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Feminismo | Photo by Library of Congress on Unsplash Feminismo | Photo by Library of Congress on Unsplash

Feminismo e Pós-colonialismo: uma revisão do Feminismo Pós-colonial e Decolonial nas Relações Internacionais

Marcha pelos direitos civis em Washington, D.C. pelo fotógrafo Warren K. Leffler, 1963 | Photo by: Library of Congress on Unsplash

Os feminismos subalternos, trabalham questões advindas da periferia global, onde dentre eles estão o feminismo pós-colonial e o feminismo decolonial. Com isso, a pesquisa tem a intenção de entender onde o feminismo encontrou o pós-colonialismo, e qual o espaço dessas novas, e não tradicionais, abordagens dentro do campo acadêmico de Relações Internacionais. A pesquisa é necessária, para o aprofundamento acadêmico dessas abordagens, principalmente dentro das Relações Internacionais. Através de pesquisa exploratória e análise de revisão bibliográfica pertinente e publicações em periódicos de Relações Internacionais, a pesquisa utiliza-se de abordagens qualitativas e quantitativas. O artigo tem a seguinte divisão: começa com a introdução, trabalhando o contexto e justificativa da pesquisa, em seguida, apresenta os modelos analíticos e marco teórico dos artigos, chegando à terceira seção onde se explica as metodologias, métodos e técnicas dos artigos propostos, assim, como as bases de dados a serem usadas na produção e formulação dos artigos. Finalizando com as referências bibliográficas usadas na produção da pesquisa e dos artigos propostos.

Subalternidade nas Relações Internacionais

Nas Relações Internacionais sempre tiveram as teorias e abordagens que chamamos de mainstream – ou seja, aquelas teorias e abordagens que são mais aplicadas e aceitas dentro da academia, além de serem mais tradicionais também são linhas mais ligadas ao ocidente e a um norte epistemológico e que trabalham assuntos mais relacionados a instituições como os Estados, governos e a relações entre eles; e que bebem de outras matérias mais tradicionais em R.I. como a geopolítica, economia, direito, ciência política, etc. Ao passo em que existem as linhas mais convencionais, com a evolução e a integração da academia com outras matérias como a sociologia, antropologia, teorias críticas, etc., também existem as teorias e abordagens não tão difundidas e aceitas, normalmente ligadas ao oriente e um sul epistemológico, que entendemos como abordagens e teorias subalternas (ROSA, 2019). (SOUSA SANTOS, 2019)

Essas teorias subalternas são definidas como reações ao um legado colonial, onde o ponto principal é que elas vêm de uma pessoa ou pessoas que fazem parte de grupos subalternos na sociedade e de localidades onde antes eram colônias – são baseadas em suas vivências e culturas – nas quais ditam um modo de viver e, consequentemente, de se enxergar o mundo de forma diferente das teorias mais tradicionais pensadas de uma perspectiva. Nas Relações Internacionais identificamos essa linha de teorias como estudos subalternos, que engloba os estudos pós-coloniais e decoloniais e suas sub-vertentes. (FIGUEIREDO, 2010)

Inicialmente pensada nos anos 1970 na Índia, a vertente de estudos subalternos, trabalha com várias teorias – principalmente das ciências sociais, políticas e Relações Internacionais. Há uma grande convergência entre os estudos subalternos e as abordagens que apresentam um teor mais ativista e de mudança social, como o feminismo, as teorias raciais e, até mesmo, abordagens que incluem o meio ambiente e a defesa dos direitos humanos, dos animais e da natureza. (FIGUEIREDO, 2010) Dito isto, esse trabalho tem como objetivo rever duas categorias dos estudos subalternos, o pós-colonial/decolonial e o feminismo, compreendendo a convergência dessas duas abordagens dentro do aspecto subalterno.

Feminismos

Diferentemente do que se é veiculado, há uma variedade de linhas feministas, algumas mais conhecidas ou utilizadas do que outras. Mas, assim como há vários tipos de mulheres e cada uma delas passa por diferentes dificuldades e formas de opressão, o feminismo começou a reproduzir essa diversidade nas suas linhas teóricas, onde iniciando com o feminismo liberal – considerado um feminismo mais branco e europeu – e mais tarde surgindo feminismos que demonstram a diversidade feminina, como o feminismo negro, o radical, o ecofeminismo, o transfeminismo, feminismo pós-colonial e decolonial, entre outros. (NOGUEIRA, 2001)

Por termos diferentes feminismos, dentro do movimento feminista há pautas que convergem entre um feminismo e outro, mas também há pautas muito específicas de cada feminismo. E a principal diferença entre esses feminismos é o fato de que cada um possui e enxerga a realidade e a forma de combater a injustiça social contra mulheres diferente do outro. Dessa forma, qual seria o conceito guarda-chuva que faz com que uma abordagem seja considerada como feminismo? De acordo com Reif (2019), o movimento feminista – que surge como a luta por direitos sociais e políticos das mulheres em igualdade a homens – entende como feminismo toda aquela teoria que aborda a justiça social para as mulheres e meninas, lutando contra a discriminação baseada no gênero, além do machismo e do patriarcado. (NOGUEIRA, 2001)

Dessa maneira, várias mulheres – em suas diferentes formas e culturas – aderiram ao movimento feminista, formulando feminismos que contavam suas histórias, dificuldades e opressões diante do comportamento da sociedade. Apesar do feminismo ser considerado uma teoria vinda de uma injustiça, ainda pensamos haver teorias do aspecto feminista que são consideradas subalternas dentro do próprio movimento, principalmente aquelas que vem de uma posição terceiro-mundista ou do Sul global, como os feminismos pós-colonial e o decolonial. (BALLESTRIN, 2017)

Pós-colonialismo e decolonialidade

Diante da herança colonial que deixada pelos impérios aos territórios invadidos, podemos afirmar que para se entender uma país que foi colonizado é necessário entender os processos coloniais passados naquele local. A colonização deixou marcas, não somente na construção dos Estados e economias, mas na sociedade – percebe-se nos casos de racismo e com o racismo estrutural encontrado no mundo todo através do processo de escravização de pessoas negras e genocídio da população originária. Dessa forma, para melhor compreender os processos nas antigas colônias, surgiu a teoria/abordagem pós-colonial, inicialmente muito encontrado na literatura como forma de ativismo literário e depois passa a ser incluído nas academias de ciências sociais, políticas e Relações Internacionais. (MATA, 2012)

Originalmente fomentada no pensamento social do Sul da Ásia (Índia/Paquistão), o pensamento pós-colonial abriu uma gama de entendimentos sobre como os processos coloniais afetam a sociedade de ex-colônias até o presente momento. O pós-colonialismo trabalha especificamente a relação de poder entre os impérios e colônias, compreendendo a formação da sociedade, cultura e economia desses locais. Apesar de abordagem ser referida como “pós”, a mesma estuda os processos desde o período anterior ao período colonial, passando pela época colonial, como forma de entender como essas sociedades mudaram e o que mudou com o colonialismo. (MATA, 2012)

Os estudos pós-coloniais e decoloniais tornam evidente o eurocentrismo e o ocidentalismo em todos os âmbitos, seja epistemológico, internacional ou até mesmo cultural. Ou seja, a base de referência para tudo é o ocidente e a Europa, e qualquer coisa que seja diferente ou vá na contramão da regra ocidental se torna errada, inferior ou sem importância. Diante disso, os territórios e culturas não ocidentais são considerados inferiores, subdesenvolvidos, insignificantes ou “massa de manobra” para o sistema e sociedade internacional. Podemos ver como exemplo o caso da miaditização quanto ao conflito e invasão Russa a Ucrânia, onde muitas vezes a mídia se refere como “um absurdo”, “aqui (Ucrânia) não é um país do terceiro mundo, aqui é Europa” ou que isso está acontecendo em um lugar “civilizado”. Essas falas são feitas em cima de uma guerra que acontece na Europa, mas quanto aos conflitos que ocorrem nos países da África, Oriente Médio e Ásia são normalizados e esquecidos, pois infelizmente as vidas que não são ocidentais, principalmente europeias e estadunidenses, são consideradas inferiores e menos importantes. (MATA, 2014)

Por mais que os termos “pós-colonial” e “decolonial” sejam muitas vezes usados como sinônimos, os termos explicam situações coloniais e posições geograficamente diferentes. Enquanto o termo “pós-colonial” cunhado inicialmente como um termo guarda-chuva para explicar os estudos que entendiam a colonização e seus efeitos nas regiões, atualmente apesar de ainda ser utilizado de forma generalista, o termo pode se referir as colonizações sofridas no Oriente. Já o “decolonial” é utilizado principalmente quando referido aos processos coloniais ocorridos na América Latina. Outra ligação quanto aos termos, antes referidos, é o fato de que quando falamos em “pós-colonial” parece nos referir muito há um espaço-tempo após a colonização, enquanto o “decolonial” nos remete a uma luta contínua contra a colonialiedade. (REIS; ANDRADE, 2018)

A convergência

Diante do exposto, como seria percebido um feminismo que segue as vertentes pós-coloniais e decoloniais? Onde, então, é que essas duas linhas teóricas fariam a convergência em apenas uma? Historicamente, as teorias feministas se utilizam de bases em outras teorias – principalmente sociopolíticas – para a construção e entendimento das vertentes feministas, como a exemplo do feminismo liberal e marxista. Dessa forma, entende-se que o feminismo, ou nesse caso, a construção da vida da mulher é algo plural, onde várias questões vão infringir na sua conduta e aflição social. Com isso, o feminismo também aderiu ao movimento pós-colonial e decolonial, como forma de explicar o contexto e diferentes situações que as mulheres de ex-colônias passavam por causa da herança colonial da sociedade em que estavam inseridas. (BALLESTRIN, 2017)

Percebendo os impactos que a colonização teve na sociedade da colônia, especialmente nas mulheres, os feminismos ocidentais não conseguiam explicar ou abranger de forma correta ou realista a realidade ocorrida nesses locais. E considerando que mais de um império europeu fez parte da colonização e tinha maneiras diversas de aplicá-la e que há diferentes formas de colonização de acordo com o período em que tal lugar foi colonizado, o feminismo que fala sobre o sufrágio ou salários iguais não fazia o trabalho quando muitas mulheres nessas localidades estavam lutando para serem reconhecidas como seres humanos, ou seja, a abordagem pós-colonial e decolonial trabalha com o feminismo a interseccionalidade da sociedade colonial, explorando as bases étnicas e criticando a divisão de classes. (GONZALEZ, 2020)

Ao explorar o lado colonial tanto histórico como base da construção da sociedade, os feminismos de abordagem pós-colonial explicam mais do que problemas atuais, eles explicam como os problemas atuais das mulheres – principalmente daquelas que antigamente (e até hoje) estão na margem das sociedades – se deve a uma estrutura sociocultural advinda de um período colonial. Fazendo o movimento de entender as construções da sociedade, a importância da convergência dessas duas abordagens teóricas aumenta e nos traz o entendimento de que para mudar o presente e construir um futuro através do feminismo e justiça social faz-se crucial que pensemos nas estruturas criadas no passado.

Referências bibliográficas

BALLESTRIN, Luciana Maria de Aragão. Feminismos Subalternos. Revista Estudos Feministas, [S.L.], v. 25, n. 3, p. 1035-1054, dez. 2017. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1806-9584.2017v25n3p1035.

FIGUEIREDO, Carlos Vinícius da Silva. ESTUDOS SUBALTERNOS: uma introdução*. Raído, Dourados, v. 4, n. 7, p. 83-92, jun. 2010.

GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. 520 p.

MATA, Inocência. Estudos Pós-coloniais: desconstruindo genealogias eurocêntricas. Civitas. Dossiê: Diálogos do Sul. Porto Alegre, v. 14, n. 1, p 27-42, jan. – abr. 2012. Disponível em: http://www1.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20161026130823.pdf. Acesso em: 09 mar. 2022.

NOGUEIRA, Conceição. Feminismo e discurso do género na psicologia social. Psicologia & Sociedade: Revista da Associação Brasileira de Psicologia Social, [S.I.], v. 13, n. 1, p. 107-128, 2001. ISSN 0102-7182. Disponível em: https://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/4117. Acesso em: 04 mar. 2022.

REIS, Maurício de Novais; ANDRADE, Marcilea Freitas Ferraz de. O pensamento decolonial: análise, desafios e pespectivas. Revista Espaço Acadêmico, [s. l], v. 1, n. 202, p. 1-11, mar. 2018. Mensal. Disponível em: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/download/41070/21945/#:~:text=Deste%20modo%20quer%20salientar%20que,(COLA%C3%87O%2C%202012%2C%20p.. Acesso em: 18 abr. 2022.

ROSA, Maria Eduarda Cação. O Terceiro Mundo e as Relações Internacionais: uma relação intermediada pelas categorias de subalternidade, centro-periferia e desenvolvimento. Revista Perspectiva: reflexões sobre a temática internacional, Porto Alegre, v. 12, n. 23, p. 146-163, jan. 2019. ISSN: 2525-5258. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/RevistaPerspectiva/article/view/97208/56201. Acesso em: 07 jan. 2022.

SOUSA SANTOS, Boaventura. O Fim do Império Cognitivo: a afirmação das epistemologias do sul. Editora Autêntica. Belo Horizonte. p. 480, 2019. ISBN 978-8551304846.

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