Curso Política Externa Brasileira
Modo Escuro Modo Luz
Modo Escuro Modo Luz
Israel e Irã: Uma História de Rivalidade Geopolítica, Conflito e Escalada Nuclear no Oriente Médio
Por Que as Nações Fracassam: As Origens do Poder, da Prosperidade e da Pobreza – Resenha
Por Que as Nações Fracassam: As Origens do Poder, da Prosperidade e da Pobreza - Resenha 1 Por Que as Nações Fracassam: As Origens do Poder, da Prosperidade e da Pobreza - Resenha 2

Por Que as Nações Fracassam: As Origens do Poder, da Prosperidade e da Pobreza – Resenha

Por Que as Nações Fracassam: As Origens do Poder, da Prosperidade e da Pobreza, de Daron Acemoglu e James A. Robinson, é uma das obras mais influentes do século XXI no campo das Ciências Sociais, especialmente para os estudos de economia política, desenvolvimento internacional e relações internacionais. Com uma proposta ambiciosa, os autores oferecem uma resposta robusta a uma questão essencial: por que alguns países são ricos e outros continuam presos à pobreza estrutural?

Ficha Técnica do Livro

Título: Por Que as Nações Fracassam: As Origens do Poder, da Prosperidade e da Pobreza
Título original: Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity and Poverty
Autores: Daron Acemoglu e James A. Robinson
Tradução: Rogério W. Galindo
Editora: Elsevier
Edição brasileira: 1ª edição
Ano de publicação no Brasil: 2012
Ano de publicação original: 2012
ISBN: 978-85-352-5150-6
Número de páginas: 432
Formato: Capa comum (disponível também em e-book)
Gênero: Economia política, Desenvolvimento econômico, Instituições, Ciências Sociais
País de origem: Estados Unidos
Idioma original: Inglês
Prêmio relacionado: Daron Acemoglu recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 2024 (pelo conjunto da obra, incluindo essa contribuição teórica)

Por Que as Nações Fracassam: As Origens do Poder, da Prosperidade e da Pobreza - Resenha 3

Um novo paradigma para entender o desenvolvimento

Acemoglu e Robinson argumentam que a explicação para a prosperidade das nações não está na geografia, na cultura ou na ignorância dos líderes, como defendem outras correntes. O que determina o sucesso ou fracasso de um país são as instituições políticas e econômicas que organizam sua sociedade.

Essa visão rompe com paradigmas anteriores e estabelece uma teoria centrada na qualidade institucional. Os autores destacam dois tipos principais:

  • Instituições inclusivas: promovem a participação ampla da população na vida política e econômica, garantindo direitos de propriedade, liberdade de mercado e pluralismo político. Estimulam a inovação e a destruição criativa.
  • Instituições extrativistas: concentram poder e recursos em uma elite dominante, restringem o acesso a oportunidades e inibem o dinamismo econômico, gerando instabilidade e atraso.

Exemplos históricos e comparativos

O livro utiliza exemplos históricos convincentes para ilustrar seu argumento. Um dos mais marcantes é a comparação entre Nogales (Arizona), nos Estados Unidos, e Nogales (Sonora), no México — duas cidades vizinhas separadas por uma fronteira, mas com condições de vida radicalmente diferentes. Essa disparidade, segundo os autores, não pode ser explicada pela localização geográfica, clima ou cultura, mas sim pelo tipo de instituições presentes em cada país.

Outros casos emblemáticos explorados na obra incluem:

  • Coreia do Norte e Coreia do Sul: dois países que compartilham a mesma cultura e história, mas seguem trajetórias econômicas diametralmente opostas por conta de instituições políticas divergentes.
  • Inglaterra pós-Revolução Gloriosa: exemplo de como mudanças institucionais progressistas criaram as bases para o crescimento sustentado e para a Revolução Industrial.
  • Venezuela e Noruega: duas nações ricas em petróleo, mas com resultados econômicos e sociais opostos devido à diferença entre instituições democráticas e extrativistas.

Política vem antes da economia: os caminhos do progresso e da estagnação

Se há uma tese provocativa no livro de Acemoglu e Robinson, é a de que o desenvolvimento econômico sustentável só pode existir onde há instituições políticas inclusivas. Essa proposição inverte a lógica de muitas teorias clássicas que afirmam que o crescimento econômico levaria, inevitavelmente, à democracia. Os autores demonstram, com argumentos e evidências históricas, que esse processo é mais complexo — e muitas vezes, ocorre em sentido oposto.

O papel das instituições políticas

De acordo com os autores, instituições políticas inclusivas distribuem o poder de forma equilibrada, garantem direitos políticos a amplos setores da sociedade e limitam a autoridade de grupos dominantes. Esse ambiente é propício à criação de instituições econômicas inclusivas, que estimulam a inovação, a competição e o investimento.

Em contrapartida, instituições políticas extrativistas concentram o poder em mãos de uma elite restrita, que tende a preservar o status quo e resistir à inovação. Isso cria uma espécie de “armadilha institucional”, em que a concentração de poder gera instabilidade política, repressão e pobreza generalizada.

Os autores chamam atenção para o fenômeno da destruição criativa — um processo natural do capitalismo no qual novos setores econômicos substituem os antigos. Esse processo, embora essencial para o progresso, é visto como ameaça pelas elites extrativistas, que reagem bloqueando inovações que poderiam enfraquecer seu poder.

Ciclos viciosos e virtuosos

Uma das grandes contribuições analíticas do livro está nos conceitos de círculo virtuoso e círculo vicioso:

  • O círculo virtuoso ocorre quando instituições inclusivas políticas e econômicas se fortalecem mutuamente ao longo do tempo. O caso da Inglaterra após a Revolução Gloriosa de 1688 é exemplar: a limitação do poder da monarquia e o fortalecimento do Parlamento criaram as bases para a Revolução Industrial.
  • O círculo vicioso, por sua vez, acontece quando instituições extrativistas se retroalimentam, gerando instabilidade, corrupção e repressão. Casos como Guatemala, Zimbábue, Serra Leoa e parte da América Latina são abordados com detalhes, mostrando como elites utilizam o poder para perpetuar desigualdade e impedir reformas estruturais.

Críticas à teoria

Apesar da força do argumento institucional, o livro não escapa de críticas. Especialistas apontam que, ao focar quase exclusivamente em instituições, os autores negligenciam fatores como:

  • Condições geográficas específicas, que impactam acesso a mercados ou recursos naturais;
  • Elementos culturais e históricos de longa duração;
  • Falta de dados quantitativos comparativos, o que fragiliza algumas generalizações feitas no livro.

Um dos pontos mais debatidos é a situação da China, que desde os anos 1980 experimenta forte crescimento econômico mesmo com instituições políticas claramente extrativistas. Os autores reconhecem esse paradoxo, mas argumentam que esse modelo não será sustentável no longo prazo.

História, conjunturas críticas e os caminhos para romper o ciclo do fracasso

Além de apresentar uma teoria institucional consistente, Acemoglu e Robinson dedicam parte significativa do livro à análise histórica de como surgem — ou deixam de surgir — instituições inclusivas ao longo do tempo. Para isso, desenvolvem o conceito de “conjunturas críticas”: momentos de ruptura profunda na ordem política e social que podem levar as sociedades a diferentes trajetórias institucionais.

O peso da história e as pequenas diferenças que importam

Os autores defendem que eventos históricos, mesmo acidentais, podem gerar grandes divergências entre países semelhantes. Um exemplo clássico explorado na obra é o impacto da Peste Negra na Europa. Enquanto em partes da Europa Ocidental a escassez de mão de obra fortaleceu camponeses e promoveu maior liberdade econômica, em regiões como a Europa Oriental os senhores feudais conseguiram manter o controle, perpetuando instituições extrativistas.

Esse tipo de análise é aprofundado no capítulo intitulado “Pequenas diferenças e conjunturas críticas: o peso da história”, onde se observa como, ao longo do tempo, instituições iniciais moldam trajetórias de longo prazo, em uma lógica de dependência de percurso (path dependence). Ou seja, quanto mais tempo uma sociedade opera sob determinadas regras, mais difícil é transformá-las profundamente.

Exemplos de rompimento e continuidade institucional

O livro apresenta casos em que essas rupturas históricas possibilitaram o surgimento de novas ordens institucionais:

  • Revolução Gloriosa na Inglaterra (1688): redefiniu os limites do poder real e fortaleceu o Parlamento, criando o ambiente institucional que impulsionaria a Revolução Industrial.
  • Revolução Francesa (1789): rompeu com o absolutismo feudal e abriu caminho para instituições mais modernas e igualitárias.
  • Restauração Meiji no Japão (1868): promoveu uma reforma ampla das instituições feudais e impulsionou a modernização econômica e política do país.

Por outro lado, muitos países perderam a oportunidade de reconfigurar suas instituições em momentos decisivos. A análise da Veneza medieval, que passou de república comercial vibrante a cidade estagnada, ilustra como elites podem reverter processos de inclusão institucional por medo de perder privilégios.

Implicações contemporâneas: desenvolvimento, democracia e política internacional

No capítulo final, Acemoglu e Robinson discutem as implicações de suas conclusões para o presente e o futuro do desenvolvimento mundial. Três pontos se destacam:

  1. Ajuda internacional não resolve pobreza estrutural: transferências financeiras e programas assistenciais, sem reformas institucionais profundas, têm impacto limitado. O fracasso da ajuda ao Afeganistão é citado como exemplo.
  2. Desenvolvimento sob regimes autoritários é insustentável: mesmo com crescimento econômico acelerado, regimes com instituições extrativistas — como a China — tendem à estagnação no longo prazo por sufocarem a inovação e a destruição criativa.
  3. Democracia importa: o livro reforça, com base empírica e histórica, que nenhum país alcançou desenvolvimento econômico duradouro sem pluralismo político e instituições inclusivas.

Para os estudos em Relações Internacionais, essa obra é especialmente relevante ao mostrar como fatores internos — particularmente a configuração institucional — têm papel determinante na projeção externa dos Estados. A estabilidade política, a governança democrática e o fortalecimento do Estado de Direito não são apenas questões domésticas: elas influenciam a capacidade de inserção internacional, cooperação, investimento e influência.

Conclusão crítica e caminhos para aprofundamento

Por Que as Nações Fracassam é um livro que vai além da economia: é uma obra sobre poder, história, instituições e escolhas políticas. A análise de Daron Acemoglu e James A. Robinson é profunda e provocadora, desafiando explicações simplistas para a pobreza e o subdesenvolvimento.

A principal mensagem da obra é clara: as nações fracassam não por causa do acaso, do clima, ou da cultura, mas porque elites políticas e econômicas constroem e mantêm instituições que servem aos seus próprios interesses, bloqueando o desenvolvimento inclusivo. A mudança institucional é possível — mas depende de rupturas históricas e da mobilização de coalizões amplas.

Apesar de críticas legítimas quanto à ausência de dados comparativos mais rigorosos e à subvalorização de fatores culturais e geográficos, o livro se destaca por oferecer uma explicação robusta e acessível, com valor analítico para estudiosos, formuladores de políticas e leitores interessados na dinâmica do desenvolvimento internacional.

Para quem é essa leitura?

Recomenda-se especialmente para estudantes e profissionais das áreas de:

  • Relações Internacionais
  • Economia do Desenvolvimento
  • Política Comparada
  • Ciência Política
  • História Econômica

O livro também é um excelente ponto de partida para quem busca compreender as raízes institucionais da desigualdade global, com foco em processos históricos e trajetórias nacionais.

Por Que as Nações Fracassam: As Origens do Poder, da Prosperidade e da Pobreza - Resenha 4
Website |  + posts

Analista de Relações Internacionais, organizador do Congresso de Relações Internacionais e editor da Revista Relações Exteriores. Professor, Palestrante e Empreendedor.

Adicionar um comentário Adicionar um comentário

Deixe um comentário

Post Anterior
Iran Israel Guerra Conflito 2025-min

Israel e Irã: Uma História de Rivalidade Geopolítica, Conflito e Escalada Nuclear no Oriente Médio

Advertisement