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Índia, um País em Fumaças

(c) Andrew Gray - generalist.org.uk

A Índia, com sua população de mais de 1,4 bilhão de pessoas e uma das economias de mais rápido crescimento no mundo, enfrenta uma crise ambiental que ameaça seu futuro sustentável e a saúde de sua população. Localizada no coração da Ásia e cercada pelo Himalaia ao norte, a Índia sofre intensamente com a poluição atmosférica, que tem sua dispersão dificultada pela geografia da região, especialmente nos meses de inverno, quando o ar estagnado agrava a qualidade do ar. Hoje, a poluição atmosférica é uma das maiores ameaças ao país, com repercussões econômicas, sociais e políticas de longo alcance.

De acordo com o Air Quality Life Index (AQLI) de 2024, a poluição do ar se tornou a principal causa de redução na expectativa de vida, ultrapassando o tabagismo e os acidentes de trânsito. Na Índia, a situação é ainda mais grave: milhões de pessoas respiram um ar que ultrapassa em dezenas de vezes os níveis seguros recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Esse cenário impõe desafios ao governo de Narendra Modi, cuja administração precisa conciliar as metas de crescimento econômico com as urgentes demandas por melhorias na saúde pública e na preservação ambiental.

Como uma potência emergente, a Índia busca se firmar como um ator influente na política e economia internacionais, mas o seu futuro está comprometido por uma crise de saúde pública que exige soluções estruturais e sustentáveis. Apesar de programas como o National Clean Air Programme (NCAP), o país enfrenta obstáculos para implementar e fiscalizar, em parte devido à sua dependência de indústrias altamente poluentes e à pressão política de setores econômicos. Nesse contexto, a crise de poluição não é apenas um desafio ambiental, mas também um teste para o futuro político da Índia e sua posição como uma potência que aspira ao desenvolvimento sustentável e à liderança regional.

A Poluição e a Saúde Pública na Índia

A situação crítica do ar na Índia se reflete diretamente na saúde pública. Em 2023, Delhi foi classificada como a capital mais poluída do mundo, com níveis de PM2.5 — partículas finas que, ao serem inaladas, entram na corrente sanguínea e provocam doenças respiratórias e cardiovasculares — chegando a 92,7 microgramas por metro cúbico. Este valor ultrapassa amplamente o limite seguro da OMS, que recomenda uma concentração média anual de apenas 5 microgramas por metro cúbico. Para a maioria das cidades indianas, o ar poluído é uma realidade constante, especialmente no norte, onde fatores climáticos, geográficos e socioeconômicos agravam a situação, formando uma verdadeira emergência invisível para a saúde pública.

Essa crise de poluição atmosférica é responsável por uma significativa redução da expectativa de vida na Índia. Conforme o AQLI, a poluição do ar reduz a expectativa de vida em até cinco anos no país, sendo especialmente severa na planície Indo-Gangética, onde a qualidade do ar frequentemente ultrapassa os níveis seguros. Em Delhi e outras regiões industrializadas e urbanizadas, a poluição é exacerbada pelo aumento de indústrias, veículos e pelo uso de combustíveis sólidos para aquecimento das casas e preparação de alimentos, além das queimadas agrícolas sazonais. Estes fatores tornam a situação especialmente crítica durante os meses de inverno, quando as condições atmosféricas agravam a concentração de poluentes, criando o denso smog característico da estação.

Além do impacto devastador sobre a saúde, a poluição do ar gera um custo econômico massivo para a Índia. Os gastos com saúde decorrentes de doenças relacionadas à poluição, como doenças respiratórias, câncer de pulmão e problemas cardiovasculares, são altos. O Banco Mundial estima que o impacto econômico da poluição na Índia seja equivalente a cerca de 8,5% do PIB, uma perda significativa que afeta tanto a produtividade quanto a qualidade de vida de milhões de pessoas. Essa situação compromete o potencial de desenvolvimento do país, aumentando os desafios sociais e econômicos para uma população jovem e em crescimento.

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Fonte: Print do site https://www.aqi.in

A Crise Ambiental e a Necessidade de Regulação

A crise de poluição na Índia é em grande parte impulsionada por fatores estruturais, como o rápido processo de industrialização, o crescimento urbano desenfreado e a falta de regulamentação efetiva. Embora o governo tenha instituído o National Clean Air Programme (NCAP), que visa reduzir as concentrações de partículas PM10 em até 30% até 2024, especialistas argumentam que o programa é subfinanciado e carece de fiscalização eficaz. Além disso, o foco do NCAP em PM10 em vez de PM2.5, que é mais nocivo para a saúde, limita o impacto do programa.

Outro problema estrutural é a dificuldade de monitoramento e controle nas áreas rurais e urbanas, onde políticas ambientais muitas vezes são ignoradas. De acordo com a IQAir, uma organização suíça de monitoramento de qualidade do ar, a Índia foi classificada como o terceiro país mais poluído do mundo em 2023, atrás apenas de Bangladesh e Paquistão. Este ranking reflete tanto a necessidade de reformas institucionais quanto a urgência de fortalecer as políticas ambientais e de fiscalização.

Impactos Internacionais e a Responsabilidade Global

A poluição atmosférica na Índia também representa um desafio para a comunidade internacional. De acordo com a Lancet Commission on Pollution and Health, a poluição do ar é responsável por cerca de 9 milhões de mortes prematuras globalmente, com 92% dessas mortes ocorrendo em países de baixa e média renda. Isso coloca a poluição como uma questão de justiça ambiental, já que os países em desenvolvimento sofrem os maiores impactos, apesar de contribuírem menos historicamente para as emissões globais.

Além disso, a localização geográfica da Índia, no sul da Ásia, significa que os efeitos da poluição transbordam para países vizinhos. A cooperação regional e as estratégias para lidar com a poluição transfronteiriça são fundamentais para mitigar os impactos de um problema que não conhece fronteiras políticas. A coordenação entre Índia, Paquistão, Bangladesh e outros países sul-asiáticos será essencial para enfrentar este desafio.

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Foto: Jean-Etienne Minh-Duy Poirrier no Flickr

O Caminho para um Futuro Sustentável

A experiência de países como Suécia e Dinamarca, que conseguiram reduzir significativamente a poluição atmosférica por meio de políticas rígidas e da promoção de energias renováveis, oferece um modelo valioso para a Índia. No entanto, a realidade indiana é mais complexa, com uma alta dependência do carvão, que ainda responde por cerca de 60% da matriz energética nacional. Embora o governo tenha dado passos importantes na ampliação das energias renováveis, como solar e eólica, esses avanços são insuficientes frente à velocidade do crescimento industrial e urbano do país.

Reformas robustas e multifacetadas são essenciais para reverter esse quadro. Especialistas recomendam o fortalecimento da capacidade regulatória e a expansão das redes de monitoramento da qualidade do ar, além de uma gestão mais eficiente de resíduos. Investimentos em transporte público, incentivo à eletrificação da frota urbana e uma infraestrutura que privilegie o transporte coletivo sobre o individual são medidas necessárias para reduzir o impacto do setor de transportes. Além disso, a criação de estações de monitoramento da qualidade do ar e o fortalecimento técnico das agências ambientais são passos indispensáveis para garantir que as políticas sejam efetivamente implementadas e monitoradas.

Um Compromisso com o Direito à Saúde e ao Desenvolvimento Sustentável

A crise da poluição atmosférica na Índia é um dos desafios mais complexos que o país enfrenta em sua trajetória de desenvolvimento. O rápido crescimento econômico, aliado à urbanização desordenada e a políticas ambientais ainda frágeis, criou uma situação que compromete a saúde da população e o futuro sustentável da nação. Sem uma ação firme e coordenada, a inação trará custos acumulados e incalculáveis, tanto em termos de vidas perdidas quanto de impactos econômicos.

Para assegurar um futuro sustentável, a Índia precisa adotar uma postura mais comprometida, equilibrando suas ambições econômicas com uma proteção ambiental eficaz. O direito ao ar limpo deve ser reconhecido como um direito fundamental, e a comunidade internacional também desempenha um papel importante ao oferecer apoio técnico e financeiro. Como uma questão que ultrapassa fronteiras, a poluição do ar exige respostas globais e coordenadas. A Índia, ao se posicionar na linha de frente dessa batalha, terá a oportunidade de liderar um esforço por saúde, justiça ambiental e sustentabilidade, servindo de exemplo para outras nações em desenvolvimento.

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