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O Novo Acordo Estratégico entre Rússia e Irã: Contexto e Impactos Geopolíticos

Foto: Kremlin.ru | Uso justo.

Em 17 de janeiro de 2025, Rússia e Irã firmaram um tratado de parceria estratégica de longo prazo, marcando um novo capítulo na relação entre dois países que, embora historicamente tenham enfrentado rivalidades, hoje se alinham diante de desafios comuns. Este pacto de 20 anos, assinado pelos presidentes Vladimir Putin e Masoud Pezeshkian, vai além de um simples gesto diplomático: ele abrange cooperação em áreas críticas como segurança, economia, infraestrutura energética, tecnologia e cultura, consolidando uma aliança que desafia a ordem internacional liderada pelo Ocidente.

Esse acordo emerge em um momento de intensas transformações geopolíticas. A Rússia, isolada pelas sanções ocidentais em razão da guerra na Ucrânia, busca diversificar parcerias econômicas e estratégicas. Paralelamente, o Irã, sob pressão de décadas de restrições internacionais e enfrentando reveses em sua influência regional, vê na aliança com Moscou uma oportunidade de reforçar sua segurança e ampliar sua capacidade de resistência. Como destacou o teórico de relações internacionais John Mearsheimer, “sanções e políticas punitivas não apenas falham em isolar seus alvos, mas frequentemente os empurram para colaborações que desafiam o sistema dominante.”

Ao mesmo tempo, o contexto regional adiciona camadas de complexidade. A recente queda do regime de Bashar al-Assad na Síria enfraqueceu o chamado Eixo da Resistência liderado pelo Irã, enquanto a guerra contínua entre Israel e o Hamas exacerba tensões no Oriente Médio, ampliando as preocupações de segurança de Teerã. Por sua vez, a Rússia, que enfrenta um impasse prolongado na guerra contra a Ucrânia, enxerga no Oriente Médio e na Ásia uma oportunidade para consolidar sua posição como líder de uma nova ordem multipolar.

O acordo também tem implicações diretas para a economia mundial. Projetos como o Corredor Internacional Norte-Sul, que conectará a Rússia ao Golfo e à Índia, visam minar a hegemonia das rotas comerciais ocidentais. Além disso, a troca de inteligência, a cooperação militar e o fortalecimento do uso de moedas locais desafiam diretamente o alcance das sanções econômicas ocidentais, potencialmente reduzindo sua eficácia.

Neste cenário de realinhamentos, é crucial analisar não apenas os interesses estratégicos de Rússia e Irã, mas também as consequências mais amplas para o equilíbrio de poder no sistema internacional. O tratado não apenas aprofunda a parceria entre Moscou e Teerã, mas também sinaliza o fortalecimento de alianças alternativas que buscam remodelar o cenário político internacional em direção a uma ordem mais fragmentada e menos centralizada no Ocidente.

Essa aliança, portanto, não deve ser vista como um evento isolado, mas como parte de uma tendência mais ampla de resistência ao unilateralismo e à hegemonia americana. As perguntas que permanecem são: até que ponto essa parceria será capaz de resistir às pressões externas? E como as potências tradicionais responderão a essa tentativa de redefinição das regras do jogo político mundial? As respostas a essas questões terão impactos duradouros no futuro da política internacional.

Sanções, Conflitos e Realinhamentos

Desde a invasão russa à Ucrânia em 2022, Moscou tem enfrentado severas sanções internacionais, que afetaram sua economia e forçaram uma reorientação de suas alianças. Paralelamente, o Irã enfrenta sanções há décadas devido às suspeitas em torno de seu programa nuclear. John Mearsheimer destacou que o apoio dos EUA à Ucrânia e a rejeição de soluções diplomáticas ampliaram os efeitos colaterais das sanções, incentivando a “crescente proximidade entre Rússia e Irã”.

Para Mearsheimer, “os russos estão buscando formas de resistir à pressão econômica dos EUA, e a colaboração com o Irã, especialmente no setor de energia, é um passo estratégico para ambos os países”. Ele também observou que Moscou deseja impedir que Teerã avance em direção à aquisição de armas nucleares, mas reconhece o “poderoso incentivo” do Irã para desenvolver um dissuasor nuclear frente às ameaças regionais.

O Papel dos EUA e a Política de Pressão Máxima

Com a retomada de Donald Trump à presidência, há expectativas de um endurecimento da política contra o Irã. Durante sua primeira administração, Trump retirou os EUA do acordo nuclear (JCPOA) e impôs sanções devastadoras a Teerã. Contudo, Mearsheimer argumenta que a estratégia de “pressão máxima” foi um fracasso, afirmando: “As sanções não impediram o avanço do Irã em direção à capacidade nuclear. Na verdade, hoje o Irã está mais próximo de obter material físsil para armas nucleares do que estava antes.”

Ademais, o aumento das alianças entre Moscou e Teerã desafia diretamente a efetividade das sanções ocidentais. Segundo Mearsheimer, “a colaboração financeira e estratégica entre os dois países mina a capacidade dos EUA de isolar efetivamente essas nações.”

Principais Aspectos do Acordo: Aprofundando a Parceria Rússia-Irã

O tratado firmado entre Moscou e Teerã representa um marco na relação entre os dois países, abrangendo cooperação em múltiplas áreas estratégicas. A seguir, destacam-se os principais elementos que tornam esse acordo relevante no cenário internacional:

  1. Cooperação Militar e de Segurança

A dimensão militar do acordo é uma das mais significativas, dado o contexto de segurança no Oriente Médio e as tensões globais envolvendo as potências ocidentais:

  • Troca de Inteligência: Rússia e Irã formalizam a intensificação do compartilhamento de informações estratégicas para enfrentar “ameaças comuns”, como grupos extremistas e potenciais ataques de Israel e EUA.
  • Defesa Aérea e Tecnologia Militar: Moscou compromete-se a fornecer ao Irã sistemas avançados de defesa aérea e tecnologia militar, fortalecendo a capacidade iraniana de proteger instalações críticas, incluindo locais nucleares.
  • Exercícios Conjuntos: Estão planejados treinamentos e exercícios militares conjuntos, com o objetivo de aumentar a interoperabilidade das forças armadas e enviar um sinal claro de fortalecimento da aliança.

John Mearsheimer observa que essa cooperação militar visa não apenas proteger o Irã, mas também dissuadi-lo de avançar em direção à obtenção de armas nucleares. Segundo ele: “Os russos estão ajudando o Irã a desenvolver capacidade militar convencional para reduzir o risco de um ataque e evitar que o Irã sinta a necessidade de recorrer à dissuasão nuclear.”

Essa colaboração militar desafia diretamente as sanções ocidentais, aumenta a pressão sobre Israel e redefine o equilíbrio de poder regional no Oriente Médio.

  1. Dimensão Econômica

A parceria também possui um forte componente econômico, essencial para a sobrevivência e expansão de ambos os regimes sob sanções internacionais:

  • Integração Comercial: O Corredor Internacional Norte-Sul, que conecta a Rússia ao Golfo e à Índia, é um dos pilares do acordo. Ele reduz a dependência de rotas comerciais controladas pelo Ocidente e cria alternativas viáveis para a exportação de bens e energia.
  • Energia: Rússia e Irã avançam em projetos bilaterais no setor energético, incluindo a construção de novos reatores nucleares no Irã e o uso de swap energético para suprir mercados regionais. Esses acordos são estratégicos para ambos os países, que enfrentam sanções severas sobre suas exportações de petróleo e gás.
  • Sanções e Moedas Locais: O compromisso de facilitar pagamentos em moedas nacionais, minimizando o uso do dólar, reflete um esforço deliberado para contornar as sanções ocidentais e criar um sistema financeiro alternativo que diminua a influência dos EUA na economia global.

Essas medidas não apenas reforçam as economias de ambos os países, mas também ampliam sua autonomia frente à ordem econômica liderada pelo Ocidente.

  1. Cooperação Cultural e Tecnológica

A dimensão cultural e tecnológica do acordo reforça os laços entre os dois países em níveis mais amplos e estratégicos:

  • Educação e Pesquisa: O incentivo a intercâmbios acadêmicos e projetos conjuntos de pesquisa científica demonstra o compromisso de ambos os países em expandir suas capacidades tecnológicas e promover inovação em áreas críticas, como inteligência artificial e energia nuclear.
  • Mídia e Propaganda: O tratado também destaca o combate à “propaganda negativa” e à desinformação, promovendo a coordenação em plataformas midiáticas para defender seus interesses e contrapor narrativas ocidentais.

Implicações Geopolíticas

Com esse acordo, o Irã fortalece sua capacidade de resistir a pressões externas e proteger suas áreas de influência. O apoio militar russo pode alterar equilíbrios regionais, especialmente frente às ameaças de Israel, que tenta impedir avanços no programa nuclear iraniano. Mearsheimer alertou para o risco de Israel tentar envolver os EUA em um conflito: “Os russos estão preocupados com a possibilidade de Israel arrastar os americanos para uma guerra contra o Irã, o que desestabilizaria ainda mais a região.”

Desafios para o Ocidente

O acordo também representa um desafio direto à ordem liderada pelos EUA:

  • Sanções Menos Eficazes: A ampliação de rotas comerciais e sistemas financeiros independentes reduz o alcance das sanções ocidentais.
  • Alianças Alternativas: A entrada do Irã nos BRICS e sua cooperação com a China consolidam um bloco alternativo que desafia o monopólio ocidental sobre instituições globais.

Proliferação e Risco Nuclear

Embora o tratado não mencione explicitamente colaboração nuclear militar, a expansão da infraestrutura atômica iraniana com apoio russo pode alimentar temores de proliferação. Segundo Mearsheimer, mesmo que a Rússia queira impedir armas nucleares no Irã, “a realidade é que, se o Irã decidir seguir esse caminho, é improvável que qualquer potência consiga impedi-lo sem uma invasão em larga escala”.

A Queda de Assad e o Vácuo no Oriente Médio

Outro fator crítico é a recente queda do regime de Bashar al-Assad na Síria, que gerou um vácuo de poder e enfraqueceu o chamado “eixo de resistência” apoiado pelo Irã. A cooperação com a Rússia ajuda Teerã a mitigar perdas e reforçar sua presença regional em meio ao caos.

Conclusões

O tratado entre Rússia e Irã representa muito mais do que uma aliança estratégica bilateral: é uma manifestação explícita de resistência à ordem internacional hegemonizada pelo Ocidente e um passo significativo na construção de uma ordem multipolar. Para Moscou e Teerã, essa parceria não é uma escolha circunstancial, mas sim uma resposta estratégica às pressões externas, visando fortalecer suas posições no cenário global e ampliar sua autonomia frente às sanções e influências ocidentais.

Ao formalizarem esse acordo, os dois países sinalizam a intenção de reconfigurar as dinâmicas internacionais, desafiando a eficácia das sanções como ferramenta de coerção e promovendo alternativas que enfraquecem a centralidade do dólar e das instituições lideradas pelos EUA. Mais do que uma união de interesses imediatos, trata-se de um esforço deliberado para criar um eixo de poder capaz de redesenhar as relações internacionais contemporâneas.

John Mearsheimer, em sua análise, alerta para o impacto desse realinhamento global: “Os Estados Unidos subestimaram as consequências de seu comportamento ao longo dos últimos anos. Empurrar países como Rússia, Irã e China para alianças mais próximas cria um eixo alternativo de poder que não pode ser ignorado.” Esse eixo, que inclui países marginalizados pela ordem global liderada pelo Ocidente, não apenas contesta as normas vigentes, mas também apresenta alternativas tangíveis para um futuro mais fragmentado e competitivo.

Porém, o sucesso dessa parceria dependerá de sua capacidade de superar desafios estruturais e concretizar os projetos ambiciosos propostos no tratado. No curto prazo, o acordo já demonstra impactos significativos, como a ampliação de rotas comerciais e a intensificação da cooperação militar. Contudo, no longo prazo, sua efetividade será determinada pela habilidade de Rússia e Irã em enfrentar as adversidades econômicas, políticas e estratégicas impostas pela comunidade internacional.

O tratado Rússia-Irã não apenas inaugura um novo capítulo nas relações entre os dois países, mas também desafia os alicerces da ordem internacional existente, consolidando um movimento global em direção a um sistema multipolar mais dinâmico, complexo e imprevisível.

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