excelência contra a Fome Brasil foi criado em 2011, sendo fruto de uma parceria entre o Governo brasileiro e o WFP. O escritório apoia a construção de políticas públicas e ações em países da África, América Latina e Ásia.
Um dos maiores objetivos do Centro de Excelência, é aproximar países com desafios semelhantes na área de segurança alimentar e nutricional, fortalecendo a produção de alimentos locais, a agricultura familiar e a alimentação escolar, por meio da construção de uma rede.
No Brasil, o Centro de Excelência também firmou parceria com a ONG Ação Cidadania tendo ações pautadas nos ODS 2 e 17, que visam, respectivamente, erradicar a fome e construir parcerias para o desenvolvimento sustentável. O acordo de cooperação rendeu apoio a diversos projetos, campanhas de conscientização, fortalecimento da da produção sustentável e campanhas de arrecadação e doação de alimentos.
No Brasil, entre as diversas ações apoiadas pelo WFP estão os projetos Além do Algodão, Intercâmbios Virtuais e Nutrir o Futuro. O primeiro é uma ação que visa fortalecer os pequenos produtores e encontrar mercados estáveis para os subprodutos do algodão, nesta iniciativa conjunta, o WFP firmou parceria com a Agência Brasileira de Cooperação e o Instituto Brasileiro do Algodão, o trabalho busca apoiar também instituições públicas de países africanos vinculando a produção de algodão a culturas consorciadas. O segundo projeto, denominado Intercâmbios Virtuais, promove apoio remoto na construção de políticas públicas, aconselhamento político e troca de informações. E o terceiro projeto, Nutrir o Futuro, é fruto da parceria entre o Ministério da Saúde, o Centro de Excelência contra a Fome do WFP e a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores com o objetivo de combater a obesidade e o sobrepeso.
Conclusão
Podemos identificar que o WFP busca garantir a segurança alimentar de uma forma sustentada e com diversas frentes, visando alcançar uma alimentação de qualidade para todos através também do fortalecimento das economias locais, criando assim uma rede entre os projetos da organização e os produtores locais. Dessa forma, busca erradicar a fome no mundo de forma permanente.